domingo, 3 de junho de 2018

FUTEBOL E POLÍTICA - COPA DO MUNDO 2018


Sou Tiago Bastos de Souza, tenho 19 anos, estudo na Universidade Salgado de Oliveira – Campus Niterói, graduando Educação Física no terceiro período. Filho de professores e apaixonado por futebol desde, minha primeira Copa do Mundo em 2002 e com muita honra estou na entrevista para esse Blog do meu pai!
 
1)      Em sua opinião, quais as três seleções favoritas para a Copa do Mundo da Rússia (2018)? Por quê?
 
Em minha opinião certamente Brasil e Alemanha são uma dessas três favoritas, mas a terceira é bem difícil, pois existem várias seleções tirando as duas acima capazes de conquistar a Copa do Mundo como, por exemplo, as seleções dos melhores jogadores do mundo como Messi e Cristiano Ronaldo, por Messi ter levado sua seleção a Copa do Mundo pelas eliminatórias e na última Copa chegando até as finais e sendo premiado como melhor jogador do Mundial, lembrando que Messi tem uma amargura em sua seleção não tendo conquistado nenhum título com ela e Cristiano Ronaldo que comandou sua seleção na Eurocopa, sempre querendo mais em suas conquistas vem bem focado para lutar pelo título inédito para sua seleção e país. Então deixo a terceira seleção favorita em aberto, pois existem várias devido suas tradições em copas e por seus jogadores que são destaques no futebol internacional. A minha escolha do Brasil certamente está pelo fato de sermos o país do futebol, com mais títulos em copas do mundo e considerando isso, somos sempre os favoritos, acredito que todas as seleções ou países que acompanham bem o futebol acreditem nisso. Já minha escolha para Alemanha é sua grande tradições em copas também, foi à última a ter ganhado e o trabalho daquela seleção continua com alguns remanescentes e outros novatos em Copas do Mundo fazendo uma renovação, mas que não abale o jeito da Alemanha jogar e não caindo sua técnica, formando uma renovação forte e saudável.
 
2)      Quais as qualidades e os pontos fracos da Seleção Brasileira convocada pelo Tite?
 

A meu ver suas qualidades são seus grandes jogadores que atuam na Europa, que disputam grandes campeonatos a quase nível de uma Copa do Mundo, contendo três jogadores que atuam no Brasil, mas que já atuaram na Europa e um que atua no futebol chinês, mas já atuou na Europa também. Seu ponto fraco até o momento é sua convocação inédita, pois os 23 jogadores nunca foram convocados juntos, mas, teremos dois amistosos que se focarem encarando como se fosse um torneio antes da Copa do Mundo e irem bem, encaixando o grupo desde os que estão fora de serem titulares até os titulares para terem um grupo coeso.
 
      3)      Em sua opinião, qual o jogador que merecia ter sido convocado mas foi deixado fora da lista? Por quê?
 
Eu concordo com Tite quando em sua coletiva de convocação ele diz que foi injusto em sua convocação, pois vários jogadores mereciam ser convocados. Mas o que destaco mais é o goleiro Marcelo Grohe do Grêmio como terceiro goleiro no lugar de Cássio do Corinthians e na lateral direita Mariano do Galatasaray da Turquia ou Marcos Rocha do Palmeiras no lugar de Fagner do Corinthians. Não tirando o mérito deles, pois, são bons jogadores e mostraram sendo campeões do Campeonato Brasileiro, mas, Marcelo Grohe foi destaque na conquista do Grêmio na Libertadores fazendo grandes defesas e no Brasileiro também, já Marcos Rocha do Palmeiras mantem sua regularidade desde a era Ronaldinho Gaúcho em 2013, quando eles eram do Atlético Mineiro e Mariano bom lateral que ganhou grandes títulos com o Fluminense e com seu destaque foi para Europa e lá ganhou a Liga Europa com o Sevilha na temporada 2015 para 2016.
 
4)      Quando o brasileiro vai começar a se empolgar com a Copa do Mundo? A crise econômica enfraqueceu o desejo de torcer?
 
 O brasileiro está empolgado nos últimos meses, acredito eu, desde a lesão de Neymar e maior divulgação na mídia que a Copa está chegando. Logicamente não, as dificuldades dos brasileiros devido a sua crise econômica e política só aumenta a vontade de torcer pelo Brasil, para mostrar que o Brasil é muito mais do que as crises e que elas não ocorrem só aqui, a Copa transforma o brasileiro em uma verdadeira união, é algo surpreendente e inexplicável. 
 
          5)      O que o futebol brasileiro aprendeu com a derrota de 7 X 1 para a Alemanha em 2014? O que precisamos fazer para melhorar?
 
O futebol brasileiro aprendeu que tem que entrosar mais seu conjunto e principalmente estudar mais sobre futebol, não é só convocar, treinar e ir para copa, mas tem que ocorrer um estudo aprofundado de seus jogadores para ser convocado, trazer eles mais para cultura brasileira, pois muitos jogam fora, estudar principalmente aonde irão jogar essa Copa e seus rivais tendo respeito enfrentando de igual para igual. Acho que Tite já vem fazendo algo para melhorar, sendo que a meu ver é o técnico que melhor se preparou da seleção brasileira no século XXI para Copa do Mundo, agora iremos ver o resultado, esse será o teste maior que apresentará esse aprendizado.
 
6)      O resultado da seleção brasileira na Copa do Mundo influenciará nas eleições do Brasil?

Acredito que não, pois o grupo político parlamentar em sua maioria não convive muito com o grupo político do futebol brasileiro, então acho muito fraca sua influência com a seleção.
 
 7)      O destaque da Seleção Brasileira na conquista do Tetra (1994) é pré-candidato a Governador do Rio de Janeiro. O eleitor do Rio de Janeiro votaria no programa de governo ou na qualidade do ex-jogador?

Acredito que pela qualidade do ex-jogador, pois mesmo que o grupo político parlamentar não tenha muito contato com o futebol, o futebol tem muito contato com o brasileiro, então, de um político que não seja jogador para um que seja, tem uma grande diferença, pois a maioria irá conhecer o ex-jogador, ainda mais com uma Copa do Mundo nas costas.
 
   8)      Qual jogador poderá ser o grande craque da Copa do Mundo da Rússia? Por quê?

Não haverá um grande craque na Copa do Mundo, mas sim, vários grandes craques em muitas seleções. Porque os grandes craques atualmente se destacaram em suas seleções desde as eliminatórias, aparecendo novos e inesperados grandes craques nas repescagens e só irão os melhores jogadores do mundo, então terão grandes jogos e com grande otimismo que venha o Hexa!

 
 
 


 
 

sábado, 2 de junho de 2018

PENSAR O RIO DE JANEIRO - ENTREVISTA COM O PROFESSOR MARCELO BURGOS


O Rio de Janeiro atravessa uma profunda crise política e social após anos de hegemonia de um grupo político que nasceu sob as bênçãos do ex-Governador Garotinho e, aos poucos, foi criando uma nova trilha mais burguesa que populista de viés conservador. Entretanto, há a necessidade de termos intelectuais refletindo e atuantes para a melhor intervenção dos atores políticos na superação democrática dessa crise. Portanto, a seguir, teremos uma longa e densa entrevista como professor Marcelo Burgos (PUC – RJ).

