quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ELEIÇÕES ESTADO DO RJ - SEGUNDO TURNO

 
Adesão da Juventude é uma característica da campanha de Marcelo Crivella
 
A Juventude e a Terra Prometida na Sucessão Fluminense
Por Vagner Gomes de Souza
Uma sequência de anos sob o comando de um grupo político que hegemonizou a política do Estado do Rio de Janeiro desde os anos de 1994 tanto no Executivo quanto no legislativo impediu que a “centro-esquerda” tivesse uma melhor clareza no cenário político local. As constantes intervenções do cenário nacional nas eleições locais deixaram o PT “às moscas” na renovação de quadros políticos da esquerda democrática. Nesse pragmatismo eleitoral, todas as legendas tradicionalmente vinculadas a esquerda (PT, PSB, PV, PPS, PCdoB) rumaram mais ao “centro político” se esvaziando em propostas políticas. Nas periferias da Capital e na Baixada Fluminense, não verificamos a organicidade dos eleitores do PSOL e da ultraesquerda (PSTU – PCB – PCO) o que deixou margem para que a utopia da terra fosse substituída pelo anseio da eternidade.
As forças da juventude nessas periferias se articularam ou às margens da lei ou nas associações religiosas neopetencostais. Esse segundo segmento serviu de “contrapeso” conservador nos costumes para dar certa ordem ao processo de americanização da sociedade. Trata-se de uma vertente que visa educar com os valores da ética religiosa os costumes e a participação na política. Por isso, estariam alheios ao velho modelo de máquina política que se reproduz na política fluminense desde os tempos do “chaguismo”. A sucessão fluminense é esse momento de observação de como os jovens às margens da esquerda democrática se integraram ao processo político eleitoral na adesão a candidatura de oposição do PRB. A votação de Marcelo Crivela tende a ultrapassar os marcos das pesquisas eleitorais que usam base de dados para eleitores evangélicos abaixo do que existe de fato.
Incorporando temas das manifestações de junho de 2013, eles reinventam a oposição no Rio de Janeiro e estão dispostos a fazer um “compromisso histórico” com todas as forças políticas em torno de um programa. Nas próximas horas testemunharemos esses jovens/militantes/voluntários enfrentando a “máquina eleitoral” de uma grande coligação partidária e de forças do “arcaísmo político”. Para esses jovens, Cabral, Picciani, Brazão, Paulo Melo, Eduardo Cunha e outros não representam os anseios dessa nova sociedade que está em fase embrionária no Rio de Janeiro. O sectarismo do PSOL, aos poucos, se deixa ruir com a eleição de um Cabo-bomebeiro evangélico que poderá ser uma ponte nesse processo de “moderação” política. Contudo, ainda falta muito para a travessia no deserto até chegarmos a Terra Prometida.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

DEBATE DILMA (PT) X AÉCIO (PSDB)

O Segundo Turno Presidencial: a política do desgosto com o Brasil
Por Vagner Gomes de Souza
 


