domingo, 27 de janeiro de 2019

OSCAR 2019 - Como nasce uma estrela

 
Nasce uma estrela: otimismo de uma vontade
Por Pablo Spinelli
Dedicado aos meus alunos e à memória das vítimas de Brumadinho
 
 
Bradley Cooper e Lady Gaga em cena do filme 
 
Nos dias atuais não é costumeiro usar uma resenha crítica de um filme para tergiversar sobre política. Nem sempre foi assim. Muitas resenhas sobre teatro, literatura e cinema sempre tiveram grandes intérpretes que faziam analogias entre as obras e a conjuntura da sua época, a trajetória do diretor, do escritor; a escolha e o método dos atores; os enfoques e sutilezas de um roteiro;  a escolha de cores num figurino ou de um ângulo da câmera ou ainda, a presença (ou ausência) da trilha sonora.  Assim foi com os famosos críticos franceses que viraram cineastas como Godard e Truffaut; com uma crítica na Itália com forte presença em periódicos de onde se destacou um Bertolucci; assim também o foi do Leste europeu socialista a uma New Yorker, revista considerada vanguardista nos EUA e, no caso brasileiro, há o exemplar caso de Paulo Emílio Sales Gomes, dentre outros.
A partir dos anos 1980, seja por mudanças nos cursos de comunicação social, seja por questões mercantis onde o espaço de uma folha de jornal tinha como meta o anúncio, a propaganda, as resenhas críticas – e aqui me fixo nas de cinema – caíram de qualidade tanto de analogia com a conjuntura política e social, quanto na capacidade de intertextualidade, salvo exceções como a do crítico Rodrigo Fonseca e o decano Ely Azeredo. O que o leitor se acostumou a ver foi a posição de bonequinhos, a quantidade de estrelas ou coisa que o valha. Bonequinho em pé, sinônimo de fila cheia. Uma estrela, condenação ao cadafalso do esquecimento. O valor do filme passou a ser meritocrático obedecendo a critérios subjetivos como excesso de explosões, currículo do diretor, pancadaria demasiada, ator carismático ou canastrão, dentre outros. Isso é muito pouco para qualificar uma obra.
Se assim o fosse, Sergio Leone jamais teria sucesso nos dias de hoje por escolher um ator com tão poucos recursos cênicos como Clint Eastwood para fazer a trilogia mais famosa sobre o faroeste americano, assim como Laurence Olivier poderia ser criticado pelos seus maneirismos teatrais levados à tela ou um Marlon Brando que parecia grunhir ou mastigas as palavras. Da mesma forma, a obra de Chaplin seria jogada ao lixo por conta do seu envolvimento com as atrizes de tenra idade ou Elia Kazan seria considerado um diretor menor por conta do seu apoio espontâneo ao macarthismo nos anos 1950.
 Dessa forma, colocamos que seja pela visão rasa determinada pelos espaços de informação, seja pelo subjetivismo político que torna o olhar da crítica muito reducionista e limitado por questões de natureza política, as resenhas viraram as costas para uma tradição belamente construída desde os anos 1920, para não ir além.
Longe de dizer que somos monopolizadores da forma correta de análise de um filme, não somos os únicos e  nem temos essa pretensão. Há blogs bons, mas a maioria se concentra no filme em si de forma primorosa, como o Adorocinema ou Omelete, mas pecam por não abranger mais a sua interpretação. Não podemos criar uma superinterpretação, ir para além daquilo que a obra nos proporciona ao olhar, sentir, dialogar. Mas, como nos ensinou Umberto Eco, podemos ter olhares sobre uma obra que o diretor não imaginou ou se imaginou, não publicizou. A obra de arte pode ser apropriada pelo espectador para dialogar com o seu tempo. Não só pode, como deve, pois se assim não o fosse,  a arte estaria condenada a ter mais e mais fatias de bacon e ser consumida como um sanduíche num fast food.
É muito comum ouvir os espectadores mais jovens falarem: “gostei”, “legal”, “chato”, “nada a ver”, “um porre, não entendi nada, muita viagem”. Não se pode subestimar o público. Claro que uns terão mais sensibilidade, outros menos. Há todo um capital simbólico de cada um, mas independente da formação prévia de quem vê um filme – e no caso do público jovem atual há poucas nuances de percepção e de expressividade como a colocada acima, independente das classes sociais ou gênero – o que se pode deduzir é que desde os anos 1980 e, principalmente, nos anos 1990 (quando o cinema brasileiro foi quebrado pelo governo do primeiro presidente eleito após a ditadura militar) e 2000 houve a falta de uma pedagogia molecular das massas para ver um filme a partir dos mais variados itens já expostos: trajetória do diretor; o que estava acontecendo no momento de sua produção e do ano de seu lançamento; as escolhas dos atores por aquele papel ou filme (nem sempre é o cachê); fotografia, música etc. etc. Isso não quer dizer que essa pedagogia tenha como compromisso fixar  o olhar para um determinado viés político ou ideológico, mas ao contrário, quanto mais olhares e interpretações mais a obra fica rica e ganha relevo e perenidade. Essa educação do olhar não é algo de um campo da esquerda. Começou nos vitrais da Igreja Católica do mundo medieval em uma sociedade iletrada, logo, acima de qualquer suspeita de marxismo extemporâneo, algo que se faz mundo nos dias atuais.
Essa longa digressão tem como objetivo mostrar o que permeará  nosso trabalho acerca não só dos filmes indicados ao Oscar, parceria iniciada no ano passado, mas também sobre séries e outros filmes que virão. Escolhemos para começar nossa conversa com vocês, prezados leitores, o filme “Nasce uma estrela” (2018), dirigido por Bradley Cooper.
O filme ganhou notoriedade pela ousadia e certo oportunismo do diretor de pegar uma história que já ganhou três versões no cinema (1937, 1954, 1976) e colocou uma cantora de grande sucesso para atuar. E conseguiu uma dupla proeza. Não só Lady Gaga atuou bem – o que não quer dizer que sempre o fará – como o próprio ator conseguiu sua melhor atuação (bem superior aos filmes que fez como Sniper Americano,  Trapaça, O lado bom da vida). Cooper deu ao seu cantor pop star decadente por conta de sua dependência de álcool e drogas uma voz que propositadamente imita ao do ator que faz seu irmão, o veterano e sempre bom Sam Eliott, uma rouquidão de uma vida cansada do estrelato, das turnês, da solidão e de um passado onde criou um mito que  desmorona ao longo do filme. Cooper já demonstrara em Guardiões da Galáxia o seu talento vocal. O seu bronzeamento artificial para algo californiano vindo de um cantor que veio do meio-oeste americano é uma demonstração do rótulo que a indústria produz.
Esses fardos fazem da sua vida um ritmo sem sentido, que acaba por ter sua epifania quando encontra uma  garçonete em um bar de drags queens cantando Edith Piaf e, com otimismo da  vontade, afirma que “a vida é rosa”. Aqui, o diretor homenageia uma das  mais importantes cantoras do século passado não só pela música como pelo ambiente com que Piaff começou sua carreira: cabarés, baixo meretrício, rodeada de meretrizes e cafetões. Lady Gaga é a Piaff do século XXI com melhor fortuna (em todos os sentidos). Sobre a Lady Gaga, há outra referência interessante no roteiro quanto às determinações estéticas da indústria, quando se refere ao nariz como obstáculo para uma carreira no show bussiness. Propositadamente ou não, a atriz que encarnara a então última versão de Nasce uma estrela, Barbra Streisand, sofreu muito por conta do seu nariz – referência para a criação da porquinha dos Muppets. Curiosamente, o filme rivaliza com outra película, que o vocalista de uma banda inglesa tinha dentes completamente fora dos  padrões  de mercado do entretenimento.
A história de amor dos protagonistas vai lenta como uma balada, mas segue adiante. Cooper não quis privilegiar o sentimento de posse que permeou as versões anteriores ao optar por um distanciamento agravado pelo escracho público, algo que podem destruir carreiras antes de um julgamento e de uma sentença, como o caso do duplamente oscarizado Kevin Spacey que se viu envolvido em um “Spotlight” para atores, que pode ser o primeiro passo para uma onda neoconservadora de costumes que os democratas não percebem que são os criadores dessa “marolinha”.
A partir dos dilemas da política dos EUA onde um ator do porte de Robert DeNiro foi ameaçado de morte de forma efetiva, qual a solução democrata para a reeleição de Trump? Paralisar o serviço federal ou dar estatuetas para mexicanos (como A Forma da Água ano passado ou Roma, esse ano) é muito pouco para uma nova política. Mas o filme de Bradley Cooper é provocativo para o caso dos EUA e para o nosso. Após Obama não se pensou na sucessão, em novas lideranças, na pedagogia cívica, na superação da crise econômica pela política, mas tão somente pela economia. Assim, a estrela que sobrou pode ter sido “a Estrela da Morte”, como adoram os  Siths. Porém, num viés do otimismo da vontade como já apontado por um cientista  político brasileiro, as novas estrelas estão por aí, podem estar num bar de drags, nas escolas públicas ou privadas, num combalido sindicato, numa ONG, num rapper, numa roda de samba. Nasce uma estrela permite a leitura de uma velha política que se vai – e vira uma estrela presa em uma constelação, não mais do que isso – e a nova política que vem  pelo mundo do interesse, do desejo, onde com treinamento, paciência virtuosa, disciplina, encantamento, pode nos dar a chance de novos pontos brilhantes aqui e alhures. Basta querer achar e fazer estudar o mundo das coisas reais. O filme é o misto do otimismo de uma vontade transformadora com o pessimismo da razão dos fatos da vida, mas essa, tal qual um rio, segue seu curso e cabe a velhos e novos marinheiros quererem dirigir as embarcações, mesmo que se esteja à beira de um precipício, como alude a bela (e possivelmente oscarizada) canção do filme.
 