O professor Marcelo Burgos é Doutor em Sociologia pelo IUPERJ (1997) e tem trabalhado em pesquisas de sociologia urbana, com ênfase em territórios segregados e periféricos.


1)      Professor Marcelo Burgos, como chegou a essa profunda crise cívica na Cidade do Rio de Janeiro? A economia fragmentada do estado do Rio de Janeiro é causa ou consequência disso tudo que testemunhamos desde a passagem das Olimpíadas?


Crise social e política é uma condição latente ao Rio de Janeiro, que tem uma história caracterizada por descontinuidades político-administrativas (Brasília e a fusão dos estados são dois momentos extremamente complexos para a cidade), e por uma relação muito singular entre elite e povo, da qual também faz parte a forma pela qual a estrutura social está organizada em nosso espaço urbano. Nesse sentido, não seria exagero dizer que, aqui, a economia depende muito da política e da cultura popular, em uma escala muito maior do que em São Paulo, por exemplo, onde o mercado tem maior autonomia. A economia do petróleo e gás, a maior força dos interesses da indústria do turismo, e a presença mais marcante da principal empresa de comunicação do país na vida do Rio são, desse ponto de vista, alguns dos fatores que tornaram ainda mais complexa a estrutura econômico-social da cidade e da metrópole. Por um momento, parecia que os governos Cabral/Paes significavam uma virada que indicava que a burguesia finalmente tinha assumido o controle da gestão da cidade e do estado, mas logo ficou claro que o que se tinha era uma forma muito perversa e mafiosa de articulação entre o mercado e a política, que somente se sustentava a partir do controle da vida popular por máquinas políticas, inclusive de milícias, e também por estratégias de neutralização da mídia, do Ministério Público e do Poder Legislativo.


2)      O Governo Federal sinalizou nos dois últimos anos com duas iniciativas que teria como objetivo superar a calamidade e salvar um campo político conservador. O acordo de ajuda financeira, que levou o Orçamento do Estado a se comprometer com uma ampla redução de sua capacidade de investimento, e a Intervenção Federal na Segurança Pública, que ainda não foi além das medidas “paliativas”. Qual a sua avaliação sobre essas iniciativas?


Talvez se pudesse afirmar que o custo político da ajuda financeira foi cobrado no momento da intervenção na segurança pública. A ajuda financeira foi uma costura complexa e inconclusa, que inclusive colocou a Cedae como moeda de troca, cobrada por um governo federal orientado por um fundamentalismo de mercado, e muito preocupado em dar satisfação a grupos financeiros nacionais e estrangeiros. Tratava-se de um momento extremamente frágil do governo estadual, mas o socorro federal não podia arranhar a ortodoxia com que o governo federal pretendia pautar sua macroeconomia. E qual será o saldo da operação financeira ainda não sabemos ao certo, pois também é verdade que o preço do barril de petróleo – de que tanto depende a economia do estado - voltou a subir, reduzindo momentaneamente a gravidade da situação.
Por outro lado, com a intervenção militar deu-se quase o inverso: uma tentativa de usar o Rio para salvar o governo federal do que prometia ser – e ao que tudo indica será – um final melancólico do mandato do governo espúrio do Temer. Acuado pelas forças de segurança do estado, e por um quadro de descontrole em face das milícias, e ainda refém do acordo financeiro não cumprido com o governo federal, o governador Pezão se viu obrigado a aceitar a proposta, anulando-se.
Como se vê, a operação financeira e a intervenção na segurança pública estão interligadas, como processos interdependentes, tendo sido o Rio, por sua importância na cena política do país, tomado como uma espécie de laboratório onde se experimenta um novo tipo de acordo federativo, que combina submissão ao mercado com submissão à autoridade militar. As consequências desse coquetel são visíveis a olho nu: profunda crise social e ausência completa de controle social sobre a política de segurança.


3)      Uma longa sequência de demissões acompanha o estado do Rio de Janeiro. Sua grande maioria seriam trabalhadores da construção civil e muitos jovens não conseguem seu primeiro emprego. Há alguma solução política para isso? A força de candidatura do Deputado Jair Bolsonaro (PSL), de extrema-direita, teria essa base no Rio de Janeiro?

Sem dúvida, o Rio tem sido um dos estados que mais sofre com a crise econômica, política e social porque passa o país. A construção civil recuou no país inteiro, mas é claro que o dia seguinte ao do ciclo olímpico teve aqui um impacto mais violento. A ausência de respostas dos governos estadual e municipal para tentar criar frentes de trabalho agrava o quadro. Quanto ao Bolsonaro, é verdade que uma parcela da população que está disposta a votar nele vem desse segmento de trabalhadores desempregados. Mas sua base política parece bem mais sólida entre setores de classe média e classe média baixa, que de algum modo o veem como uma resposta ao problema da corrupção e da insegurança, e do que percebem como a impunidade dos criminosos.


4)      O último campeonato carioca de futebol foi um dos que menos atraiu um público para os Estádios. Crise econômica, desemprego e a violência seriam algumas das explicações. Entretanto, não poderia ser uma mudança da postura do carioca em relação ao futebol uma vez que a Federação e os meios de comunicação lhe conferem mais um viés de espetáculo do que de diálogo entre torcedores e bairros?


É verdade que a questão do futebol não pode ser desvinculada do modelo arena-televisão que se construiu em torno dele. De fato, o crime cometido com a desfiguração do Maracanã deixou a cidade sem sua principal referência popular. Mas outros fatores também entram nessa equação, como a crise econômica e o desemprego, associada à elevação das vivências de todo tipo de violência. Mas se aceitarmos que parte dessas variáveis também estariam presentes no último campeonato brasileiro, e que neste caso a média do público dos times do Rio não foi inferior ao das principais praças de futebol do país, precisamos avaliar se, no caso do campeonato carioca, também não estaria presente uma deliberada desvalorização do certame regional, possivelmente em função da briga travada entre a FFERJ e a emissora que tem comprado os direitos de transmissão do campeonato. Seja como for, creio que o campeonato carioca continua sendo um evento muito querido pelo povo carioca.


5)      Uma Agremiação de Escola de Samba do Grupo Especial teve um processo eleitoral recentemente marcado pelas denúncias disputa de influência da contravenção e das forças milicianas. O Senhor acredita que a iniciativa do Prefeito Marcelo Crivella (PRB) em reduzir verbas oficiais para as Escolas de Samba agravará esse cenário?


Infelizmente, muitas escolas de samba estão há muito tempo ligadas à contravenção, por outro lado, a essa altura há evidências de que bicheiros e milicianos disputam espaços mas também se unem em muitas ações, como no caso das máquinas de jogos “caça-níqueis”. O carnaval carioca é um espaço privilegiado de articulação com a vida popular, servindo por isso mesmo como via de capitalização política. Por isso, é claro que se o poder público recua muito, a tendência é a de se aumentar ainda mais os laços de dependência com outras formas de financiamento, bem como de submissão a contraventores e milicianos. Mas este é um terreno complexo, e talvez a pergunta formulada seja especialmente oportuna justamente porque nos obriga a colocar luz sobre a economia do carnaval, bem como sobre sua vida associativa. Afinal, se é verdade que a vida popular do Rio de Janeiro está submetida a um controle muito pesado de grupos paramilitares que atuam em parceria com grupos políticos, e se é verdade que a apropriação dos bens simbólicos do carnaval por esses grupos é parte importante desse controle, pode-se concluir que temos aqui uma agenda fundamental para trabalharmos pela emancipação popular.


