terça-feira, 11 de outubro de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 34 - PANTANAL E O BRASIL REAL

Pantanal e as eleições

Por Pablo Spinelli

 

Acabou Pantanal, um dos poucos casos raros de remake de uma novela que deu certo no mesmo nível que a anterior. A original, exibida por uma emissora carioca – rompendo o monopólio global – rompeu com uma estética convencional da teledramaturgia que ainda era presa ao teleteatro e aos planos da televisão americana. Num misto de ousadia e inventividade por falta de recursos financeiros, a Rede Manchete mostrou para o país aquilo que o presidente JK, amigo do então dono da emissora, Adolpho Bloch, realizara no governo: a marcha para o Oeste brasileiro, pelo bem e pelo mal.

Curiosamente, a conjuntura brasileira não era de boa fortuna para a democracia e instituições brasileiras, assim como a do remake: um presidente que foi eleito com discurso da antipolítica; do anticomunismo; defensor da moralidade pública e nos costumes e defensor do neoliberalismo. Esse era o perfil de Fernando Collor, esse ano derrotado fragorosamente em Alagoas e aliado de primeira hora do atual presidente e candidato à reeleição.

Muita coisa mudou de lá para cá. A Manchete faliu e dois impeachment depois, a sociedade brasileira tem que fazer um ato da ética da responsabilidade acima da ética da convicção pela manutenção da democracia, do pão, da razão e da própria existência do pantanal. Para a Aliança Democrática de oposição o tema tem que sair da antropofagia modernista e entrar no Brasil real que não é o da USP, mas o do patriarcado de capitalismo moderno e avançado representado pelo Marcos Palmeira e seu José Leôncio.

A oposição tem que parar para pensar que o Brasil conservador e a panaceia do “voto evangélico a favor da teocracia” assistiu a uma novela que tinha um “Cramulhão”; um espírito das águas e das matas, quase um orixá caboclo vivido pelo Osmar Prado, o mesmo que os mais velhos riam das estripulias do poliamor do Tabaco na novela Roda de Fogo. Os conservadores não fizeram um abaixo-assinado e nem passeatas ao ver dois peões se beijando no último capítulo – como aconteceu com outras novelas. Há necessidade de paciência com o mover do mundo, já nos dizia Joaquim Nabuco.

Um país formado por rupturas pelo transformismo não irá ver uma sociedade feita à fórceps pelo identitarismo americano que tomou força nos discursos neo-anarquistas do mundo acadêmico. As palavras perdem força diante dos fatos: Maria Bruaca, interpretado com força de Isabel Teixeira, defendida pelas feministas, nada mais queria que ser a única esposa de sua família. Fez de tudo para seu casamento não ruir, inclusive propor o trisal, para manter o marido. Todas as mulheres queriam não outra coisa a não ser um casamento (Filó, Zefa), ser mãe (Juma, Guta) e felizes (todas). Nessa reta final para o segundo turno a candidatura da Aliança Democrática tem que entender a novela pela sociologia e pela política. O cantor Sérgio Reis, autor da música mais tocada na roda dos peões, apareceu na festa de José Leôncio. Que a mulher do Pantanal, Simone Tebet, possa ajudar a campanha para um “larga mão” da Avenida Paulista pelo futuro dos filhos dos filhos dos nossos filhos no embarque da chalana da Esperança.

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