Sob
a ameaça de Torquemada
Em memória de
Lyncon Guidion
Vagner Gomes de
Souza
Tomás de Torquemada foi
um inquisidor-geral espanhol que viveu no século XV. Esteve a serviço da Igreja
Católica em nome de um fanatismo que lhe qualificaria em muito a mentalidade distinta
do iberismo hispânico em relação ao português. Sebastián de Olmedo o chamou de
"O martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país, a honra
da sua ordem". Essa era a “espinha” dorsal de uma unificação sob a égide
da religião como discurso de Estado. Estima-se que foi responsável por
aproximadamente 2200 pessoas levadas ao suplício da fogueira.
Nesses tempos de “linchamento
virtual” presentes em tantos quadrantes políticos, expor o ódio contra a
afeição se tornou cada vez mais uma ameaça a Democracia no mundo. A mobilização
nas redes sociais contribuiu para aceleração da individualização da sociedade
numa lógica de um profundo individualismo metodológico em que muitas vezes as
instáveis aproximações seriam em contextos de tentar ter algum benefício
individual como se fosse um “efeito carona”.
Novos inquisidores se
materializaram como vozes rudes que refletem uma sociedade fraturada e muito
mais aberta aos pronunciamentos reacionários. O medo dos fantasmas de um
sistema político que deixou de existir desde a queda do “Muro de Berlim” se
observa muito nesse universo inquisitorial de Torquemada na sua busca
identitária. Nada abala as concepções dos fanáticos como observamos nas lições
sobre o fascismo (uma das múltiplas correntes do extremismo de direita) surgido
no entre guerras junto com a pandemia da “Gripe Espanhola”.
Não nos estranha que o temor de que tenhamos “Casas de Banho” Unissex não tenha sido solidário no repúdio as falas e práticas infelizes sobre as jovens venezuelanas. Os olhos estariam vendados para a sensibilidade e a racionalidade numa política cada vez mais “Barroca”. O mundo do absolutismo está se tornando mais forte nesse contexto que se permite condenar a globalização ao contrário de orientar para sua republicanização. Os desafios são inúmeros, mas percebemos na leitura da fundamentação programática do bloco governista a “manipulação do medo” em relação ao novo e as mudanças.
As palavras do
candidato a reeleição ressoam forte ao vaticinar na noite do dia 2 de outubro
sobre os perigos de abraçar as mudanças. Todavia, desejam que se ande para trás
em inúmeras conquistas sociais em relação ao poder de compra dos assalariados e
aposentados/pensionistas. No país da “fila do osso” há aqueles que acreditam
nos devoradores de cães acima da linha do Equador. Aqueles que desacreditaram
que havia mortos nos caixões por conta da COVID-19 seriam os mesmos a acreditar
numa ameaça a liberdade religiosa. Não confortaram as famílias e órfãos da
COVID-19 e cinicamente dizem que defendem os valores da família. Não é somente
as perdas da pandemia, mas também a
perda gradual da afeição. O mundo reacionário é movido pelo ódio e pela
mentira.
A Carta Constitucional de 1988 está sob a ameaça dos visionários fechados as boas novas anunciadas na partilha do Pão. E anunciam cada vez mais novos retrocessos que vão atingir as mulheres e a juventude uma vez que há fratura em nossa Terra Prometida uma visão do paraíso. Sob ameaça de Torquemada surgem parlamentares que insinuam a inquisição de jovens universitários que seriam “taxados” como “filhos de papai”. Esse é mais um exemplo do perfil ignóbil de uma sociedade adoecida uma vez que se indultou um parlamentar condenado por atacar um dos Três Poderes (ao mesmo tempo em que mais de 19% de eleitores sufragaram, mesmo sub judice, esse candidato ao Senado enquanto que o mesmo teve aproximadamente 25% dos eleitores num bairro predominantemente evangélico na capital carioca).
Não é liberdade de
expressão que está sob ameaça, mas seus limites republicanos impostos pelos
marcos legais. Nesse momento a força da Cruzada Iliberal contra um Brasil muito
abalado economicamente pela pandemia precisa de que a juventude dedique mais
tempo de ocupação das ruas para dialogar com eleitores indecisos. A fase das
Lives e dos influenciadores já passou. As ruas estão abertas para que os jovens
falem para os jovens que se deixaram mobilizar pelas fake news. Os segmentos
mais idosos precisam ser acolhidos pelo ânimo desses eleitores novos para que
suportem a travessia de reconstrução nacional. Por fim, as mulheres seriam mais
bem acolhidas pela juventude nessa dinâmica eleitoral. Aqueles que não tenham
tempo nesses próximos dias que justifiquem no futuro, aos seus filhos e netos,
o motivo de sua omissão. Não façam como o memorialismo sob a Alemanha Nazista
registrou diversas respostas evasivas sobre atitude: “Não sabíamos de nada”.
Excelente artigo! Quem acompanhou nos últimos 30 anos o crescimento dos grupos/igrejas evangélicas via a tragédia anunciada: milhões de pessoas mentalmente, economicamente, espiritualmente doentes aguardando um porta-voz pra dar voz/corpo ao ressentimento.
ResponderExcluirPura realidade. Estamos avisando ..
ResponderExcluirSensacional! Pena que lemos muito pouco, pouco sabemos da história e a nossa ignorância nós embaça a realidade. Precisamos lutar contra essa direita reacionária que tenta levar a sociedade ao obscurantismo.
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