6)      O que aconteceu com o Associativismo de Bairro do carioca? O Senhor conhece alguma experiência positiva na atualidade?

O associativismo de bairro não morreu, o problema é que se ele fica muito desgarrado da vida da cidade em um sentido mais amplo, acaba refém da lógica do “não no meu quintal”, ou seja, de uma lógica puramente defensiva. Para que ele possa ter uma atuação mais cívica e democrática, é preciso valorizar sua relação com outras organizações e com a própria vida partidária. Acho que o movimento contra a construção da Linha 4 do metrô, realizado com muita energia por parte das associações de moradores, foi uma demonstração de força importante, pena que foi derrotado pela máfia do Cabral, que o ignorou completamente, implantando contra todas as opiniões em contrário “o linhão” que interliga Ipanema à Barra, de modo a atender interesses particularistas de seus sócios. Perdeu-se ali uma oportunidade de democratização real da vida da cidade. Hoje, vivemos um momento de recuo, fortemente guiado pela égide do medo, e por isso é compreensível que o associativismo de bairro tenha recuado tanto. Mas precisamos combater essa tendência, pois a cidade precisa muito dele.


7)      O assassinato da Vereadora Marielle Franco (PSOL) incentivou a emergência de muitas pré-candidaturas de mulheres e da periferia para o próximo pleito. Entretanto, as novas regras da campanha eleitoral (menos tempo de campanha, por exemplo) podem prejudicar essas iniciativas. O que falta para a renovação na política carioca?

 
A renovação da política no país como um todo depende de mudanças profundas na lógica da competição política. Em todo o país o acesso à política partidária está muito fechado, desencorajando os mais jovens e talentosos e ingressar nela. No caso do Rio, a forma pela qual as máquinas políticas se articularam com grupos milicianos agravaram essa tendência. E isso tem um efeito terrível para os territórios populares, pois praticamente impede que os jovens periféricos consigam canalizar seus anseios de mudança pela via da política. A Marielle representava uma exceção em meio a essa lógica perversa, mas é preciso lembrar que sua votação somente foi tão expressiva porque furou o bloqueio, alcançando os jovens de classe média da zona sul da cidade, que apoiaram maciçamente sua candidatura. No fundo, sua trajetória acenava para o que há de mais promissor na cidade, que é essa aproximação entre parcelas da classe média e do mundo popular. Este é o caminho do Rio, sua melhor saída. Não sabemos ainda com certeza quem mandou matá-la, mas seja lá quem for, é certo que sabia que estava matando mais do que uma talentosa e promissora liderança política, estava na verdade procurando interditar um caminho de articulação entre diferentes grupos sociais. Mas o drible de corpo que a Marielle dera no controle brutal que as máquinas políticas - muitas vezes com o apoio explícito de milícias - exercem na maior parte dos territórios populares da cidade e da metrópole, deixou vestígios de um caminho que precisaremos aprofundar.

 
8)      Recentemente foi divulgado que o sociólogo Luiz Eduardo Soares fez uma reunião na sua residência para buscar a unidade da esquerda do Rio de Janeiro no primeiro turno. Essa ideia é utópica? Como avalia o quadro da esquerda fluminense desde as eleições de 2016?

O problema é qual a utopia? Ou seja, em nome do que estamos nos movendo. A construção de um estado e de uma cidade mais justos, com geração de empregos e renda, e ampliação do acesso à segurança pública, educação e cultura, saúde, habitação e mobilidade urbana; com a melhoria da infra estrutura urbana e de logística econômica; e com medidas concretas no sentido de favorecer a emancipação popular do jugo de grupos paramilitares e de máquinas políticas, tudo isso pressupõe a construção de um ambiente político pautado por uma articulação capaz de reunir diferentes atores em torno de um campo democrático, republicano e progressista. Acredito que essa construção pressupõe a organização de pontes comunicando diferentes grupos políticos, diferentes classes sociais e também diferentes gerações.


9)      As pesquisas iniciais ao Senado indicam a possibilidade de vitória do filho do Deputado Federal Jair Bolsonaro e do vereador César Maia pelo (DEM). Há espaço político para surpresas nas eleições para o Senado?

 
A família Bolsonaro se beneficia do medo e do caos, e também da cultura de escândalos de corrupção que caracteriza boa parte da grande mídia, e que ganhou espaço na agenda de parte do Judiciário. É preciso insistir que os Bolsonaros não têm qualquer compromisso com a democracia, e que embora vivam há muito tempo como parlamentares, apenas pretendem instrumentalizar a democracia para chegar ao poder, para no dia seguinte implantarem um governo autoritário, com ou sem o apoio militar. E o que é pior: ninguém poderá dizer que o chefe do clã não avisou. Por onde anda, tem dito isso em alto e bom som, e muitas vezes sob o aplauso de diferentes plateias. Ainda há tempo para tentar impedir esse gesto de loucura e de suicídio político que viria por parte de parcela do eleitorado, mas para isso será preciso estarmos mais atentos aos fatores que têm contribuído para impulsionar o projeto do clã.
Quanto às surpresas, poderão acontecer, já que são duas vagas para o senado, e o cenário ainda está aberto.


10)  Como o Senhor avalia a liderança nas pesquisas do Senador Romário (PODEMOS) para Governador? Ele seria um exemplo de vitória da “anti-política”?  


Romário conta com a vantagem de que seu nome é uma lenda do futebol, e isso lhe dá um crédito junto à massa do povo. Mas a eleição para o executivo vai testá-lo de um outro modo, e não sei até que ponto ele está preparado para esse desafio. Além disso, para a eleição majoritária a imagem de “anti-política” ajuda e atrapalha ao mesmo tempo, pois uma parcela significativa do eleitorado também espera que o candidato a governador tenha experiência administrativa, perfil de gestor, e bom trânsito e capacidade de diálogo com outros atores políticos. Se você não tem isso, e tampouco conta com o apoio da sociedade civil organizada, tem grande chance de ficar isolado, mesmo tendo o prestígio pessoal de um grande ídolo do futebol.  

quarta-feira, 23 de maio de 2018

ENTREVISTAS: BRASIL 2018 - LUIZ SÉRGIO HENRIQUES


Luiz Sérgio Henriques, tradutor e ensaísta. Com ampla participação em jornais e revistas associados ao velho PCB, como Voz da Unidade e Presença, na Fundação Astrojildo Pereira dirige a coleção Brasil & Itália, que trouxe para o público brasileiro livros inéditos de Giuseppe Vacca, Silvio Pons e outros. Coeditou, com Marco Aurélio Nogueira e Carlos Nelson Coutinho, as Obras de Antonio Gramsci, lançadas pela Ed. Civilização Brasileira. Há vários anos é colaborador regular de O Estado de S. Paulo. Edita as páginas Gramsci e o Brasil (www.gramsci.org) e Esquerda Democrática (https://www.facebook.com/esqdemocratica).


1) O que observamos de diferente nesse cenário de pré-campanha para as eleições presidenciais?

