quinta-feira, 9 de abril de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 4

 
Cena do filme Os 12 macacos - Bruce Willis e Brad Pitt
 
O Ator, o Tempo e o Exército dos 12 Macacos
Por Vagner Gomes de Souza
 
Seria pedagógica nesses tempos de “Pandemia” a visita a “baú” da produção cinematográfica para pensar o quanto um filme sobre a distopia poderia dar sentido aos ensinamentos sobre a análise de conjuntura. O silêncio dos especialistas em relação ao filme Os 12 Macacos não nos é estranho uma vez que o herói é um presidiário que vem de um futuro no qual a humanidade quase pereceu diante de um vírus mortal e todos poucos sobreviventes vivem em quarentena nos subterrâneos.
Os 12 Macacos foi dirigido por Terry Gilliam que se graduou em Ciências Políticas antes de se destacar como cineasta relevante onde citaríamos para o filme Brazil – O Filme e A Fantástica Aventura do Barão Munchausen. Por isso, pensamos em analisar o tema da relação Ator e Tempo na política com referências a esse filme de 1995. Muitos militantes nem tinham nascido quando esse filme foi lançado mas fica aqui o convite para que aprendam nele a análise da conjuntura.
O filme desenvolve sua ficção com a “viagem” do tempo o qual os cientistas do futuro são determinados ao justificar o início da “praga” que assolou a humanidade na ação do Exército dos 12 Macacos. O roteiro indica e sugere que o “salvador” do futuro tenha que seguir as sugestões dos “técnicos” da ciência. Nada como ver no filme um anseio pela livre arbítrio no personagem James Cole (Bruce Willis) que na primeira viagem para o passado acaba internado numa clínica psiquiátrica no ano de 1990. Uma inspiração do conto de Machado de Assis, O Alienista, o qual tem inúmeras sugestões sobre a ideia de controle social e as teses sobre a loucura para o cenário político brasileiro.
Os cientistas do futuro corrigem a dose na viagem do tempo e então há um novo momento na narrativa do filme. Revela-se o fundador do Exército dos 12 Macacos como o filho de um virologista e questionador das pesquisas científicas de seu pai com o uso de animais. Jeffrey Goines (Brad Pitt) é o personagem que antecipou muito de uma geração fragmentada na análise da conjuntura. Não se iludam com o seu desempenho, pois trata-se de uma “ilusão” daquilo que seria o essencial na análise. Então, vivemos um pouco disso quando há um Complexo de Cassandra diante daqueles que não perceberam o tamanho da crise econômica que se abriu para o capitalismo.
As injeções monetárias feitas pelo Estado ainda não garantiu que a “mão invisível” do mercado está há tempos contaminada pelo vírus da desigualdade. O tempo de 1995 seria o tempo da Globalização sob a égide do aprofundamento das alternativas liberais na economia. A socialdemocracia aderindo a linha da chamada “terceira via” e todos achando que o problema seria outro. O filme nos sugere que não é o louco do Exército dos 12 Macacos o principal adversário e nesse momento a metáfora recai para outros lunáticos em voga nos tempos contemporâneos. O perigo está em outro lugar e a ausência de um Ator é um incomodo nesse momento.


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