 
O primeiro debate dos presidenciáveis veiculado na Rede Bandeirantes no dia 14 de outubro reforçou a “pequena política” do moralismo ao abordar o uso da coisa pública em nosso país. A polarização da política brasileira com o PT e o PSDB está se restringindo a uma sequência de acusações de corrupção e de “aparelhamento do Estado” seja na esfera política nacional ou nas gestões administradas pelos “tucanos”. As duas forças políticas que estão na hegemonia nacional desde 1994 não estão formulando uma campanha esclarecedora e propositiva. Falta uma esquerda democrática que intervenha nesse processo para os próximos dias sob o perigo de continuarmos com um déficit democrático.
Vivemos no “atraso da política” que permite um distanciamento da sociedade civil da participação. Uma vez que os partidos políticos hegemônicos estão se rotinizando na/para competição eleitoral, percebemos que o sistema político sofre entraves para encaminhar uma reforma mesma que seja gradual. A relação entre a democracia e a construção do Estado-Nacional se faz presente nessa análise sobre o processo em que vivemos. Em outras palavras, é a Democracia ESTÚPIDOS! Ela que está em jogo para as próximas décadas diante da presença de duas vertentes políticas herdeiras dos Luzias e Saquaremas do Século XIX.
Numa entrevista para o BLOG desenvolvimentistas (postado em 21/07/2012), Christian Lynch faz essa sugestão ao comparar o PT/Lulista aos “neosaquaremas” e os “tucanos” aos “neoluzias”. Segundo ele, “(...) para os ‘neoluzias’, o povo é a classe média, enquanto para os ‘neosaquaremas’ o povo é o trabalhador”. O debate sobre o papel do Estado é relevante para esse cenário quanto aos mecanismos de intervenção da sociedade na política, o que seria uma forma de se questionar sobre a importância de reformas pontuais na legislação partidária e eleitoral. O PT/Lulista teve muita força do moralismo em sua trajetória política o que sofreu um aggiornamento quando esse assume seus anos de Governo. A política econômica deu continuidade aos marcos macroeconômicos do PSDB com condições políticas de avançar mais no social. Enquanto isso, lideranças políticas dos movimentos sociais foram cooptadas para o interior do Estado. Assim, a recente burocratização de lideranças políticas dos segmentos sociais impediu a renovação dos quadros da esquerda e seus valores democráticos.
Os novos sujeitos sociais emergem na periferia de nossa recente ascensão capitalista sem que haja pontes com os canais de diálogo com as instituições democráticas cada vez mais arcaicas e envelhecidas. Nos dizeres de Lynch, “(...) marxistas puros são luzias de esquerda, acham que o Estado é capturado por uma classe social, que não tem vida própria”. As manifestações de junho de 2013 não reforçaram a esquerda democrática uma vez que foram mobilizações de “desgosto” com a política e a democracia em geral. Há muitos temas importantes a serem levantados nos debates políticos desses últimos dias de campanha eleitoral. Em primeiro lugar, reconhecer o esforço da atual mandatária presidencial em garantir um diálogo com segmentos da sociedade mesmo que sem suas consequências na correlação de forças políticas de seu Governo e de seu Partido. Por outro lado, a unidade das oposições tem seu papel pedagógico para que se compreendam a importância da diversidade programática.
Não se trata da ausência de uma “terceira via” que permitiu chegarmos a esse ponto. Foi a falta de mobilização do campo democrático nesses descaminhos da política contemporânea. A esquerda democrática não se deve limitar a votar seja em “neoluzias” ou “neosaquaremas”, mas é momento de reagrupar as forças democráticas liberais e socialdemocratas. Fazer a confrontação de ideias emergirem nos próximos dias e relembrar que ainda estamos construindo a democracia no Brasil.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

CAMPO GRANDE (RJ): ELEIÇÕES 2014

 
 
Luiz Carlos Ramos - popularmente conhecido como "O homem do chapéu"
 
O Bairro de Campo Grande (RJ) volta a eleger um Deputado Federal
Por Vagner Gomes de Souza
 Desde 1978 não é eleito nenhum político com base eleitoral no bairro carioca de Campo Grande (bairro mais densamente povoado do Rio de Janeiro). Nas eleições de 2014, foi Luiz Carlos Ramos que surpreendeu ao conseguir uma vaga para o legislativo federal pelo PSDC. O sucesso eleitoral de sua candidatura vai além da valorização do voto local/distritalizado como sugerem as primeiras observações que faremos a seguir.
Luiz Carlos Ramos teve 33221 votos em todo o estado do Rio de Janeiro e foi beneficiado pela articulação de uma coligação partidária que tinha PSDC – PMN – PTC que somou 178422 votos, ou seja, não foi um típico “puxador” de votos da coligação, porém concentrou 18,6% dos votos da coligação por uma ampla “rede” de dobradinhas com candidaturas a Deputado Estadual uma vez que preside o seu Partido no Estado.  Vereador no Rio de Janeiro (reeleito em 2012), ele teve 25545 votos distribuídos na Capital (77% do total de sua votação). Nas Zonas Eleitorais correspondentes ao bairro de Campo Grande e arredor (ZE 120, 122, 242, 244, 245) ele recebeu 8534 votos (25,7% do total de sua votação).
Na capital, o deputado eleito teve que conseguir 17011 votos para além de sua base eleitoral (66,5% da votação na capital). Sair dos limites da sua base eleitoral tradicional foi fundamental para que houvesse esse sucesso político. A atuação como “cacique” partidário lhe permitiu essa facilidade nas trocas políticas com candidaturas ao legislativo estadual. Além disso, a campanha levantou uma bandeira política que foi “Taxa ZERO para os Estacionamentos em Shopping” o que lhe distinguiu do repetido slogan “Quem mora em Campo Grande vota em político de Campo Grande”. Isso sugere a viabilidade de uma campanha que se capitalizou por outras Zonas Eleitorais da Capital.
Entretanto, a consolidação de uma base eleitoral foi importante para servir de plataforma de consolidação dessa votação. Nesse caso, a presença do filho (Luiz Carlos Ramos Filho) do Deputado Federal eleito como Administrador Regional de Campo Grande há 6 anos sugere a fomentação de recursos da máquina pública na estruturação da campanha. As trocas de favores no serviço público é uma característica da região que permitiu uma base de lançamento. Assim, em tempos de anseios pela “nova política” ou de comentários favoráveis a “reforma política”, o sucesso eleitoral do futuro parlamentar federal da Zona Oeste carioca segue as “velhas” receitas da política brasileira.
 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Renovação no Legislativo