terça-feira, 6 de novembro de 2018

Balanço Político de 2018 - Entrevista com César Maia

 
César Maia
 

O BLOG VOTO POSITIVO fez contato com o Vereador César Maia (DEM) que está em seu segundo mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para um balanço político do ano de 2018. Numa entrevista de rápida leitura, apresentamos uma pauta de três temas que projetam sobre o futuro dos cariocas. Nesse espaço temos intenção de abrir um amplo diálogo com as referências políticas da tradição democrática nas suas diversas vertentes além de trazer intelectuais para ajudar a pensar sobre o momento político atual.

Balanço das eleições de 2018
 
1) A vitória eleitoral do Deputado Jair Bolsonaro, com uma estrutura partidária nanica, lhe surpreendeu? 
R- Não. Faz parte da ciclotimia democrática. 
 
2) Após 30 anos da Constituição de 1988, as eleições de 2018 marcam o declínio definitivo do PT, PSDB, MDB e DEM que seriam partidos identificados com a questão democrática da Nova República?
R- Definitivo ?  De forma alguma.  Lembro que comparando com 2014 o DEM teve um forte crescimento. 
 
3) Diante resultados eleitorais no Estado do Rio de Janeiro, como avaliar que o “populismo brizolista” se transformou gradualmente num eleitorado com tendências autoritárias?
R- Tenho dificuldade em qualificar politicamente o governador eleito. 
 
Perspectivas do Futuro da Democracia
 
4) Poderemos confiar na gradual moderação da ação política do futuro Presidente? 
R- Certamente. A Constituição garante isso 
 
5) A Democracia está em risco? Como pensar em enfrentar a crise da representatividade nos dias atuais?
R- Certamente não está em crise. Lembro que na Câmara de Deputados nenhum partido se aproxima dos 20% há muitos anos. 
 
