quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

OSCAR 2018 - OS INDICADOS

O VOTO POSITIVO é a "Centelha" da formação de opinião. Com esse objetivo, realizamos uma entrevista com o Professor Pablo Spinelli sobre os indicados ao Oscar 2018 e suas principais tendências. O entrevistado aposta na luta contra todos os muros. Confiram abaixo.
 
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Foto do Jornal Extra (2014)
 

1)      Após o primeiro ano de Governo Donald Trump, poderíamos dizer que as indicações ao Oscar de 2018 estariam mais politizadas? Em que sentido?
Pablo Spinelli - As indicações seguiram uma direção semelhante ao ano anterior. Há abordagens de cunhos identitários, como no caso de negros, homossexuais e um ativismo feminismo. Além disso, aparecem dois filmes que dialogam entre si; “O Destino de uma Nação” e “Dunkerk”, cuja temática é a derrota vitoriosa, algo de difícil digestão para os públicos mais jovens que são inundados por um heroísmo mítico que tem a vitória – seja a que preço for – como meta alcançada.
2)      Algum filme indicado poderia ser apresentado como a grande “barbada” para ganhar o Oscar 2018? Ser o mais indicado nas diversas categorias não seria alguma tendência? 
 
Pablo Spinelli - Seguindo a linha de raciocínio acima, vejo algo semelhante ao filme que já deu um Oscar a um mexicano. O tema do muro é um tema muito duro nos EUA – isso aparece muito nas séries de televisão – e que pode fazer com que Guillermo Del Toro e sua “A forma na água” seja a barbada. Há a inclusão de uma personagem subalterna com uma criatura estranha dirigida por um mexicano. É muita provocação ao atual governo, como foi o caso de Moonlight ano passado. Vale lembrar que o tema da surdez esteve presente em nosso ENEM, assim, um bom motivo para o filme ser visto. José Saramago escreveu um livro sobre cegueira. O tema da surdez é um tema contemporâneo. E a que melhor escuta é uma mulher. Creio que há pontos convergentes entre as duas obras, com as devidas proporções.
3)      Como o público brasileiro poderá reagir aos filmes indicados nos cinemas brasileiros? O Oscar ainda atrai um público aos cinemas nacionais? E o público jovem?
Pablo Spinelli - Não é o Oscar que atrai menos os jovens.  É o cinema. Com o uso das mais diversas ferramentas para que se veja filmes em casa ou até andando pela rua, nas mais diversas classes sociais, o Oscar ficou mais para um grupo pertencente à classe média ou a uma geração mais velha. Há de se lembrar que a cerimônia é tardia,  passa num domingo à noite, termina por volta das quatro da manhã em período de escola ou de trabalho. Cabe salientar que nem a emissora de sinal aberto dá a atenção devida à cerimônia, pois prefere mostrar seu decadente BBB.
4)      Em relação aos indicados para Melhor Diretor, a ausência de Steven Speilberg sugere alguma coisa? A indicação de Chistopher Nolan (“Dunkirk”) poderia indicar uma mensagem liberal norte-americana da Academia de Hollywood para os europeus?
Pablo Spinelli - Spielberg, Woody Allen, Scorsese e Coppola são nomes que levam ou levavam cinéfilos jovens ou pessoas com mais de 40 anos. Spielberg mudou muito suas temáticas, adotou uma linha mais conservadora em seus filmes. Não diz à juventude de hoje o que dizia nos anos 1980. A Academia mudou seus eleitores, está mais plural. José Padilha e Fernanda Montenegro, por exemplo, votam. Isabelle Huppert, uma atriz francesa extraordinária, foi indicada, nada ganhou, mas é uma radiografia dessa “globalização” das indicações. O que não se pode confundir a indicação com os interesses mercadológicos. É uma indústria. Aposta em cavalos que podem vencer várias corridas ou cavalos que tiveram bons serviços prestados, como Meryl Streep e Christopher Plummer. Os  europeus sempre foram menos protecionistas aos estadunidenses, como pode ser visto em vencedores de Cannes. Creio que haja uma tendência para maior diversidade étnica nas indicações, algo que se vê há cerca de dez anos.
5)      Na categoria Melhor Ator, o ator republicano Gary Oldman é o favorito? O sectarismo de Hollywood poderia influenciar na premiação?
 
Pablo Spinelli - Não seria tão pesado com a qualificação de Oldman. Ele se destacou nos anos 1970 fazendo um músico anarquista punk drogado, líder dos “Sex Pistols”. Assim como fez o melhor Drácula do cinema e trabalhou no filme que lançou Natalie Portman ao cinema, o memorável “O Profissional”. Sua participação na saga Harry Potter e na de Batman, do citado C. Nolan, o aproximou de um público mais jovem. Acredito que seja mais pela atuação difícil de Churchill da incorporação, do que o Churchill da “cortina de ferro”. Interessante que ele tem como adversário o “Lincoln”, Daniel Day-Lewis (Hugh Jackman foi esquecido). Em momentos de crise política o cinema invariavelmente faz cinebiografias para resgatar da história algo que possa nortear as trevas do presente. Não é o caso do Brasil quando fez “Lula”.
 
