Caravanas pela Herança que não Renunciamos
Para Mila Pimentel
De Vagner Gomes de Souza
O Show Caravanas de Chico Buarque é um sucesso na mobilização
do público carioca para se reencontrar com o seu perfil democrático. Nos
caminhos e descaminhos da transição da democracia nos anos 80, o carioca se
deixou seduzir pelo atalho do populismo. A sociabilidade carioca foi se
distanciando do mundo da política e a renovação política foi se adiando.
O filho do sociólogo que ficou célebre pelo “Homem Cordial”
faz um show que faz um balanço sobre os equívocos dessa postura sectária. Chico
Buarque se manifesta na política pela sua poesia há muitos anos. Por isso, o
roteiro das composições de seu show faz esse mergulho no passado com
composições que nos lembram do pós 1968.
Duas vias eram polarizadas pela esquerda na luta contra a
ditadura militar. De um lado aqueles que reclamavam de uma “esquerda frouxa” e
defendia a resistência armada contra os militares. De outro lado, havia o
caminho mais longo e complexo pela arte de saber renunciar algumas convicções
(tese defendida pelos comunistas do PCB e que foi vitoriosa) que propunha
recompor um centro político para isolar as vertentes autoritárias à direita.
Foi essa trilha democrática que deu condições para a emergência do novo
sindicalismo no ABC com a emergência de Lula.
Não detalharemos os intelectuais da tradição comunista
pecebista que rodeavam o compositor nos anos 60/70. Mencionaremos simplesmente
o Chico Buarque do Teatro com uma dessas referências para a pesquisa. Roda Viva
(1967), Calabar (1973), Gota d´Água (1975) e Ópera do malandro (1978) representam
a espinha dorsal da cultura política do Caravanas de Chico Buarque pois as
letras desse período servem como um espectro a nos ensinar que esses tempos
difíceis só serão superados com muita maturidade para fazer uma ampla unidade.
Das letras recentes de Chico Buarque, observamos seu
amadurecimento poético com uma sutileza no questionamento da ausência da Grande
Política da esquerda brasileira. Seus versos recentes, lidos com muita atenção
demonstram que sua timidez é vencida em cada estrofe. Destacamos, “Dueto” que é
uma epopeia crítica ao ódio nas redes sociais; “Caravanas” que seria a
percepção gramsciana da cidade do Rio de Janeiro na comparação Ocidente e
Oriente e “Blues para Bia” que questiona o sectarismo de uma americanização sem
política na temática de uma “nova esquerda”. “Eu fiz este Blues para Bia/Mas
Bia não vem me ouvir” e segue a canção que na última estrofe propõe uma
invenção política.
Essa natureza criativa é uma linha da cultura política que os
cariocas deixaram de lado permitindo a emergência de operadores políticos de
esquerda que falam só para seu próprio público. O show de Chico Buarque é para
divertir e, em seguida, para que todos que gritam um “bis” em forma de slogan
político ao final, saber refletir sobre a herança que não renunciamos.
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