6) Qual sua opinião sobre o artigo do ex-PresidenteFernando Henrique Cardoso “Paciência histórica” (O Estado de São Paulo, 04/11/2018) no qual ele defende um Centro Radical? O DEM poderia fazer parte desse “campo político”?
R- Achei muito bom o artigo. O DEM de certa forma inaugurou o centro radical. 
 
A Gestão do Prefeito Marcelo Crivella
 
7) O Prefeito Marcelo Crivella tem praticamente dois anos de gestão. No que tem acertado e no que tem errado?
R- Prefiro esperar o início do terceiro ano. Por enquanto me parece um tanto lerdo. 
 
8) Em sua opinião, a gestão das contas públicas da Prefeitura do Rio de Janeiro está sendo bem feita?
R- Perderam um ano todo e agora tentam recuperar em 2018. 
 
9) O Prefeito Marcelo Crivella tem condições de ser reeleito nas próximas eleições municipais sem se aliar com o “clã Bolsonaro”? 
R- Todos tem. Muito cedo para avaliar. 

domingo, 4 de novembro de 2018

CULTURA DEMOCRÁTICA - Sobre o filme Bohemian Rhapsody

 
Uma Ópera pela Democracia

Por Vagner Gomes de Souza

A cultura democrática é uma forma lírica de fazer oposição ao retrocesso no campo das ideias. As manifestações culturais não estão na pauta dos programas governamentais, pois a saída pelo “mercado” impossibilita o reconhecimento da pluralidade. O stablishment dos meios de comunicação de massa programa um “darwinismo cultural” no qual o “mais do mesmo” sempre é a melhor para as forças conservadoras.  Fazer a crítica ao senso comum é a tarefa política dos ativistas no novo cenário cultural mundial. O pensamento racional e laico está sob pressão de ideias fundamentalistas que se contrapõe a abertura de um diálogo.

As versões histéricas da postura autoritária tem seu marco fundante na reação mundial ao pós – 11 de setembro sob o comando dos EUA. Em seguida, uma Guerra foi iniciada contra o Iraque como resultado de um “Fake News” diplomático, ou seja, a denúncia de que Saddam Husseim teria um “Kit de Armas de Destruição em Massa”. A publicidade do medo justificou muitos meios de cultivar o ódio ao redor do mundo ao ponto do terrorismo islâmico contribuir para iniciativas restritivas da democracia na Europa e outros países (seria interessante acompanharmos o debate no Congresso Nacional da nova redação da Lei de Antiterrorismo).
 
  A globalização das finanças mundiais fortalece essa superestrutura conservadora nas manifestações, mas há espaço para que as forças do campo democrático se articulem de forma também globalizada. O reconhecimento do risco deve ser compartilhado por todos os segmentos democráticos do mundo. A cultura precisa ser sempre a força da liberdade e enfrentar as forças do autoritarismo requer unidade. Portanto, o filme “Bohemian Rhapsody” vai além de ser um marco na cinebiografia como sugere uma leitura atenta da letra da música que dá título ao filme.
 
Rami Malek interpreta Freddie Mercury
 
Destacamos esses versos: “Eu sou apenas um pobre garoto e ninguém me ama/Ele é só um pobre garoto de uma família pobre/Poupe sua vida, desta monstruosidade” (“Bohemian Rhapsody”). E verificamos que o filme é uma verdadeira ópera para refletir esses tempos em que o voto de ódio está alimentado pelo desamor e revanchismo social das classes dominantes contra os serviços públicos. Freddie Mercury fez carreira no contexto da unidade na banda Queen em tempos de ensaios do neoliberalismo na cultura anglo-saxônica (Inglaterra e EUA). Um jovem imigrante que tinha uma aparência muito apropriada para sofrer “Bullyng”. Além disso, a sua vida privada foi assediada pela chamada imprensa sensacionalista por causa de sua sexualidade.
 
O filme faz uma narrativa que condenaria o hegemonismo e protagonismo. Assim, as forças democráticas no Brasil e no mundo recebem um convite para que sejamos mais modestos em nossas escolhas. As mobilizações democráticas para o futuro devem se alimentar de um compromisso com os círculos culturais junto com a juventude pela democracia. Além disso, é urgente a globalização da luta pela defesa da democracia com a convocatória de um Fórum Democrático Mundial com eventos culturais que poderiam ter sua primeira edição na cidade do Rio de Janeiro.
 


