O
Outono do Petroarca
Por Vagner Gomes
de Souza
Uma fábula do Nobel de
Literatura Gabriel García Márquez saiu num distante ano de 1975 no qual a
América Latina convivia com inúmeros projetos de Ditaduras Militares que
contribuíram para o aprofundamento das desigualdades sociais neste
subcontinente. Eis que O Outono do
Patriarca cumpriu sua sina como um libelo a crítica ao anacronismo do
autoritarismo e muitos se precipitam, erroneamente, a circunscrever o enredo do
livro a situação da República Dominicana de então.
Em seu realismo fantástico, o tempo e o espaço
de curvam como se aprende na teoria da relatividade defendida por Albert Einstein.
Há em sua ficção um pouco da teoria da longa duração lançada pelo historiador
francês Fernand Braudel. Portanto, num universo de quase meio século a
possibilidade de um outono autoritário na Colômbia é uma ameaça para as
instituições democráticas na América do Sul. Com suas peculiaridades locais, Argentina
(2019), Bolívia (2020), Peru (2021) e Chile (2021) inauguraram um redesenho
político no qual a multidão emergiu no cenário político diante do desgaste de
muitos métodos políticos.
Leitura limitada
atribuir a esses resultados eleitorais como uma nova fase do populismo latino
americano uma vez que há muitas mudanças no perfil das classes sociais nessa
região ainda mais diante das aproximações no mercado internacional com a China
e a Rússia. Diante da orientalização do CONESUL, todas as eleições locais não
devem ser compreendidas como uma reprodução das eleições polarizadas
norte-americanas. Eis que o sucesso da animação “Encanto” (Disney) poderia ser
vista como uma reorientação da política externa de Biden para a região a partir
do território amazônico.
Sai o “Zé Carioca
olavista” e que venha a “Abuela” ao lado do “Trump colombiano”. Antes do
segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia, atravessaremos pela
Cúpula das Américas (6 – 10 de junho) com a participação do mandatário do
Brasil – um melhor modelo comparativo para pensar a realismo fantástico em
nossa “realpolitik”. Já se falam do Encontro “BB” em junho meses após o
Encontro “PB” dias antes da Guerra na Ucrânia. Como se manter em brasa quente a
ameaça da “narcoguerrilha” do pós-Guerra Fria esteja a rondar o realismo
fantástico das campanhas nas redes sociais as provocações podem surgir a cada
momento até nas periferias cariocas. Então, não há um cenário kantiano que
coloque Khamala Haris nas disputas eleitorais por ora seja lá, ou na Colômbia
ou por aqui.
Nesse momento um
ex-Guerrilheiro chamado Gustavo Petro desponta nas eleições como favorito.
Muitos jornalistas se esquecem de que Nelson Mandela e José Mujica tiveram um
passado radicalizado num contexto de “Guerra Fria” e, depois, fizeram um “giro”
para a política reformista em linha forte. Da ANAPO (de onde saíram os
nacionalistas de esquerda do M19) até a aliança Colômbia Humana há uma
trajetória política que comprova a fábula de que seria uma candidatura
populista de esquerda e/ou extremista. Aliás, nos marcos da geografia política
dessa candidatura estariam numa polaridade entre defensores da vida contra os defensores
da morte. Esse transformismo tem sido um dos marcos políticos após a crise
econômica mundial de 2008 que fraturou mais a política em segmentações. Não há
mais a esquerda como nos cânones de A Era
dos Extremos, o que permitiu a emergências dos ecos do ódio de uma “nova
direita” mais belicista.
Petro como um Patriarca
da fé hebraica reuniu na sua ampla e plural coligação uma Arca de projetos. Sua
progressista gestão em Bogotá o qualifica como um bom gestor das coisas
públicas, mas as eleições nacionais colombianas sofrem de ameaças do encanto
carismático diante do desencanto pela ação da política. Não se pode deixar de
considerar que o candidato da situação será “fiel” nessa balança eleitoral. Um
pacto histórico se faz necessário mais uma vez naquele país e que reabram as
negociações possíveis com os grupos políticos beligerantes.
Assim, o segundo turno
das eleições colombianas é mais um momento dessas tensões políticas às vezes
apolíticas e que podem jogar mais elementos no debate sobre a crise das
instituições democráticas. As soluções termidorianas da “Primavera Árabe”, a
emergência do “trumpismo” após o “Occupy Wall Street” e nosso nunca bem
avaliado 2013 sugere que não teremos um “céu de brigadeiro” até a data de 19 de
junho uma vez que poderia antecipar outras movimentações no Brasil. Na verdade,
todos temem pelo dilúvio que deve ser enfrentado com muita Grande Política