A extrema dispersão das candidaturas, especialmente as do centro político, faz lembrar a primeira campanha pós-Constituição de 1988. De fato, ali também os candidatos “extremos”, Collor e Lula, se beneficiaram do afastamento tucano em relação ao velho tronco peemedebista, da existência de uma candidatura própria do partidão (Roberto Freire) e daquela de um político da tradição, como Brizola, que, fossem quais fossem seus defeitos, tinha a ideia da importância das classes médias.

Vendo o panorama agora, o quadro é ainda mais confuso. À direita não sabemos a real implantação de um candidato que defende soluções autoritárias e que, em todo caso, não convém subestimar. À esquerda, mesmo com óbvios impedimentos legais, o eterno candidato petista ainda não cedeu aos imperativos da realidade ou finge não ceder, o que dá praticamente no mesmo. Ciro Gomes tem potencial eleitoral óbvio, assim como óbvios são os obstáculos representados por algumas de suas ideias “barrocas” e pelo seu próprio “barroquismo” pessoal.

O centro, hoje, é quem mais parece se ressentir destes anos de má política, cooptação e devastação da estrutura dos partidos. Mas seus diferentes representantes já não podem botar a culpa nos outros, no petismo em particular, não em último lugar porque jamais se preocuparam em dar vida orgânica aos respectivos grupos partidários. Os vícios persistem depois de todo o desastre ou, talvez, como expressão continuada de um desastre que parece não ter fim. Por exemplo, há gente nesta área que parece ser candidato porque quer ou porque – vexame máximo! – tem dinheiro suficiente para bancar a própria campanha, embora não tenha a menor viabilidade eleitoral ou capacidade de aglutinação.

Isso para não entrar na questão da composição provável do próximo Congresso. Existe a forte possibilidade de eleição de um presidente com frágil base congressual, dada a possível predominância de partidos “médios” empenhados desde já em eleger bancadas para funcionar como cidadelas corporativas dispostas para um jogo de soma zero. Partidos sem visão nacional nem programa coerente e, por assim dizer, retalhados transversalmente em bancadas “temáticas” – a da bala, a da motosserra, a evangélica, etc. E em certos casos, ainda por cima, comandados por personagens egressos de condenação nos megaescândalos dos últimos anos, o que só se explica pela mão de ferro que impõem sobre os recursos do fundo partidário.

Em outras palavras, um cenário pré-eleitoral de tal complexidade é inédito. Temos algumas situações do passado para comparar, algumas categorias para mapear o terreno, mas não muito mais. 


2) A tática do Partido dos Trabalhadores (PT) de levar a candidatura de Lula até o limite contribui para a renovação da esquerda brasileira?

Desde o primeiro dos dois grandes escândalos da era petista, o comportamento daquele partido foi sempre linear e previsível: defendeu-se atacando. Os alvos são móveis, mas não são muitos: a mídia oligárquica, a justiça de classe, a classe média ressentida e capturada pelas “elites”. Uma cultura de confrontação, portanto, que de resto foi a marca de origem do partido e só esteve suspensa em alguns momentos, como no episódio da “Carta aos brasileiros”, de 2002. Se bem observarmos, a figura mítica e quase mística de Lula povoa o cenário desde as eleições de 1989. Uma esquerda prisioneira de um só nome há trinta anos não contribui para a renovação de si mesma nem do país. Congela a renovação dos quadros, ajuda a bloquear a imaginação política e social. E, naturalmente, acaba por fomentar o surgimento de outros mitos igualmente nocivos, transformando a arena política num cenário de fanatismos que no fundo se alimentam uns aos outros e não vivem uns sem os outros.  

3) Alguns eleitores do PT nas camadas médias estão migrando para o PSOL ou PCdoB enquanto a Direção Nacional interdita o debate do “Plano B”. Esse seria o momento de renovação do ciclo de hegemonia do PT na esquerda brasileira?

Li um dia desses que a esquerda brasileira ficou mentalmente agarrada aos anos 1960. Só isso, aliás, explica o fascínio de Cuba ou da Venezuela, pelo menos antes da tragédia humanitária que se abateu sobre este último país. Evidentemente, aquela mentalidade “revolucionária” era completamente inadequada, visceralmente inadequada, como guia de ação no contexto brasileiro. O PT cresceu, elegeu prefeitos e governadores, ganhou quatro mandatos presidenciais, vale dizer, teve todo o tempo do mundo para entender como uma relação correta com as instituições democráticas, fortalecendo-as e aprofundando-as na vida dos subalternos, não só é algo valioso em si como também atende aos interesses da própria esquerda.

Mas é preciso considerar que, falando de “esquerda”, estamos colocando no singular um termo muito complexo. Sempre haverá esquerdas atrasadas, sectárias, em permanente ânsia de assaltar os céus. O importante é que fiquem na margem do quadro, sem dominar a discussão geral. E sempre haverá situações ambíguas: se é verdade, por um lado, que o PT jamais se comportou como partido revolucionário, por outro lado nunca abandonou uma linguagem desse tipo, sempre coqueteou com os Chávez e Maduros da vida, e só esse coqueteio traz confusão, obstaculiza o diálogo com as demais forças, prejudica o projeto e a ação de um governo reformista, gerando ruídos completamente fora de propósito.
Considerando o peso das ideias na ação política, que nunca é pequeno, acredito que sair do PT e aderir ao PSOL ou ao PCdoB, tais como são, é continuar na máquina do tempo. Já se passaram trinta anos desde a promulgação da Constituição de 1988, era tempo de termos aprendido. A democracia permite e até requer aprendizados longos, mas convenhamos que há algo de repetição, no sentido psicanalítico do termo, neste “novo” rumo que alguns têm tomado depois de se desiludirem com o PT. Com a palavra, Freud, de preferência a Marx.



4) A candidatura do Deputado Jair Bolsonaro (PSL) lidera entre os eleitores jovens do sexo masculino. Ele seria o herdeiro das manifestações em favor do impeachment de Dilma?
Este nexo entre os maus ou medíocres governos do PT (e nisso incluo os de Lula, que não têm nada de extraordinário sequer em termos de inclusão social, se colocados em perspectiva comparada com países semelhantes no mesmo período de intensa valorização das commodities) e a ascensão da extrema-direita tem sido ressaltado e é sem dúvida pertinente. Mas seria um equívoco julgar que as jornadas de junho de 2013 e as manifestações pelo impeachment tivessem algum desfecho predeterminado ou inevitável. Elas não foram unívocas nem monopolizadas pela direita política, muito menos pela extrema-direita. Se tivessem sido, estaríamos numa situação ainda mais complicada: teríamos uma agressiva direita “revolucionária”, adepta de uma intervenção militar “constitucional” e com base de massas, o que (ainda) não é o caso.
Bolsonaro explora demagogicamente uma série de problemas reais para os quais o centro político ainda não conseguiu formular respostas abrangentes, como a questão da violência nas nossas cidades, que evidentemente fugiu de controle. Mas suas propostas, como a de relaxar o controle de armas e disseminar seu uso, não só são primárias como também trazem embutido o risco de um perigoso regresso civilizacional. Chegaremos a ter professores armados em salas de aula? As mulheres dispararão contra seus companheiros violentos? Será este o método preferido de resolução de todos os inúmeros conflitos interpessoais?
Faço um desvio aparente. Um lema inteligente de 2013 dizia que país desenvolvido não é aquele em que “os pobres têm o seu carrinho”, mas sim aquele em que a grande maioria, inclusive a classe média alta, usa transporte sobre trilhos. Analogamente, país seguro não é aquele que deixa os cidadãos se armarem até os dentes, o que provavelmente teria como consequência aumentar o número já absurdo de assassinatos com armas de fogo, quem sabe generalizando entre nós o tipo de crime “americano” por excelência que é a matança indiscriminada de inocentes. País seguro sabe prender bem, punindo, em primeiro lugar, os crimes contra a vida. Combate sem tréguas o domínio territorial do tráfico. Assegura para o aparelho do Estado democrático o monopólio da violência (entre outras coisas, a posse das armas de guerra), etc.
Uma constatação óbvia é que os governos petistas nada fizeram sobre segurança pública; e, gostemos ou não, um primeiro passo está sendo dado agora, no malfadado governo Temer, com a criação do sistema único de segurança. Temos de seguir neste caminho, examinando cuidadosamente, por exemplo, a experiência internacional sobre o uso de drogas, que responde por boa parte da violência urbana. Por falar nisso, há quase uma idealização de Portugal neste momento, especialmente por ser um país seguro, com índices baixíssimos de criminalidade. Bem fariam os milhares de brasileiros se, uma vez lá estabelecidos ou mesmo depois de uma simples visita, se perguntassem sobre como a moderna democracia portuguesa trata traficantes e usuários, como lida, afinal, com este imenso problema das drogas. E assim nos ajudassem a mostrar que não há Bolsonaros por lá. O caminho é inteiramente outro, se quisermos ter níveis decentes e civilizados de vida associada.    


