Carga
Pesada
Por Vagner Gomes
de Souza
Carga Pesada é uma
série televisiva da TV Globo que foi exibida originalmente nos anos da ditadura
militar (1979 – 1981) teve um revival de sucesso no primeiro mandato do
presidente Lula (2003 – 2007). Nas duas fases os protagonistas Pedro e Bino
foram interpretados pelos atores Antonio Fagundes e Stênio Garcia. A criação da
série original se deve aos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri e Ferreira
Gullar e o tema de abertura “Frete” é de Renato Teixeira. No primeiro momento,
há dois caminhoneiros que viviam uma amizade diante de um processo de
modernização conservadora do país.
Na segunda fase, Bino
virou um empresário de transporte de cargas (provavelmente um sucesso da
democratização do Brasil) e vai ao reencontro a amizade com Pedro diante de uma
possibilidade de estar diagnosticado com câncer. A variedade de temas abordados
no revival sugere uma ampla exposição da pauta do social que formalização do
republicano e democrático. A criatura cresceu nos anos em que os criadores da
série não mais tiveram participação nos debates do roteiro.
Não nos surpreendamos
com o que ocorreu uma década depois nas estradas do Brasil. O espírito do
empreendedorismo de Pedro e os valores familiares de Bino moldaram um segmento
com traços políticos do populismo reacionário. Entretanto, como todo populismo,
a grande política pode lhe conduzir pelos canais da democracia. Diante disso, o
sucesso do bordão “É uma cilada, Bino!” ganhou o significado de quando algo não
é confiável. E devemos demonstrar que há temas mais pesados a serem abordados
nesse momento em que se abre a transição do atual governo para o próximo.
Entretanto, devemos
relembrar que a próxima gestão será da mais ampla aliança de forças políticas
do campo democrático que trouxe a presença até de grupos políticos
conservadores e de direita que reconheceram os perigos para a nacionalidade
brasileira no reacionarismo que o atual mandatário expressa até nos momentos de
derrota. Muitos setores políticos do conservadorismo brasileiro já se aproximam
dessa realidade de unidade nacional que exige dos movimentos políticos
progressistas uma melhor articulação na apresentação de seu debate programático
na sociedade. Não há protagonismo de nenhum segmento nessa ampla Frente e é com
ela precisamos seguir nas estradas desse país.
Há um perigo de que não
se entenda o recado eleitoral da vitória “apertada”. Qualquer ação que não seja
consenso no campo vitorioso ou que demonstre divisão será uma derrota política
a mais. Diante disso, a coordenação da transição em mãos do vice-presidente
eleito Geraldo Alckmin deve ser saudada e deve ser acompanhada para que
tenhamos um primeiro ano de mandato que contribua nessa travessia na solução
dos problemas sociais na educação (a tragédia que alimenta a fábrica das Fake
News), do emprego para a juventude ausente das manifestações políticas
democráticas, da saúde entre outras cargas pesadas deixadas pelo atual Governo.
Não vamos alimentar a
pauta divisionista e reacionária do campo derrotado uma vez que há muito
trabalho a ser feito por setores políticos diversificados da Frente
Democrática. O tema orçamentário é urgente diante do desafio da continuidade do
Auxílio Brasil e da garantia da promessa de valor extra de 150 reais para cada
filho. O senador Marcelo Castro (MDB) assume um protagonismo também para que os
progressistas procurem encaminhar suas emendas ao Orçamento que traga
benefícios, por exemplo, para a Zona Oeste e Baixada Fluminense no estado do
Rio de Janeiro como resposta ao clientelismo a serviço dos reacionários. Esse é
o momento de reforçar a unidade em torno da Constituição de 1988 que não foi
redigida pela via da emoção mais pela via da contemporização. Sem medo de que
estamos na boleia certa da história não vamos gastar nossas energias em reagir
ações destemperadas. Agora é momento de chamar os mais qualificados para o
próximo Governo e abrir para todas e todas as dificuldades a serem superadas. O
bloqueio do crescimento econômico é o verdadeiro perigo fascista.
Um comentário:
Acertadas palavras, a vitória apertada não resultou do fascismo, mas do fisiologismo levado às últimas consequências. O fascismo escancarado deles nos ajudou a resistir. Talvez eles não cometam o mesmo erro na próxima, devemos impedir que haja uma próxima. A única forma de impedir o fisiologismo como ferramenta política é gerando crescimento real.
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