domingo, 5 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 1


A Crise e a Ausência do Ator

Por Vagner Gomes de Souza
 

Nos dias atuais a grande certeza que nos apresenta na conjuntura nacional é a dificuldade da organização de um ator político do campo progressista para reorganizar o campo democrático brasileiro. A sociedade está desperta pelas ações centralizadoras nas orientações para o enfrentamento da “Pandemia”. Os ensinamentos de Thomas Hobbes em O Leviatã permitem dizer que não há uma crise moral e intelectual do pensamento que fundamentou a vitória eleitoral de um “free rider”  da antipolítica. Isso exposto, não há indícios de que tenhamos uma fácil avenida em favor das forças democráticas.

As massas populares estão diante de uma grave crise econômica social que aprofunda a tendência da concentração de renda. Diante desse alinhamento social dos “descamisados” com as vertentes hobbesianas não se pode perder tempo com análises políticas focadas na figura do chefe do Executivo Federal. Nunca a frase “È a economia estúpido!” foi de tamanha aplicação para os passos que deveriam ser seguidos pelas forças democráticas. A oportunidade de termos uma forte intervenção do Estado na economia deve ser pactuada para beneficiar aqueles que menos têm ao contrário de garantir os níveis da desigualdade social.

Entretanto, vivemos a ausência de atores políticos com lideranças que saibam fazer a conexão entre sociedade, Parlamento e segmentos intelectuais. Uma vez que a continuidade da armadilha da polarização colocou uma parte da militância da Esquerda sob o “dilema do prisioneiro” ao qual contribuem indiretamente para o fortalecimento da base política do mandatário nacional. Poucos percebem que há uma agregação de uma “ralé” de segmentos sociais diversificados a partir do ressentimento. Então, a aposta do Presidente em aprofundar a recessão econômica o exime da mesma pela denúncia antecipada aos Governadores de São Paulo e Rio de Janeiro (apresentados como oportunistas e traiçoeiros).

Cada semana descoordenada na economia por um Ministro que tem sua raiz no neoliberalismo a recessão será ainda mais radicalizada. As massas populares estariam entregues a sua própria sorte, pois as medidas sociais são de natureza compensatória. As classes subalternas ainda podem se vir realinhadas pela refundação do “jacobinismo florianista”. Por outro lado, o constitucionalismo em leitura “positivista” só sufoca as alternativas políticas. A linha a análise de conjuntura na superestrutura estaria sufocando as nossos passos pelo olhar na estrutura. Esse é o momento de fazer de fato uma Frente que permita uma intervenção democrática do Estado na economia no qual todos devem ser convidados a mesma mesa de unidade.

Contudo, onde está o “sapo” para pular diante da necessidade de uma política econômica mais favorável aos setores populares. Não podemos nos deixar ficar sob a captura da pauta liberal pragmática que simplesmente se deixa levar por uma alternativa em cálculos eleitorais. O ponto é ampliação dos gastos públicos para minorar os graves efeitos recessivos. Na ausência de um ator político, o sebastianismo político de nossa cultura ibérica se alimenta de outros personagens que emergiram do “baixo clero” ou das “casernas” dos quartéis. As instituições democráticas passam por um grave momento é não seriam os atalhos do positivismo constitucional que permitiram a acolhida dos segmentos populares. Para enfrentar Hobbes, sigamos o ensinamento de Maquiavel que diz “Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.”

Um comentário:

Peterson da Silva disse...

Realmente a falta de um ator neste momento, deixa você num futuro incerto.