5) Em 2002 nós vimos o “Lula Paz e Amor”. Seria possível a invenção do “Ciro Paz e Amor”, ou seja, qual o nível de abertura da campanha do PDT para o centro político?

A candidatura Ciro Gomes é muito competitiva, um dado de realidade que ninguém vai negar. Indultando ou não a Lula (só a Lula?), um Ciro presidente indicaria o ocaso irreversível do petista. Ciro passeia pelos partidos com desenvoltura mais do que preocupante, dando a sua deliberada contribuição pessoal para a miséria do sistema partidário; no entanto, o fato de ter sido governador e ministro, além de estar ocasionalmente alojado no PDT (com sua cultura trabalhista residual e retórica), alerta-o instintivamente para o papel das classes médias, que só uma esquerda muito precária demoniza ou ridiculariza. Mas Ciro, como também já demonstrado abundantemente, pode pôr tudo a perder com uma declaração desastrada e até um gesto grosseiro, ou uma combinação em série de falas e gestos destemperados. Ademais, ele tem este lado “decisionista” declarado, que certamente o levaria a tentar superar eventuais impasses com o Congresso apelando à manifestação direta do “povo”. O risco, aqui, é a emergência de uma perigosa democracia plebiscitária, em que o controle da política “pelo alto” se mascararia com a participação manipulada da população. Nada muito empolgante, portanto. Além do mais, também não se sabe o que seria a politica econômica de Ciro. Um nacional-desenvolvimentismo próximo dos governos Lula II e Dilma? Neste caso, dada a quebra generalizada do Estado brasileiro, poderíamos ver reencenado o “estelionato eleitoral” que vimos em 2014/2015. Ciro, por tudo isso, é muito mais parte do problema do que de uma solução razoável.


6) Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (PODEMOS) e Rodrigo Maia (DEM) ensaiam atrair partidos fisiológicos do chamado “Centrão”. Quem leva vantagem até a campanha eleitoral? Marina Silva (REDE) não poderia ser o Macron das eleições presidenciais de 2018?

Não há Macrons à vista no horizonte. Aproveitando o tema Macron, é preciso dizer que esta questão do “centro” deve ser mais bem explicada. Não se trata de apontar uma posição intermediária e supostamente mais sensata e razoável. Não é questão de fazer graça com coisa séria, mas o padrão stalinista de ação política consistia, exatamente, em apontar uma direita “traidora” dos princípios e uma esquerda aferrada radicalmente a estes mesmos princípios, de modo que o grande líder sempre aparecia como detentor da chave mágica de leitura do mundo real: dele emanava a “linha justa”.

O centro não pode ser isso. Tem de falar para além das cercas do mundo político e buscar sólidos apoios na vida social, nos empresários, nos trabalhadores, no mundo da cultura. Não pode ignorar esta dramática “questão dos intelectuais”, não de hoje radicalizados à esquerda e, agora, para espanto geral, à direita. Os líderes do centro devem se mostrar inteiramente solidários com a massa de brasileiros desempregados, subempregados ou em desalento. Não é questão só de buscar obsessivamente os caminhos do crescimento, mas também de demonstrar profunda simpatia humana e sentimento de solidariedade, de passar a sensação de “proximidade” com o sofrimento da gente comum. Nada disso é pieguice, comiseração ou paternalismo anacrônico. É algo qualitativamente diverso, é uma expressão do princípio republicano da fraternidade, que deve se juntar à liberdade e à igualdade formalmente garantidas na Constituição.  

É preciso ter audácia para resolver problemas reais, concretos. Recordo um episódio bastante triste destes últimos anos, que muitos ainda terão na memória. Vimos o presidente Temer e os ex-presidentes Lula e Dilma “brigando” pela paternidade das obras de transposição do São Francisco, inclusive da parte que foi concluída no governo Temer. Sucederam-se discursos e antidiscursos, inaugurações e anti-inaugurações oficiais. No entanto, audácia política, ali, seria apontar para o grande problema das águas do São Francisco e dos nossos cursos d’água de um modo geral. Isso abriria espaço para a discussão de políticas públicas efetivamente radicais, como o saneamento, a despoluição, a proteção do território. E, diga-se de passagem, abriria espaço também para a mobilização de saberes, muito particularmente das universidades e suas áreas humanas, hoje muitas vezes perdidas em bizantinismos ideológicos, incapazes de incidir produtivamente no mundo real.

O centro, portanto, não deve ser o lugar de infinitas e inconclusivas mediações no interior da “classe política”, mediações que fazem a alegria de quem, como nós, gosta da atividade política mesmo em restrito sentido palaciano. Deve ser bem mais do que isso. Sem negar minimamente o papel da mediação política e, antes, exaltando-a, o centro é o lugar móvel, dinâmico, de onde se podem descortinar os problemas essenciais do país e, ao mesmo tempo, apontar os rumos para sua solução, as forças que é possível convocar, os consensos que se deve promover em cada caso para obter um equilíbrio de forças mais avançado. O esquerdismo pseudoradical mostra-nos o paraíso e suas quarenta mil virgens, esquecendo-se “apenas” de indicar o roteiro viável para chegar até a beatitude. Ao contrário, todos os nomes indicados acima, nesta última pergunta, estão desafiados a reconstruir esta ideia de centro progressista e reformador, mostrando ao mesmo tempo o gato e o guizo.

