quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 15

 


O Diesel é Nosso

Vagner Gomes de Souza

 

O liberalismo brasileiro sempre conviveu com um “DNA” distante da ortodoxia. A intervenção dos Governos da Primeira República para a valorização do preço do café é um exemplo que os arautos da imprensa se esquecem nesses dias que procuram reviver o conceito de populismo. A militarização da PETROBRAS sugere, que sem qualquer programa econômico claro, o Governo simplesmente não deseja perder as eleições presidenciais. Seus limites seriam nessa manifestação da Hidra de Lerna em relação aos temas econômicos.

O Ministro da Economia Paulo Guedes se assemelha ao jogador de futebol no meio de uma roda de bobinho. E o mercado é a bola imaginária. Se muitos articulistas gastam inúmeros artigos para buscar decifrar as ações do Presidente da República, o maior desafio seria compreender o “dilema do prisioneiro” o qual sua equipe econômica ainda se vincula ao grupo hegemônico do Governo. Provavelmente a ausência de conteúdo programático em pauta desde a campanha eleitoral seja a melhor explicação. Nada se faz para superar uma crise econômica que se agrava com o aumento da desigualdade social. Então, temos uma política econômica ausente e sem compromisso com o investimento público. A “reserva moral” do compromisso com um ajuste fiscal que se faz no imobilismo.

A simplificação do uso do conceito de populismo para a “intervenção pessoal” do Presidente na política de preços da PETROBRAS é um desvio dos analistas. Melhor seria problematizar que nossa economia não está crescendo e que o desemprego se consolida com características crônicas. Não há interesse em ampliar os gastos públicos nem em saúde ou educação. O liberalismo sem compromisso com os valores humanos da vida está presentes nesse Governo. Aquilo que chamam de retórica “populista” é campanha eleitoral antecipada. Fazer uma oposição liberal ortodoxa em favor dessa ortodoxia empurra muitos articulistas da imprensa para um “deserto de ideias” diante dos impactos sociais da pandemia.

O Governo reforçou seus laços políticos com o “Centrão”. Escrevo REFORÇOU pois o Onyz Lorenzoni nunca foi um expoente do reaganismo no Brasil ou um Rui Barbosa do século XXI. Portanto essa aliança foi reforçada num projeto sem programa para a sobrevivência política e eleitoral de inúmeros segmentos políticos que se abrigam nas famosas bancadas do Congresso Nacional. Sem programa político claro, vivemos um “presidencialismo de cooptações”, ou seja, cada votação se coopta um grupo para sua manifestação. Nesse quadro político fraturado, ainda questionam a ausência de um centro político coeso com o compromisso democrático. Lembremos que ele foi destruído pela polarização política no qual os partidos de esquerda permitiram alimentar.

As manifestações eleitorais de 2020 sugeriram a moderação da política brasileira. Contudo, o centro democrático será reestruturado somente por um programa que tenha suas referências na Carta de 1988. Uma tarefa que deve ser feita com a provocação de uma política de alianças feita pela Esquerda, pois foi assim que chegamos a Constituinte de 1986/1987. A “roleta russa” do debate pré-eleitoral não permitiu ainda o gesto da renúncia pelo programa, pois esse é o grande ausente até na Esquerda. Não se debate mais política porque logo se CANCELA o possível aliado. Uma simplificação alimentada pela ortodoxia dos valores liberais no campo da esquerda, que renderia outro artigo.