quarta-feira, 8 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - Número 3


 

O Leviatã não é uma sombra

Por Vagner Gomes de Souza
 
 
Os caminhos e descaminhos do liberalismo brasileiro não se faz eficiente diante do medo. Um liberalismo fraco na sua defesa da Democracia. Seus defensores extremados citam Adam Smith sem lembrar a origem filosófica do escocês. A filosofia política está ao nosso redor para o desespero daqueles que desejavam um mundo simplificado em números. E eis que um matemático e filósofo ganha força na conjuntura política brasileira. Muitas vezes Thomas Hobbes é mencionado nesses "Cadernos da Quarentena" como uma lembrança do quanto a ferida do capitalismo financeiro está exposta. A alternativa da centralização da economia e da política nunca esteva na sombra na História do Brasil. Dom Pedro II, Getúlio Vargas e o regime militar brasileiro (1964 - 1985) dialogaram com o Leviatã.
 
O ultraliberalismo está incomodado diante dessa realidade. Por outro lado, a Esquerda ainda não se adiantou aos indicadores de terríveis sombras que se avizinham para as instituições democráticas. Muitos ainda não "leram" as referências aos militares no tema do hobbesianismo a moda tupiniquim? Nesse ponto, a intervenção militar na Segurança Pública do Rio de Janeiro foi um laboratório para perceber o quanto a legitimidade da sociedade se fez construir com apoio forte da mídia. Foi em 2018 que a sociedade civil se viu colocada numa "quarentena" na formulação de alternativas democráticas pois se deixou levar por uma "colcha de retalhos" de movimentos/coletivos que esvaziaram ainda mais o peso do ator político.
 
A ausência de um ator viabiliza a ocupação desse "vazio" por figuras que, em tese, emergem fora do sistema político. A natureza hobbesiana no cenário político fluminense fez emergir um Ex-Juiz com uma fisionomia de Professor de Home Office, mas que venceu com os votos da antipolítica mesmo que sua atual gestão seja a continuidade de uma "velha política" do chamado chaguismo. E o Leviatã do Rio de Janeiro se faz um possível modelo para esse momento de enfrentamento de uma "pandemia" e da maior recessão econômica de nossa história.
 
A juventude que se alinhou ao "anarcocapitalismo" é um exemplo do quanto a globalização se fez nas mentes depressivas da polarização. Por outro lado, a juventude no campo da esquerda está "mofada" pelo "sebastianismo" e sem conexão com as leituras. Na "jaula de ferro" do desencantamento weberiano emergiu um "pós-esquerdismo" de viés autoritário na padronização de uma militância deslocada das classes trabalhadoras. O Hobbes se alimenta dessa natureza de guerra que esses jovens se deixaram conduzir nas redes sociais. Então, como se poderia superar esse dilema?
 
"Virtú" é a força de buscar dar um sentido para a política. Nesse ponto é importante reconhecer a importância de que um "ator" articule os desejos espalhados na sociedade. Portanto, as instituições democráticas não podem ser deixadas ao sabor de um debate de normas jurídicas uma vez que há sempre a "invenção" na política com P maiúsculo. Contudo, ela se fará presente com o entendimento de que um Estado de Bem Estar Social se fez necessário na ampliação dos parâmetros da Carta Constitucional de 1988. O STF não se silenciou sobre os direitos dos trabalhadores. Onde está a centro-esquerda? Não se pode esquecer que o tempo de fazer acontecer implica em enfrentar uma tradição autoritária que dialoga com a nossa elite econômica. A sombra está para além do mito da caverna de Platão. 

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