 
Caros leitores,
Em toda campanha eleitoral somos questionados sobre nossa posição política nas eleições majoritárias (Presidente – Governador – Prefeito). Não foi diferente esse ano em que tivemos muitas “reviravoltas”. Contudo, sempre me reservo em aguardar as horas finais para manifestar e pedir sua reflexão sobre a importância da eleição para o Legislativo. Ainda mais nesse momento em que antecipam menos de 48 horas para as eleições e ainda 75% dos eleitores não escolheram em quem votar em Deputado Federal e Deputado Estadual. Esse índice se justifica pela pulverização de inúmeras candidaturas numa “sopa de letrinhas” que dificulta nossa reflexão e definição. Contudo, não podemos deixar de lado o voto em parlamentares comprometidos com temas importantes para a sociedade uma vez que o outro lado – as candidaturas que recebem material de campanha com FACILIDADES que serão cobradas mais tarde – está ganhando força diante de nosso silêncio. Nosso SILÊNCIO pode se transformar NUM BERRO silencioso e molecular.

Indicamos que avaliem os nomes abaixo para que se somem a essa corrente que pode ser marcante nas redes sociais e nos bate-papos que antecedem as próximas horas.
APOIAMOS PARA DEPUTADO ESTADUAL  -  FILHA VOLTA PARA CASA. Número 40138 Como assim? LEIA então....
“(...) A candidatura de Luciana Torres é uma oportunidade para que você eleitor comum vote numa proposta política democrática e humana. Seu nome foi colocado para a sociedade com a intenção de abordar o tema das crianças desaparecidas. Trata-se de um problema social em que os Governos ficam em silêncio. Trata-se de um silêncio que evita abordar muitos questionamentos tanto quanto a seguridade da população mais pobre quanto ao acolhimento da infância/adolescência no nosso estado. Além disso, o tema feminino ganha outro sentido uma vez que há uma face humana para respaldar a luta política da mulher.
Luciana Torres colocou seu nome a disposição do seu julgamento meu prezado eleitor, pois conhece o tema das crianças desaparecidas no nosso Rio de Janeiro. Sua biografia confunde-se com esse momento de dor. Da dor nasceu o desejo de levantar essa bandeira como forma de levar demandas da cidadania para a Assembleia Legislativa. O seu nome na urna é FILHA VOLTA PARA CASA para marcar esse compromisso político com quem acredita nessa mudança. Agora, precisamos de sua adesão com seu voto e indicação do número 40 138 para Deputada Estadual – PSB.” (Extraído do panfleto de campanha).

 
Glauber Braga prestando contas de seu mandato.
 