6)      Na categoria Melhor Atriz, a indicação de Frances McDormand (“Três anúncios de um assassinato”) ou de Sally Hawkins (“A Forma da Água”) sugerem tendências diversas?
 
Pablo Spinelli - Nesse caso, provocado pela sua pergunta anterior, se Oldman fica numa camisa de republicano, a McDormand é nitidamente uma atriz de perfil Democrata, basta ver sua relação pessoal e profissional com os irmãos Coen. O fato de ser uma veterana que se despe de maquiagens para o caso da dor de uma mãe cuja filha foi estuprada é uma boa “barbada” em épocas onde o tema do assédio é forte nos EUA. Todas as outras atrizes, com exceção de Meryl Streep serão indicadas mais vezes e podem ganhar suas estatuetas, como aconteceu com Natalie Portman e Emma Stone (ausência sentida, assim como o extraordinário Steve Carrel, ambos por “A guerra dos sexos”)
 
7)      Mais uma vez o Brasil ficou ausente da indicação da categoria Melhor Filme Estrangeiro com o filme “Bingo”. O cinema brasileiro está numa crise de realização? Já imaginou o filme “Marighella” (estreia de Wagner Moura na Direção) como indicado ao Oscar em 2019?
 
Pablo Spinelli - O filme “Bingo” não teve a acolhida que merecia nem no Brasil. Foi um trabalho primoroso  do seu ator principal, da produção, direção de arte e, algo raro no país, roteiro. O filme teve um papel mais evangelizador que “Os 10 Mandamentos” ou algo do gênero. E isso foi feito de forma suave, sutil. Seu final aponta  para o crescimento do pentecostalismo nas artes, nas mídias, no judiciário, nos esportes, entre intelectuais, para o bem ou para o mal, mas é um dado sociológico que o filme abordou com muita elegância. Não vi o movimento neopentescostal apostar em um filme que inclusive criticava a emissora de  televisão mais criticada pelo movimento! O filme do Marighella é uma bonita demonstração do que os antropólogos chamam de “baianidade”. Não creio que terá uma repercussão nos EUA um tema de  um “velho comunista” que vai para guerrilha e cria um manual subversivo para a luta armada. Em tempos de Estado Islâmicos, terroristas outsiders, terrorismo de Estado, não é algo palatável. Assim como não o será aqui, um filme que vai colocar mais lenha na fogueira da polarização. Espero que Wagner, com todo seu talento e carisma, pense em nomes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, ou, se quiser ficar entre os baianos, a trajetória de Jorge Amado contada em “Navegação de Cabotagem”, que daria um lindo filme de amor e de política. Sobre a crise de realizações, algo positivo no ar. Apesar do enorme sucesso de “falar sério”, vejo um declínio nas obras de Roberto Santucci. Os  filmes de humor com Porchat, Mazzeo, Hassun, existem em qualquer país, isso não é ser pequeno. Na França, Depardieu faz filmes assim, basta  ver a NETFLIX. Nos EUA, o que é Adam Sandler? O que não podemos é ficar refém de filmes assim e produzir filmes menores que falam somente para um círculo de estudantes da PUC ou do IFCS. Precisamos de roteiros que contem histórias, e não tratados de Sociologia. Isso é melhor feito pelos argentinos e seus relatos selvagens.
 
8)      O que o Senhor aconselharia ao jovem brasileiro assistir a partir dos filmes indicados ao Oscar de 2018?
 
Pablo Spinelli - O jovem já deve ter visto Star Wars, que ganhou várias indicações. Ali veria como Luke Skywalker virou um ortodoxo da  doutrina Jedi e que Yoda, sempre ele, o aconselha a parar de bobagem e fazer o que tem que fazer. O filme “Corra!” foi muito bem recebido pelos jovens por ser um filme de terror com temática zumbi. A questão é saber se entenderam o discurso contra o racismo no filme. Aliás, se entendem que os zumbis em séries e filmes também é uma alfinetada na juventude daqui e de alhures. Sugiro que tenham muita, muita paciência com os filmes com a temática da II Guerra. Um é verborrágico que trata da Grande Política. O outro, silencioso, que trata de uma fuga militar. O “Post” do Spielberg é uma provocação ao twitter do Trump, já cumpriu seu papel. Lady Bird irá agradar às meninas. O filme que passa na Itália sobre um relacionamento homoafetivo parece confirmar que todas as premiações terá um independente com essa temática.  Mas creio que o diálogo entre um monstrinho e uma surda será a vitória do México contra os EUA, pela terceira vez. E torcer para que nosso “Ferdinando” do competente Carlos Saldanha seja o vitorioso. Além disso, há uma animação sobre o dia dos mortos mexicano. Eu diria para os jovens que será o ano da tequila.


Um comentário:

Unknown disse...

Pessoalmente acho que o melhor desta lista de indicados foi Dunkirk. Eu assisti no cinema e adorei esse filme. É um dos melhores filmes de ação , tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. O Dunkirk filme cuida todos os detalhes e como resultado é um grande filme. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia com um bom elenco.