Nas Primaveras
de Casa-Grande & Senzala
Ricardo José de Azevedo Marinho[1]
Quando da 5ª edição de Casa-Grande
& Senzala, Gilberto Freyre estava na Assembleia Nacional Constituinte
de 1946. A experiência foi intensa e no interregno que vai até 1948 ele
comemorara os 15 anos de sua obra em meio a diversos embates e um deles pode
lançar luz sobre a pergunta feita pelo Datafolha presencialmente, com 2010
pessoas de 16 anos ou mais em 112 municípios pelo Brasil entre os dias 12 e 14
de junho próximo passado se O Brasil corre o risco de se tornar um país
comunista?
A resposta estimulada e única, foi que
33% concordava plenamente com essa hipótese e 19% concordava em parte. A
imprensa noticiou que 52% achavam que o Brasil
correria o risco de tornar comunista.
Com isso surgiu a narrativa de que muitos
brasileiros supunham que o seu governo tinha em sua Presidência comunistas ou
que estaria tentando impor o comunismo ao Brasil.
Dias depois no Foro de São Paulo (FSP),
organização que reúne partidos políticos e organizações de esquerda, criada em
1990, a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), do Brasil, aconteceu um discurso do seu Presidente de Honra
onde ele disse que gosta de democracia e que não se ofende em ser chamado de
comunista, quiçá poderia deixa-lo orgulhoso.
O que se conclui de ambos os disparates
é que tanto o risco quanto a incompreensão da alcunha ofensiva, é que nem os 19%
nem os 33% de brasileiros nem o Presidente de Honra do PT sabem do que estão
falando quando dizem "comunismo". Por
isso a memória dos 15 anos de Casa-Grande &
Senzala, ilumina também suas 90 Primaveras.
Gilberto Freyre sempre foi rigoroso ao falar
sem leviandade do assunto "comunismo", porque
se engatinhava nas pesquisas sociais do que efetivamente estava sendo o "socialismo
real", além do fato da contribuição deles na derrota aos fascistas e nazistas,
ou porque não se conhecia cientificamente aquele contexto, e ainda do que não se
sabia.
Desta forma que nos 15 anos de Casa-Grande
& Senzala, Gilberto Freyre se posicionou contrariamente à cassação dos
mandatos dos parlamentares comunistas em 1948, tal como se opôs a execução dos
criminosos de guerra.
Se não bastasse tudo isso, nem o Brasil, nem o Presidente de Honra do PT, nem a Iberoamérica, com exceção talvez de Cuba, sabem de primeira mão o que tem sido o "comunismo".
Não há passagem na história Iberoamérica, nem mesmo em suas versões mais
atrozes e ditatoriais, com algo semelhante ao praticado pelos líderes
stalinistas na sepulta URSS e outros que implantaram algo análogo em seus
infelizes países durante o século XX.
Pensemos, para tocar apenas na história de
Stálin e no que este semeou na enterrada URSS com suas próprias mãos entre 1924
e 1953.
Naqueles anos, deixando de lado as
baixas da guerra mundial, a política da omelete de Stalin produziu com a sua
quebradeira de ovos 20 milhões de mortes dos seus concidadãos nas cidades e no
campo com a coletivização da agricultura, com as fomes subsequentes e as
vítimas do terror de Estado, cuja sinistra encarnação foi o Gulag.
A história desse "comunismo",
de Stálin, apenas igualada, talvez superada proporcionalmente, pela de Pol Pot
no Kampuchea, era inseparável do Terror.
Os objetivos ideais prometidos pelo
comunismo de uma sociedade melhor e sem exploração nunca avançaram e foram comprometidos
ao se estacionar e congelar no Terror.
O que tudo isso tem a ver com o Presidente
de Honra do PT, o Brasil ou Iberoamérica? Nada. No máximo tenha a ver apenas
com Cuba, e com o que tristemente se desenha hoje na Venezuela e na Nicarágua.
Foi por tudo isso que o camarada Gilberto
Freyre e o seu Casa-Grande & Senzala tem nos mostrado ao longo de 90
anos e que o ideal da brasilidade é o bem-estar social.
Rio, 16 de julho
de 2023.
[1] Presidente da
CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da
UniverCEDAE.
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