Para DEPUTADO FEDERAL, APOIAMOS GLAUBER BRAGA. Número 4080. Pôr que?
1.            Glauber representa a nova forma de fazer política. Ele acredita que a política deve ser feita junto com as pessoas.
2.    Glauber presta contas do mandato através das audiências públicas. Ele sobe em um banquinho, fala o que tem feito, tira dúvidas e ouve sugestões. Glauber escuta você!
3.    Glauber criou as Emendas Participativas, que você apresenta ideias, vota e escolhe onde quer as verbas de emendas parlamentares aplicadas.
4.    Glauber é um Deputado presente durante todo o mandato e não só na época das eleições. Ele tem ações em cada Região do Estado.
5.    Como Presidente da Comissão de Educação da Câmara, conseguiu a aprovação do Plano Nacional de Educação, que determina a erradicação do analfabetismo no Brasil e outras 19 metas.
6.    Glauber é o autor da primeira Lei Nacional de Prevenção e Resposta à Desastres Climáticos: o Estatuto de Proteção e Defesa Civil.
7.    Glauber conseguiu, junto ao Governo Federal, recursos para diversas obras de recuperação e prevenção de tragédias climáticas.
8.    Glauber vota sempre em defesa do direito dos trabalhadores. Ele foi o parlamentar mais atuante em defesa dos Portuários, entre outras lutas.
9.    Glauber se preocupa com os aposentados. Por isso, ele apoia a PEC 170/12, a PEC 555/06 e o fim do fator previdenciário, em defesa dos aposentados.
10.  Glauber é autor do projeto “Lei do Banquinho”, que, se aprovado, vai obrigar todos os Parlamentares do Legislativo a prestarem contas mensalmente dos mandatos em locais públicos, como o Glauber faz.” (Fonte: www.glauber4080.com.br )
Bom VOTO POSITIVO!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Zona Oeste Carioca: Depois de Junho

  Agência Bancária Pichada no Natal de Campo Grande (RJ)
A Pichação Natalina da Zona Oeste carioca
Por Vagner Gomes de Souza
Há um novo ativismo político que se manifesta no mundo globalizado com fortes exemplos no levante popular das ruas de junho. Esse novo ativismo é fragmentado e individualizado. Suas bandeiras políticas ainda não se “afunilaram” uma vez que não se formou numa coletividade de ideias políticas. Na horizontalidade tudo se expõe para mostrar uma profunda indignação contra um discurso colorido de felicidades. Ainda mais em tempos de Natal, que representa um momento de estímulo ao consumo, diante de tantas injustiças. A orientação crítica aos desvios do capitalismo financeiro em pleno Natal não vem apenas da esquerda uma vez que o Papa Francisco lembrou a importância dos fiéis a Igreja a condenar o egoísmo.
A crise do capitalismo mundial em 2008 expôs um “mosaico” de indignados pelo mundo enquanto os grandes bancos eram refinanciados pelo Estado. O Ocupe Wall Street começou em setembro de 2011 para lembrar que aqueles que estavam à margem dos grandes bancos representavam 99% da sociedade. Uma onda que se espalhou pelas redes sociais nos últimos meses de 2011 antes que começasse um refluxo, mas sugerimos que os Democratas reocuparam a Prefeitura de New York City esse ano graças a esse processo de indignação.
 
No Brasil, a sequência de quedas de juros dos bancos foi interrompida pelos dilemas de uma ameaça inflacionária. As incertezas da economia no início de 2013 podem ter fomentado o “despertar das redes” ao tema de questionar tudo que aí está. A “Guerra do Tomate” (as diversas brincadeiras na Rede Social expondo o preço absurdo que o KG do Tomate tinha chegado) foi um elemento psicológico para dizer: “Não está mil maravilhas como propagandeia o Governo.” E o mesmo poderia dizer para a situação da Zona Oeste carioca diante dos eventos esportivos mundiais que se aproximam – Copa do Mundo e Olimpíadas. A AP. 5 (Deodoro – Santa Cruz) seria a fornecedora de mão de obra barata para a AP. 4 (Jacarepaguá – Recreio – Barra da Tijuca) onde se concentrará a maior parte das modalidades olímpica. A Zona Oeste carioca emerge na economia como um ser com duas cabeças onde o capital imobiliário devora tudo e a todos em qualquer espaço.
Consequentemente, o amanhecer do dia 25 de dezembro de 2013 ganha simbolismo para essa e outras reflexões quando uma pichação no Banco Itaú desejava: FELIZ NATAL!  Em seguida provocava: LIMPEM COM OS JUROS. Essa pichação no Bairro de Campo Grande não tinha assinatura de nenhum grupo político, o que demonstra a hipermodernidade do novo ativismo político, ou seja, a ação de denúncia não é feita para promover nenhum agrupamento político mesmo que possa haver. Não é a primeira ação contrária as agências bancárias no bairro, uma vez que nas jornadas de junho algumas agências do Banco SANTANDER foram depredadas. Recentemente, uma agência do Banco HSBC foi pichada com a sigla A.C.A.B. mas sem nenhum dizer uma vez que ela representa as iniciais da frase “Todos os Políciais são Bastardos” em inglês (“All Cops Are Bastards”). Uma sigla com outros significados como poderemos verificar pelas Redes Sociais, porém não implica numa organicidade anarquista apesar de alguns lugares do bairro a sigla estar acompanhada do símbolo do anarquismo.
 
