terça-feira, 15 de novembro de 2022

A DOCE POLÍTICA NO CINEMA - NÚMERO 12 - 30 Anos de “Drácula de Bram Stoker”


 30 Anos de “Drácula de Bram Stoker”

Por Nilvio Pessanha

 

Em 1897, Bram Stoker publicou “Drácula”, o seu romance de terror gótico que o fez conhecido e cultuado mundialmente. O livro foi o resultado de uma grande pesquisa do autor sobre o folclore europeu e ajudou a fortalecer e difundir a figura do vampiro até chegar ao que conhecemos hoje.

Em 1922, o diretor Friedrich Wilhelm Murnau adaptou o romance de Stoker para o cinema com “Nosferatu”, filme pertencente ao movimento expressionista alemão e que se tornou um marco para o gênero de horror. Como o cineasta não obteve os direitos para adaptar o livro buscou trocar os nomes dos personagens para evitar ser processado, o que acabou acontecendo e quase fez com que todas as cópias de “Nosferatu” fossem destruídas.

Coincidentemente, no mesmo ano em que o filme de Murnau foi celebrado por seu centenário, outra adaptação também completa uma efeméride: “Drácula de Bram Stoker” completou 30 anos de seu lançamento agora no dia 13 de novembro de 1992. O longa foi dirigido por Francis Ford Copolla e contou com um grande elenco com nomes como Gary Oldman, Keanu Reeves, Winona Ryder e Anthony Hopkins. Com um orçamento de pouco mais de 40 milhões de dólares e obteve uma bilheteria de cerca de U$ 215 milhões ao redor do mundo, a obra se tornou não só um sucesso de público e crítica, mas também uma das mais celebradas pelos fãs do universo vampiresco. A trama do filme se passa em 1897, mesmo ano da publicação da obra original, e traz o jovem advogado Jonathan Harker (Keanu Reeves) que tem de ir a trabalho até as distantes terras da Transilvânia, na Romênia. A viagem é nebulosa e cheia de percalços até chegar ao sombrio castelo do estranho Conde Drácula (Gary Oldman) que se revela como um vampiro e aprisiona o advogado. Após vê-la numa fotografia, Drácula parte para Londres atrás de Mina (Winona Rider), noiva de Jonathan Harker.


30 anos depois na Inglaterra



Muito do já mencionado culto ao filme se deve à ótima direção de Coppola que conseguiu fazer com que seu “Drácula de Bram Stoker” se tornasse um dos filmes que melhor traduz para as telas a atmosfera típica dos romances góticos dos séculos XVIII e XIX. O cineasta lança mão de uma fotografia que explora bem o uso de sombras e névoas, bem como toda uma cinematografia muito bem construída. Os efeitos especiais, em sua maioria, são truques de câmera e efeitos práticos. Outro elemento que chama muito a atenção na produção é o figurino, fruto da parceria entre o diretor e a designer gráfica Eiko Ishioka. O figurino é algo que salta aos olhos e ajuda a criar toda a atmosfera do filme com um toque bem autêntico. Podemos pegar como exemplo dessa autenticidade o visual assumido por Drácula. A primeira vez que vemos o personagem ele está usando uma espécie de quimono vermelho que mais dialogo com a cultura oriental chinesa do que com a Europa vitoriana. Despois o personagem assume uma faceta mais sensual para ir ao encontro de Mina.


Por falar no Conde da Transilvânia, a representação do mítico personagem por Gary Oldman foge das emblemáticas interpretações de Bela Lugosi e Crhistopher Lee dando um toque bem original. O Drácula de Oldman é, sem dúvida, um dos mais celebrados e considerado por muitos como o melhor do cinema moderno. Seu Drácula transita, com ajuda de um ótimo trabalho de maquiagem, de uma versão idosa, porém sombria e bizarra, para uma versão mais jovem e sedutora, com o ator esbanjando versatilidade.

Como se pode ver, motivos não faltam para se celebrar os 30 anos “Drácula de Bram Stoker” de Francis Ford Coppola. Celebrar três décadas dessa obra é também celebrar toda a cultura do vampirismo. É festejar um personagem tão emblemático que a arte, seja com a literatura, com o cinema ou o teatro, o tornou realmente imortal.