Diria, para terminar, que a renovação da esquerda passa exatamente por este ponto. Sob pena de continuar a ser meramente uma força de protesto, “um bolsão sincero, mas radical”, uma esquerda de novo tipo, sem deixar de ser ela mesma e de cumprir os compromissos sociais que definem sua identidade, deve ser um fator de ativação do centro político. Neste caso, ela, esquerda, não se perderia em anátemas tolos contra uma “classe média” egoísta e sempre igual a si mesma em toda a história do país, entravando miseravelmente o suposto bonde da história e outros bondes. Diria ainda que esta é uma grande questão de hegemonia no sentido alto e nobre da expressão, longe de qualquer fanatismo e de qualquer reducionismo. Há muitos momentos em que parecemos não estar coletivamente à altura do desafio, mas isso não significa que tenha de ser assim indefinidamente.

terça-feira, 1 de maio de 2018

OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

Educar para a Democracia
Vagner Gomes de Souza

O julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi mais um momento da política brasileira em que a polarização se fez presente ao ponto das “fumaças do passado” começar a circular os quartéis. O resultado não está fundando um caminho para a pacificação na sociedade brasileira. Ao contrário, a “ética da convicção” estaria suplantando a “ética da responsabilidade” como nos ensina o clássico Max Weber. Assim, percebemos o quanto a nossa democracia está carente de uma ampla frente de defesa para que a velocidade dos fatos não acabe por jogar o país num ciclo de ampliação das restrições de direitos.
A Constituição é o farol da democracia. Esse é o teor da coluna de Tereza Cruvinel (“STF menor, crise maior” no Jornal do Brasil de 05 de abril) que muito desejamos ressaltar o voto do ministro Celso de Mello. Ele realmente fez uma aula magna sobre os valores da liberdade consagrados na Constituição, o que nos permitiria a pensar no papel da educação para fazer o cidadão melhor conhecer seus direitos. Muitos brasileiros são leigos no conhecimento de nossos direitos e imaginem no reconhecimento dos princípios fundamentais de nossa nação.

Ulisses Guimarães e Lula

O que dizem um determinado segmento da sociedade quanto a defesa da dignidade da pessoa humana (art.1º, III da C.F.)? Quais longas polêmicas daria ter como objetivo “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º, III da C.F.)? O que diriam os pré-candidatos a Presidência da República sobre a “prevalência dos direitos humanos” (art. 4º, II da C.F.)? Esses são alguns exemplos do quanto nossa Constituição precisa ser mais reconhecida pelo povo. Afinal, como exercer o seu poder desconhecendo os termos da Carta Magna?
A democracia é complexa. Por isso, o atalho da polarização atrai a muitos que desconhecem princípios consagrados na nossa Lei Maior. Todo campo democrático deve levar os termos da nossa Constituição para o debate no dia a dia. A pacificação de nosso momento político passa pela conquista de mentes e corações para as palavras que foram promulgadas há quase 30 anos. A sociedade se educa para a democracia além das eleições. A democracia se fortalece com a solução de problemas no cotidiano e se engrandece com o reconhecimento das posições contrárias na busca de pontos em comum.
Promulgação da Constituição de 1988

As escolas devem ser motivadas a fazer da Constituição como um texto a ser trabalhado em seus projetos pedagógicos. O reconhecimento das contribuições dos povos africanos e indígenas se fez na educação através de uma lei. Talvez seja o momento de criarmos mecanismos legais que permitam aos alunos um melhor acesso a “Carta Cidadã”. Em resposta aos céticos que argumentam que há passagens com palavras difíceis de compreensão, argumentemos que os livros didáticos distribuídos nas redes públicas de ensino publicam o Hino Nacional com palavras do século XIX.
Faz parte da educação enfrentar os desafios do conhecimento em benefício do aprofundamento dos valores democráticos. A massificação do “Título I – Dos Princípios Fundamentais” já seria um primeiro passo no sentido de educar para a democracia. Nesse trajeto, todos poderão melhor compreender ao que Ulysses Guimarães pretendia no seu discurso de promulgação da Constituição ao afirmar: “Eu tenho ódio e nojo à ditadura”.

domingo, 1 de abril de 2018

INTERVENÇÃO DA EDUCAÇÃO

Nada há ainda de relevante no Rio de Janeiro após o Decreto da Intervenção na Segurança Pública Estadual. A Saúde Pública continua um verdadeiro retrato de violência para as classes populares. A cada dia, a política de confronto policial mata duas pessoas. O futebol carioca transformou-se no mais elitizado do país. E a Educação Pública é tratada como gasto ao contrário de investimento da construção de uma cultura democrática de paz e tolerância.
Não nos calemos diante da gravidade da situação que clama por medidas políticas claras para a sociedade. Esse é o espaço do debate que o BLOG VOTO POSITIVO deseja dar continuidade com a entrevista com o professor Jarley Frieb.
Confira e sigamos em frente nesse movimento de reflexão.
 
Professor Jarley: "A opção por lecionar no Ensino Fundamental foi tomada por mim em uma idade em que já tinha uma vivência intensa das realidades das Classes Populares (...)"
 
1)      O Estado do Rio de Janeiro tem vivido uma sequência de atos associados a violência. Mesmo sob a Intervenção Federal na Segurança Pública, a sensação de tranquilidade da população não existe. Por outro lado, há setores da sociedade que defendem maior investimento social para reduzir os impactos da violência. Como Pedagogo, qual sua opinião sobre esse quadro?
 
Professor Jarley - Como pedagogo, professor na Rede pública Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, cidadão... não vislumbro possibilidade de melhora no quadro de violência em lugar algum do mundo, e ainda mais em um país tão desigual como o nosso, que não contemple amplos investimentos – e melhor uso dos que já existem – na Educação e na saúde. Não que a Segurança não precise de verbas – precisa, e muito – mas se as duas primeiras áreas forem prioridades, a violência diminuirá a longo prazo. A curto prazo, penso que  o fim de incursões em Comunidades como prática corrente, as quais colocam em risco a vida de moradores e dos policiais, sem ter resultado nem próximo do esperado, devem ser repensadas imediatamente. Não me iludo achando que a violência acabará, ela está presente em todo o mundo, mas alimentada pela desigualdade social e a falta de investimento público em setores fundamentais, a espiral de violência não tem fim.
 
2)      Sua formação em Pedagogia foi pela UERJ. Como o Senhor se sente ao ver as notícias relativas a Crise da UERJ?
 
Professor Jarley - Triste, muito triste. Tenho amigas, amigos e conhecidos que lecionam nessa Universidade, alguns foram meus professores, outros fizeram graduação comigo e seguiram a carreira acadêmica, e fico horrorizado com o processo de sucateamento de uma Instituição que sempre ofereceu tanto retorno à Sociedade. E não é só a UERJ: quanto ganha um professor de Ensino Médio da Rede estadual??? Há muito tempo lecionar no Estado deixou de ser minimamente atrativo, e com isso temos multidões de alunos que ficam ser aulas em disciplinas importantes para sua formação, com os resultados esperados de tudo isso: não chegam às universidades públicas; não tem perspectiva de bons empregos, e vão engrossar o mercado de mão de obra barata para a Elite, essa mesma Elite que em sua maioria não está nem aí para nossa profissão nem para a urgente necessidade de melhora na Educação no país, pois seus filhos não são usuários de Redes públicas de Ensino.
 
3)      Após sua formação, sua atuação se concentrou no efetivo exercício do magistério nas salas de aula da Rede Municipal e teve uma experiência em Sala de Leitura. Como a prática lhe auxiliou a repensar os problemas da população carioca?
 