Neste sentido, há novos ventos de um neoativismo político na Zona Oeste carioca estimulada pelas redes sociais. Não vislumbramos uma organicidade e sustentabilidade em padrões verticais ou na manutenção de uma bandeira política que construa consensos a partir da pressão da sociedade. A tendência a manifestação individualizada tenderia ao isolamento diante da persistência de um “mundo da política” arcaica. Por exemplo, nas vésperas do Natal uma Deputada Estadual, com base política na região e vestida de Mamãe Noel, circulava pela periferia de Campo Grande distribuindo brinquedos para crianças e promessas para os adultos reeditando o falecido Deputado Estadual Albano Reis que tinha como apelido “Papai Noel de Quintino”. A vida política está muito velha ainda mais na Zona Oeste carioca. E a hipermodernidade na periferia não está agrupando esses sentimentos críticos que desejam uma nova política. Nesse ponto, percebemos uma transição que se manifestará nas eleições do próximo ano na região diante da tendência ao aumento da abstenção eleitoral/votos brancos e nulos o “voto” vai se transformar num produto/mercado de grande valor, ou seja, campanhas eleitorais mais despolitizadas e caras na região. A saída seria reagrupar uma alternativa com todos os democratas da região debatendo ideias. Contudo, todos anseiam participar desde que não sejam eles a participar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

DEBATENDO - As Ruas e a Democracia

  Marco Aurélio Nogueira, interprete da realidade brasileira contemporânea
Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

Boa noite a todos. Coube a mim, a pedido do nosso anfitrião o professor Gaudêncio Frigotto, a tarefa de apresentar a vocês o professor Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Não é trivial falar dele para mim. Eu conheci o Marco nas páginas de um jornal que se chamava Voz da Unidade. Era um jornal comunista, ligado ao Partido Comunista (PCB) e que disputou a sua direção por ocasião de seu Sétimo Congresso.
Quando da morte de um grande amigo de sua geração, o saudoso Gildo Marçal Brandão (1949-2010)[2], dirigente daquele periódico comunista de 1980 a 1981, o Marco (que também é de 1949) talvez tenha escrito os textos que mais revelam de si mesmo e estão disponíveis tanto na revista Lua Nova do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) como na Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).


[1] Ricardo José de Azevedo Marinho é Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e Doutor em Ciências Sociais pelo CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). É Assessor da Presidência da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e Professor da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO).
[2] Nogueira, Marco Aurélio. Gildo Marçal Bezerra Brandão (1949-2010) no coração da grande política. Revista brasileira de Ciências Sociais, Fevereiro, 2010, vol.25, nº 72, p.5-7.

 

Numa daquelas publicações Marco dirá que “as gerações nos ajudam a desvendar a vida.” Na sequência afirma que

“Gerações intelectuais são feitas de amizades e companheirismo, mas não só. São feitas também de instituições e pontos de referência, simbólicos e materiais. Por essa via, trazem consigo rusgas, atritos, disputas, às vezes dilacerantes. Amizades podem até se desfazer, mas as gerações seguem em frente, como se protegidas por uma rede oculta de pequenas e grandes cumplicidades que operam no subterrâneo, ligando as agregações e cauterizando as feridas abertas pelos choques e golpes da vida.

Gerações intelectuais não são comunidades amorfas, desfibradas, insossas. São comunidades imperfeitas, forjadas no fogo. São internamente diferenciadas, múltiplas e plurais, no sentido de que, nelas, nem todas as luzes brilham ao mesmo tempo ou com a mesma intensidade. De algum modo, os representantes de uma geração dividem entre si o trabalho que estão fadados a fazer. Deixam o ar de sua graça, por isso, tanto pelo que é pensado e realizado por um ou outro de seus membros mais destacados, quanto pelo produto derivado do esforço menos perceptível do conjunto.”
 
