quarta-feira, 22 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 6

 
 
A GERAÇÃO 2.O E O NEGACIONISMO DA CIÊNCIA
 
Por Vagner Gomes de Souza
 
Há uma cena na série MADIBA (disponível na GLOBOPLAY) em que Nelson Mandela e seu irmão de adoção Justiça sentam para ouvir os mais velhos sobre acontecimentos do passado. Provavelmente isso teria acontecido nos anos 30 pois Mandela é de 1918. Essa é uma passagem que demonstra o quanto havia uma geração de jovens ao redor do mundo que se formava ouvindo a experiência do passado mesmo que estivesse sentada num banco rodeado de extrema pobreza. O Breve Século XX foi moldado pela intervenção de muitos sujeitos históricos que herdaram a crença no progresso científico do século XIX seja para o bem ou para o mal.
 
O desfecho vitorioso do capitalismo com o fim da Guerra Fria em 1991 abriu um "vazio" na formulação da análise da política uma vez que essa seria compreendida como algo que atrasasse os avanços da circulação dos interesses individuais. O individualismo alimentou avanços tecnológicos e uma globalização sem o exercício da solidariedade social. A economia se libertando cada vez mais das instituições e decisões da política. Gradualmente os atores políticos moldados na modernização do capitalismo após a vitória antifascista da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) foram sendo negadas com tamanha radicalidade.
 
 Uma proliferação de entidades, bandeiras e sujeitos sociais sem articulação com o mundo da política uma vez que tudo seria uma falta de sentido com as novas tecnologias. Novas tecnologias sem que a juventude tivesse oportunidade de reconhecer na disciplina do estudo como a ciência foi acumulando seu conhecimento uma vez que ter acesso a tecnologia seria apenas ter acesso a uma mercadoria. A tecnologia "coisificou" o conhecimento científico ao passo que estar acessado nas redes sociais seria uma forma mais presente do que estar conectado com as iniciativas de debate da realidade. O mudo da realidade dramaticamente se deslocou nesse contexto diante da virtualidade vivida por uma geração nascida a partir do 2000.
 
As crianças foram impactadas pelos "smartphones" e inúmeras mudanças na rotina da sociedade viabilizou cada vez mais a circulação do mercado pela via da globalização da revolução dos interesses. Aos poucos o vazio pela não saber ouvir as experiências do passado permitiu a proliferação de manifestações psicológicas deprimentes numa juventude que abraçou o "aqui e agora". O presentismo como negação do passado auxiliou na emergência de abordagens "revisionistas" sobre doutrinas autoritárias do século XX. Assim, o nazifascismo teve suas linhagens flexibilizadas ou até mencionadas como posturas da esquerda. Muitos jovens justificaram a ideia de Ditaduras Militares necessárias na América Latina no contexto da Guerra Fria. Além de outros jovens alimentarem a ideia de que a população do continente africano seja vitimizada. Esses são alguns tristes exemplos discursivos dessa geração 2.0 que cresceu a cada ano de BBB em nosso país.
 
Uma vez que os conhecimentos das Ciências Humanas foram relativizadas diante da negação de assumir compromissos com a participação política o que requereria o exercício da memória e a sensibilidade em aproximar pontos de vistas as vezes discordantes. A "juventude android" foi cada vez mais fragmentada seja à direita ou seja à esquerda num processo de alimentação da antipolítica que é base da polarização. O vazio do conhecimento alimentou uma militância digital que não é sustentada na leitura. Nem cobremos a leitura dos clássicos e muito menos a leitura de qualquer produção literária desde que não seja os livros de fantasia, os tons cinzentos e outras vertentes nascidas do Youtube. Assim foi fácil surgir uma personalidade como Olavo de Carvalho e outras manifestações mais digitais do que de leitura.
 
Não é estranho que a liberdade de consumo pelo livre acesso das tecnologias tenha feito o molde de muitos jovens que negam o conhecimento científico uma vez que já teriam problemas na formação com a matemática e a interpretação de textos. Chegar a afirmação de que a "Terra é Plana" é apenas a "ponta" do Iceberg de uma refundação de uma mentalidade feudal com inúmeros aparelhos tecnológicos usados para alimentar a monetarização da vida. Então, o enfrentamento de um momento histórico como a PANDEMIA ocorre com muitos jovens negando as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) pois nem teriam a percepção do que seria essa instituição. A Democracia é apenas um detalhe que incomoda muitos da geração 2.0 e seguimos com um território fértil para as manifestações de fundamentalismo no campo religioso.
 
