sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 12

 

No País do “Ziguezague”

Por Vagner Gomes de Souza

“O velho mundo está morrendo. O novo tarda em aparecer. E nessa meia luz surgem os monstros”.

Gramsci

Um país que está com mais de 100 mil óbitos por COVID19 e milhões de desempregados. Uma economia sob o comando de um Ministro que considera livros como produto de “luxo”. Desmatamento e queimadas no Pantanal. Povos indígenas sob forte vulnerabilidade. A desigualdade social se transformando num “novo normal”. A prévia do PIB assinala uma queda acima de 10%. Como explicar a recuperação política do Presidente da República?

Os primeiros sinais dos analistas políticos sugerem que o Nordeste estaria deixando de ser “Vermelho” (referência aos votos que a oposição teve nessa região em 2018) para aderir ao Governo por causa de um “Auxílio Emergencial” que sempre incomodou (e ainda incomoda) o mandatário da República. Mais uma vez sugestão de que os mais pobres seriam “ingênuos” na política se deixando manipular. Essa é uma leitura que contradiz o clássico Coronelismo, Enxada e Voto (1948), pois Victor Nunes Leal, em sua interpretação, nos explica o quanto é fundamental a ação política da figura política do “coronel” como mediador entre o eleitor local com o Poder Executivo Federal. Não podemos deixar de considerar que a chegada dos políticos do “Centrão” agregou um elemento de “moderação” ao que poderá ser um novo “Projeto Saquarema”.

Vivenciamos um novo momento no transformismo político que não suporta a linguagem política da polarização. Apostar na política da identidade política como “acúmulo de forças” para uma eleição num universo distante de 2022 contribui, em muito, com o desligamento da realidade das camadas populares. As lições da Pandemia pediam que a solidariedade nas periferias ganhasse um programa de frente democrática. Contudo, olhar para os números evita aos analistas indicarem as responsabilidades dos atores políticos do campo democrático.

Seguimos os passos de uma sociedade num “ziguezague” constante, pois aparentemente nada se aprendeu com o chamado “desastre político” de 2018. Se os mais radicais críticos daquilo que seria ascensão do fascismo no Brasil repetem ou aprofundam a fragmentação nesse momento pré-eleitoral, a grande massa política interpreta que tudo é narrativa eleitoral sem consequências políticas. “Mas vamos tocar a vida” é o melhor lema desse cenário porque é assim que algumas lideranças também abraçaram o sectarismo político na política de alianças. Então, se o eleitor não lhe apoia seria porque ele não é “amadurecido”.

Então, não devemos nos deixar abalar com os números, mas começar a exercer a “grande política”. A “receita do bolo” não é nova, porém os sujeitos políticos serão novos e precisam emergir nesses próximos dias que antecedem as eleições de 15 de novembro (mais uma data histórica desse país de “revolução passiva”). Olhar a segunda década do século XXI como os anos 80 do século passado está demonstrando o quanto não se sabe operar de forma positiva a democracia. Urgente que a “esquerda democrática” se imponha diante dessas siglas aprisionadas ao passado.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

CARTA ABERTA AO MINISTRO INTERINO DA SAÚDE

 

Carta Aberta ao General Eduardo Pazuello

Excelentíssimo Ministro Interino da Saúde General Pazuello,

Esse é o primeiro dia útil do mês de agosto que está associado ao mês dos pais presentes ou ausentes por diversas motivações. Somos pais em um país que atravessa um difícil momento por causa da Pandemia do COVID19. Não seria momento de fecharmos os “corações” por causa de nossas diferenças diante de uma gravíssima realidade. O número de óbitos por dia no Brasil não se reduz na média móvel. Não é intenção de essa carta apontar os erros e os motivos de um resultado desfavorável. Essas linhas pretendem que a sensibilidade lhe desperte uma atitude que conforte os corações de muitas famílias que derramam lágrimas a cada dia.

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras com 21 anos de idade, o Senhor demostrou suas qualificações ao longo da carreira militar assumindo de forma correta a coordenação das tropas do Exército nos Jogos Olímpicos de 2016. Todavia, um grande comandante deve saber o momento de fazer a retirada quando a “guerra” pode ceifar mais vidas desnecessariamente. O enfrentamento da COVID19 precisa de abrir-se para a “pacificação” que Duque de Caxias muito bem ensinou nos anais da História do século XIX com a firmeza de saber o quanto é necessário elevar os valores positivos do conhecimento e da ciência.

O Senhor jurou e abraçou a defesa dos interesses da nação brasileira. Com certeza já deve ter avaliado o quanto seria uma gravidade essa interinidade no Ministério da Saúde desde o dia 15 de maio. Não podemos colocar o legado histórico do Exército brasileiro em mãos de opiniões e disputas políticas ainda mais quando vidas estão em jogo. Um soldado cidadão cresce quando honra a unidade nacional e permite que a saúde pública seja cuidada pelos profissionais da área. Não é um simples pedido pela sua renúncia, mas um diálogo para que não se deixe renunciar a nação brasileira só por se manter fiel a “x” ou “y”. Ouça o seu coração e pese na “balança” da consciência que esse é o momento para abrir mão de uma vaga interinamente ocupada há quase 90 dias!!!

Tenho esperança que rume  pela decisão correta. Agradeço sua atenção e perdoe se tenha exagerado nas palavras sinceras de meu clamor. Foram escritas após noites de insônia de um pai.

Atenciosamente Vagner Gomes de Souza