O
Diesel é Nosso
Vagner Gomes de Souza
O liberalismo
brasileiro sempre conviveu com um “DNA” distante da ortodoxia. A intervenção
dos Governos da Primeira República para a valorização do preço do café é um
exemplo que os arautos da imprensa se esquecem nesses dias que procuram reviver
o conceito de populismo. A militarização da PETROBRAS sugere, que sem qualquer
programa econômico claro, o Governo simplesmente não deseja perder as eleições
presidenciais. Seus limites seriam nessa manifestação da Hidra de Lerna em
relação aos temas econômicos.
O Ministro da Economia
Paulo Guedes se assemelha ao jogador de futebol no meio de uma roda de bobinho.
E o mercado é a bola imaginária. Se muitos articulistas gastam inúmeros artigos
para buscar decifrar as ações do Presidente da República, o maior desafio seria
compreender o “dilema do prisioneiro” o qual sua equipe econômica ainda se
vincula ao grupo hegemônico do Governo. Provavelmente a ausência de conteúdo
programático em pauta desde a campanha eleitoral seja a melhor explicação. Nada
se faz para superar uma crise econômica que se agrava com o aumento da
desigualdade social. Então, temos uma política econômica ausente e sem
compromisso com o investimento público. A “reserva moral” do compromisso com um
ajuste fiscal que se faz no imobilismo.
A simplificação do uso
do conceito de populismo para a “intervenção pessoal” do Presidente na política
de preços da PETROBRAS é um desvio dos analistas. Melhor seria problematizar
que nossa economia não está crescendo e que o desemprego se consolida com
características crônicas. Não há interesse em ampliar os gastos públicos nem em
saúde ou educação. O liberalismo sem compromisso com os valores humanos da vida
está presentes nesse Governo. Aquilo que chamam de retórica “populista” é
campanha eleitoral antecipada. Fazer uma oposição liberal ortodoxa em favor
dessa ortodoxia empurra muitos articulistas da imprensa para um “deserto de
ideias” diante dos impactos sociais da pandemia.
O Governo reforçou seus
laços políticos com o “Centrão”. Escrevo REFORÇOU pois o Onyz Lorenzoni nunca
foi um expoente do reaganismo no Brasil ou um Rui Barbosa do século XXI. Portanto
essa aliança foi reforçada num projeto sem programa para a sobrevivência
política e eleitoral de inúmeros segmentos políticos que se abrigam nas famosas
bancadas do Congresso Nacional. Sem programa político claro, vivemos um “presidencialismo
de cooptações”, ou seja, cada votação se coopta um grupo para sua manifestação.
Nesse quadro político fraturado, ainda questionam a ausência de um centro
político coeso com o compromisso democrático. Lembremos que ele foi destruído pela
polarização política no qual os partidos de esquerda permitiram alimentar.
As manifestações
eleitorais de 2020 sugeriram a moderação da política brasileira. Contudo, o
centro democrático será reestruturado somente por um programa que tenha suas
referências na Carta de 1988. Uma tarefa que deve ser feita com a provocação de
uma política de alianças feita pela Esquerda, pois foi assim que chegamos a
Constituinte de 1986/1987. A “roleta russa” do debate pré-eleitoral não
permitiu ainda o gesto da renúncia pelo programa, pois esse é o grande ausente
até na Esquerda. Não se debate mais política porque logo se CANCELA o possível aliado.
Uma simplificação alimentada pela ortodoxia dos valores liberais no campo da
esquerda, que renderia outro artigo.