Professor Jarley - A opção por lecionar no Ensino Fundamental foi tomada por mim em uma idade em que já tinha uma vivência intensa das realidades das Classes Populares: desde muito pequeno, não sendo oriundo de uma família burguesa-tradicional, apesar de criado na Zona Sul, conhecia bem os subúrbios, por volta dos 20 anos frequentava a Baixada Fluminense 3 a 4 dias por semana por quatro anos... subindo Comunidade de segunda a sexta, presenciando trocas de tiros entre traficantes e policiais, convivendo com as diferenças econômicas que existem dentro da própria Comunidade, tudo isso formou a visão que hoje tenho da Cida de que NÃO QUERO – a que está aí – mas também me fez refletir sobre as mudanças que quero ver. Quanto ao trabalho com Sala de Leitura, foi uma experiência maravilhosa: conheci os melhores diretores de Escola com os quais trabalhei, reconstruímos a Sala de Leitura , atendia 30 turmas – Educação Infantil e Educação de Jovens e Adultos.
Minha trajetória nessa área começa no entanto em 1994, quando participei por dois anos do Grupo de Contadores de Histórias da UERJ. Até hoje não estou convicto de que ouvir histórias faça de alguém um grande leitor, mas é uma arte maravilhosa, os narradores orais atravessaram a história da Humanidade encantando gerações, eu mesmo tive contato com uma grande contadora – por sinal, analfabeta – em minha infância. E devo a ela, e ao incentivo de meu pai, a paixão pela Narrativa e pelos livros que até hoje me acompanham. Diria mais: que me formaram. 
 
4)      Em ano de eleições, muitos programas citam a importância da Educação Pública para a melhoria de vida. Contudo, os profissionais de educação se sentem sempre colocados num “segundo plano” nas decisões da Gestão de Educação. Como fazer a Educação Pública ser uma verdadeira prioridade?
 
Professor Jarley - Colocando nos cargos de Gestão – a começar pelos que decidem as coisas de fato – professores DE SALA DE AULA. Nós é que vivenciamos diariamente as dificuldades em lecionar no Ensino Público. Claro que o diálogo com as Universidades também é vital, pois ali se pesquisa, se produz conhecimento; remunerar bem os profissionais de Educação, promover formação continuada... novos concursos públicos... e algo que deveria ser primordial em todas as reuniões de pais de qualquer escola pública: explicar como funcionam essas instituições, desde como os profissionais ali ingressam (através de concursos públicos), até quais são as verbas, e de onde vêm, que possibilitam o funcionamento das mesmas. A família tem deveres mas os gestores e professores têm  o dever de informar  que a Escola Pública é um direito de todos e todas, e convocar as famílias a construir o processo educativo conosco é fundamental.

5)      Há Projetos de Lei defendendo que os educadores não desenvolvam temas com uma abordagem crítica. O argumento é de que se trata de uma doutrinação da esquerda estimular uma educação crítica e valorizadora dos Direitos Humanos. Enfim, qual o recado que o Senhor daria para os defensores do “Escola sem Partido”?
 
Professor Jarley - Primeiramente, agradeço todos os dias ao Destino que meu pai não tenha pensado como eles, risos... doutrinação? Ah, tá... bem, para os da minha geração eu perguntaria:  - Ué, se esta existe, como estudei com tantas pessoas que são ultra fãs do modelo capitalista, incluindo alguns de Direita, e eu sou Esquerda?? Eles ficaram imunes à doutrinação dos comunistas e socialistas que nos deram aulas no ensino médio como? E tendo estudado em um colégio bem conhecido e tradicional de Copacabana, onde muitos de nossos professores eram também de esquerda e trabalhavam em outras tantas instituições ainda hoje “de elite”- e que formam alunos que buscarão ocupações que os permitam seguir sendo elite - minha curiosidade sobre como não se “contaminaram” só aumenta KKKKKK... Bem, é direito dos pais querer definir e traçar o destino dos filhos... agora, que sou muito feliz por ter tido pais que naõ influíram  em minhas escolhas ideológicas nem profissionais, disso não tenho dúvida. Para finalizar: nunca conheci um professor que doutrinasse alunos; fico imaginando e não posso evitar o riso ao pensar em como um/uma professor poderia fazer lavagem cerebral COMUNISTA em crianças de 4-10 anos para derrubarem o Sistema Capitalista... agora, doutrinação de Esquerda  não pode, mas a de Direita pode, né??? e ela começa  aonde? Alguns destes pais tão preocupados com a possibilidade de seus filhos virarem adultos progressistas deveriam conhecer mais o processo educacional como um todo, e não verem o professor apenas como um transmissor de conteúdos. Educação é muito mais que isso, mas certamente poucos deles o sabem, pois sua opção profissional não foi lecionar no Ensino Fundamental, e nem cursar Pedagogia nem Licenciaturas, áreas que não atraem as Classes Dominantes. A educação cidadã é necessária a todos e todas, mas se eu defendo um modelo onde vejo conspiração da Esquerda (como se existisse UMA esquerda única, risos) em tudo, onde penso que o Bolsa Família irrisório é um benefício a quem não quer trabalhar, ou que fui bem sucedido por ser mais inteligente, ter Q.I de tanto etc... fica difícil descontruir a desigualdade e sobra um medo, em minha opinião infundado, onde deveria existir o diálogo e o respeito às diferenças ideológicas. Não preciso concordar com alguém, mas como educador devo ouvi-lo e, se necessário, dialogar. Até para entenderem os limites  que um teste de Q.I tem, para o que serve, o que significa “inteligência”...mas será que parte da Elite está interessada em saber disso, ou somente em criar semelhantes em pensamento e atitude? Enfim, a questão é complicadíssima, pois como falei anteriormente, quem vai direcionar a Educação dos filhos, e não poderia ser diferente, claro, pois é um direito delas, são as famílias (viu? Sou socialista mas não defendo que o Estado separe os filhos das famílias para dar-lhes formação maoísta KKK). O problema, a meu ver, é quando não buscam orientações sobre isso, pois em sua maioria, por escolhas profissionais, são leigas no assunto Educação.
 
6)      A escola é um espaço em que se convive com a pluralidade nos mais amplos sentidos. Ainda percebemos alunos que se sentem silenciados por sua opção religiosa. Ou melhor, sentem vergonha de se reconhecer como praticantes do Candomblé ou da Umbanda. Como respeitar e valorizar esse segmento na prática do ensino?
 
Professor Jarley - Para começar, o próprio profissional de Educação deveria ser tolerante para com a diversidade. Se acho que minha religião ou posição política é a única a ser respeitada, a coisa já começa mal; por isso defendo uma escola pública laica, sem imagens nem representações religiosas que possam ser objetivo de controvérsias que ali não cabem. Os praticantes das religiões de matriz afro, entre os quais me incluo – sou ogan (sacerdote que não é “tomado” pelo orixá, não cai nunca em transe) confirmado há 29 anos no Candomblé, na Raiz do Jeje mahin,  – devem amparar-se na Lei que proíbe a discriminação religiosa, e devemos estar unidos e dialogando com toda a Sociedade – por isso defino-me religiosamente também como um universalista, vejo Deus em várias manifestações religiosas e também onde elas não existem.  A Sociedade é formada por praticantes de distintas fés e ateus, agnósticos...para contemplar tanta diversidade, só muito diálogo e respeito para com o/a outro/outra, para com sua Verdade.
 
7)      No último ENEM, o tema de redação foi sobre os Deficientes Auditivos na Educação. Sabemos que o Senhor tem dialogado com especialistas na área sobre isso. Conte-nos mais a respeito.
 
