domingo, 19 de dezembro de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE


 

O DEBATE SOBRE O LIVRO Lindolfo Hill: um outro olhar para a esquerda

Por Micaela Luz

 

Um dos temas caros para a política brasileira no cenário que nos encontramos é aquilo que o pensador florentino Maquiavel escreveu na sua mais célebre obra, O Príncipe, quanto à necessidade de uma boa governança a partir da aliança entre a virtú e a fortuna. De maneira bastante superficial, destacamos que a virtú seria os posicionamentos, ações, cálculos do ator político e a fortuna, bem, a fortuna seria aquilo que não depende do ator, mas que com uma virtú bem afinada seria capaz de trazer a má sorte em um cenário benfazejo. Os homens e mulheres não criam a fortuna, mas podem ser capaz de dominá-la. Quando apontamos que esse tema nos é inerente é por conta da necessidade urgente de uma virtú potente que alie um programa político e econômico para o país – que vive uma derruição de suas instituições republicanas e democráticas – a partir de um programa voltado ao futuro. Ao que parece, parte da sociedade que se opõe ao atual estado das coisas prefere a face de Jano voltada para um passado, dias de um futuro esquecido pela juventude que não a viveu. No caso do nosso folclore, precisamos fugir da tentação de sermos um Curupira

Tendo isso em vista, se é do passado que se pode extrair algo para um ano de difícil eleição – que terá uma mudança no plano federal e estadual, tanto no executivo quanto no legislativo (ponto central que muitos esquecem), é bom tirar da cultura política brasileira algum ensinamento para o olhar quanto ao futuro. Dessa forma, resgatar as trajetórias ziguezagueantes do PCB enquanto partido político mais longevo da república e com presença ativa na cultura brasileira do século passado pode ser uma lâmpada para nossos pés caminharem.

O PCB, fundado em 1922, marcha rumo ao seu centenário. Juntamente a isso, a biografia de uma figura ilustre para o partido é lançada. Lindolfo Hill tem sua trajetória imortalizada por Alexandre Müller Hill no livro Lindolfo Hill: um outro olhar para a esquerda, livro esse que foi discutido no encontro online que contou com a participação do autor e de professores, jovens do bairro de Campo Grande na Zona Oeste do Rio de Janeiro, além de remotamente, várias pessoas de diferentes idades tantoto em Minas Gerais quanto no Rio de Janeiro. A proposta do encontro teve como norte discutir o livro e também o Brasil como anunciou o mediador Vagner Gomes.


Inicialmente foi apresentada pelo autor uma pequena síntese de quem foi Lindolfo Hill e como seu pensamento e sua ação dialogariam com o contexto atual do país. No livro, como comentado pelo professor Ricardo Marinho, foi trazida a questão das perseguições, das prisões e das torturas que o biografado sofreu pelo Estado brasileiro, o que justifica o medo, ou melhor, o receio, de muitos familiares de Hill a se esconderem e não participarem de relatos para  o livro. O professor ainda divaga sobre os desafios enfrentados pela democracia atual, de modo a que ela se aplique verdadeiramente no país, visto que, em um período da trajetória de Hill, a cassação dos políticos comunistas eleitos democraticamente na década de 1940 acabava por revogar os papéis políticos desses indivíduos.

O posicionamento de Lindolfo acerca da eleição de Juscelino Kubitschek em 1955, trazido em forma de pergunta, é ainda uma incógnita, de certa forma, pois Hill não teve apenas seus direitos políticos cassados, mas também muitos documentos que revelariam mais de seus posicionamentos e a ação política foram ou destruídos ou escondidos, o que dificulta muito uma funda investigação de seu papel e posições no partido e fora dele.

Em síntese, o encontro se fez de grande importância para a abertura de uma discussão, mas, principalmente, para a implantação de uma pesquisa mais aprofundada acerca da personagem central do debate. Ademais, como afirmado por Ricardo Marinho, ainda há muito a ser descoberto sobre Lindolfo Hill, sobre sua trajetória e posicionamentos, assim como de outros quadros pecebistas. Ainda há, infelizmente, muitas limitações de informações devido, sobretudo, à cassação supracitada, dificultando um total entendimento dessa tão importante figura para o PCB e para Juiz de Fora, mas essa tarefa cabe a nós, evoé, jovens à vista.

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