domingo, 21 de outubro de 2018

TEATRO E FRENTE DEMOCRÁTICA


Confissões de um Diálogo Necessário
Vagner Gomes de Souza

Em tempos de falsas polarizações no cenário político brasileiro, as manifestações culturais são mais lúcidas que muitas articulações políticas. A peça “Confissões de um Senhor de Idade” permite que os segmentos democráticos da esquerda trilhem um caminho de diálogo com os religiosos. O autor/ator principal escreveu o texto antes da emergência eleitoral de uma “onda conservadora” favorável a busca de uma supremacia religiosa da chamada “Teologia da Prosperidade”. Entretanto, os diálogos entre o personagem Flávio e Deus ganham uma nova conexão com os novos tempos.
Chegamos ao momento político em que a peça ganha uma vida própria para além das intenções de seu criador. A peça ganha um livre-arbítrio na leitura do público.  Assim, o personagem Flávio estaria a redigir sua autobiobrafia após 63 anos de carreira como ator e recebe a visita de “Deus”. Nesse encontro inesperado há uma proposta de “Pacto” no qual “Deus” deseja ser hegemônico, porém, aos poucos, o incrédulo personagem vai expondo sua vida e seus motivos de reflexões sobre a espiritualidade.
No desenvolvimento da peça o expectador tem a oportunidade de conhecer um pouco de Flavio Migliaccio num depoimento em que expõe o quanto a cultura poderia enfrentar as dores humanas. A infância depoimento/peça é uma versão brasileira do filme italiano “A Vida é Bela”. O “Deus” faz a partir daí um julgamento sobre o nosso personagem sem fé ao mesmo tempo em que é dialeticamente confrontado com sua existência diante da humanidade.
Há fortes inspirações filosóficas no texto teatral, porém não deixemos de destacar seu impacto na sociologia política contemporânea. As bancadas religiosas ganharam força após a “Era Collor”. O discurso de modernização liberal extremado se conectou na sociedade e a crise do Estado de Bem Estar Social permitiu que denominações religiosas consolidassem a “Teologia da Prosperidade”. A mobilidade social em favor de uma falsa “Nova Classe Média” foi a “alavanca” sociopolítica desse novo olhar sobre a religião. Aos poucos, o conservadorismo político se transformou no ator político dessa metamorfose social.
Diante dos mais politizados, a peça demonstra que a morte da “Teologia da Libertação” é um fenômeno que deixou um vazio no diálogo da esquerda com as classes subalternas. Longe de lançar uma solução para essa fratura, a peça resgata o discurso do Amor presente no cristianismo primitivo. Agora, o texto tem o desafio de ser “testado” nas periferias das grandes cidades onde o neopetencostalismo e setores neoconservadores da Igreja Católica transitam num processo de “novos intelectuais orgânicos” do autoritarismo ultraliberal.
A peça é didática ao estilo das escritas nos tempos do CPC da UNE. Os atores políticos não podem estar ausentes dessa reflexão para que haja a coexistência democrática entre fé, conhecimento científico, liberdade cultural e tolerância. A política do charlatanismo está manipulando a fé das camadas populares. No campo do marxismo, Gramsci foi um estudioso sobre essa relação religião e política e testemunhou a ascensão do fascismo sob o silêncio de muitos religiosos. Essa seria uma interessante leitura para esses novos tempos além de ir ao Teatro.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A Literatura na Ruptura do Silêncio - ENTREVISTA


 
A sociedade brasileira vem reconhecendo, a cada momento, o seu passado relacionado a memória dos esquecidos. Um importante segmento foram os negros. O silêncio sobre a escravidão está se rompendo aos poucos. Na literatura contemporânea há vários títulos que permitem esse novo olhar.
 
O BLOG VOTO POSITIVO fez uma entrevista com a escritora Eliana Alves Cruz sobre seu trabalho O Crime do Cais do Valongo (2018). Confiram a seguir.


 
 
 
 
A autora no Programa Trilha de Letras
 
1)  Seu primeiro romance (Água de Barrela) relata a trajetória familiar desde o século XIX. Trata-se de um esforço pela memória das camadas populares silenciadas? Como foi a elaboração desse romance?
 
Ele é fruto de histórias orais, entrevistas, documentos, imagens familiares e, principalmente, da convivência da vida inteira com muitas daquelas pessoas. Elaborar o romance foi um trabalho prático de pouco mais de cinco anos complementando todas as informações com pesquisas em arquivos públicos e estudando a história do país no período abordado no romance com os nossos olhos, ou seja, o das camadas que foram silenciadas por tantos séculos.
 
2)  Esse ano, O Crime do Cais do Valongo, ganhou grande repercussão nos meios de comunicação. Como você avalia esse momento da literatura brasileira?
 
Avalio que a repercussão do romance é uma consequência da busca por mais diversidade na literatura tanto em quem a produz quanto em seu conteúdo, ou seja, autores que reflitam a pluralidade da narração e com histórias que quebrem a narrativa elaborada a partir de uma única perspectiva. Creio que estamos vivendo um momento especial onde finalmente autores negros e negras, indígenas, LGBTQI, periféricos, enfim, a população brasileira se sente livre para também produzir literatura e não apenas o perfil elitista que sempre a dominou.
 
 
O livro
 
3)  O Crime do Cais do Valongo seria sua visita ao gênero policial pelo caminho do romance histórico. Qual o viés crítico do romance?
 
Eu quis me utilizar de diversos gêneros para que este pedaço tão importante da nossa história pudesse ser captado pelo leitor da melhor maneira possível. Um romance policial, histórico e com elementos fantásticos que traz muitos aspectos que estão na nossa formação, mas que são pouco explorados.
 
4)  A concentração de renda na sociedade brasileira poderia ser entendida a partir de nossa raiz escravocrata. O Crime do Cais do Valongo também teria essa inspiração social?
 
Sim. Não há como contar esta história sem fazer uma profunda crítica a nossa elite, que desde sempre busca manter fechado em um círculo diminuto as riquezas nacionais produzidas, na verdade, por pessoas que foram totalmente excluídas.
 
 
J. M. Rugendas (1802 - 1858)
 

5)  Nas suas pesquisas para elaborar o romance, o que de interessante ou curioso você descobriu e que poderia motivar um novo olhar sobre a escravidão no Rio de Janeiro?
 
            Descobri que não existe uma história da escravidão. São “escravidões”. Esta instituição foi muito diferente nas diversas regiões do país e também distinta dentro do Rio de Janeiro. Descobri que o país inteiro tem o DNA de pessoas que aqui entraram e isto faz a história do Valongo ser crucial não apenas para a cidade, mas para o Brasil inteiro e para o planeta. Muitos dos que por lá passaram foram diretamente para a mineração em Minas Gerais, por exemplo. Há inclusive um quadro de Rugendas que retrata comerciantes mineiros barganhando em mercado de escravizados no Valongo. Uma em cada grupo de quatro pessoas que vieram escravizadas para as Américas desembarcou no Brasil e deste contingente, cerca de 60% pisou em primeiro lugar no Rio de Janeiro. Se o tráfico transatlântico foi o maior da humanidade, isto faz da cidade do Rio o maior porto de escravos da história humana. Entender isto muda tudo.
 
