segunda-feira, 23 de agosto de 2021

BOLETIM ROMA CONECTION/NÚMERO 2 - QUEM AINDA ASSISTE NOVELA?


                                                            Nos tempos do “Lacrador”[1]

Por Vagner Gomes de Souza

 

A novela “Nos Tempos do Imperador” (Rede Globo) estaria a despertar uma curiosidade da sociedade? Os sujeitos inseridos nos coletivos de seu roteiro distante da política de mudança e conservação de nossa História. Lembrados ficamos sobre a Lei Euzébio de Queiroz, mas não compreendemos o silêncio em relação a Lei de Terras que também antecedeu aquela época. Portanto, há os proprietários rurais do Recôncavo Baiano, mas por onde andam os “Barões do Café” do Vale do Paraíba? As famosas narrativas, que inviabilizam a “Grande Política” de Frente Democrática diante do individualismo metodológico de Maria do Pilar que deixou para trás sua irmã, acabou por fazer com que D. Pedro II (muito bem interpretado pelo Selton Mello) pareça um “lacrador” das redes sociais. Todavia, ainda circulam no personagem da História o peso do passado de seu pai ainda compreendido como um símbolo da infidelidade que se coroaria com tendências de um anacrônico Rei Sol dos Trópicos.

Pedimos licença aos leitores que se sintam levados quase ao precipício diante das lições de História que se ausentam em muitos lugares principalmente em livros didáticos que deixaram de lado o “lugar de fala” de Marc Bloch. A História para ser investigada sem que se levante um “Tribunal” fazendo juízo entre o bem e o mal. Nos esforços de suavizar a obra da ficção, o Núcleo Cômico não tem sido muito feliz diante da concorrência com o “coronelismo jorgeamadiano”. Lembrai-vos de Ramiro Bastos e o problema do “crime passional” debatido nos tempos da Declaração de Março de 1958 como um bom preâmbulo para se debater a questão agrária no pré-1964. Sejam nas aulas ou se é que há condições para essas aulas, pois as referências dos livros que deveriam se impor as armas aqui se acumulam. Mas como hei de resistir sem estar a ler? Nas salas das reuniões on-line se comentam sobre os Youtubers que silenciaram os escritores diante também do mundo universitário brasileiro que virou a “Jangada de Pedra” em um Oceano de identidades. Então, apesar dos esforços na dramaturgia do ator Guilherme Piva, nos poderíamos relembrar se Licurgo foi ou não foi do “Partido Brasileiro” uma agremiação partidária que esteve nas sombras de “O Novo Mundo” e hoje está nos escombros da memória da análise da política brasileira assim como a Taberna.

O sonho de Dom Pedro II era ter sido Professor conforme as principais biografias do mesmo. Todavia, as dificuldades do processo de educação como formação ainda vai nos acompanhar por muito tempo diante de muitas dificuldades existentes. A primeira geração de profissionais de educação formados no imediato Fora Collor já começaram a se aposentar de suas atividades e ainda não se entendeu que o “FORA” de nada trouxe de lição para o processo educacional de nossa política. Enfim, os educadores da “Era do Real” vão cada vez mais a envelhecer diante de alunos nascido aos sabores do Danoninho para lembrarmo-nos de um Ex-Presidente que se caracterizou por fazer balanços políticos através do cardápio provavelmente presente no cotidiano do brasileiro. Essa fratura do mundo da política por conta do mundo social foi o “carro do ovo” desses tempos de inúmeras serpentes que sem pernas desejam fazer sua marcha sobre Brasília.

 A crise da Democracia na atualidade tem muitos possíveis fatores que demandam um melhor enquadramento da História de nosso país nas proximidades das comemorações do Bicentenário da Independência e também de muitos personagens que ganham “máscaras” anacrônicas em alguns momentos. As quatro linhas da historiografia devem contribuir para que as instituições democráticas se consolidem diante de debates esvaziados da realidade. E que D. Pedro I seja repensado por seu filho nas mesmas linhas do personagem que Tarcísio Meira imortalizou em “Independência ou Morte” (1972) – grande filme crítico da Ditadura Militar, mas pouco visto dessa forma.



[1] Esse artigo é resultado de conversas com meus Velhos Camaradas acrescidas de outras reflexões feitas com meus filhos. 

4 comentários:

Romulo Cortes disse...

Excelente dissertação. Parabéns.E muito obrigado por me enviar.
Forte abraço.

Bia e Vinnicius disse...

Muito bem escrito e detalhado.
Exatamente como estamos vivendo, sem lastro histórico.
Nosso povo não conhece nossa história.
A Educação sempre foi "barrada" na festa das "monarquias", "repúblicas" e afins.
Enfim, um resumo bem projetado e colocado. Parabéns.

Felipe da Cunha disse...

Excelente texto, Vagner

Unknown disse...

Muito bom!!!