Até aqui, parece que estamos em rota de colisão com uma parede num veículo em alta velocidade. As dificuldade para fazer os jovens lerem é tamanha diante da facilidade das Lives patrocinadas pelo grande capital. Por outro lado, o ativismo não pode ser simplesmente negar o diálogo com outras forças da política uma vez que alimenta mais a antipolítica. A tarefa é árdua pois não era essa a promessa que o livre mercado tinha feito. Então, estamos diante dos perigos da emergência de uma escalada autoritária e nacionalista que poderá ser abraçada pelos negacionistas da ciência. Portanto, não podemos deixar de reunir nossas forças ao lado da solidariedade e da luta pelas vidas. Temos que reinventar nossas atitudes para que não tenhamos um cenário com mais desigualdade social e mais precarização do mundo do trabalho pelo uso das tecnologias. Urge que a juventude passem a sentar diante da herança que não renunciamos. 


terça-feira, 14 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 5

 

O Tempo, a Disciplina e o Ator na Política

Dedico esse artigo a memória de Daniel Azulay e Moraes Moreira
 
Por Vagner Gomes de Souza
 
 
"Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência"
 
Paciência - Lenine
 
 
Uma "quarentena" que se alonga por mais de quarenta dias é um desafio para uma sociedade que nasceu sob a égide da cultura renascentismo. O liberalismo sempre esteve dúbio em nossa sociedade a medida que dialogava com as práticas autoritárias. O tempo ganha cada vez mais uma exigência na observação dos fatos que nos apresentam. A Pandemia está impondo que uma grande parcela da nossa geração tenha que lidar com os limites. Estamos enfrentando uma mudança que abre o cenário mundial para uma profunda crise sistêmica. As alternativas que se avizinham não são as melhores para aqueles que defendem o pensamento democrático uma vez que a integração mundial está sendo questionada pela velocidade com o qual o "vírus" se espalhou.

 
O mercado deseja que tudo caminhe como antes desde que a sociedade seja mais controlada por uma intervenção estatal na sociedade. Nosso tempo na política precisa de uma vocação para que a juventude pense os horizontes do futuro de uma forma que imponha uma disciplina para que a ciência não seja mais deixada em segundo plano assim como a participação política. Assim, a lição de um pensador Sardo (Gramsci) sobre a obediência de uma disciplina pela hierarquia como forma de saber enfrentar uma disciplina sem autonomia. O exercício consensual da disciplina precisa ser uma tarefa das instituições juvenis para pensar os novos tempos. Porém, temos os indicadores de uma juventude alheia a buscar as lições da memória nas sugestões de Walter Benjamin.
 
Houve um "balão de ensaio" na referência aos "Campos de Concentração" e na proposta de um Prefeito em colocar idosos moradores das favelas em hotéis (afastados de seus familiares) concentrados, o que é questionado por especialistas uma vez que os dados europeus sugerem que a concentração da população mais vulnerável ao "vírus" simplesmente aumenta o perigo da letalidade. O "ovo da serpente" está sendo chocado apesar de muitos atores políticos do campo democrático se deixar levar pela narrativa pautada pelos "negacionistas" da ciência. Nunca podemos esquecer que quanto pior sempre será pior para as classes subalternas. Portanto, esse é tempo de se manter disciplinado no discurso da solidariedade e compaixão.
 
Há a ausência de uma ator para alinhar as forças democráticas pelo mundo. Não temos mais uma visão que deixa conduzir pelas orientações políticas nacionais em ligação com o cenário mundial. A Espanha é uma referência distante de "A Casa de Papel" para muitos jovens. A Itália seria onde deveria estar jogando o jovem promissor Vinícius Junior. A juventude precisa sentar diante de seus aparelhos de smartphone para enfrentar esse vazio da política democrática que impõe uma revisão sobre o que foi a opção política de 2018. A explosão do sistema político brasileiro e de tantos outros países cobra uma necessidade de reagrupamento com setores liberais progressistas, grupos democratas do cristianismo e as vertentes do socialismo com seus valores humanos e democráticos.
 