6)   O atual momento da literatura brasileira tem contribuído em que sentido para pensar num país mais democrático e justo?
 
 Quando os personagens que nunca tiveram voz ganham uma dimensão humana e protagonismo, finalmente é conferida dignidade, que é a base do respeito. Sem respeito às diversas visões de mundo não existe democracia e justiça possível.
 
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ELEIÇÕES 2018 - ENTREVISTA COM SAMUEL BRAUN

 

O BLOG VOTO POSITIVO abre espaço para que candidaturas comprometidas com o “voto de opinião” tenham visibilidade nesse processo eleitoral cada vez mais seletivo em benefício das candidaturas do campo conservador. Aqueles que desejarem passar pelo crivo de nossas perguntas entrem em contato com o e-mail vgsouza@bol.com.br. A seguir o candidato a Deputado Estadual do PSB-RJ expõe seu ponto de vista sobre o cenário político estadual que necessita de uma profunda renovação política no quadro legislativo. Leiam e divulguem essa corrente de opinião.
 

1)          O que faz sua candidatura a Deputada Estadual ser diferente no atual cenário político?

Samuel Braun 40111 (PSB) - Inicialmente, a oportunidade de dialogar com quem busca informação no Voto Positivo, servidores, moradores de Campo Grande, pessoas com senso crítico e pensamento progressista. Acreditar que nossa região tem a carência de renovação de seus quadros políticos e o desejo de ter representantes diferentes das máfias políticas hereditárias e clientelistas que há anos impõem seu jugo sobre a Zona Oeste.
Não considerar que a Zona Oeste tem apenas problemas a serem explorados com promessas vazias, mas que tem potencial de ser a região mais próspera da cidade e locomotiva do Estado. Que somos a maior parte do território desta cidade e seu maior quantitativo populacional, e podemos sediar um pólo industrial e de inovação que dê a virada na economia fluminense.
Os anos de militância nos movimentos sociais, estudantil, popular e sindical, a equipe composta de servidores, professores, estudantes, pessoas comprometidas unicamente em fazer uma candidatura “pé no chão” e competitiva. Esses são alguns dos diferenciais que nos levam a apostar numa candidatura progressista na nossa região.
 
2)          Muitos eleitores não sabem da importância da escolha de Deputado Estadual. Além disso, há muitas manifestações favoráveis ao não voto (abstenção, voto nulo e em branco). Como sua campanha pretende enfrentar essa situação? 

Samuel Braun 40111 (PSB) - Gastamos boa parte do tempo de debate sobre política, no nosso dia-a-dia, nos transportes, na padaria, etc, falando do Governador, suas omissões e erros. Mas este não só não conseguiria levar adiante suas péssimas escolhas sem a cumplicidade dos deputados estaduais, como grande parte das decisões que nos levaram à essa crise ética, política, segurança e financeira surgiram na ALERJ. Ali estão os representantes das máfias do transporte, dos desvios na saúde, etc.

E quem são os nossos representantes, os deputados da Zona Oeste? Os que votam a favor da Fetranspor, RioÔnibus, Supervia, da soltura de Picciani, da entrega do Rocha Faria, do Pedro II à exploração econômica. São os que primeiro votam contra a população do Rio. A solução para essa péssima representação é procurar saber como votou cada deputado atrás de reeleição hoje, olhar quem apoia esses candidatos de renovação fake, se estão aliados ao Paes, ao Pezão, ao Crivella. Porque não votar ou anular não irá alterar a composição da Alerj. Se todos deixarem de votar, e só eles votarem em si mesmos, serão eleitos assim mesmo, a eleição não é anulada.

O caminho então é votar, mas votar diferente. Olho no olho com o candidato, olhar seu passado, seus apoios, suas propostas, se tem disposição para prestar contas do mandato. Se o candidato não é filho de dinastia política, se não tá defendendo cartéis que exploram o povo, e se suas propostas valem a pena um voto de confiança. 

3)          O Rio de Janeiro atravessa uma grave crise com altos índices de desempregados. Qual o papel da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) para enfrentar essa crise?

Samuel Braun 40111 (PSB) - Mais que o Governador, é da ALERJ a responsabilidade de tirar o Rio do atoleiro. Durante alguns meses dialogamos com o principal economista do Rio, Mauro Osório, para ter um diagnóstico preciso e uma proposta de saída da crise. Esse é o papel de um deputado estadual, não aprovar cortar o salário dos aposentados e servidores, vender a água do povo e agravar a crise com desemprego como tem acontecido nesse “plano de reajuste fiscal do Rio”.

São décadas de péssimos governos que abandonaram o desenvolvimento do Rio, fazendo dependermos totalmente do preço do petróleo e do comércio. A Baixada e Zona Oeste são a região metropolitana nacional menos industrializada, e o preço disso é que quando o petróleo cai, não há dinheiro circulando, logo o comércio não vende e começa a demitir. A saída disso não é vender a CEDAE por 3 bilhões pra pagar uma dívida anual de dezenas de bilhões. Isso só agrava a crise e gera mais desemprego.

A Alerj pode oferecer uma saída da crise que ao mesmo tempo revolucione a qualidade de vida da nossa região: os pólos industrial, de inovação e a área de desenvolvimento planejado e sustentável na Zona Oeste. É investir os bilhões que ainda hoje são desperdiçados com termas, empresários de ônibus e joalherias, para instalar no retroporto de Itaguaí (e também de Sepetiba) um parque industrial que gere milhares de empregos duradouros e bem remunerados, assim como investir em laboratórios escolares com incubadoras de startups e num parque de geração de energia renovável. É apontar para o futuro com geração de emprego perto de casa, sem horas de trânsito e com melhores rendimentos. 

4)          Quais suas principais propostas para a campanha? 

