Colegas: A
americanização do cinema nacional à moda italiana
Por Vagner Gomes
O filme Colegas poderia ser um
simples “Road Movie” se os protagonistas não fossem três amigos com Síndrome de
Down. O filme colegas poderia ser um simples filme sentimental se não fosse
humor. O filme colegas poderia ser uma sátira ao filme Thelma e Louise (Ridley Scott, 1991) se não fosse um belo filme
para repensar sobre o preconceito em relação aos portadores de Down. Afinal, é
um filme para dar gargalhadas sem qualquer situação piegas.
Sua justa exibição no Festival do
Rio nesse ano é uma oportunidade para pensarmos numa nova geração de Cineastas
que “beberam” as referências do cinema americano, porém abordam temas dramáticos
fazendo um recurso ao Humor. O Diretor Marcelo Galvão estudou na New York Film
Academy e foi premiado já em sua primeira longa Quarta B. Em Colegas (Premiado
no Festival de Gramado desse ano) vivemos aqui uma mixagem entre os estilos
americanizados de cinema e o roteiro/linguagem do cinema italiano.
Há um espectro de Ettore Scola
com seus famosos “triângulos” entre amigos. Ao meio dos “triângulos”, vivemos
uma comédia que é dramática, pois, para além do preconceito aos portadores de
Down, testemunhamos o perfil da segurança pública em passado recente de nossa
História (“Doutora, nós trabalhamos para desaparecer com pessoas. Não para
encontrar desaparecidos”); o “filhinho de papai” que ascende no serviço público
por ser filho de Deputado; as raízes hobbesianas do medo presentes na sociedade
e o papel da mídia em propagar “novelas da vida real” onde a perseguição aos
supostos delinquentes assume semelhanças a histeria americana a procura de possíveis
terroristas islâmicos.
A televisão é o personagem de
abertura do filme. Uma TV Preto&Branco de seletor (para os meus jovens
leitores, um botão em círculo que fazia as trocas de canais sem o uso do
controle remoto) e provavelmente à válvula transmitem logo que trata-se de
tempos remotos o lugar da ação. Contudo, as primeiras imagens anteriores ao
recurso do narrador fazem lembrar os filmes de Quentin Tarantino. Seria um PULP
FICTION sem citações bíblicas. Assim, roteiro e elenco desempenham muito bem o
papel para segurar a atenção do público e alimentando momentos de reflexão a
cada intervalo entre as risadas.