quarta-feira, 2 de novembro de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 36 - DESAFIOS DA TRANSIÇÃO.


Carga Pesada

Por Vagner Gomes de Souza



Carga Pesada é uma série televisiva da TV Globo que foi exibida originalmente nos anos da ditadura militar (1979 – 1981) teve um revival de sucesso no primeiro mandato do presidente Lula (2003 – 2007). Nas duas fases os protagonistas Pedro e Bino foram interpretados pelos atores Antonio Fagundes e Stênio Garcia. A criação da série original se deve aos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri e Ferreira Gullar e o tema de abertura “Frete” é de Renato Teixeira. No primeiro momento, há dois caminhoneiros que viviam uma amizade diante de um processo de modernização conservadora do país.

Na segunda fase, Bino virou um empresário de transporte de cargas (provavelmente um sucesso da democratização do Brasil) e vai ao reencontro a amizade com Pedro diante de uma possibilidade de estar diagnosticado com câncer. A variedade de temas abordados no revival sugere uma ampla exposição da pauta do social que formalização do republicano e democrático. A criatura cresceu nos anos em que os criadores da série não mais tiveram participação nos debates do roteiro.


Não nos surpreendamos com o que ocorreu uma década depois nas estradas do Brasil. O espírito do empreendedorismo de Pedro e os valores familiares de Bino moldaram um segmento com traços políticos do populismo reacionário. Entretanto, como todo populismo, a grande política pode lhe conduzir pelos canais da democracia. Diante disso, o sucesso do bordão “É uma cilada, Bino!” ganhou o significado de quando algo não é confiável. E devemos demonstrar que há temas mais pesados a serem abordados nesse momento em que se abre a transição do atual governo para o próximo.

Entretanto, devemos relembrar que a próxima gestão será da mais ampla aliança de forças políticas do campo democrático que trouxe a presença até de grupos políticos conservadores e de direita que reconheceram os perigos para a nacionalidade brasileira no reacionarismo que o atual mandatário expressa até nos momentos de derrota. Muitos setores políticos do conservadorismo brasileiro já se aproximam dessa realidade de unidade nacional que exige dos movimentos políticos progressistas uma melhor articulação na apresentação de seu debate programático na sociedade. Não há protagonismo de nenhum segmento nessa ampla Frente e é com ela precisamos seguir nas estradas desse país.

Há um perigo de que não se entenda o recado eleitoral da vitória “apertada”. Qualquer ação que não seja consenso no campo vitorioso ou que demonstre divisão será uma derrota política a mais. Diante disso, a coordenação da transição em mãos do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin deve ser saudada e deve ser acompanhada para que tenhamos um primeiro ano de mandato que contribua nessa travessia na solução dos problemas sociais na educação (a tragédia que alimenta a fábrica das Fake News), do emprego para a juventude ausente das manifestações políticas democráticas, da saúde entre outras cargas pesadas deixadas pelo atual Governo.

Não vamos alimentar a pauta divisionista e reacionária do campo derrotado uma vez que há muito trabalho a ser feito por setores políticos diversificados da Frente Democrática. O tema orçamentário é urgente diante do desafio da continuidade do Auxílio Brasil e da garantia da promessa de valor extra de 150 reais para cada filho. O senador Marcelo Castro (MDB) assume um protagonismo também para que os progressistas procurem encaminhar suas emendas ao Orçamento que traga benefícios, por exemplo, para a Zona Oeste e Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro como resposta ao clientelismo a serviço dos reacionários. Esse é o momento de reforçar a unidade em torno da Constituição de 1988 que não foi redigida pela via da emoção mais pela via da contemporização. Sem medo de que estamos na boleia certa da história não vamos gastar nossas energias em reagir ações destemperadas. Agora é momento de chamar os mais qualificados para o próximo Governo e abrir para todas e todas as dificuldades a serem superadas. O bloqueio do crescimento econômico é o verdadeiro perigo fascista. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Acertadas palavras, a vitória apertada não resultou do fascismo, mas do fisiologismo levado às últimas consequências. O fascismo escancarado deles nos ajudou a resistir. Talvez eles não cometam o mesmo erro na próxima, devemos impedir que haja uma próxima. A única forma de impedir o fisiologismo como ferramenta política é gerando crescimento real.