Samuel Braun 40111 (PSB) - Elaborei junto dos companheiros que compõem a equipe de campanha 111 propostas, durante os meses de Março a Julho, consultando não só os especialistas mais renomados, que acreditaram na nossa candidatura, mas também ouvindo representantes das categorias profissionais, segmentos sociais, etc. Dividimos essas propostas em áreas, como transporte, renovação política, educação, cultura, esporte e lazer, geração de emprego, segurança pública, saúde e direitos humanos. Por isso, seria mais fácil responder as propostas centrais em cada eixo destes.

Mas como nosso principal foco é a Zona Oeste, posso destacar algumas. Educação em tempo integral e profissionalizante é uma proposta que se relaciona com dezenas de outras. É priorizar a expansão e valorização da rede Faetec. É estruturar a UEZO em sede própria e com parcerias capazes de torna-la pólo de produção de conhecimento e capacitação científica no Rio para inovação e energia renovável, indústria bioquímica, etc.

Também queremos focar o mandato em reformular o setor de transportes no Rio, tanto no enfrentamento do cartel da Fetranspor, como também o lucro fácil e falta de investimento da Supervia. Focar também na expansão dos sistemas aquaviário e metroviário, este último interligando Jardim Oceânico, o Terminal Alvorada, Jacarepaguá, Rio da Prata e Campo Grande, num custo semelhante ao que ligou Ipanema à Barra atendendo inúmeras vezes mais pessoas.

Os Pólos Industrial, de Inovação e Área de Desenvolvimento Planejado e Sustentável são um conjunto de propostas que incluem educação, urbanismo, desenvolvimento, emprego, energia, habitação, transportes, e que podem deixar pro Rio um legado histórico e transformar nossa região, em poucos anos, naquela que mais se desenvolva, econômica e socio-ambientalmente em todo o país.

 

terça-feira, 12 de junho de 2018

Literatura Brasileira Contemporânea: Entrevista com Márwio Câmara

Nas margens desse mundo líquido há muitas contribuições na literatura brasileira contemporânea para contribuir na interpretação do momento em que vivemos. O livro de estreia de Márwio Câmara é um desafio para aqueles que desejam enfrentar as saídas autoritárias para nosso país. Solidão e outras companhias merece ser debatido nos diversos circulos de leitura que emergiram recentemente. Fica aqui essa dica e abaixo segue a entrevista que VOTO POSITIVO fez com o autor.
 
 Foto: Cris Torres

Qual foi sua trajetória pela literatura até o seu livro Solidão e Outras Companhias?
 
Comecei trabalhando como jornalista. Sempre fui apaixonado por literatura. O exercício de compor histórias iniciou-se nos primeiros anos da infância. Sempre tive a certeza de que seria escritor. O que me levou à faculdade de Comunicação foi exatamente a ambição de um dia publicar um livro. Não imaginava que no meio disso tudo passaria a escrever sobre livros. Foi um exercício muito natural e prazeroso. Amo fazer entrevistas, sempre estou tentando construir conhecimento com o meu entrevistado. Entrevisto, sobretudo, escritores. Gosto também de resenhar, mas, sobretudo, escrever matérias especiais e ensaios. Todos voltados à literatura. No meio de tudo isso, acabei trabalhando num festival literário e também conhecendo o meio. Trabalhei durante alguns anos como assessor de imprensa, mas vi que esse trabalho mais me afastava da literatura do que me aproximava. Por isso, resolvi fazer uma pós em Estudos Linguísticos e Literários, e também uma licenciatura em Letras. Seria uma forma de eu trabalhar com literatura, e ganhar algum dinheiro com isso, já que a crítica literária te dá mais status do que qualquer outra coisa. Descobri que a docência é a minha grande paixão ao lado da literatura. E, diferente do jornalismo, me sinto um cidadão somando ou querendo somar na vida de alguém. O espaço da sala de aula para mim é sagrado. É como uma segunda casa. Amo construir conhecimento com os meus alunos. Sou muito empático com as pessoas, no sentido de me colocar no lugar delas, o que é um exercício fundamental para quem escreve. Isso me ajuda dentro de sala de aula. No final das contas, os alunos precisam de alguém que ame realmente o ofício da docência, e eu verdadeiramente amo. 

 

Quais seriam suas referências literárias? De que forma elas aparecem em seu livro de estreia?
Minhas referências literárias são muitas.  Acho que, de maneira geral, os autores que até hoje fazem a minha cabeça são aqueles que exploram a psique humana e trabalham a linguagem de uma forma diferente e bastante libertária, fugindo das regras ou dos modelos pré-estabelecidos da prosa convencional. Eu poderia citar aqui o James Joyce, a Virginia Woolf, a Clarice Lispector, o Fiódor Dostoiévski, o Samuel Beckett e o Laurence Sterne, que é um autor incrível, extremamente sofisticado e moderno, de lá do século 18, que influenciou, inclusive, o Machado de Assis e o já citado Joyce. Faço muitas citações de obras literárias, musicais e cinematográficas neste livro. Gosto de trabalhar com essa coisa do hipertexto. Ou seja, um texto que te leva para outros tipos de textos e referências. Meu livro de contos trata-se, na verdade, de uma narrativa puzzle. A ideia das possibilidades de leitura e de brincar com a fusão dos gêneros literários e artísticos, em virtude da fragmentação, permite que ele possa ser lido como um livro de contos ou romance.

 
Solidão e Outras Companhias foi lançado no ápice de uma crise de público no mercado editorial no Brasil. A recepção do livro atendeu as expectativas?
Fui lançado numa editora pequena, com distribuição limitada nas livrarias. A editora imprimiu 180 exemplares iniciais, mas totalizou mais de 210 em dois meses de lançamento. Se tratando de um livro de estreia e com uma distribuição limitada, esse número é ótimo número. As vendas me deram a consciência de que o público me conhece e existe um interesse pela minha produção literária. Desde 2013 passei a escrever resenhas, entrevistas e ensaios de literatura na internet, migrando para os cadernos de cultura mais tradicionais da imprensa brasileira. Mas eu não tinha ideia de que existia um expressivo número de leitores de vários cantos do Brasil me acompanhando. Isso é muito gratificante.
 
