Sobre o luto da
política: um livro sobre as ameaças a Democracia
De Vagner Gomes
de Souza
Para Júlio
Aurélio, Ricardo Marinho, Eduardo Marcelo e José Manuel Blanco Pereira: a Base
Universitária da UFF que em 1989 testemunhou outro “ovo da serpente”.
A semana foi intensa
nos fatos políticos que criaram novas circunstâncias que sugerem uma redobrada
atenção para as forças democráticas. Portanto, a leitura do livro Sobre lutas e lágrimas: uma biografia de
2018 de Mário Magalhães seria uma boa dica para aqueles que se esforçam
para o exercício da rara arte da análise de conjuntura. Afinal, a liberdade do
ex-presidente Lula segue uma sequência que faz justiça a expressão de um líder
político que incendeia as paixões em torno do mundo. Não seria coincidência que
tenhamos um golpe militar na Bolívia e o anúncio de mais uma legenda partidária
na biografia política do atual gestor moral e financeiro do país.
Em que sentido a
leitura do livro corresponderia aos esforços do campo democrático em fazer
frente aos ataques aos valores democráticos da Constituição de 1988? O autor
faz uma narrativa quase que cinematográfica em gênero “memória reportagem”. Os
jovens leitores teriam a oportunidade de reler os fatos do ano o qual, segundo
o autor, o Brasil flertou com o Apocalipse. Por sinal, foi esse o título da
novela que a RECORD (núcleo intelectual de formação de opinião da base
neopentecostal do bolsonarismo) exibiu entre novembro de 2017 e junho de 2018.
Um livro para fazer os jovens acompanhar os fatos sem se deixar levar pelos
mesmos. Uma vez que a análise da conjuntura se faz pela observação dos atores
políticos em contato com a intervenção. A morte da centro-esquerda nas eleições
de 2018 abriu um “luto” que se agrava pelos limites que atores políticos à
esquerda impõem as novas possibilidades de lideranças que dialoguem com a
periferia. Portanto, a antipolítica ganhou uma face no antiPT que colocou toda
a esquerda no “balde do insano” anticomunismo.
A narrativa faz uma
triangulação com três personagens que não saem ainda do noticiário político.
Marielle Franco, Jair Bolsonaro e Lula são os personagens que realçam a
biografia do ano de 2018. Ano de uma campanha eleitoral que ainda não se encerrou
uma vez que a antipolítica é uma grande polarização que atinge a democracia.
Nas contradições sobre
a portaria do Condomínio da Barra. No embate do Presidente com o PSL. Nas
análises sobre os pronunciamentos de Lula que fizeram ressurgir ameaças de uso
da famigerada Lei de Segurança Nacional. Enfim, nosso cotidiano político
alongam o ano de 2018 e revive o livro de Mário Magalhães. Nesse momento de
aberto enfrentamento do gestor moral e financeiro do país com a nossa história
com fortes traços ibéricos, a sinalização de uma agremiação partidária é uma
“fumaça” para encobrir que a polarização da política é inflada pelo Planalto. Os
ataques da postagem das hienas não podem ser esquecidas pelos democratas e nem o
“balão de ensaio” do Ato Institucional N(o) 5 que majoritariamente é
desconhecido até na juventude prestadora do Exame Nacional de Ensino Médio
(ENEM).
Sobre
lutas e lágrimas apresenta as veias abertas das
consequências de ausência da valorização da política que permite a ascensão de
um núcleo dirigente que defende um capitalismo predatório sem uma rede de
proteção social. O tiro em Marielle Franco e Anderson Gomes demonstrou que não
podemos ficar aprisionados ao cálculo eleitoreiro. Fazer política é mais que
levantar nomes messiânicos para disputas eleitorais num país com a democracia
com forte desgaste. O jogo obscurantista das forças reacionárias é muito forte.
Não nos iludamos que o desgaste do Governo nas pesquisas no IBOPE sensibilize
aqueles que não compactuam com a democracia. Então, a ideia da Frente Ampla que
o autor sinalizou no capítulo nove se faz necessário. Na ausência de Carlos
Lacerda, JK e João Goulart, teremos que nos contentar com Rodrigo Maia, FHC
e Ciro Gomes. Essa é a hora apropriada para uma nova Carta ao Povo Brasileiro.
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