A
Estreia de um Dissidente – 90 anos de Evolução Política do Brasil
Vagner Gomes de
Souza
As celebrações do
centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no processo dos 200 anos da
independência do Brasil no ano de 2022 ainda se faz necessária diante do
necessário debate sobre a nossa interpretação de fundação político como Estado
Nação. Distante daqueles que visam fazer da análise do passado como se fosse um
“tribunal de inquisição”, entendemos que há uma continuidade/descontinuidade no
processo político no quais modismos e oportunismos de ocasião que se arvoram
como “nova” (?) historiografia não se cuidam mais em analisar.
O legado do pensador e
historiador Caio Prado Júnior é um importante desafio para se perceber o
embrião de uma política de Frente Democrática “avance temps”. O jovem bacharel
paulista que já tinha uma militância desde a juventude no Partido Democrático
(dissidência que fará parte da Aliança Liberal de Getúlio Vargas) e já tinha
sido preso por gritar “Viva Getúlio!!!” diante do candidato oficial Júlio
Prestes. Entretanto, sua desfiliação ao PD se torna pública em 1931 quando
estava com 24 anos. Restaria ao jovem; só se dedicar a vida profissional na área
do Direito - o qual se formou em 1928 - ou ser mais um intelectual semelhante
aos seus familiares Eduardo Prado e Paulo Prado ou avançar na militância
política com uma produção reflexiva.
Os estudos indicam que
sua aproximação com o PCB se deu no ano de 1932 num momento em que essa
agremiação partidária se caracterizava pelo “obreirismo”, ou seja, o núcleo
dirigente valorizava de forma extremada as origens proletárias de seus quadros
e com uma atitude desqualificadora dos filiados de origem intelectual como “contaminada”
pelas posturas de pequeno-burguesia. Nessa época, dois intelectuais históricos
do Partido havia se afastado dos órgãos de direção (Otávio Brandão e Astrojildo
Pereira). Nadando contra essa corrente sectária e esquerdista, Caio Prado
Júnior se filiou ao que seria um partido extremamente distante da análise da
realidade da primeira fase da Era Vargas (1930 – 1934) apesar de ser um
herdeiro da família Prado e estar num primeiro casamento com uma herdeira da
família Penteado.
Há relatos que os
familiares se afastaram dele por causa de sua filiação partidária. Enquanto que sua origem familiar vinculada a elite paulista sempre o colocou como uma “persona” estranha para o núcleo
dirigente. Observemos que havia, de um lado, a pressão familiar e, por outro lado, os possíveis embates na
luta política interna do partido ao qual irá ingressar sempre visto com cautela e desconfianças. Sugerimos que Evolução Política do Brasil (1933) é um livro que marca a estreia
de Caio Prado Júnior na produção intelectual brasileira, mas também pode ser
inserido como um momento de debate interno do ator político o qual estaria filiado
por mais de um ano. O livro, que pretendemos analisar em artigos vindouros,
guardaria um papel de contribuir no entendimento da realidade nacional pela interpretação
da História.
Diante das
interpretações de que o marxismo teria se nacionalizado no Brasil pela obra de
Caio Prado Júnior, a dinâmica provável estaria numa aproximação da metodologia
da pesquisa de Friedrich Engels com as nuances de Lênin. Mas, ele foi um autor
que muito buscou se basear em fontes e indicar interessantes citações de um
pensamento social brasileiro pretérito. Portanto, um marxismo enraizado em
interpretações que qualificariam seu debate até de forma programática.
Nenhum comentário:
Postar um comentário