Carta
Aberta - O Crepúsculo do Ambientalismo
Carlos Alfredo
Nagle[1]
Sinto um estranhamento
sobre a forma como o debate das mudanças climáticas estaria sendo conduzidas na
cidade do Rio de Janeiro. Portanto, entrei em contato para esse insuspeito BLOG
para escrever essa carta no intuito de contribuir com algumas de minhas
reflexões a partir de universo que fui formando desde que retornei do exílio em
1979. Minha geração equivocadamente criou uma “patrulha ideológica” que muito
se assemelha a alguns dizeres de alguns jovens que estão a atuar na política.
Achávamos que tudo seria nosso e nada dos outros numa visão escatológica do fim
do capitalismo. Nos dias atuais, os
anseios pela igualdade exposta por Alexis de Tocqueville em Democracia na América têm moldado as
falas desses jovens com verniz social.
O “Tudo pelo Social”
que estranhei na gestão de José Sarney é simplesmente localizar políticas
sociais numa suposta “periferia” sem que haja um cuidado programático. A meu
receio é que as mudanças climáticas não estejam sendo de fato debatidas na
cidade do Rio de Janeiro diante de algumas iniciativas que aparentemente saem
de reuniões de “mídias sociais”. Além disso, no escopo da Federação PT/PCdoB/PV
poderia muito bem abrir espaço para os Verdes na gestão municipal carioca como
ampliação da política de Frente.
Todavia, não me vejo
bem diante de uma gestão do meio ambiente que não tem a ousadia em questionar a
implantação de uma tirolesa no Pão de Açúcar enquanto o teleférico do Alemão
continua se degradando e nada se fala do que um dia funcionou no Morro da
Providência. Mesmo que tenha autorizações para a execução dessa iniciativa
privada, não é uma visita técnica que deve fazer calar a externalização de uma
opinião.
Estou cansado e tudo me
dói ao ter que constatar que os tempos de meu engajamento hoje se confundem em
política de compensação social no meio ambiente. Projetos. Tempos de projetos
dos Guardões de Ralo, Matas, Mangues, etc. Nome infeliz para nós que tivemos
recentemente os “Guardiões do Crivella”. Só falta chamar o Projeto “Capitão
Planeta” para vistoriar o Rio de Janeiro num helicóptero como se fosse o
fundamental para enfrentar as mudanças climáticas.
O desafio da Educação
Ambiental é um trabalho muito importante para as novas gerações mesmo que
tenhamos uma rede municipal que reduziu a carga horária de aula para a
disciplina de Geografia. O Secretário Municipal de Educação poderia fazer um
gesto pelo meio ambiente e contribuir para a volta dos três tempos semanais.
Além disso, a SEMAC precisa estar dentro das escolas públicas do município para
que esse diálogo com as novas gerações atinja o “Ginásio Carioca”.
A formação de uma
juventude engajada na luta contra as mudanças climáticas deve ser para todas e
todos no universo escolar. Projetos de Laboratórios afunilados de 50 até 5
pessoas não me convencem na formação de uma liderança autônoma, independente e
participativa. Além disso, outro nome infeliz foi “Jovens Negociadores” num
universo de liberalismo ambiental. A melhor parceria são os professores de
ciências e geografia da rede pública municipal para formar “Embaixadores do
Clima” sem espaço para engajamentos com leituras eleitoreiras.
Nos subúrbios de Irajá
e Guadalupe há uma ausência de arborização constatada em diversos estudos. O eixo
da Avenida Brasil é um “antipulmão” de emissões de CO2 com moradores de
vulnerabilidade social convivendo com poucas árvores. Faltam guardiões nesse
momento. Falta também a retomada da política das ciclovias para as periferias
ou seriam os “Guardiões dos Pedais” nos dizeres da comunicação da SEMAC. Sirkis
ainda é uma saudosa lembrança sobre esse tema. No mundo pós-pandemia e da alta
dos custos de combustíveis fosseis, essa deveria ser um prioridade para uma
gestão com olhar para a questão urbana.
Por fim, mesmo que eu
seja um privilegiado morador de Ipanema, estou muito atento aos relatos de meus
amigos ativistas da ecologia no bairro de Campo Grande. Minha fala planetária
me permite refletir que o redesenho da “Nova Floresta da Posse” com uma área
menor que o decreto original impõe um alerta para o campo democrático. Além
disso, se tudo gira em torno do debate do transporte de automóveis, onde está a
iniciativa em favor do transporte de massa que sempre esteve na pauta dos
progressistas? Ciclovia no projeto do túnel de Campo Grande é insuficiente diante
da dimensão do bairro. Um compromisso com forças políticas mais ao centro não
pode significar um silêncio programático. Ou temos só projetos e nenhum
programa? Se o Rio de Janeiro está envelhecendo e esvaziando de uma população
mais jovem, o bairro de Campo Grande aparentemente está na contratendência ao
Censo o que sugere pensar em um diálogo programático mais constante com os movimentos
sociais locais para fazer do meio ambiente um debate de ecologia humana.
[1] Ex-liderança
estudantil em 1968. Formado em Geografia na Universidade de Moscou.
Muito bom! Nos últimos dois meses vi diante de meus olhos 2 ciclistas sendo atropelados, mas idai, pelo menos não terá mais engarrafamento no monteiro com o novo projeto. Mal temos calçadas quem dirá algo pensado no verde... Estamos perdidos
ResponderExcluirEm primeiro lugar, gostaria de elogiar a escrita envolvente e persuasiva do autor. A forma como ele desenvolve e organiza suas ideias é admirável. O texto é claro, conciso e repleto de argumentos bem fundamentados, o que me manteve interessado e engajado do início ao fim.
ResponderExcluirAlém disso, o autor aborda um tema extremamente relevante: a preservação do meio ambiente e a conscientização sobre a importância de proteger nossa natureza. Através de exemplos concretos e dados estatísticos, ele ilustra os impactos negativos das ações irresponsáveis do ser humano e destaca a necessidade urgente de mudanças em nossos comportamentos e políticas.
Por fim, gostaria de mencionar a qualidade visual do blog. A disposição do texto, as imagens e a escolha das cores criam uma experiência agradável para o leitor, tornando a leitura ainda mais prazerosa.
Excelente recorte, muito bom mesmo. Abordagem coesa da questão, agradável leitura.
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