Eleição não se resolve com empurra-empurra
Por Antonio Semog
O eleitor da Zona Oeste do Rio de Janeiro não precisa reeditar uma falsa “guerra de rua” para considerar que estamos num segundo turno de polarizações de programas muitos distintos. As duas candidaturas presidenciais não apresentam programas, mas um conjunto de princípios e assinaturas de compromissos do passado.
Na periferia do Rio de Janeiro, Dilma e Serra recebem apoio das “máquinas políticas” mais variadas que agrupamos em três tipos: “máquina sindical”, “máquina do candidato derrotado ao Senado oriundo da ALERJ”, “máquina do assistencialismo”. Essas clientelas podem se Xingar pois estão “demarcando seu território político” na região projetando as eleições municipais de 2012. Quem é mais fiel nessa batalha sem política será mais premiado com fontes de recursos nas eleições de suas representações para o legislativo municipal.
Podem fazer empurra-empurra diante de uma imprensa que deseja “esquentar” o debate político sem que haja realmente um debate da Grande Política. Entretanto, esse conflito de grupos sem política não fortalece a política democrática. Assim, desejamos escrever sobre alguns temas que precisam ser refletidos nos próximos dias pelos eleitores antes de votar. Há 10 dias das eleições a Zona Oeste deve demonstrar que eleição não é “Guerra Santa” ou “Bang-bang de novo tipo”. Por isso, vamos começar desfazendo alguns mitos ideológicos pois não apresentam fundamentos políticos:
1) “Vivemos uma eleição polarizada entre Esquerda X Direita” => isso não existe uma vez que as duas candidaturas precisam do Centro Político para vencer as eleições;
2) “Vivemos uma eleição polarizada entre Estatistas X Privatistas” => não há nenhum movimento de privatização no Brasil na atualidade. Não é por postura do Governo Federal mas porque não há mais um “onda neoliberal” como vivemos nos anos 90 em todos os países da América Latina copiando o modelo Norte-americano/Inglês dos anos 80;
3) “As privatizações foram um roubo da nação com muita corrupção” ou “Esse é o Governo mais corrupto da História” => Não há um “Corruptômetro” (medidor de corrupção). Os casos divulgados na atualidade de corrupção e suas investigações são conquistas da sociedade democrática, ou seja, a atuação do Ministério Público com poder investigatório conferido na Carta Constitucional de 1988, onde lamentavelmente um partido que se diz de Esquerda não assinou por acusá-la de beneficiar a Elite. Por outro lado, corrupção existe na esfera pública e privada como demonstram os filmes Tropa de Elite 1 e 2 fazendo chave com a Segurança Pública. Logo, se a Privatização foi ROUBO...Por que não foram investigadas nesses últimos 8 anos?;
4) “Vivemos a polarização entre Emprego X Desemprego”. => Criação de empregos não se resolve na eleição de um Presidente. Os eleitores dos EUA entenderam isso nesses dois anos de mandato de Obama. A política econômica mundial que apresenta seus limites de acordo com os interesses da grande burguesia;
5) Por fim, o mito da “herança maldita” de FHC que substituiu o mito da “herança conservadora” de Vargas na simbologia do lulismo => Nada muda a percepção que estamos na conclusão do quarto mandato de FHC em termos de compromisso com a estabilidade monetária nos termos da reunião feita pelo então Presidente com os principais presidenciáveis em meados de 2002. Os leitores poderão pesquisar a disputa eleitoral de 2002 mês a mês e verificarão isso. (Sugiro a leitura do livro de Luiz Werneck Vianna – Esquerda Brasileira e Tradição Republicana: Estudos de conjuntura sobre a era FHC-Lula, Editora Revan, 2006)
Sem esses mitos ideológicos que beneficiam o debate da “pequena política” desejamos que o eleitor em geral, particularmente o da Zona Oeste carioca, acompanhe nossa reflexão nos próximos dias buscando compreender o que Dilma ou José Serra pretendem para nosso país. Na verdade, nosso objetivo é verificar os limites reais dessas duas vertentes políticas do liberalismo político paulista para a realidade da região. As duas candidaturas são herdeiras do desenvolvimentismo o que não implica que tenhamos mais desenvolvimento econômico com um ou outro. O desenvolvimento das forças produtivas na Zona Oeste pode contribuir para um processo de contradição das relações sociais de produção desde que façamos um debate que problematize que os grupos dirigentes das duas campanhas em nossa região estejam nas mãos de políticos que praticam a política tradicional. Por isso, debater política é uma forma de colaborar nesse processo. Por isso, não se pode ficar omisso, neutro ou defender um postura pela anulação. Simplesmente refletir. Analisar cada artigo. Fazer uma opção. Depois...VOTAR.