Professor Jarley - Durante um bom tempo fiz cursos em uma instituição de referência que atende a portadores de cegueira e baixa visão, o Instituto Benjamin Constant, sem dúvida uma das referências mundiais nessa área. Isso abriu minha visão ainda mais sobre a necessidade da Inclusão de pessoas com qualquer Necessidade Especial, e essa inclusão não está e nem pode ser restrita somente aos educadores e familiares: tem que ser objeto de reflexão por TODA a Sociedade. Dessa maneira podemos participar da construção de um Mundo para Todos. Provocar a reflexão nos jovens sobre esses temas é fundamental, por isso achei a escolha muito feliz.
 
8)      Qual ferramenta o Senhor definiria como indispensável à Educação?
Professor Jarley - O diálogo. Sempre. Conheci poucos profissionais de Educação que ensinem seus alunos a ouvir, a escutar o outro – e isso é possível. Se não ouço, não mudo meu pensamento, não me questiono...não dialogo. O estudo das diferentes técnicas de Escuta (Ativa, Empática etc.) deveria constar no currículo de todo curso de Pedagogia. E acredite: esse trabalho pode começar ainda na Educação Infantil. Outra coisa: a exemplo do que ocorre na Argentina, temos que ter mediadores de conflito nas escolas. Profissionais de educação, pais, membros da Comunidade escolar...que com  treinamento e formação adequada, e partindo também de seus saberes já constituídos, possam atuar dirimindo conflitos tão comuns nessas instituições. Fica a sugestão para que os diferentes municípios e Estados invistam nisso, mas enquanto não tivermos governos progressistas certamente isso não ocorrerá... em tempos de Sociedade brasileira atingida permanentemente pela violência, a Escola tem que ser um ambiente onde se forme uma cultura de Paz – porque fora dela, o que grassa é a violência, a barbárie.
 

domingo, 25 de março de 2018

ANÁLISE - ELEIÇÕES 2018


Teses sobre o processo eleitoral das eleições de 2018
Vagner Gomes de Souza (Sociólogo e Historiador)

1.      As eleições de 2018 é mais um momento na história “zigue-zague”  democratizadora de nosso país. Uma estrutura de mudanças lentas que coabita com muitas facetas conservadoras agora expõe alguns traços autoritários nas redes sociais. Contudo, não nos esqueçamos da durabilidade de nossa escravidão (388 anos!!!) e suas dramáticas consequências para os afrodescendentes. Não nos esqueçamos da existência de dois momentos de regimes autoritários em nossa República. Enfim, vivemos uma democracia ainda em construção. A pauta democrática, mais uma vez, ganha força para lutar pelas mudanças sociais. Temos a oportunidade de um reencontro da política com os novos sujeitos sociais desde que se saiba operar a política das alianças.

2.      Não está ainda claro o quadro eleitoral em que o debate da tese anterior se manifestará. A crise do sistema partidário brasileiro contaminou até as agremiações da esquerda brasileira ao se deixar pautar pela “pequena política” ao se manifestar no limite do cálculo eleitoral. As mudanças reivindicadas em 2013 relativas a Saúde e Educação Pública estão a procura de um ator político que melhor lhe represente. A gravidade da recessão econômica impediu uma maior conexão com a renovação via sociedade civil.

3.      No calendário eleitoral, estamos em tempos de “janela partidária”. Nesse momento, tudo é feito como se fosse uma “feira de legendas” mais identificadas com o “Centrão” na expectativa de continuidade das forças do atraso e do clientelismo político. Os partidos de viés mais do campo democrático devem admitir uma dificuldade na renovação de seus quadros políticos uma vez que não se permitiu um pluralismo das classes subalternas nos anos do “Presidencialismo de Coalizão” sob o comando do PT. Aliás, não foram “anos petistas” ou “lulista” que vivemos de 2003 até 2016, mas uma ampla coalizão com forças do atraso que emergiram após o Impeachment de 2016.

4.      As forças do atraso chegaram ao Governo em 2016, mas não conseguem se fazer hegemônicas. Esse é o ponto o qual se explica o sentimento de “vazio de Centro Político”. Entretanto, esse é um setor político que será reconstruído pelas forças democráticas com adesão da própria esquerda. Nossos liberais estão reféns do economicismo na política e poucas figuras de natureza pública rompem com o discurso da flexibilização irresponsável.

5.      Estamos em tempos de formulação de um programa que evite colocar a esquerda democrática no “gueto” do sectarismo político. A situação do Rio de Janeiro é um importante “laboratório” para a intervenção da política da frente. Não devemos esquecer que a recomposição de uma “centro-esquerda” no segundo colégio eleitoral do país permitiria melhor possibilidade para a passagem das forças modernizadoras da política. Contudo, a tarefa não é simples diante dos cálculos de grupos da esquerda ressentidos com a ideia da renúncia de alguns projetos imediatistas.

6.      Não há nada consolidado quanto a existência da polarização entre Esquerda e Direita. O primeiro colocado nas pesquisas eleitorais é de uma força política que sempre disputou as eleições presidenciais no Brasil desde 1989. Ora ficando em segundo lugar ou ora ficando em primeiro lugar. O segundo colocado nas pesquisas é um “aggiornamento” no conservadorismo brasileiro que se sentiu abandonado na fragmentação do PSDB e DEM. Nas devidas proporções, trata-se de uma “Terceira Via” à direita com a hipótese de se esvaziar ao longo do processo eleitoral.

7.      A “Fakepolarização” alimenta um debate sobre a necessidade um Centro Político, porém, na verdade, trata-se de segmentos da burguesia brasileira pleiteando a sua pactuação em torno de candidaturas próprias na perspectiva de uma unidade adiante. PSDB, DEM e MDB ensaiam candidaturas próprias em nome do mesmo programa. A dosagem de liberalismo que lhes faz diferir é imperceptível diante dos graves problemas de distribuição de renda que vivenciamos em nosso país.

8.      Temos tempo para se fizer valer um Pacto de Forças Políticas comprometidas com a implementação da Constituição de 1988. Nela está a política moderna do Brasil. A atualização do marco constitucional não implica na sua descaracterização e limitação de suas conquistas sócias. Pelo contrário, há uma constante necessidade de redistribuição social no Brasil tanto na renda quanto no acesso de serviços públicos. O Centro Democrático será reinventado pela inspiração das forças sociais mais a esquerda.

9.      Na disputa eleitoral para a Presidência da República, todas as vertentes políticas aguardam o “Plano B” ao Lula. Contudo, a tarefa democrática desse momento é abrir núcleos de defesa dos valores civilizatórios que estão consagrados na Constituição de 1988. Além disso, formular uma pauta democratizadora que convoque a sociedade para renovar nossos legislativos com candidaturas modernas. Os Núcleos devem ser um Movimento da Sociedade Civil de renovação política programática.

10.  Nada nos permite em ficarmos presos a conjuntura em nomes sem que fiquemos atentos a formulação da política democrática. Ela deve partir de baixo para cima em diálogo com as forças política partidária.

11.  A Democracia Brasileira tem a oportunidade de abrir um novo ciclo político em 2018. Entretanto, as forças políticas democráticas não podem continuar reféns de um cálculo da polarização. Esse é o momento de se autotransformar.