 Gildo Marçal Brandão
 
Nessa elegante sociologia dos intelectuais ele revela o amigo e se revela.
“A morte abrupta, precoce e repentina de Gildo Marçal Bezerra Brandão, ocorrida em 15 de fevereiro de 2010, abalou ao menos uma das gerações intelectuais que se lançaram no universo das ideias e da política no início da década de 1970, no Brasil. Tenho orgulho de pertencer a ela e de ter podido trilhar um longo trecho de estrada com ele. Conhecemo-nos em 1973, praticamente no mesmo momento inaugural: o início de uma carreira acadêmica, a descoberta do jornalismo, o encontro com a política, a formação da identidade ideológica e das preferências intelectuais. Nossos símbolos e pontos de referência logo se tornaram comuns: o marxismo, a esquerda, Lukács, Gramsci, Visconti, a USP, a Escola de Sociologia e Política, a Unesp, a Livraria e Editora Ciências Humanas, o PCB, a revista Temas de Ciências Humanas, o PCI, a Folha de São Paulo, o jornal Voz da Unidade, o ensino, a pesquisa, a democracia, depois o Cedec, a revista Lua Nova, a Anpocs, a Revista Brasileira de Ciências Sociais.
Fizemos ou participamos de tantas coisas juntos que é no mínimo estranho que esteja eu aqui, sozinho, subscrevendo esse registro memorialístico em tom de homenagem póstuma.”
Só essa breve passagem já diz muito dele e de sua geração. Mas, essa outra me repõem na trajetória da minha descoberta de Marco que compartilho com vocês nessa noite. Dirá ele
“Sua geração – que é a minha e a de tantos outros que frequentam o Cedec, que leem ou lerão Lua Nova, que têm a política como valor – deixou pegadas na história brasileira. Sem cabotinismo (ah, como ele adorava essa palavra!) e sem falsas modéstias, ainda que também sem o devido reconhecimento. Foi uma geração que viveu com intensidade. Experimentou de tudo, imaginou cenários épicos, abriu muitas sendas. Atracou-se com a resistência à ditadura e a transição democrática, com a luta armada e a luta eleitoral, jogou-se nos espaços da intransigência e da negociação, construiu instituições. Absorveu praticamente todos os influxos dessa movimentação, combinados em maior ou menor medida com as ressonâncias e os desdobramentos de 1968, da Tchecoslováquia, do eurocomunismo, da cristalização da ideia de democracia como valor universal, das novas formas do movimento operário, da questão feminina, da reconstitucionalização do país, do Muro de Berlim, do desaparecimento dos partidos comunistas, da vida líquida e informacional. Não foi uma geração que se limitou a assistir a tais acontecimentos portentosos. Pôde participar deles, interferir neles, protagonizá-los. Talvez por isso tenha ido tão longe e possa, hoje, proclamar sua personalidade geracional.
Por opções e armadilhas da vida, Gildo chegou relativamente tarde ao trabalho acadêmico mais sistemático. Entre 1973 e 1989, o jornalismo e a política o consumiram. Trabalhou na Folha com Cláudio Abramo, dirigiu o jornal comunista Voz da Unidade de 1980 a 1981, ajudou a editar o Diário do Grande ABC. Especialmente na Voz, com a contribuição de um seleto grupo de colaboradores e companheiros, viveu uma intensa aventura intelectual, de que pude ser testemunha e partícipe. Entregou-se a ela com um sentido de missão que jamais cedeu à tentação do fanatismo ou da prepotência e que buscou explorar ao máximo as oportunidades que se abriam – mas que logo se fechariam – para uma reinvenção do comunismo, de sua cultura, de sua linguagem, de sua forma de comunicação com a sociedade. Perdeu uma batalha, mas nenhuma guerra.”[1]


[1] Nogueira, Marco Aurélio. O valor de uma geração. Lua Nova, 2009, nº 78, p.23-28. Todas as citações do Marco Aurélio anteriores são desse texto.