Nilvio Pessanha é professor da rede pública, membro dos podcasts Trincheiras da Esbórnia e Cine Trincheiras, e amante de cinema.


domingo, 6 de novembro de 2022

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 001 - DESAFIOS NA EDUCAÇÃO

A Pandemia, a Deseducação e o Amanhã.

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Todos os principais jornais norte-americanos na última semana do outubro passado dedicaram longas matérias de várias páginas a respeito dos resultados da primeira medição pós-vacinação na Pandemia Covid-19 do desempenho educacional nos Estados Unidos da América (EUA).

As médias em matemática e a proficiência em leitura caíram em quase todos os estados, de acordo com os testes da Avaliação Nacional do Progresso Educacional (National Assessment of Educational Progress - NAEP) de 2022.

Os testes, realizados em 450.000 alunos de quarta e oitava séries, em 10.000 escolas em todo o país, rendeu os piores resultados desde que a NAEP começou a crescer, no início dos anos 1990.

Em matemática, os resultados são especialmente devastadores. A eficiência média entre os alunos do 8º ano caiu de 38% em 2019 para 26% em 2022. Entre os alunos do 4º ano, a queda foi de 41% para 36%. Há estados com perdas muito maiores do que outros, mas em geral a tendência nacional é de uma elevação alarmante da tendência de queda, que já era visível antes da pandemia.

O Secretário de Educação dos EUA, Miguel Angel Cardona, fez de tudo, menos se esquivar diante dos dados: “Quero ser muito claro”, disse ele: “Os resultados deste teste são sombrios e inaceitáveis. Este é o momento da verdade em nossa educação. Como responderemos a isso dependerá não apenas de nossa recuperação educacional, mas também do lugar de nosso país no mundo”. Os resultados são dramáticos porque vêm de um esforço sem precedentes para conter os danos da pandemia.

Em 2021, o governo federal fez o maior investimento em escolas da história – 123 bilhões de dólares, 2.400 dólares por aluno – e exigiu que os distritos escolares gastassem pelo menos 20% desses recursos em recuperação acadêmica (assunto complexo e que exigira uma apreciação a parte).

Está claro, que muitos trilhões de dólares adicionais e mais anos de esforço serão necessários para tentar retornar aos resultados pré-pandemia, que já estavam em declínio, como mencionamos.

Mas se isso aconteceu nos EUA, não quero nem pensar no que terá acontecido no Brasil, ou como poderemos descobrir quem sabe indiretamente via Censo 2022, porque aqui o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) que tínhamos foi totalmente desmobilizado.

Com isso a realização principal deste governo que finda em 2022, a saber, os testes padronizados - os mesmos para todos os alunos e todas as escolas - sobre progressos ou retrocessos educacionais desapareceram no Brasil.

O Brasil manteve uma postura equidistante das avaliações educacionais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, (OCDE), a despeito de aparentemente ainda estarmos em Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

O governo na última semana de maio passado anunciou a Política Nacional para Recuperação das Aprendizagens na Educação Básica. Ocorre que essa Política se valeu de uma Plataforma de Avaliações Diagnósticas e Formativas que em nada é equivalente às avaliações já citadas nem tampouco aos testes padronizados dos EUA ou de outros países.

Somado a tudo isso o Brasil com 26 semanas foi o segundo país em semanas de interrupção total das aulas presenciais, ficando atrás apenas das 48 do México e ligeiramente a frente das 23 dos EUA.

Todos esses números mencionados abrem a questão sobre o tamanho da perda educacional brasileira desde o inicio da pandemia.

A perda dos EUA, e à medida, que fica com apenas 3 semanas a menos de aulas suspensas que o Brasil teve, e com um investimento educacional durante a pandemia de 123 bilhões de dólares, orçamento inimaginável para a nossa experiência. O Brasil abriu mão da educação e dos instrumentos que tinha para medi-la. É a Deseducação e a renúncia ao conhecimento, a ciência, ao desenvolvimento tecnológico sério que lamentavelmente podemos relatar.

