domingo, 4 de março de 2018

CORRIDA AO OSCAR: Três Anúncios para um Crime

 
Três Anúncios para a Democracia
Por Vagner Gomes de Souza

O tema da violência não deve se limitar ao combate ao tráfico de entorpecentes em clima belingerante. A violência é um problema que está no cotidiano do ser humano em atitudes que ilustram o quanto os valores cristãos (“Amai-vos uns aos outros assim como vos amei”). Essa é uma possível reflexão para quem sai do cinema ao assistir Três Anúncios para um Crime que concorre ao Oscar de Melhor Filme entre outras categorias. O filme tem um roteiro que testa o lado vingativo do público. O senso comum pode nos levar a conclusões antecipadas sobre como reagir a um trauma. Contudo, o desenvolvimento nos impõe depois um novo olhar sobre o tema.
A protagonista do filme é Mildred, vivida pela atriz Frances McDormand (indicada para melhor atriz), teve a filha vítima de violência sexual numa pequena cidade do Missouri. Trata-se da típica cidade do Meio Oeste Americano que formou a base eleitoral de Donald Trump. Porém, não espere uma revanche eleitoral entre Democratas e Republicas nesse filme uma vez que todos vivem seu cotidiano com seus dilemas, erros, acertos e limitações. Frances empresta pela sua interpretação um talento que supera até quando venceu o Oscar por Fargo em 1997.
Mildred não é uma “Mãe Coragem” de um Bertold Brecht, mas faz da iniciativa uma forma de fazer o jogo estar ao seu favor. O Xerife reconhece isso numa passagem do filme. O uso da publicidade dos Outdoors em tempos de redes sociais é um desafio aos pós-modernos da comunicação política. O que incomodava os três anúncios vermelhos colocados numa autoestrada sem grande fluxo? Esse mistério é maior que o desfecho do crime.
 
Sam Rockwell  e Frances McDormand em cena
 
Em primeiro lugar, o exercício da liberdade de expressão que faz uma crítica a atuação da chamada “inteligência investigativa” da polícia local. O detetive responsável é racista, homofóbico e, acreditem, anticomunista (atenção ao diálogo sobre o nome do anunciante, Red) . O oficial Jason Dixon (interpretado por Sam Rockwell – Leão de Ouro de ator por Confissões de uma mente perigosa) leva o público ao extremo do sentimento de ódio pelo personagem. As raízes de um fascismo meio enlouquecido por um trauma na perda paterna e tutelado pela mãe. Um bom exemplo para os amantes de a psicanálise fazerem uso de suas leituras. Enfim, a “inteligência” não existe!
 
Em seguida, uma manifestação que poderia alimentar outras fraturas numa comunidade aparentemente sem conflitos. Todos apelam para uma conciliação na retirada dos anúncios. Nesse instante a Ética da Convicção ganha força, mas alimentada pelo ódio que cega as ações dos sujeitos da trama do filme. Por fim, ao se alimentar uma luta contra o extremismo com atitudes extremadas cai num desfecho importantíssimo no aprendizado da política. A aliança pode vir de quem se menos espera.
As cenas finais do filme faz o público jovem, mal acostumado com o filme padrão norteamericano, achar que não acabou. Entretanto, um filme ele se encerra muitas vezes nas diversas interpretações que podemos lhe conferir. Três Anúncios para um Crime é um manifesto político pela liberdade ao demonstrar que não é correto se deixar guiar pelo ódio sectário. A Democracia ela ganha muito com os grandes gestos da renúncia no tempo certo de uma viagem política.
 


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