Por Nilvio Pessanha
Em 1897, Bram Stoker publicou “Drácula”, o seu romance de terror gótico que o fez conhecido e cultuado mundialmente. O livro foi o resultado de uma grande pesquisa do autor sobre o folclore europeu e ajudou a fortalecer e difundir a figura do vampiro até chegar ao que conhecemos hoje.
Em 1922, o diretor Friedrich Wilhelm Murnau adaptou o romance de Stoker para o cinema com “Nosferatu”, filme pertencente ao movimento expressionista alemão e que se tornou um marco para o gênero de horror. Como o cineasta não obteve os direitos para adaptar o livro buscou trocar os nomes dos personagens para evitar ser processado, o que acabou acontecendo e quase fez com que todas as cópias de “Nosferatu” fossem destruídas.
Coincidentemente, no mesmo ano em que o filme de Murnau foi celebrado
por seu centenário, outra adaptação também completa uma efeméride: “Drácula de
Bram Stoker” completou 30 anos de seu lançamento agora no dia 13 de novembro de
1992. O longa foi dirigido por Francis Ford Copolla e contou com um grande
elenco com nomes como Gary Oldman, Keanu Reeves, Winona Ryder e Anthony Hopkins.
Com um orçamento de pouco mais de 40 milhões de dólares e obteve uma bilheteria
de cerca de U$ 215 milhões ao redor do mundo, a obra se tornou não só um
sucesso de público e crítica, mas também uma das mais celebradas pelos fãs do
universo vampiresco. A trama do filme se passa em 1897, mesmo ano da publicação
da obra original, e traz o jovem advogado Jonathan Harker (Keanu Reeves) que
tem de ir a trabalho até as distantes terras da Transilvânia, na Romênia. A
viagem é nebulosa e cheia de percalços até chegar ao sombrio castelo do
estranho Conde Drácula (Gary Oldman) que se revela como um vampiro e aprisiona
o advogado. Após vê-la numa fotografia, Drácula parte para Londres atrás de
Mina (Winona Rider), noiva de Jonathan Harker.
Muito do já mencionado culto ao filme se deve à ótima direção de Coppola
que conseguiu fazer com que seu “Drácula de Bram Stoker” se tornasse um dos
filmes que melhor traduz para as telas a atmosfera típica dos romances góticos
dos séculos XVIII e XIX. O cineasta lança mão de uma fotografia que explora bem
o uso de sombras e névoas, bem como toda uma cinematografia muito bem
construída. Os efeitos especiais, em sua maioria, são truques de câmera e
efeitos práticos. Outro elemento que chama muito a atenção na produção é o
figurino, fruto da parceria entre o diretor e a designer gráfica Eiko Ishioka. O
figurino é algo que salta aos olhos e ajuda a criar toda a atmosfera do filme
com um toque bem autêntico. Podemos pegar como exemplo dessa autenticidade o
visual assumido por Drácula. A primeira vez que vemos o personagem ele está
usando uma espécie de quimono vermelho que mais dialogo com a cultura oriental
chinesa do que com a Europa vitoriana. Despois o personagem assume uma faceta
mais sensual para ir ao encontro de Mina.
Por falar no Conde da Transilvânia, a representação do mítico personagem
por Gary Oldman foge das emblemáticas interpretações de Bela Lugosi e
Crhistopher Lee dando um toque bem original. O Drácula de Oldman é, sem dúvida,
um dos mais celebrados e considerado por muitos como o melhor do cinema
moderno. Seu Drácula transita, com ajuda de um ótimo trabalho de maquiagem, de
uma versão idosa, porém sombria e bizarra, para uma versão mais jovem e
sedutora, com o ator esbanjando versatilidade.
Como se pode ver, motivos não faltam para se celebrar os 30 anos
“Drácula de Bram Stoker” de Francis Ford Coppola. Celebrar três décadas dessa
obra é também celebrar toda a cultura do vampirismo. É festejar um personagem
tão emblemático que a arte, seja com a literatura, com o cinema ou o teatro, o
tornou realmente imortal.
Nilvio
Pessanha é professor da rede pública, membro dos podcasts Trincheiras da
Esbórnia e Cine Trincheiras, e amante de cinema.