Três
Anúncios para a Democracia
Por
Vagner Gomes de Souza
O tema da violência não
deve se limitar ao combate ao tráfico de entorpecentes em clima belingerante. A
violência é um problema que está no cotidiano do ser humano em atitudes que
ilustram o quanto os valores cristãos (“Amai-vos uns aos outros assim como vos
amei”). Essa é uma possível reflexão para quem sai do cinema ao assistir Três
Anúncios para um Crime que concorre ao Oscar de Melhor Filme entre outras
categorias. O filme tem um roteiro que testa o lado vingativo do público. O
senso comum pode nos levar a conclusões antecipadas sobre como reagir a um
trauma. Contudo, o desenvolvimento nos impõe depois um novo olhar sobre o tema.
A protagonista do filme
é Mildred, vivida pela atriz Frances McDormand (indicada para melhor atriz),
teve a filha vítima de violência sexual numa pequena cidade do Missouri.
Trata-se da típica cidade do Meio Oeste Americano que formou a base eleitoral de
Donald Trump. Porém, não espere uma revanche eleitoral entre Democratas e
Republicas nesse filme uma vez que todos vivem seu cotidiano com seus dilemas,
erros, acertos e limitações. Frances empresta pela sua interpretação um talento
que supera até quando venceu o Oscar por Fargo em 1997.
Mildred não é uma “Mãe
Coragem” de um Bertold Brecht, mas faz da iniciativa uma forma de fazer o jogo
estar ao seu favor. O Xerife reconhece isso numa passagem do filme. O uso da
publicidade dos Outdoors em tempos de redes sociais é um desafio aos
pós-modernos da comunicação política. O que incomodava os três anúncios vermelhos
colocados numa autoestrada sem grande fluxo? Esse mistério é maior que o
desfecho do crime.
Sam Rockwell e Frances McDormand em cena
Em primeiro lugar, o
exercício da liberdade de expressão que faz uma crítica a atuação da chamada “inteligência
investigativa” da polícia local. O detetive responsável é racista, homofóbico
e, acreditem, anticomunista (atenção ao diálogo sobre o nome do anunciante, Red) . O oficial Jason Dixon (interpretado por Sam
Rockwell – Leão de Ouro de ator por Confissões de uma mente perigosa) leva o
público ao extremo do sentimento de ódio pelo personagem. As raízes de um
fascismo meio enlouquecido por um trauma na perda paterna e tutelado pela mãe.
Um bom exemplo para os amantes de a psicanálise fazerem uso de suas leituras.
Enfim, a “inteligência” não existe!
Em seguida, uma
manifestação que poderia alimentar outras fraturas numa comunidade
aparentemente sem conflitos. Todos apelam para uma conciliação na retirada dos
anúncios. Nesse instante a Ética da Convicção ganha força, mas alimentada pelo
ódio que cega as ações dos sujeitos da trama do filme. Por fim, ao se alimentar
uma luta contra o extremismo com atitudes extremadas cai num desfecho
importantíssimo no aprendizado da política. A aliança pode vir de quem se menos
espera.
As cenas finais do
filme faz o público jovem, mal acostumado com o filme padrão norteamericano,
achar que não acabou. Entretanto, um filme ele se encerra muitas vezes nas
diversas interpretações que podemos lhe conferir. Três Anúncios para um Crime é
um manifesto político pela liberdade ao demonstrar que não é correto se deixar
guiar pelo ódio sectário. A Democracia ela ganha muito com os grandes gestos da
renúncia no tempo certo de uma viagem política.
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