A lição é árdua assim como se manter no "casulo" das residências produzindo com textos, opiniões e leituras. Não podemos ter espaço para mais fragmentação pois o peso das mãos de Hobbes está ao nosso redor. Um mar de possibilidade precisam ser construídas para que as vidas sejam poupadas diante dos limites de atendimento do Sistema Unificado de Saúde. Usem as redes sociais para dialogar e intervir pelo bem comum. O ator vai surgir pois é uma necessidade para enfrentar essa situação de falta de valores humanos. Aliás, para não deixar de mencionar de forma explícita uma indignação desse simples autor de poucos leitores, não podemos conviver com um Ministro da Economia que é restritivo nos gastos públicos nesse momento de calamidade na saúde. Sugerir o veto ao auxilio aos Estados e Municípios é o mesmo que estar pedindo que desligue os respiradores nos Hospitais para economizar luz sem pensar nas vidas. Não merecemos o cidadão que tem a foto ilustrando esse artigo. Espero que o leitor tenha compreendido o sentido de minha mensagem.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 4

 
Cena do filme Os 12 macacos - Bruce Willis e Brad Pitt
 
O Ator, o Tempo e o Exército dos 12 Macacos
Por Vagner Gomes de Souza
 
Seria pedagógica nesses tempos de “Pandemia” a visita a “baú” da produção cinematográfica para pensar o quanto um filme sobre a distopia poderia dar sentido aos ensinamentos sobre a análise de conjuntura. O silêncio dos especialistas em relação ao filme Os 12 Macacos não nos é estranho uma vez que o herói é um presidiário que vem de um futuro no qual a humanidade quase pereceu diante de um vírus mortal e todos poucos sobreviventes vivem em quarentena nos subterrâneos.
Os 12 Macacos foi dirigido por Terry Gilliam que se graduou em Ciências Políticas antes de se destacar como cineasta relevante onde citaríamos para o filme Brazil – O Filme e A Fantástica Aventura do Barão Munchausen. Por isso, pensamos em analisar o tema da relação Ator e Tempo na política com referências a esse filme de 1995. Muitos militantes nem tinham nascido quando esse filme foi lançado mas fica aqui o convite para que aprendam nele a análise da conjuntura.
O filme desenvolve sua ficção com a “viagem” do tempo o qual os cientistas do futuro são determinados ao justificar o início da “praga” que assolou a humanidade na ação do Exército dos 12 Macacos. O roteiro indica e sugere que o “salvador” do futuro tenha que seguir as sugestões dos “técnicos” da ciência. Nada como ver no filme um anseio pela livre arbítrio no personagem James Cole (Bruce Willis) que na primeira viagem para o passado acaba internado numa clínica psiquiátrica no ano de 1990. Uma inspiração do conto de Machado de Assis, O Alienista, o qual tem inúmeras sugestões sobre a ideia de controle social e as teses sobre a loucura para o cenário político brasileiro.
Os cientistas do futuro corrigem a dose na viagem do tempo e então há um novo momento na narrativa do filme. Revela-se o fundador do Exército dos 12 Macacos como o filho de um virologista e questionador das pesquisas científicas de seu pai com o uso de animais. Jeffrey Goines (Brad Pitt) é o personagem que antecipou muito de uma geração fragmentada na análise da conjuntura. Não se iludam com o seu desempenho, pois trata-se de uma “ilusão” daquilo que seria o essencial na análise. Então, vivemos um pouco disso quando há um Complexo de Cassandra diante daqueles que não perceberam o tamanho da crise econômica que se abriu para o capitalismo.
As injeções monetárias feitas pelo Estado ainda não garantiu que a “mão invisível” do mercado está há tempos contaminada pelo vírus da desigualdade. O tempo de 1995 seria o tempo da Globalização sob a égide do aprofundamento das alternativas liberais na economia. A socialdemocracia aderindo a linha da chamada “terceira via” e todos achando que o problema seria outro. O filme nos sugere que não é o louco do Exército dos 12 Macacos o principal adversário e nesse momento a metáfora recai para outros lunáticos em voga nos tempos contemporâneos. O perigo está em outro lugar e a ausência de um Ator é um incomodo nesse momento.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - Número 3


 

O Leviatã não é uma sombra

Por Vagner Gomes de Souza
 
 
Os caminhos e descaminhos do liberalismo brasileiro não se faz eficiente diante do medo. Um liberalismo fraco na sua defesa da Democracia. Seus defensores extremados citam Adam Smith sem lembrar a origem filosófica do escocês. A filosofia política está ao nosso redor para o desespero daqueles que desejavam um mundo simplificado em números. E eis que um matemático e filósofo ganha força na conjuntura política brasileira. Muitas vezes Thomas Hobbes é mencionado nesses "Cadernos da Quarentena" como uma lembrança do quanto a ferida do capitalismo financeiro está exposta. A alternativa da centralização da economia e da política nunca esteva na sombra na História do Brasil. Dom Pedro II, Getúlio Vargas e o regime militar brasileiro (1964 - 1985) dialogaram com o Leviatã.
 
