segunda-feira, 12 de junho de 2023

SÉRIE ESTUDOS - CAIO PRADO JÚNIOR E SEU PARTIDO

Retrato do jovem Caio Prado Jr., [1926]
Arquivo IEB – USP, Fundo Caio Prado Jr., código de referência: CPJ-F11-07.

A Estreia de um Dissidente – 90 anos de Evolução Política do Brasil

Vagner Gomes de Souza

 

As celebrações do centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no processo dos 200 anos da independência do Brasil no ano de 2022 ainda se faz necessária diante do necessário debate sobre a nossa interpretação de fundação político como Estado Nação. Distante daqueles que visam fazer da análise do passado como se fosse um “tribunal de inquisição”, entendemos que há uma continuidade/descontinuidade no processo político no quais modismos e oportunismos de ocasião que se arvoram como “nova” (?) historiografia não se cuidam mais em analisar.

O legado do pensador e historiador Caio Prado Júnior é um importante desafio para se perceber o embrião de uma política de Frente Democrática “avance temps”. O jovem bacharel paulista que já tinha uma militância desde a juventude no Partido Democrático (dissidência que fará parte da Aliança Liberal de Getúlio Vargas) e já tinha sido preso por gritar “Viva Getúlio!!!” diante do candidato oficial Júlio Prestes. Entretanto, sua desfiliação ao PD se torna pública em 1931 quando estava com 24 anos. Restaria ao jovem; só se dedicar a vida profissional na área do Direito - o qual se formou em 1928 - ou ser mais um intelectual semelhante aos seus familiares Eduardo Prado e Paulo Prado ou avançar na militância política com uma produção reflexiva.

Os estudos indicam que sua aproximação com o PCB se deu no ano de 1932 num momento em que essa agremiação partidária se caracterizava pelo “obreirismo”, ou seja, o núcleo dirigente valorizava de forma extremada as origens proletárias de seus quadros e com uma atitude desqualificadora dos filiados de origem intelectual como “contaminada” pelas posturas de pequeno-burguesia. Nessa época, dois intelectuais históricos do Partido havia se afastado dos órgãos de direção (Otávio Brandão e Astrojildo Pereira). Nadando contra essa corrente sectária e esquerdista, Caio Prado Júnior se filiou ao que seria um partido extremamente distante da análise da realidade da primeira fase da Era Vargas (1930 – 1934) apesar de ser um herdeiro da família Prado e estar num primeiro casamento com uma herdeira da família Penteado.

Há relatos que os familiares se afastaram dele por causa de sua filiação partidária. Enquanto que sua origem familiar vinculada a elite paulista sempre o colocou como uma “persona” estranha para o núcleo dirigente. Observemos que havia, de um lado, a pressão familiar e, por outro lado, os possíveis embates na luta política interna do partido ao qual irá ingressar sempre visto com cautela e desconfianças.  Sugerimos que Evolução Política do Brasil (1933) é um livro que marca a estreia de Caio Prado Júnior na produção intelectual brasileira, mas também pode ser inserido como um momento de debate interno do ator político o qual estaria filiado por mais de um ano. O livro, que pretendemos analisar em artigos vindouros, guardaria um papel de contribuir no entendimento da realidade nacional pela interpretação da História.

Diante das interpretações de que o marxismo teria se nacionalizado no Brasil pela obra de Caio Prado Júnior, a dinâmica provável estaria numa aproximação da metodologia da pesquisa de Friedrich Engels com as nuances de Lênin. Mas, ele foi um autor que muito buscou se basear em fontes e indicar interessantes citações de um pensamento social brasileiro pretérito. Portanto, um marxismo enraizado em interpretações que qualificariam seu debate até de forma programática.  

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