Sempre há uma expectativa no lançamento de um livro de estreia. Você poderia fazer um perfil do leitor do seu livro?  
Não tenho muita ideia do perfil dos meus leitores, mas creio que parte dele seja de escritores, jornalistas e professores. É um círculo vicioso se tratando da literatura brasileira contemporânea. Os autores acabam se dialogando com os seus pares. Meu trabalho não é muito voltado a uma literatura que se pretende entreter exclusivamente o leitor. A literatura pode entreter, não há nenhum problema com isso. Mas trabalho bastante com a experimentação da forma, com diferentes recursos em minha narrativa. É como uma espécie de laboratório. Não creio que eu esteja inventando nada novo, mas estou inserido num ambiente de vanguarda. Tenho interesse em contar uma boa estória, sendo que nesse exercício existe uma ambição em trabalhar com processos mentais, sinestésicos e locais em que a linguagem alce um novo patamar, que não seja apenas o senso comum. Gosto da ruptura, de estar fora da caixinha. Não desejo escrever para um grupo restrito de pessoas, mas desejo leitores que encarem a literatura como uma experiência  para além do mero entretenimento, que, no fundo, não diz nada. 

Há alguma experiência de trabalho em escolas públicas com seu livro? Qual seria o elemento mais atrativo do livro para a juventude?
Alguns amigos do meio literário já me disseram que alguns contos do livro poderiam ser utilizados em sala de aula. Apesar dos temas serem bastante pungentes, acredito que eles podem ser trabalhados sim com o público do Ensino Médio. Sou professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação, e os meus alunos sempre perguntam pelo meu livro, mas pouco falo sobre ele em sala de aula. (risos) Quem sabe aconteça de alguém adotar para uma turma de Ensino Médio. Seria muito legal. Embora haja uma imagem de que a juventude não gosta de ler, creio que falte mais incentivo das famílias e das escolas, além de mediadores de leitura, para que as crianças e os adolescentes descubram esse universo e se identifiquem por ele. Não creio que o brasileiro seja desinteressado pela literatura. Precisamos de mais incentivo e pessoas engajadas nesse propósito.  A literatura é um grande barato, mas a seleção e ao mesmo tempo a autodescoberta são fundamentais para se construir um leitor.
Foto: Cris Torres
 

A narrativa de seu livro se aproxima da periferia?
Olha, essa pergunta é bem interessante, porque estive pensando muito sobre a questão, desde que eu participei de uma mesa sobre autores da periferia, no Salão Carioca do Livro (LER). Sou nascido e criado na periferia, e já vi muita coisa que pessoas que moram na Zona Sul ou nos grandes centros urbanos não fazem ideia. Sei o quanto a classe média e o proletariado sofrem, etc. A periferia é brutalmente esquecida pela maioria dos nossos governantes. As coisas chegam por aqui de forma muito lenta e atrasada, muitas vezes. Meu livro, embora não mimetize esse universo propriamente dito, fala sim da periferia, a partir do momento em que insiro como personagem principal uma travesti. Ela é o centro e o corpo de todo o livro. Ao mesmo tempo, falo de outras questões, que envolvem a falta de oportunidade no mercado de trabalho – a tal falácia da meritocracia – e também da própria segregação das pessoas, da falta de um olhar mais aprofundado e sensível sobre as coisas ao nosso redor, e que tem a ver também com os sujeitos ditos como marginais. Aliás, creio que todas as personagens de meu livro que estão à margem da esfera dita normativa da sociedade. No fundo, são seres solitários que buscam através da imaginação e da autorreflexão uma resposta às suas duvidas ou simplesmente uma válvula de escape. Então, pensando nesta questão sobre a periferia, meu livro reflete e muito sobre, não de forma bairrista ou de cunho restritivamente social, porém no sentido humano de ser periférico, deslocado, à margem.
 


Vai participar da FLIP ( Festa Literária Internacional de Paraty) em julho?

Olha, todo ano eu tento me programar e nunca consigo ir. Parece que este ano existe uma possibilidade. É a festa da Hilda Hilst, uma escritora que gosto muito e que, infelizmente, teve seu reconhecimento de forma muito tardia, como ocorre a grande maioria dos escritores. Parece que na literatura poeta bom é poeta morto. Mas, sim, existe a possibilidade de eu estar na FLIP, embora nada oficial por enquanto.

Tem algum novo livro em andamento?

Tenho um livro pronto que entreguei há poucas semanas para o meu editor. É um poema em prosa, que saberemos mais detalhes no ano que vem. Mas o que eu posso adiantar, por ora, é que trata-se de um livro que fala essencialmente sobre o amor, ou a idealização dele.





domingo, 3 de junho de 2018

CORRENTE DO BEM CONTRA A ONDA AUTORITÁRIA


FUTEBOL E POLÍTICA - COPA DO MUNDO 2018


Sou Tiago Bastos de Souza, tenho 19 anos, estudo na Universidade Salgado de Oliveira – Campus Niterói, graduando Educação Física no terceiro período. Filho de professores e apaixonado por futebol desde, minha primeira Copa do Mundo em 2002 e com muita honra estou na entrevista para esse Blog do meu pai!
 
1)      Em sua opinião, quais as três seleções favoritas para a Copa do Mundo da Rússia (2018)? Por quê?
 