Nem tudo são sombras. A cultura heroica costuma aparecer em cenas dramáticas em momentos de transição. E agora ela está associada à professora Simone Tebet que já se colocou a disposição para enfrentar o desafio para dar início ao reencontro com o Amanhã e sua vocação educacional democrática e republicana, tal como inscrita no nosso texto constitucional.

 

5 de novembro de 2022

 



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 36 - DESAFIOS DA TRANSIÇÃO.


Carga Pesada

Por Vagner Gomes de Souza



Carga Pesada é uma série televisiva da TV Globo que foi exibida originalmente nos anos da ditadura militar (1979 – 1981) teve um revival de sucesso no primeiro mandato do presidente Lula (2003 – 2007). Nas duas fases os protagonistas Pedro e Bino foram interpretados pelos atores Antonio Fagundes e Stênio Garcia. A criação da série original se deve aos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri e Ferreira Gullar e o tema de abertura “Frete” é de Renato Teixeira. No primeiro momento, há dois caminhoneiros que viviam uma amizade diante de um processo de modernização conservadora do país.

Na segunda fase, Bino virou um empresário de transporte de cargas (provavelmente um sucesso da democratização do Brasil) e vai ao reencontro a amizade com Pedro diante de uma possibilidade de estar diagnosticado com câncer. A variedade de temas abordados no revival sugere uma ampla exposição da pauta do social que formalização do republicano e democrático. A criatura cresceu nos anos em que os criadores da série não mais tiveram participação nos debates do roteiro.


Não nos surpreendamos com o que ocorreu uma década depois nas estradas do Brasil. O espírito do empreendedorismo de Pedro e os valores familiares de Bino moldaram um segmento com traços políticos do populismo reacionário. Entretanto, como todo populismo, a grande política pode lhe conduzir pelos canais da democracia. Diante disso, o sucesso do bordão “É uma cilada, Bino!” ganhou o significado de quando algo não é confiável. E devemos demonstrar que há temas mais pesados a serem abordados nesse momento em que se abre a transição do atual governo para o próximo.

Entretanto, devemos relembrar que a próxima gestão será da mais ampla aliança de forças políticas do campo democrático que trouxe a presença até de grupos políticos conservadores e de direita que reconheceram os perigos para a nacionalidade brasileira no reacionarismo que o atual mandatário expressa até nos momentos de derrota. Muitos setores políticos do conservadorismo brasileiro já se aproximam dessa realidade de unidade nacional que exige dos movimentos políticos progressistas uma melhor articulação na apresentação de seu debate programático na sociedade. Não há protagonismo de nenhum segmento nessa ampla Frente e é com ela precisamos seguir nas estradas desse país.

Há um perigo de que não se entenda o recado eleitoral da vitória “apertada”. Qualquer ação que não seja consenso no campo vitorioso ou que demonstre divisão será uma derrota política a mais. Diante disso, a coordenação da transição em mãos do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin deve ser saudada e deve ser acompanhada para que tenhamos um primeiro ano de mandato que contribua nessa travessia na solução dos problemas sociais na educação (a tragédia que alimenta a fábrica das Fake News), do emprego para a juventude ausente das manifestações políticas democráticas, da saúde entre outras cargas pesadas deixadas pelo atual Governo.

Não vamos alimentar a pauta divisionista e reacionária do campo derrotado uma vez que há muito trabalho a ser feito por setores políticos diversificados da Frente Democrática. O tema orçamentário é urgente diante do desafio da continuidade do Auxílio Brasil e da garantia da promessa de valor extra de 150 reais para cada filho. O senador Marcelo Castro (MDB) assume um protagonismo também para que os progressistas procurem encaminhar suas emendas ao Orçamento que traga benefícios, por exemplo, para a Zona Oeste e Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro como resposta ao clientelismo a serviço dos reacionários. Esse é o momento de reforçar a unidade em torno da Constituição de 1988 que não foi redigida pela via da emoção mais pela via da contemporização. Sem medo de que estamos na boleia certa da história não vamos gastar nossas energias em reagir ações destemperadas. Agora é momento de chamar os mais qualificados para o próximo Governo e abrir para todas e todas as dificuldades a serem superadas. O bloqueio do crescimento econômico é o verdadeiro perigo fascista.