Por uma estratégia de Interiorização da Migração republicana
e democrática
Por Pacelli Henrique Silva Lopes
La tierra giró para acercarnos,
giró sobre sí misma y en nosotros,
hasta juntarnos por fin en este sueño,
como fue escrito en el Simposio.
Pasaron noches,
nieves y solsticios;
pasó el tiempo en minutos y milenios.
Una carreta que iba para Nínive
llegó a Nebraska.
Un gallo cantó lejos del mundo,
en la previda a menos mil de nuestros padres.
La tierra giró musicalmente
llevándonos a bordo;
no cesó de girar un solo instante,
como si tanto amor, tanto milagro
sólo fuera un adagio hace mucho ya escrito
entre las partituras del Simposio.
La tierra giró para acercarnos (1986)
Eugenio Montejo (1938-2008)
Neste último trimestre de 2021 a Escola
Estadual Fazenda Paraíso, juntamente, com a instituição de transformação social
Teia de Saberes tivemos conhecimento da construção do I Plano Estadual para
Migrantes, Refugiados, Apátridas e Retornados de Minas Gerais. Tal evento tem
sido promovido pelo Governo Mineiro através da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social (SEDESE). Nosso envolvimento surgiu por termos na comunidade
escolar famílias de migrantes venezuelanos que estão sendo alocados na região
através da Estratégia de Interiorização da Migração promovida pela Operação
Acolhida.
A Estratégia de Interiorização iniciada
em fevereiro de 2018 é uma parceria do Governo Federal, Forças Armadas e ACNUR
(Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). O seu objetivo é a
inserção da população venezuelana e aliviar o impacto dessa crise humanitária
no estado brasileiro de Roraima. Seus três principais eixos de ação são, a
saber: 1 – ordenamento de fronteira e documentação; 2 – fornecimento de
assistência humanitária, e; 3 – interiorização.
De acordo com o Subcomitê Federal para
Recepção, Identificação e Triagem dos Imigrantes através do seu Informe de Migração Venezuelana de outubro
de 2021 entre janeiro de 2017 e outubro de 2021 tivemos um número total de
entradas de 652.322 e uma movimentação de saída de 364.465, sendo que, 36%
foram para outros países e 20% retornaram para a Venezuela. Dados da UNICEF
Brasil apontam que em média 31.943 migrantes venezuelanos vivem em Boa Vista,
Roraima, sendo que, 9.583 crianças estão em situação de vulnerabilidade.
Os dados educacionais demonstram que os
venezuelanos tendem a ser mais velhos que seus pares brasileiros nas séries
iniciais, causando uma distorção idade-série que reflete na inclusão no mercado
de trabalho onde os venezuelanos têm colocações inferiores à sua formação
profissional e trabalham mais horas que os brasileiros na mesma situação.
Dentre outros problemas educacionais analisados, podemos destacar: a falta de
acesso à internet; falta de acesso ao material escolar, problemas como
transporte, faltam informações suficientes disponíveis, xenofobia e o principal
e mais comum problema encontrado, a barreira do idioma.
No artigo intitulado Integração de Venezuelanos Refugiados e
Migrantes no Brasil que é parte do programa “Building the Evidence on Protracted
Forced Displacement: A Multi-Stakeholder Partnership” que foi estabelecido pelo
Escritório de Negócios Estrangeiros, Comunidade e Desenvolvimento do Reino Unido
(FCDO), Banco Mundial e ACNUR, são apontadas as seguintes soluções para a crise
humanitária analisada:
Facilitar o
processo de verificação e validação de diplomas e habilidades que irá minimizar
o rebaixamento desnecessário educacional e ocupacional para o mercado de
trabalho formal.
Ampliar a oferta
de treinamento em idiomas para ajudar as crianças a se inscreverem na série de
acordo com sua idade e que também pode promover maior empregabilidade para os
adultos.
Garantir o apoio
contínuo do ACNUR e da sociedade civil no fortalecimento de esforços do governo
federal na realocação voluntária para áreas com mais oportunidade de geração de
emprego e renda.
Desenvolver
estratégias de intermediação de mão de obra focados com uso de conselheiros
especializados que conhecem empregadores para os quais o idioma é menos
importante ou procurem conjuntos de habilidades específicas.
Ampliar a
capacidade das escolas, por meio da introdução de turmas matutinas e
vespertinas, poderia ajudar a aliviar a superlotação em escolas e a reduzir o
tamanho das turmas.
Fortalecer os
programas de ativação do mercado de trabalho, que incluam a intermediação de
empregos e treinamentos de habilidades e do idioma para ajudar a superar as
dificuldades de colocação no mercado de trabalho.
Continuar a
assistência aos venezuelanos no acesso a informações sobre emissão de
documentos, acesso a serviços de educação, saúde e assistência social, e também
sobre seus direitos sociais e garantias de acesso.
Através de nossa conferência livre para
a construção do I Plano Estadual para Migrantes, Refugiados, Apátridas e
Retornados de Minas Gerais chegamos as seguintes indicações para a criação da
política pública:
Proposta 1:
Criar um cadastro estadual que possibilite a realização de uma triagem que seja
utilizado como processo legal de integração junto ao governo federal, forças
armadas e ACNUR sobre a entrada dos migrantes no estado via estratégia de
interiorização da migração. Permitindo melhor conhecer e alocar os públicos
migrantes em regiões que possibilite um melhor uso das suas habilidades
profissionais e facilidade de adaptação ao território.
Proposta 2:
Capacitar os migrantes sobre os processos básicos de acesso as políticas
públicas brasileiras.
Proposta 3:
Capacitar os profissionais das escolas que receberão os migrantes através de
formação continuada em trabalho.
Proposta 4:
Ofertar a contratação de um professor para língua portuguesa para aulas extras
aos migrantes alunos e seus familiares.
Proposta 5:
Ofertar a contratação de professor da língua pátria dos refugiados para
facilitar e mediar o processo de integração dos migrantes e facilitar a
comunicação.
Proposta 6:
Priorizar e ofertar cursos de capacitação profissional e técnico nas escolas
que recebem públicos migrantes dando acesso e capacitação a essas famílias.
Proposta 7:
Fomentar a criação nos municípios de uma rede de atenção básica e apoio a
migração, sendo essa multidisciplinar envolvendo representantes das políticas
públicas locais, poderes políticos e judiciários, sendo os envolvidos,
capacitado previamente sobre a temática.
Para além das propostas citadas acima, o
principal e mais preocupante problema de todo processo de interiorização da
migração é sua falta de integração republicana e democrática com o poder
público local. Ficou claro que a tentativa de inclusão é débil, seja via
mercado de trabalho como aludimos acima, seja produtiva e quiçá financeira, o
que em última análise levará a uma condição típica que sugere perigos presentes
ao filme 7 prisioneiros.
Tal problemática que envolve a complexa relação
entre Democracia e República que se evidenciou na ausência de comunicação e
preparo e disponibilização aos poderes públicos locais da cidade de Espera
Feliz dos instrumentos necessários para a boa consecução dessa política.
Claramente, faltam República e Democracia nas ações propagadas na Estratégia de
Interiorização, levando em algumas situações a sérios problemas que dificultam
o alcance da cidadania tão almejada para os refugiados, migrantes, apátridas e
retornados que procuram no Brasil a realização de um sonho e a concretização da
esperança de uma vida melhor.
Um comentário:
E um sonho, verdadeiramente, mas é possível que seja realidade.🙏🙏🙏
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