Em minha opinião certamente Brasil e Alemanha são uma dessas três favoritas, mas a terceira é bem difícil, pois existem várias seleções tirando as duas acima capazes de conquistar a Copa do Mundo como, por exemplo, as seleções dos melhores jogadores do mundo como Messi e Cristiano Ronaldo, por Messi ter levado sua seleção a Copa do Mundo pelas eliminatórias e na última Copa chegando até as finais e sendo premiado como melhor jogador do Mundial, lembrando que Messi tem uma amargura em sua seleção não tendo conquistado nenhum título com ela e Cristiano Ronaldo que comandou sua seleção na Eurocopa, sempre querendo mais em suas conquistas vem bem focado para lutar pelo título inédito para sua seleção e país. Então deixo a terceira seleção favorita em aberto, pois existem várias devido suas tradições em copas e por seus jogadores que são destaques no futebol internacional. A minha escolha do Brasil certamente está pelo fato de sermos o país do futebol, com mais títulos em copas do mundo e considerando isso, somos sempre os favoritos, acredito que todas as seleções ou países que acompanham bem o futebol acreditem nisso. Já minha escolha para Alemanha é sua grande tradições em copas também, foi à última a ter ganhado e o trabalho daquela seleção continua com alguns remanescentes e outros novatos em Copas do Mundo fazendo uma renovação, mas que não abale o jeito da Alemanha jogar e não caindo sua técnica, formando uma renovação forte e saudável.
 
2)      Quais as qualidades e os pontos fracos da Seleção Brasileira convocada pelo Tite?
 

A meu ver suas qualidades são seus grandes jogadores que atuam na Europa, que disputam grandes campeonatos a quase nível de uma Copa do Mundo, contendo três jogadores que atuam no Brasil, mas que já atuaram na Europa e um que atua no futebol chinês, mas já atuou na Europa também. Seu ponto fraco até o momento é sua convocação inédita, pois os 23 jogadores nunca foram convocados juntos, mas, teremos dois amistosos que se focarem encarando como se fosse um torneio antes da Copa do Mundo e irem bem, encaixando o grupo desde os que estão fora de serem titulares até os titulares para terem um grupo coeso.
 
      3)      Em sua opinião, qual o jogador que merecia ter sido convocado mas foi deixado fora da lista? Por quê?
 
Eu concordo com Tite quando em sua coletiva de convocação ele diz que foi injusto em sua convocação, pois vários jogadores mereciam ser convocados. Mas o que destaco mais é o goleiro Marcelo Grohe do Grêmio como terceiro goleiro no lugar de Cássio do Corinthians e na lateral direita Mariano do Galatasaray da Turquia ou Marcos Rocha do Palmeiras no lugar de Fagner do Corinthians. Não tirando o mérito deles, pois, são bons jogadores e mostraram sendo campeões do Campeonato Brasileiro, mas, Marcelo Grohe foi destaque na conquista do Grêmio na Libertadores fazendo grandes defesas e no Brasileiro também, já Marcos Rocha do Palmeiras mantem sua regularidade desde a era Ronaldinho Gaúcho em 2013, quando eles eram do Atlético Mineiro e Mariano bom lateral que ganhou grandes títulos com o Fluminense e com seu destaque foi para Europa e lá ganhou a Liga Europa com o Sevilha na temporada 2015 para 2016.
 
4)      Quando o brasileiro vai começar a se empolgar com a Copa do Mundo? A crise econômica enfraqueceu o desejo de torcer?
 
 O brasileiro está empolgado nos últimos meses, acredito eu, desde a lesão de Neymar e maior divulgação na mídia que a Copa está chegando. Logicamente não, as dificuldades dos brasileiros devido a sua crise econômica e política só aumenta a vontade de torcer pelo Brasil, para mostrar que o Brasil é muito mais do que as crises e que elas não ocorrem só aqui, a Copa transforma o brasileiro em uma verdadeira união, é algo surpreendente e inexplicável. 
 
          5)      O que o futebol brasileiro aprendeu com a derrota de 7 X 1 para a Alemanha em 2014? O que precisamos fazer para melhorar?
 
O futebol brasileiro aprendeu que tem que entrosar mais seu conjunto e principalmente estudar mais sobre futebol, não é só convocar, treinar e ir para copa, mas tem que ocorrer um estudo aprofundado de seus jogadores para ser convocado, trazer eles mais para cultura brasileira, pois muitos jogam fora, estudar principalmente aonde irão jogar essa Copa e seus rivais tendo respeito enfrentando de igual para igual. Acho que Tite já vem fazendo algo para melhorar, sendo que a meu ver é o técnico que melhor se preparou da seleção brasileira no século XXI para Copa do Mundo, agora iremos ver o resultado, esse será o teste maior que apresentará esse aprendizado.
 
6)      O resultado da seleção brasileira na Copa do Mundo influenciará nas eleições do Brasil?

Acredito que não, pois o grupo político parlamentar em sua maioria não convive muito com o grupo político do futebol brasileiro, então acho muito fraca sua influência com a seleção.
 
 7)      O destaque da Seleção Brasileira na conquista do Tetra (1994) é pré-candidato a Governador do Rio de Janeiro. O eleitor do Rio de Janeiro votaria no programa de governo ou na qualidade do ex-jogador?

Acredito que pela qualidade do ex-jogador, pois mesmo que o grupo político parlamentar não tenha muito contato com o futebol, o futebol tem muito contato com o brasileiro, então, de um político que não seja jogador para um que seja, tem uma grande diferença, pois a maioria irá conhecer o ex-jogador, ainda mais com uma Copa do Mundo nas costas.
 
   8)      Qual jogador poderá ser o grande craque da Copa do Mundo da Rússia? Por quê?

Não haverá um grande craque na Copa do Mundo, mas sim, vários grandes craques em muitas seleções. Porque os grandes craques atualmente se destacaram em suas seleções desde as eliminatórias, aparecendo novos e inesperados grandes craques nas repescagens e só irão os melhores jogadores do mundo, então terão grandes jogos e com grande otimismo que venha o Hexa!