O Historiador Caio Prado Júnior - Nossa homenagem
Historiadores por Mais Democracia
Por Pablo Spinelli
Vagner Gomes de Souza
Acompanhamos surpresos a recente polêmica em relação ao posicionamento político de um grupo de intelectuais chamados "Historiadores pela Democracia". Defendem a legalidade da continuidade do mandato da Presidente da República e ganharam notoriedade pela própria mídia ao qual eles acusam de "golpista". Não devemos aqui tecer comentários se estariam antecipando uma sentença da História uma vez que esse é um debate Político ao contrário de acadêmico. A imprensa hegemônica ganha na possibilidade de permitir a continuidade de uma falsa polarização entre aqueles grupos que estiveram por mais de uma década governando sustentados pela ressurreição do "Centrão".
Desde 1994, PSDB e PT estiveram no comando de Governos sem conquistar a hegemonia no Parlamento. Nas margens de seus programas políticos, cederam espaço para grupos políticos de um mosaico partidário conservador, porém que deu a estabilidade política e econômica para um tripé monetarista. Se a referência ao século XIX é permitida, nada como estabelecer uma comparação histórica com a alternância histórica entre Luizas e Saquaremas no Império Brasileiro. Contudo, não compactuamos com a observação de alguns politicólogos que enunciam PT e PSDB como Luzias e Saquaremas respectivamente. Ambos seriam segmentos do campo "Luzia" brasileiro sob a roupagem de uma tênue socialdemocracia. A medida que, a sustentabilidade, ora garantida pelo antigo PFL (no caso do PSDB) e ora pelo PMDB (no caso do PT), sempre estaria em mãos do campo "Saquarema" brasileiro. Desde 1994, melhor seria comparar com os tempos do "Gabinete da Conciliação" do Marquês do Paraná. Há um silêncio dos "Historiadores pela Democracia" em relação aos novos Tempo de Saquarema na defesa da Presidente da República.
Se, por um lado, no governo tucano houve como priorização a estabilidade da moeda e a acessibilidade mais flexível à entrada dos capitais de origem financeira, por outro, sem discordar da linha adotada, o governo petista sem se dissociar dos grandes bancos e empresas acabou por priorizar o social. A agenda petista foi mudando de acordo com as desventuras do seu timoneiro. O discurso antiamericanista, por exemplo, que julgava o Brasil como subserviente ao "Grande Irmão" do Norte, acabou por ser substituído pela ênfase de Obama ao fato do nosso presidente "ser o cara", noves fora, após a boa convivência com George W. Bush. O discurso antiamericanista hegemônico nas universidades não só não deixou de fazer a sua autocrítica como reforçou práticas do americanismo em curso no Brasil, basta olhar a agenda das cotas e das políticas de afirmação dos mais diversos matizes.
As Universidades deveriam repensar de que forma está seu diálogo com a sociedade. Muitos dos jovens que ali estudam têm uma sobrecarga de trabalho com estudos onde a sua intervenção na sociedade resume-se a um diploma para supostamente se qualificar melhor no competitivo mercado, uma forma de sair da "ralé brasileira" das gerações que os antecederam. Por outro lado, uma boa parcela da juventude ainda está presa aos cânones ideológicos dos anos de 1960, onde 68 realmente é o ano que não termina, para inglória posição dos intelectuais que deveriam superar discursos anacrônicos com uma "estatolatria" que paradoxalmente se coaduna com a defesa dos direitos societais. Temos uma Universidade bifronte, a reação dos historiadores pela democracia não é pela democratização. Quando a maioria dos cursos determina o atrelamento do bacharelado à licenciatura ou o contrário, determina um tempo maior dos jovens aos pilotis e gera um atraso da entrada de profissionais no mercado de trabalho e de cientistas nas universidades, logo, cria um déficit de professores nas escolas ou de pesquisadores nas universidades. Mais Democracia também é necessário defendermos nas Universidades Públicas brasileiras nesses tempos sombrios.
Uma luta pela democracia com um discurso único não é democracia. O clima de Fla x Flu não é bom para o debate acadêmico e cada vez mais os historiadores têm que fazer uma reflexão sobre o papel do historiador: ser um intelectual de gabinete da torre de marfim escrevendo artigos que serão lidos pelos seus pares na scielo ou patrocinados pela Biblioteca Nacional ou irão entender e dialogar com o que houve em 2013? Um balanço político da agonia de nossa sociedade que existe desde as jornadas de Junho de 2013 se faz necessária. Abriu-se uma crise do velho modelo da política centralizadora em que os herdeiros do Visconde de Uruguai seja à direita ou seja à esquerda não compreendem que esse Estado não é Democrático, mas centralizador. Compreendemos que há um outro caminho possível na radicalização da Democracia nos ganhos nascidos na Carta Constitucional de 1988 que foi fruto de um acordo político das forças políticas brasileiras. Uma centro-esquerda renovada se faz necessária nessa crise política para além de alinhamentos doutrinários.