Os conflitos aqui e acolá
Marcio Junior[1]
Vimos as tristes colinas logo ao sul de Hebron
Rimos com as doces meninas sem sair do tom
O que fazer chegando aqui?
As camélias do Quilombo do Leblon brandir
Caetano Veloso e Gilberto Gil
As Camélias do Quilombo do Leblon
As responsabilidades do
Brasil frente ao prosseguimento do conflito Hamas-Israel e vice-versa, espaço
de história complexa e cuja boa compreensão passa pelo retorno também há tempos
longínquos, possuem grande importância haja vista a nossa tarefa ao presidir o
Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Essa mediação, mesmo
com a sua temporariedade, não deixa de ser oportuna para o avanço da
civilização em direção à paz, principalmente se nossa resposta for, como está
sendo até o momento da escrita destas linhas, alinhada aos valores da nossa
República e da nossa Democracia, corroboradas por, como bem diria o nosso Gênio
da Raça Gilberto Freyre, um novo tipo social ainda em formação, cuja
plasticidade resultante de sua miscigenação fornece a este povo um possível
caminho do meio, dotado de maior equilíbrio e moderação, que apareceu com maior
visibilidade também em experiências recentes e fundamentais, como na confecção
da Constituição cuja promulgação completou 35 anos no dia 5 deste mês de
outubro. Experiência singular nesta Rússia Americana, de Guerra e Paz.
A aproximação antropológica que permeou a
nossa formação em seu início, marcada inclusive pelo sexo, constituiu o ponto primordial
da nossa abertura à modernidade. Não se tratou de cancelar os nossos
antagonismos, mas de equilibrá-los; criamos aqui condições de amortecer, em
muito e/ou em pouco, o choque entre eles. Assim, não é estranho
para o mundo, como não é para nós, a formação de uma sociedade pautada por elementos
antagônicos, cujo equilíbrio que aqui compõe nosso processo formador foi
investigado pelo nosso pensamento social. Outras sociedades não tiveram a mesma
sorte, e em outros espaços não há, dentre os aglomerados humanos que ali vivem
e a sociabilidade que estanque o permanente conflito. Talvez haja, pelo
contrário, incentivos internos e externos para seguir em sentido contrário e quiçá
piorá-lo.
Porém, como um dia salientou Caio Prado
Junior, esse sentido da nossa experiência nessas terras somente iria
desabrochar com o tempo, e o conflito permanece, mesmo o Brasil sendo um lugar
onde sabemos evitar certos conflitos que outros países de experiências análogas
não conseguiram evitar. Dentre as várias pistas, próprias de um país ainda em
início de formação (só temos 200 anos), a violência não nos é estranha; seja em
ambientes urbanos, como é visto a olhos nus principalmente no Rio de Janeiro e
na Bahia, seja em ambiente agrário. Os nossos antagonismos permanecem assumindo
formas outras, sempre complexas, no crime, na religião, nas classes. Ainda
estão em curso, lentamente como recordou Caetano ao musicar Nabuco, as
correções das marcas que a escravidão deixou entre nós.
Com a chamada à guerra por todos os
cantos, inclusive aqui pelo crime organizado e grupos extremados na política, o
pessimismo da razão nos mostra um futuro dificílimo, que vai se podando as saídas
civilizatórias. Por mais que tenhamos lufadas de ar fresco, problemas
específicos como o abandono da educação por nós mesmos (e por muitos que
deveriam zelar por ela) apontam que estamos descendo o rio em direção ao Coração
das Trevas, como mostrou Joseph Conrad.
Nesses tempos sombrios
e fraturados, onde a dimensão conflitiva atinge a tudo e a todos esgarçando o
tecido social e separando as pessoas, é imensa a nossa responsabilidade, quanto
a nós e quanto ao resto do planeta, para trilharmos um caminho de flores e
votos para um cessar das balas. Aí está, quem sabe, um bom motivo para
equilibrarmos, também, nosso pessimismo com o otimismo da razão.
4 comentários:
Assim como os Estados Unidos, Israel não busca a Paz. Precisam de guerras pra se auto se justificarem.
A solução dos dois Estados, Israel e Palestina, já não é mais viável em face da ocupação dos territórios palestinos por milhões de judeus radicais. A superação do apartheid social atual exige um drible Sul-Africano nessa inglória realidade.
Amei a reportagem!!Obrigado pelas informações.
Amei muito essa Reportagem!
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