segunda-feira, 3 de julho de 2023

CARBONÁRIOS DO SÉCULO XXI - CARTA ABERTA A SEMAC RIO DE JANEIRO

 

Carta Aberta - O Crepúsculo do Ambientalismo

Carlos Alfredo Nagle[1]

Sinto um estranhamento sobre a forma como o debate das mudanças climáticas estaria sendo conduzidas na cidade do Rio de Janeiro. Portanto, entrei em contato para esse insuspeito BLOG para escrever essa carta no intuito de contribuir com algumas de minhas reflexões a partir de universo que fui formando desde que retornei do exílio em 1979. Minha geração equivocadamente criou uma “patrulha ideológica” que muito se assemelha a alguns dizeres de alguns jovens que estão a atuar na política. Achávamos que tudo seria nosso e nada dos outros numa visão escatológica do fim do capitalismo.  Nos dias atuais, os anseios pela igualdade exposta por Alexis de Tocqueville em Democracia na América têm moldado as falas desses jovens com verniz social.

O “Tudo pelo Social” que estranhei na gestão de José Sarney é simplesmente localizar políticas sociais numa suposta “periferia” sem que haja um cuidado programático. A meu receio é que as mudanças climáticas não estejam sendo de fato debatidas na cidade do Rio de Janeiro diante de algumas iniciativas que aparentemente saem de reuniões de “mídias sociais”. Além disso, no escopo da Federação PT/PCdoB/PV poderia muito bem abrir espaço para os Verdes na gestão municipal carioca como ampliação da política de Frente.

Todavia, não me vejo bem diante de uma gestão do meio ambiente que não tem a ousadia em questionar a implantação de uma tirolesa no Pão de Açúcar enquanto o teleférico do Alemão continua se degradando e nada se fala do que um dia funcionou no Morro da Providência. Mesmo que tenha autorizações para a execução dessa iniciativa privada, não é uma visita técnica que deve fazer calar a externalização de uma opinião.

Estou cansado e tudo me dói ao ter que constatar que os tempos de meu engajamento hoje se confundem em política de compensação social no meio ambiente. Projetos. Tempos de projetos dos Guardões de Ralo, Matas, Mangues, etc. Nome infeliz para nós que tivemos recentemente os “Guardiões do Crivella”. Só falta chamar o Projeto “Capitão Planeta” para vistoriar o Rio de Janeiro num helicóptero como se fosse o fundamental para enfrentar as mudanças climáticas.


Serra da Posse

O desafio da Educação Ambiental é um trabalho muito importante para as novas gerações mesmo que tenhamos uma rede municipal que reduziu a carga horária de aula para a disciplina de Geografia. O Secretário Municipal de Educação poderia fazer um gesto pelo meio ambiente e contribuir para a volta dos três tempos semanais. Além disso, a SEMAC precisa estar dentro das escolas públicas do município para que esse diálogo com as novas gerações atinja o “Ginásio Carioca”.

A formação de uma juventude engajada na luta contra as mudanças climáticas deve ser para todas e todos no universo escolar. Projetos de Laboratórios afunilados de 50 até 5 pessoas não me convencem na formação de uma liderança autônoma, independente e participativa. Além disso, outro nome infeliz foi “Jovens Negociadores” num universo de liberalismo ambiental. A melhor parceria são os professores de ciências e geografia da rede pública municipal para formar “Embaixadores do Clima” sem espaço para engajamentos com leituras eleitoreiras.

Nos subúrbios de Irajá e Guadalupe há uma ausência de arborização constatada em diversos estudos. O eixo da Avenida Brasil é um “antipulmão” de emissões de CO2 com moradores de vulnerabilidade social convivendo com poucas árvores. Faltam guardiões nesse momento. Falta também a retomada da política das ciclovias para as periferias ou seriam os “Guardiões dos Pedais” nos dizeres da comunicação da SEMAC. Sirkis ainda é uma saudosa lembrança sobre esse tema. No mundo pós-pandemia e da alta dos custos de combustíveis fosseis, essa deveria ser um prioridade para uma gestão com olhar para a questão urbana.

Por fim, mesmo que eu seja um privilegiado morador de Ipanema, estou muito atento aos relatos de meus amigos ativistas da ecologia no bairro de Campo Grande. Minha fala planetária me permite refletir que o redesenho da “Nova Floresta da Posse” com uma área menor que o decreto original impõe um alerta para o campo democrático. Além disso, se tudo gira em torno do debate do transporte de automóveis, onde está a iniciativa em favor do transporte de massa que sempre esteve na pauta dos progressistas? Ciclovia no projeto do túnel de Campo Grande é insuficiente diante da dimensão do bairro. Um compromisso com forças políticas mais ao centro não pode significar um silêncio programático. Ou temos só projetos e nenhum programa? Se o Rio de Janeiro está envelhecendo e esvaziando de uma população mais jovem, o bairro de Campo Grande aparentemente está na contratendência ao Censo o que sugere pensar em um diálogo programático mais constante com os movimentos sociais locais para fazer do meio ambiente um debate de ecologia humana.


[1] Ex-liderança estudantil em 1968. Formado em Geografia na Universidade de Moscou.


3 comentários:

Vanessa disse...

Muito bom! Nos últimos dois meses vi diante de meus olhos 2 ciclistas sendo atropelados, mas idai, pelo menos não terá mais engarrafamento no monteiro com o novo projeto. Mal temos calçadas quem dirá algo pensado no verde... Estamos perdidos

Anônimo disse...

Em primeiro lugar, gostaria de elogiar a escrita envolvente e persuasiva do autor. A forma como ele desenvolve e organiza suas ideias é admirável. O texto é claro, conciso e repleto de argumentos bem fundamentados, o que me manteve interessado e engajado do início ao fim.

Além disso, o autor aborda um tema extremamente relevante: a preservação do meio ambiente e a conscientização sobre a importância de proteger nossa natureza. Através de exemplos concretos e dados estatísticos, ele ilustra os impactos negativos das ações irresponsáveis ​​do ser humano e destaca a necessidade urgente de mudanças em nossos comportamentos e políticas.

Por fim, gostaria de mencionar a qualidade visual do blog. A disposição do texto, as imagens e a escolha das cores criam uma experiência agradável para o leitor, tornando a leitura ainda mais prazerosa.

Anônimo disse...

Excelente recorte, muito bom mesmo. Abordagem coesa da questão, agradável leitura.