A cultura política mineira e as
eleições municipais de 2024
Pacelli
Henrique Silva Lopes.
Há cem anos, a presidência do Brasil era exercida pelo
mineiro Arthur da Silva Bernardes, que se destacou na renovação do Partido
Republicano Mineiro na sua segunda geração. Bernardes enfrentou intensas
batalhas políticas com grupos rivais dentro de seu próprio partido.
Na época, a bancada mineira na câmara federal era conhecida
como carneirada, por votar em bloco, tinha fortes conflitos no seu seio. Os
grupos políticos eram obrigados a negociar acordos que envolviam as
candidaturas nos níveis municipais, estaduais e federais.
As fontes históricas da Primeira República mostram que
adversários de uma mesma localidade chegaram a acordos várias vezes. Esses
pactos contemplavam candidaturas municipais e estaduais, evitando assim os
conflitos políticos.
Hoje em pleno 2024, vemos a ausência do vivere civile. A ausência de polarização política ilustra a força
do nosso Riobaldo de Guimarães Rosa ao dizer que “uma coisa é pôr ideias
arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de
mil-e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega:
todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida,
saúde, riqueza…”[1]
É neste mundo concreto do personagem que vemos as nuvens
reais e densas de fumaça fruto das queimadas que assolam nosso país.
Em Contagem e no Rio de Janeiro vemos candidaturas, cada uma
à sua maneira, com propostas palpáveis, pautadas no centro político
democrático, com diálogo com o mundo evangélico.
A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), conta com uma
quantidade significativa de aprovação do seu primeiro mandato, acima de 70%, um
indicativo de que vencerá no primeiro turno. Essa bem poderia ser a de Dirceu,
já compreendeu que suas lutas passam pelo mundo de Riobaldo, e que assim como
ele que esteve com os conjuradores, precisará se ater à construção de uma
política de distribuição fiscal de republicana de novo tipo compatível com a
grave crise das Minas Gerais, uma vez que, a atual em e breve encontrará seu
fim via STF e o desiderato da reforma tributária.
Em cidades como Juiz de Fora e Muriaé, Margarida Salomão
(PT) e Marcos Guarino (PSB), podem seguir o bom exemplo de Contagem e fazer uma
campanha benfazeja, para onde seus opositores não constroem alternativas
viáveis. Entretanto, na experiência de Juiz de Fora, se reeleita a prefeita
terá que fazer aggiornamentos.
Parafraseando Tancredo Neves: “Só há pátria com democracia.”
E em ambas é necessária a negociação política. Aos poucos, a realidade corrige
o curso de todos distinguindo entre o útil e o mal compreendido no dizer de
Tocqueville,
Para isso, será necessário não perdermos mais oportunidades
de fortalecer a Frente Democrática vitoriosa em 2022, o que ficou evidente nas
negociações que deram origem às chapas para concorrerem à prefeitura de Belo
Horizonte.
Teremos uma nova chance no segundo turno. Isso ocorre porque
os belo-horizontinos estão rejeitando os dois candidatos das fantasiosas
narrativas alienígenas a Riobaldo. Assim, uma nova rodada de negociação se
abrirá em breve. Tem-se algo que o fiel da balança pode nos ensinar é que as
disputas políticas quando praticadas dentro das regras republicanas permitem
que os adversários de ontem, sejam os aliados de hoje. Para isso, é necessário
que a linha civilizatória seja traçada.
Portanto, nossa população anseia por
cidadania, mesmo se sentindo desorientada em um mundo sem explicação histórica.
Até aqui a atual campanha municipal tem deixado claro a preferência do eleitor
por uma prefeitura colada nos seus municípios e munícipes que sejam capazes de
se apresentar como exemplares cuidadores da saúde, educação e mobilidade
urbana.
E para enfrentar o vazio populista, nossos líderes
exemplares para ensinar a cidadania que zelam pelo povo significa garantir
acesso à esses serviços, o que perpassa por fortalecer a cultura política
democrática mineira. Em um país que se move pela emoção e não somente pela
razão, só conseguiremos esses feitos se tocarmos a alma da mineiridade,
tornando nossos municípios garantidores do bem-estar social.
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