domingo, 19 de junho de 2011

MUNDO PARTIDÁRIO


Avançar a Democracia
Por Vagner Gomes de Souza (PPS – Rio de Janeiro)

(Essa é uma Carta Aberta aos militantes do PPS nesse processo de XVII Congresso. As opiniões expressas nessa carta são de responsabilidade de seu autor que junto com outros militantes e simpatizantes do partido desejam lançar o Movimento de Unidade dos Democratas da Esquerda – MUDE como corrente para o debate congressual. Aos interessados em adicionar novas ideias ou em formar núcleos de debate sobre nossos pontos de vista solicitamos que escrevam para o e-mail vgsouza@bol.com.br)

Muitos imaginam que a política saiu em definitivo do debate internacional. Na verdade, ela ocupa o cotidiano através de outras perspectivas que a tecnologia só faz acelerar novos horizontes e novas perspectivas. A política não se faz sem posições sejam elas de direita, centro ou de esquerda. No mundo multipolar que vivemos, há uma carência de ampliação dos espaços democráticos numa ONU estruturada na perspectiva da Guerra Fria; nas nações dominadas por ditaduras ou nos modelos de “ditadura sobre a necessidade”. Avançar a democracia não é uma figura de retórica, mas uma postura do campo de esquerda que deseja uma vinculação com os canais do século XXI.
No cenário internacional, o modelo de capitalismo financeiro buscou colocar a soberania do voto em segundo plano ao expor uma ideologia da ausência de matrizes políticas. A esquerda reagiu esse processo com duas posturas extremistas. Ou reforçou um perfil mais moderado ao ponto de adotar uma semelhança ao liberalismo de viés democrático ou se estagnou na ortodoxia do que chamamos de neo-bolchevismo. Entretanto, novos sujeitos surgiram no mundo contemporâneo e a juventude atua por novas formas num processo que impõe a percepção que o capitalismo abriu espaço para sua superação democrática por dentro. Avançar a democracia é a forma de expressão do movimento socialista no século XXI como articulador de um desenvolvimento econômico eco-humano.
Vertentes dessa linguagem encontramos na postura dos jovens americanos quando foram participar do processo eleitoral dos EUA em 2008. Nas manifestações dos jovens estudantes na França. No movimento recente de indignação dos espanhóis. Na base eleitoral da oposição ao governo Berlusconi na Itália. Na chamada Primavera Árabe. Enfim, exemplos que demonstram uma conexão internacional com a democracia que não encontra espaço nos velhos modelos da prática política. As instituições políticas democráticas foram rotinizadas pela competição eleitoral que o sistema capitalista financeiro vai conduzindo. Não se trata de relançar a polêmica da Democracia Política X Democracia Real uma vez que propomos a democracia por inteiro e não pela metade. A democracia pode mais. Podemos avançar a democracia voltando a fazer política com a base, ou seja, a sociedade.
Na massificação do eleitorado internacional é tarefa da esquerda colaborar com a organização de massas em seu cotidiano. Não há como deixar que a democracia fique estagnada ao mundo parlamentar. Portanto, a vida política da esquerda está condenada nos países onde ela não voltar a fazer sua ponte com a população. Os valores da racionalidade democrática podem estar presentes na postura política de uma esquerda contemporânea e aberta a novas abordagens. Não há limites para a democracia uma vez que desejamos uma sociedade sempre melhor e sabemos que o modelo econômico capitalista financeiro forma práticas que visam estagnar o debate democrático. As disputas eleitorais foram mercantilizado por um fetichismo publicitário o que formou momentos de despolitização das eleições em muitos países.
A despolitização em tempos eleitorais entrou em conflito com os momentos de necessidade da postura política pós-eleitoral. O Brasil entrou nessa onda globalizada da despolitização pela sua vinculação ao sucesso de modernização conservadora que garantiu nossa formação capitalista. Estamos no cenário mundial do capitalismo como o grande modelo de democracia formal após um longo histórico de posturas autoritárias. A despolitização é comum nesse processo por opção do partido político que por duas décadas defendeu um discurso anti-capitalista e de valorização do social em relação aos valores da democracia. A esquerda que foi eleita pela sociedade em 2002 já tinha abandonada sua origem anti-sistemática e soube se adaptar ao novo papel de gestor do crescimento de nosso capitalismo. Assim, ganhou a confiança dos gestores de uma nova camada burguesa e soube conduzir um processo de mudanças sociais em prazo curto para os padrões brasileiros, porém sem avançar nas mudanças democráticas ou reguladoras dos ganhos do capital. Por exemplo, a redução da jornada de trabalho para 40 horas ainda é um “tabu” para a burguesia nesse país.
Uma ampla coalizão foi se formando num processo que mais se importou com a demarcação de cargos públicos para agremiações partidárias de uma esquerda nacional até uma direita fisiológica passando por um centro político ocupado pelo Partido dos Trabalhadores. O discurso do mais do mesmo. Ou continuísmo sem continuidade não encantou uma parcela significativa da sociedade que deseja novas posturas políticas diante da educação como observamos na campanha de Cristovam Buarque (2006), diante das mazelas sociais como observamos nas campanhas do PSOL em 2006 e 2010 ou diante da ecologia como observamos na campanha de Marina Silva (2010). Valores democráticos, igualitários e ecológicos sensibilizaram muitos eleitores nas últimas eleições, porém a despolitização faz aflorar temas e valores críticos ao republicanismo de um Estado Laico (crítica ao aborto, direitos civis aos homossexuais e descriminalização das drogas).
Há uma falta de organização desse campo político, pois os partidos políticos dessas candidaturas ainda vivem com referenciais do século passado apesar de suas candidaturas estarem com um pé no mundo contemporâneo. Campanhas políticas de candidaturas praticamente avulsas que sempre somadas passaram milhões de votos. Portanto, falta uma articulação dessa frente democrática para o século XXI. A frente democrática que reúna os democratas, os ecologistas e os socialistas na formulação de um programa comum. Uma frente que vai resultar em futuros movimentos políticos e sociais, mas que deve partir de um ator político que se defina melhor politicamente. Por isso, o Partido Popular Socialista (PPS) deve estar aberto a esses novos sujeitos para começar um debate político para o futuro do país.
Não é momento de antecipar novas siglas ou relançar a ideia de uma candidatura própria para o distante 2014. O momento é de fazer política real para a sociedade que não encontra no Parlamento sua melhor inspiração de fazer política. O PPS deve ocupar esse espaço pela política incentivando o debate e a formulação política em sua estrutura. Se ainda é um partido político, o PPS deve fazer do debate da política uma rotina para além do debate das eleições. Não estamos desejando abandonar a tática eleitoral, porém para a esquerda a disputa eleitoral é um momento de tática enquanto fazer política democrática deve ser nossa estratégia. Dirigentes e/ou parlamentares do PPS se deixaram domesticar pela postura tática numa lógica eleitoreira. Até aqueles que defendem a superação do viés eleitoreiro no partido cometem o equivoco de considerar que a candidatura própria numa eleição presidencial atrairia o chamado eleitor de terceira via para nós. A princípio, não há nem esse eleitor de terceira via pois ele não se encontra politicamente organizado e nós devemos contribuir como formuladores da política programática.
Devemos estar abertos a enfrentar a crise de identidade sem ficar presos a valorização de uma identidade. Propomos uma refundação da cultura política do PPS para além do legado do Partido Comunista Brasileiro que se via no papel de ser o “ator-político” de vanguarda. Podemos ser um “ator político” de mediação da política com a sociedade com nossas referências na luta pela ampliação da democracia.

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