Pantanal
e as eleições
Por
Pablo Spinelli
Acabou
Pantanal, um dos poucos casos raros de remake de uma novela que deu certo no
mesmo nível que a anterior. A original, exibida por uma emissora carioca –
rompendo o monopólio global – rompeu com uma estética convencional da
teledramaturgia que ainda era presa ao teleteatro e aos planos da televisão
americana. Num misto de ousadia e inventividade por falta de recursos
financeiros, a Rede Manchete mostrou para o país aquilo que o presidente JK,
amigo do então dono da emissora, Adolpho Bloch, realizara no governo: a marcha
para o Oeste brasileiro, pelo bem e pelo mal.
Curiosamente,
a conjuntura brasileira não era de boa fortuna para a democracia e instituições
brasileiras, assim como a do remake: um presidente que foi eleito com discurso
da antipolítica; do anticomunismo; defensor da moralidade pública e nos
costumes e defensor do neoliberalismo. Esse era o perfil de Fernando Collor,
esse ano derrotado fragorosamente em Alagoas e aliado de primeira hora do atual
presidente e candidato à reeleição.
Muita
coisa mudou de lá para cá. A Manchete faliu e dois impeachment depois, a
sociedade brasileira tem que fazer um ato da ética da responsabilidade acima da
ética da convicção pela manutenção da democracia, do pão, da razão e da própria
existência do pantanal. Para a Aliança Democrática de oposição o tema tem que
sair da antropofagia modernista e entrar no Brasil real que não é o da USP, mas
o do patriarcado de capitalismo moderno e avançado representado pelo Marcos
Palmeira e seu José Leôncio.
A
oposição tem que parar para pensar que o Brasil conservador e a panaceia do
“voto evangélico a favor da teocracia” assistiu a uma novela que tinha um
“Cramulhão”; um espírito das águas e das matas, quase um orixá caboclo vivido
pelo Osmar Prado, o mesmo que os mais velhos riam das estripulias do poliamor
do Tabaco na novela Roda de Fogo. Os conservadores não fizeram um
abaixo-assinado e nem passeatas ao ver dois peões se beijando no último
capítulo – como aconteceu com outras novelas. Há necessidade de paciência com o
mover do mundo, já nos dizia Joaquim Nabuco.
Um
país formado por rupturas pelo transformismo não irá ver uma sociedade feita à
fórceps pelo identitarismo americano que tomou força nos discursos
neo-anarquistas do mundo acadêmico. As palavras perdem força diante dos fatos:
Maria Bruaca, interpretado com força de Isabel Teixeira, defendida pelas
feministas, nada mais queria que ser a única esposa de sua família. Fez de tudo
para seu casamento não ruir, inclusive propor o trisal, para manter o marido.
Todas as mulheres queriam não outra coisa a não ser um casamento (Filó, Zefa),
ser mãe (Juma, Guta) e felizes (todas). Nessa reta final para o segundo turno a
candidatura da Aliança Democrática tem que entender a novela pela sociologia e
pela política. O cantor Sérgio Reis, autor da música mais tocada na roda dos
peões, apareceu na festa de José Leôncio. Que a mulher do Pantanal, Simone
Tebet, possa ajudar a campanha para um “larga mão” da Avenida Paulista pelo
futuro dos filhos dos filhos dos nossos filhos no embarque da chalana da Esperança.
Um comentário:
Análise impecável! É isso, Brasil! Acorda, povo brasileiro!
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