O ultraliberalismo está incomodado diante dessa realidade. Por outro lado, a Esquerda ainda não se adiantou aos indicadores de terríveis sombras que se avizinham para as instituições democráticas. Muitos ainda não "leram" as referências aos militares no tema do hobbesianismo a moda tupiniquim? Nesse ponto, a intervenção militar na Segurança Pública do Rio de Janeiro foi um laboratório para perceber o quanto a legitimidade da sociedade se fez construir com apoio forte da mídia. Foi em 2018 que a sociedade civil se viu colocada numa "quarentena" na formulação de alternativas democráticas pois se deixou levar por uma "colcha de retalhos" de movimentos/coletivos que esvaziaram ainda mais o peso do ator político.
 
A ausência de um ator viabiliza a ocupação desse "vazio" por figuras que, em tese, emergem fora do sistema político. A natureza hobbesiana no cenário político fluminense fez emergir um Ex-Juiz com uma fisionomia de Professor de Home Office, mas que venceu com os votos da antipolítica mesmo que sua atual gestão seja a continuidade de uma "velha política" do chamado chaguismo. E o Leviatã do Rio de Janeiro se faz um possível modelo para esse momento de enfrentamento de uma "pandemia" e da maior recessão econômica de nossa história.
 
A juventude que se alinhou ao "anarcocapitalismo" é um exemplo do quanto a globalização se fez nas mentes depressivas da polarização. Por outro lado, a juventude no campo da esquerda está "mofada" pelo "sebastianismo" e sem conexão com as leituras. Na "jaula de ferro" do desencantamento weberiano emergiu um "pós-esquerdismo" de viés autoritário na padronização de uma militância deslocada das classes trabalhadoras. O Hobbes se alimenta dessa natureza de guerra que esses jovens se deixaram conduzir nas redes sociais. Então, como se poderia superar esse dilema?
 
"Virtú" é a força de buscar dar um sentido para a política. Nesse ponto é importante reconhecer a importância de que um "ator" articule os desejos espalhados na sociedade. Portanto, as instituições democráticas não podem ser deixadas ao sabor de um debate de normas jurídicas uma vez que há sempre a "invenção" na política com P maiúsculo. Contudo, ela se fará presente com o entendimento de que um Estado de Bem Estar Social se fez necessário na ampliação dos parâmetros da Carta Constitucional de 1988. O STF não se silenciou sobre os direitos dos trabalhadores. Onde está a centro-esquerda? Não se pode esquecer que o tempo de fazer acontecer implica em enfrentar uma tradição autoritária que dialoga com a nossa elite econômica. A sombra está para além do mito da caverna de Platão. 

terça-feira, 7 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 2

 
 
A AUSÊNCIA DO ATOR POLÍTICO NA VELOCIDADE DOS FATOS
 
Por Vagner Gomes de Souza
 
 
Foi uma segunda feira típica de uma sociedade civil que está em "quarentena" e alimenta uma tradição do sebastianismo português. A destruição dos partidos políticos pela Operação Lava Jato não tirou de cena a vida política, porém a antipolítica não criou uma geração disposta a fazer uso da direção da providência. Assim, o mundo do medo alimentado pelo pensamento centralizador do pensador Thomas Hobbes ganhou uma grande ressonância aos herdeiros das eleições de 2018 o qual o medo era viramos uma Venezuela ou uma Cuba. A triste situação da saúde pública fez do medo da sociedade "aquartelada" algo mais visível.
 
Entretanto, de uma "medo" para outro "medo" eis as narrativas políticas em voga nesse momento quando os números de desemprego começam a subir em exponencial. Onde foram parar as forças inovadoras do aprofundamento do liberalismo. Locke é hoje se esconde em um processo sem atores políticos. O fortalecimento do Estado de Bem Estar Social se faz sem um programa ou sinceras convicções diante de grupos políticos alheios ao debate democrático.
 
Isso é tudo resultado dos fatos políticos que se avolumam sem que a política encontre uma linha política que lhe ofereça a "virtú". Na ausência do Ator Político, a religião e as forças armadas ganham espaço no cenário da conjuntura. De uma lado a convocação de um Jejum Nacional alimenta uma base de ressentidos. De outro lado, a raiz do positivismo estaria se refundando nas forças armadas. Onde se encontra o centro político? A falta de uma resposta para essa pergunta impõe o quanto a velocidade dos fatos poderiam levar as instituições democráticas para uma fratura.
 
