domingo, 16 de julho de 2023

SÉRIE ESTUDOS - GILBERTO FREYRE E OS CAMINHOS DA CIVILIZAÇÃO (II)

Nas Primaveras de Casa-Grande & Senzala

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

Quando da 5ª edição de Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre estava na Assembleia Nacional Constituinte de 1946. A experiência foi intensa e no interregno que vai até 1948 ele comemorara os 15 anos de sua obra em meio a diversos embates e um deles pode lançar luz sobre a pergunta feita pelo Datafolha presencialmente, com 2010 pessoas de 16 anos ou mais em 112 municípios pelo Brasil entre os dias 12 e 14 de junho próximo passado se O Brasil corre o risco de se tornar um país comunista?

A resposta estimulada e única, foi que 33% concordava plenamente com essa hipótese e 19% concordava em parte. A imprensa noticiou que  52% achavam que o Brasil correria o risco de tornar comunista.

Com isso surgiu a narrativa de que muitos brasileiros supunham que o seu governo tinha em sua Presidência comunistas ou que estaria tentando impor o comunismo ao Brasil.

Dias depois no Foro de São Paulo (FSP), organização que reúne partidos políticos e organizações de esquerda, criada em 1990, a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), do Brasil, aconteceu um discurso do seu Presidente de Honra onde ele disse que gosta de democracia e que não se ofende em ser chamado de comunista, quiçá poderia deixa-lo orgulhoso.

O que se conclui de ambos os disparates é que tanto o risco quanto a incompreensão da alcunha ofensiva, é que nem os 19% nem os 33% de brasileiros nem o Presidente de Honra do PT sabem do que estão falando quando dizem "comunismo". Por isso a memória dos 15 anos de Casa-Grande & Senzala, ilumina também suas 90 Primaveras.

Gilberto Freyre sempre foi rigoroso ao falar sem leviandade do assunto "comunismo", porque se engatinhava nas pesquisas sociais do que efetivamente estava sendo o "socialismo real", além do fato da contribuição deles na derrota aos fascistas e nazistas, ou porque não se conhecia cientificamente aquele contexto, e ainda do que não se sabia.

Desta forma que nos 15 anos de Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre se posicionou contrariamente à cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas em 1948, tal como se opôs a execução dos criminosos de guerra.

Se não bastasse tudo isso, nem o Brasil, nem o Presidente de Honra do PT, nem a Iberoamérica, com exceção talvez de Cuba, sabem de primeira mão o que tem sido o "comunismo".

Não há passagem na história Iberoamérica, nem mesmo em suas versões mais atrozes e ditatoriais, com algo semelhante ao praticado pelos líderes stalinistas na sepulta URSS e outros que implantaram algo análogo em seus infelizes países durante o século XX.

Pensemos, para tocar apenas na história de Stálin e no que este semeou na enterrada URSS com suas próprias mãos entre 1924 e 1953.

Naqueles anos, deixando de lado as baixas da guerra mundial, a política da omelete de Stalin produziu com a sua quebradeira de ovos 20 milhões de mortes dos seus concidadãos nas cidades e no campo com a coletivização da agricultura, com as fomes subsequentes e as vítimas do terror de Estado, cuja sinistra encarnação foi o Gulag.

A história desse "comunismo", de Stálin, apenas igualada, talvez superada proporcionalmente, pela de Pol Pot no Kampuchea, era inseparável do Terror.

Os objetivos ideais prometidos pelo comunismo de uma sociedade melhor e sem exploração nunca avançaram e foram comprometidos ao se estacionar e congelar no Terror.

O que tudo isso tem a ver com o Presidente de Honra do PT, o Brasil ou Iberoamérica? Nada. No máximo tenha a ver apenas com Cuba, e com o que tristemente se desenha hoje na Venezuela e na Nicarágua.

Foi por tudo isso que o camarada Gilberto Freyre e o seu Casa-Grande & Senzala tem nos mostrado ao longo de 90 anos e que o ideal da brasilidade é o bem-estar social.

Rio, 16 de julho de 2023.



[1] Presidente da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

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