sábado, 7 de maio de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 24 - TEMPO DE DIÁLOGO (ELEIÇÕES 2022)


 Partido SOLIDARIEDADE declara apoio a Chapa Lula/Alckmin 
(Estadão Conteúdo/WERTHER SANTANA)

Compromisso Histórico

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]


Parafraseando livremente Hegel, é curioso como a história às vezes brinca conosco e faz a confusão ser capaz de coisas que aparentemente vão contra nossos interesses.

No Brasil, nestes tempos difíceis e desafiadores, é evidente a necessidade de chegar a acordos políticos, pois a pandemia e suas amplas consequências (econômicas, sociais, culturais, educacionais, entre tantas outras) exigem a colaboração de todos para superar a catástrofe, o sofrimento e a morte.

Estamos já adentrando no terceiro ano pandêmico global que quando finalmente parecia poder ser domada pela ciência, brota novamente mudanças de sua dinâmica onde a experiência chinesa de Xangai e Pequim estão demonstrando, e esse seu ressurgimento se dá de forma mais sorrateira quando estamos cansados, "cansados ​​da pandemia" como se diz e, consequentemente, revoltados com o mundo e com a coisa mais próxima que temos: o governo.

Na verdade, este, como alguns outros no planeta, cometeu erros em demasia diante do perigo da pandemia que não descansa em sua revivência cega e ao declarar encerrada a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em decorrência da infecção humana pelo coronavírus (2019-nCoV) é uma medida que exige um esforço de coordenação que não se fez presente neste governo desde o início dela.

Novas estratégias programáticas terão que ser buscadas, mas qualquer uma delas será muito mais eficaz se for realizada em um país cuja convivência seja pacífica, que gere serenidade e otimize a busca de equilíbrios que ajudem a lidar com a pandemia e minimizar seus efeitos nocivos sobre o trabalho, educação, economia, entre tantas dimensões, para poder, uma vez que a tempestade passar, recomeçar, quando possível em melhores condições.

Infelizmente não é o espírito social e político que vemos hoje em nosso país. Em muitos, o aspecto agressivo aparece bastante acentuado, a busca de ressentimentos e culpas, sobretudo, em que pensam diferente, a tendência a desprezar o que a democracia alcançou nestes anos pós-ditatoriais, e pior, a desqualificar a democracia tout court numa espécie de eterno retorno aos tempos de violência física e intolerância intelectual.

O espírito virulento faz crescer a desconfiança, o espírito cívico desaparece e enfraquece a atitude solidária. O sistema político e as instituições democráticas, que com todas as suas fragilidades e limites têm sido um fator fundamental para o progresso do país, estão sendo confundidas o que faz perderem a sua capacidade. Estes tendem a agir de forma reativa, respondendo apenas ao dia a dia, esquecendo completamente as necessidades de futuro, que podem acabar delineando um mundo ulterior de mediocridade e decadência.

Quando as lideranças políticas encolhem, as ideias e propostas também encolhem; por outro lado, os ouvidos dos cidadãos ficam surdos e só predominam as emoções e os ressentimentos.

Consequentemente, o debate político se transforma em puro marketing fragmentado que concorre em ofertas e lisonjas, num leilão de sonhos, que não propõe nem esforço nem sacrifício; irresponsabilidades e ideologias aparecem em todo seu esplendor soturno.

No entanto, o enredamento emaranhado e a confusão abrangem todo o arco político, desde a extrema direita governamental nostálgica pela ordem autoritária até a extrema esquerda alérgica às instituições democráticas e aos compromissos históricos políticos.

Aqueles que durante anos insultaram a democracia e seu andamento que foi capaz de realizar mudanças graduais (os governos de 1995 a 2010), não podem reclamar, eles alcançaram seu objetivo, hoje essa visão está muito diminuída até mesmo em seus próprios partidos e eles têm pouco espaço e menos tempo ainda para recuperar um significativo lugar na nossa vida política.

Mas a mudança não é impossível e não tem nada a ver com um retorno ao que já foi feito, e o que deve ser orientado no Brasil de hoje é propor novas mudanças que tenham em comum com aqueles tempos o respeito às liberdades e a busca incessante pela igualdade nas suas várias dimensões. Mas para isso é preciso perder todos os complexos e sentir orgulho em representar o caminho do diálogo, da busca de acordos, de sermos promotores de compromissos viáveis.

Sentindo que esse movimento de Alckmin e Lula condiz com este espírito que nos permite avançar de forma pluralista para uma melhor democracia e que uma maior transparência, essencial na sociedade da informação, não significa anular a mediação reflexiva característica da política democrática. Entre outros sinais, assim devemos ver o aceno respeitoso de Doria.

Chega de farsas e palavrões! É preciso desacreditar a barbárie violenta, é preciso desacreditar a barbárie verbal e acabar com a desconfiança. É preciso voltar à sanidade, dialogar, debater e construir acordos. A verdade na política é sustentada assim e não por ninguém em particular, nem por aqueles que, tendo obtido um voto “regular”, venham a pretender encarnar a construção social imaginária que chamam de povo.

 

3 de maio de 2022



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.


Um comentário:

Bia e Vinnicius disse...

Bastante lúcido o seu texto e brilhantemente concluído com a afirmativa: "É preciso voltar à sanidade, ao diálogo e ao debate".