Há um falso dilema que uma militância de esquerda se impôs para não observar que o problema principal é a economia. Trata-se de pensar no Impeachment ou mobilizar pela renúncia. Como fazer mobilização sem o povo ocupar as ruas. A Esquerda não é a Live de Jorge e  Mateus para mobilizar segmentos plurais. Portanto, fazer política impõe analisar a ação e o tempo. A paciência é muito importante nesse momento de "quarentena" pois a democracia atravessa um momento de grande teste. Sair da principal preocupação da população só alimenta a polarização. Tudo em seu tempo e com uma ampla mesa de negociação.
 
Diante do exposto, não podemos nos silenciar diante da sanha do sistema financeiro em lucrar com a crise da Pandemia. Esse é o ponto a ser denunciado diante das posturas do Ministro da Economia Paulo Guedes que nunca ocupou aquela cadeira para atender a classe trabalhadora seja formal ou informal. Um funcionário dos Grandes Bancos no Governo Federal que deveria ter sua permanência questionada. Diante de sua paralisia, resta ao Congresso Nacional formar um Programa de Reestruturação da Economia que deve ir além da aprovação da PEC do "Orçamento de Guerra". Mesmo que os atores políticos ainda estejam ausentes, na precisão, os "sapos" pularão da planície.
 
 
(NOTA: não deixe de ler o artigo anterior e de compartilhar esse!!!)

domingo, 5 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 1


A Crise e a Ausência do Ator

Por Vagner Gomes de Souza
 

Nos dias atuais a grande certeza que nos apresenta na conjuntura nacional é a dificuldade da organização de um ator político do campo progressista para reorganizar o campo democrático brasileiro. A sociedade está desperta pelas ações centralizadoras nas orientações para o enfrentamento da “Pandemia”. Os ensinamentos de Thomas Hobbes em O Leviatã permitem dizer que não há uma crise moral e intelectual do pensamento que fundamentou a vitória eleitoral de um “free rider”  da antipolítica. Isso exposto, não há indícios de que tenhamos uma fácil avenida em favor das forças democráticas.

As massas populares estão diante de uma grave crise econômica social que aprofunda a tendência da concentração de renda. Diante desse alinhamento social dos “descamisados” com as vertentes hobbesianas não se pode perder tempo com análises políticas focadas na figura do chefe do Executivo Federal. Nunca a frase “È a economia estúpido!” foi de tamanha aplicação para os passos que deveriam ser seguidos pelas forças democráticas. A oportunidade de termos uma forte intervenção do Estado na economia deve ser pactuada para beneficiar aqueles que menos têm ao contrário de garantir os níveis da desigualdade social.

Entretanto, vivemos a ausência de atores políticos com lideranças que saibam fazer a conexão entre sociedade, Parlamento e segmentos intelectuais. Uma vez que a continuidade da armadilha da polarização colocou uma parte da militância da Esquerda sob o “dilema do prisioneiro” ao qual contribuem indiretamente para o fortalecimento da base política do mandatário nacional. Poucos percebem que há uma agregação de uma “ralé” de segmentos sociais diversificados a partir do ressentimento. Então, a aposta do Presidente em aprofundar a recessão econômica o exime da mesma pela denúncia antecipada aos Governadores de São Paulo e Rio de Janeiro (apresentados como oportunistas e traiçoeiros).

Cada semana descoordenada na economia por um Ministro que tem sua raiz no neoliberalismo a recessão será ainda mais radicalizada. As massas populares estariam entregues a sua própria sorte, pois as medidas sociais são de natureza compensatória. As classes subalternas ainda podem se vir realinhadas pela refundação do “jacobinismo florianista”. Por outro lado, o constitucionalismo em leitura “positivista” só sufoca as alternativas políticas. A linha a análise de conjuntura na superestrutura estaria sufocando as nossos passos pelo olhar na estrutura. Esse é o momento de fazer de fato uma Frente que permita uma intervenção democrática do Estado na economia no qual todos devem ser convidados a mesma mesa de unidade.

Contudo, onde está o “sapo” para pular diante da necessidade de uma política econômica mais favorável aos setores populares. Não podemos nos deixar ficar sob a captura da pauta liberal pragmática que simplesmente se deixa levar por uma alternativa em cálculos eleitorais. O ponto é ampliação dos gastos públicos para minorar os graves efeitos recessivos. Na ausência de um ator político, o sebastianismo político de nossa cultura ibérica se alimenta de outros personagens que emergiram do “baixo clero” ou das “casernas” dos quartéis. As instituições democráticas passam por um grave momento é não seriam os atalhos do positivismo constitucional que permitiram a acolhida dos segmentos populares. Para enfrentar Hobbes, sigamos o ensinamento de Maquiavel que diz “Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.”