Nos tempos do “Lacrador”[1]
Por Vagner Gomes
de Souza
A novela “Nos Tempos do
Imperador” (Rede Globo) estaria a despertar uma curiosidade da sociedade? Os
sujeitos inseridos nos coletivos de seu roteiro distante da política de mudança
e conservação de nossa História. Lembrados ficamos sobre a Lei Euzébio de Queiroz,
mas não compreendemos o silêncio em relação a Lei de Terras que também
antecedeu aquela época. Portanto, há os proprietários rurais do
Recôncavo Baiano, mas por onde andam os “Barões do Café” do Vale do Paraíba? As
famosas narrativas, que inviabilizam a “Grande Política” de Frente Democrática
diante do individualismo metodológico de Maria do Pilar que deixou para trás
sua irmã, acabou por fazer com que D. Pedro II (muito bem interpretado pelo
Selton Mello) pareça um “lacrador” das redes sociais. Todavia, ainda circulam
no personagem da História o peso do passado de seu pai ainda compreendido como um
símbolo da infidelidade que se coroaria com tendências de um anacrônico Rei Sol
dos Trópicos.
Pedimos licença aos
leitores que se sintam levados quase ao precipício diante das lições de
História que se ausentam em muitos lugares principalmente em livros didáticos
que deixaram de lado o “lugar de fala” de Marc Bloch. A História para ser
investigada sem que se levante um “Tribunal” fazendo juízo entre o bem e o mal.
Nos esforços de suavizar a obra da ficção, o Núcleo Cômico não tem sido muito
feliz diante da concorrência com o “coronelismo jorgeamadiano”. Lembrai-vos de
Ramiro Bastos e o problema do “crime passional” debatido nos tempos da Declaração
de Março de 1958 como um bom preâmbulo para se debater a questão agrária no
pré-1964. Sejam nas aulas ou se é que há condições para essas aulas, pois as
referências dos livros que deveriam se impor as armas aqui se acumulam. Mas
como hei de resistir sem estar a ler? Nas salas das reuniões on-line se
comentam sobre os Youtubers que silenciaram os escritores diante também do
mundo universitário brasileiro que virou a “Jangada de Pedra” em um Oceano de
identidades. Então, apesar dos esforços na dramaturgia do ator Guilherme Piva,
nos poderíamos relembrar se Licurgo foi ou não foi do “Partido Brasileiro” uma
agremiação partidária que esteve nas sombras de “O Novo Mundo” e hoje está nos
escombros da memória da análise da política brasileira assim como a Taberna.
O sonho de Dom Pedro II
era ter sido Professor conforme as principais biografias do mesmo. Todavia, as
dificuldades do processo de educação como formação ainda vai nos acompanhar por
muito tempo diante de muitas dificuldades existentes. A primeira geração de
profissionais de educação formados no imediato Fora Collor já começaram a se
aposentar de suas atividades e ainda não se entendeu que o “FORA” de nada
trouxe de lição para o processo educacional de nossa política. Enfim, os
educadores da “Era do Real” vão cada vez mais a envelhecer diante de alunos
nascido aos sabores do Danoninho para lembrarmo-nos de um Ex-Presidente que se
caracterizou por fazer balanços políticos através do cardápio provavelmente
presente no cotidiano do brasileiro. Essa fratura do mundo da política por
conta do mundo social foi o “carro do ovo” desses tempos de inúmeras serpentes
que sem pernas desejam fazer sua marcha sobre Brasília.
A crise da Democracia na atualidade tem muitos
possíveis fatores que demandam um melhor enquadramento da História de nosso
país nas proximidades das comemorações do Bicentenário da Independência e
também de muitos personagens que ganham “máscaras” anacrônicas em alguns
momentos. As quatro linhas da historiografia devem contribuir para que as
instituições democráticas se consolidem diante de debates esvaziados da
realidade. E que D. Pedro I seja repensado por seu filho nas mesmas linhas do
personagem que Tarcísio Meira imortalizou em “Independência ou Morte” (1972) –
grande filme crítico da Ditadura Militar, mas pouco visto dessa forma.
[1]
Esse artigo é resultado de conversas com meus Velhos Camaradas acrescidas de
outras reflexões feitas com meus filhos.