Teses
sobre o processo eleitoral das eleições de 2018
Vagner
Gomes de Souza (Sociólogo e Historiador)
1.
As eleições de 2018 é mais um momento na
história “zigue-zague” democratizadora
de nosso país. Uma estrutura de mudanças lentas que coabita com muitas facetas
conservadoras agora expõe alguns traços autoritários nas redes sociais.
Contudo, não nos esqueçamos da durabilidade de nossa escravidão (388 anos!!!) e
suas dramáticas consequências para os afrodescendentes. Não nos esqueçamos da
existência de dois momentos de regimes autoritários em nossa República. Enfim,
vivemos uma democracia ainda em construção. A pauta democrática, mais uma vez,
ganha força para lutar pelas mudanças sociais. Temos a oportunidade de um
reencontro da política com os novos sujeitos sociais desde que se saiba operar
a política das alianças.
2.
Não está ainda claro o quadro eleitoral
em que o debate da tese anterior se manifestará. A crise do sistema partidário
brasileiro contaminou até as agremiações da esquerda brasileira ao se deixar pautar
pela “pequena política” ao se manifestar no limite do cálculo eleitoral. As
mudanças reivindicadas em 2013 relativas a Saúde e Educação Pública estão a
procura de um ator político que melhor lhe represente. A gravidade da recessão
econômica impediu uma maior conexão com a renovação via sociedade civil.
3.
No calendário eleitoral, estamos em
tempos de “janela partidária”. Nesse momento, tudo é feito como se fosse uma “feira
de legendas” mais identificadas com o “Centrão” na expectativa de continuidade
das forças do atraso e do clientelismo político. Os partidos de viés mais do
campo democrático devem admitir uma dificuldade na renovação de seus quadros
políticos uma vez que não se permitiu um pluralismo das classes subalternas nos
anos do “Presidencialismo de Coalizão” sob o comando do PT. Aliás, não foram “anos
petistas” ou “lulista” que vivemos de 2003 até 2016, mas uma ampla coalizão com
forças do atraso que emergiram após o Impeachment de 2016.
4.
As forças do atraso chegaram ao Governo
em 2016, mas não conseguem se fazer hegemônicas. Esse é o ponto o qual se
explica o sentimento de “vazio de Centro Político”. Entretanto, esse é um setor
político que será reconstruído pelas forças democráticas com adesão da própria
esquerda. Nossos liberais estão reféns do economicismo na política e poucas
figuras de natureza pública rompem com o discurso da flexibilização
irresponsável.
5.
Estamos em tempos de formulação de um
programa que evite colocar a esquerda democrática no “gueto” do sectarismo
político. A situação do Rio de Janeiro é um importante “laboratório” para a
intervenção da política da frente. Não devemos esquecer que a recomposição de
uma “centro-esquerda” no segundo colégio eleitoral do país permitiria melhor
possibilidade para a passagem das forças modernizadoras da política. Contudo, a
tarefa não é simples diante dos cálculos de grupos da esquerda ressentidos com
a ideia da renúncia de alguns projetos imediatistas.
6.
Não há nada consolidado quanto a existência
da polarização entre Esquerda e Direita. O primeiro colocado nas pesquisas
eleitorais é de uma força política que sempre disputou as eleições
presidenciais no Brasil desde 1989. Ora ficando em segundo lugar ou ora ficando
em primeiro lugar. O segundo colocado nas pesquisas é um “aggiornamento” no conservadorismo
brasileiro que se sentiu abandonado na fragmentação do PSDB e DEM. Nas devidas
proporções, trata-se de uma “Terceira Via” à direita com a hipótese de se
esvaziar ao longo do processo eleitoral.
7.
A “Fakepolarização” alimenta um debate
sobre a necessidade um Centro Político, porém, na verdade, trata-se de
segmentos da burguesia brasileira pleiteando a sua pactuação em torno de
candidaturas próprias na perspectiva de uma unidade adiante. PSDB, DEM e MDB
ensaiam candidaturas próprias em nome do mesmo programa. A dosagem de
liberalismo que lhes faz diferir é imperceptível diante dos graves problemas de
distribuição de renda que vivenciamos em nosso país.
8.
Temos tempo para se fizer valer um Pacto
de Forças Políticas comprometidas com a implementação da Constituição de 1988.
Nela está a política moderna do Brasil. A atualização do marco constitucional
não implica na sua descaracterização e limitação de suas conquistas sócias.
Pelo contrário, há uma constante necessidade de redistribuição social no Brasil
tanto na renda quanto no acesso de serviços públicos. O Centro Democrático será
reinventado pela inspiração das forças sociais mais a esquerda.
9.
Na disputa eleitoral para a Presidência
da República, todas as vertentes políticas aguardam o “Plano B” ao Lula.
Contudo, a tarefa democrática desse momento é abrir núcleos de defesa dos
valores civilizatórios que estão consagrados na Constituição de 1988. Além
disso, formular uma pauta democratizadora que convoque a sociedade para renovar
nossos legislativos com candidaturas modernas. Os Núcleos devem ser um
Movimento da Sociedade Civil de renovação política programática.
10.
Nada nos permite em ficarmos presos a
conjuntura em nomes sem que fiquemos atentos a formulação da política
democrática. Ela deve partir de baixo para cima em diálogo com as forças
política partidária.
11.
A Democracia Brasileira tem a oportunidade
de abrir um novo ciclo político em 2018. Entretanto, as forças políticas
democráticas não podem continuar reféns de um cálculo da polarização. Esse é o
momento de se autotransformar.