 
 Carlos Nelson Coutinho
Está claro que a batalha a que Marco se refere era aquela que ele e os seus da sua geração e de outras gerações disputaram a direção da política do PCB.
E assim, ao retornar a minha trajetória de descoberta do Marco, gostaria de agora finalizar essa breve apresentação dessa noite.
As Ruas e a Democracia, o livro e a palestra do Marco que vamos vivenciar ocorre do quase fechamento do ano de 2013. A nossa Constituição chegou nesse ano aos seus 25 anos. Não têm faltado, felizmente, comemorações à efeméride, e as magistrais passagens de As Ruas e a Democracia sobre a dita convocação de um plebiscito sem eira nem beira como resposta governamental as jornadas de junho são a comprovação cabal de que a tal propositura não passava de uma fuga para frente daquela difícil conjuntura.[1] Sabendo-se, porém, com que rapidez – qualidade a ser cultivada no presente milênio como queria Italo Calvino (1923-1985)[2] – a atenção se fatiga quando as circunstâncias lhe impõem que se aplique o exame rigoroso das questões candentes, não é arriscado prever que o interesse público pelas jornadas de junho de 2013 só venham a diminuir, dia após dia. Ao contrário, a Constituição de 1988 segue sua sina de ser o enigma decifrável da nossa democracia.
Como declaração de princípios e regras que é, a Constituição criou obrigações legais a República. Todos sabemos, porém, que essas obrigações podem acabar por ser desvirtuadas ou mesmo denegadas na ação política, na gestão econômica e na realidade social. A Constituição é geralmente considerada pelos poderes econômicos e pelos poderes políticos, como um documento cuja importância não vai muito além do grau da boa consciência que lhes proporciona.
Nestes 25 anos não parece que os Governos tenham feito pelos direitos inscritos nela tudo aquilo a que, moralmente e intelectualmente (como diria Gramsci que Marco, ao lado de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012)[3] e Luiz Sérgio Henrique, foi responsável pela tradução para o português – de 1999 a 2002 – dos seus Cadernos do Cárcere[4]), quando não por força da lei, estavam obrigados.


[1] Nogueira, Marco Aurélio. As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira / Rio de Janeiro: Contraponto, 2013, p.76-84.
[2] Calvino, Italo. Seis propostas para o próximo milênio - Lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
[3] Nogueira, Marco Aurélio. Socialismo e democracia no marxismo de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012). Lua Nova, 2013, nº 88, p.11-21.
[4] Gramsci, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002.
 


Desta forma, As Ruas e a Democracia aponta, entre outros insignts, que alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, seja porque não sabem, seja porque não podem, seja porque não querem. Ou porque não lhe permitem os que efetivamente governam com suas hegemonias imperfeitas[1], as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, que vem reduzindo a uma forma sem conteúdo o que ainda resta de ideal de democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. E isso As Ruas e a Democracia também aponta. Por isso uma Constituição da democracia deve ser disputada todos os dias, inclusive nas ruas, uma vez que nenhum dos direitos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem, o primeiro dos quais será exigir que esses direitos sejam não só reconhecidos, mas também respeitados e satisfeitos. Não é de se esperar que os Governos façam nos próximos 25 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra democracia e a iniciativa das ruas. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos nas ruas, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres da democracia.

Finalmente, o Marco deve lembrar o título da sua contribuição na tribuna de debates levada a efeito na Voz da Unidade por ocasião do Sétimo Congresso do PCB. Talvez o seu As Ruas e a Democracia possa ser lido numa paráfrase daquela contribuição pois só com a devida compreensão do Brasil que temos, poderemos caminhar com passos firmes para o Brasil que queremos, para seguir tornando-o melhor em todas as nossas esquinas e instituições. Obrigado!

 

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2013



[1] Nogueira, Marco Aurélio. A hegemonia imperfeita. O Estado de São Paulo, 23 de novembro de 2013.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DEMOCRATAS DA ESQUERDA


Os Democratas da Esquerda: O Programa (Começo de um debate)

Por Vagner Gomes de Souza

As jornadas nas ruas iniciadas em junho demonstraram que os partidos políticos do campo democrático e da esquerda se distanciaram do debate das mudanças a partir de um programa. Muitos segmentos e lideranças se deixaram contaminar pelo “cálculo eleitoral” minimizando sua plataforma política. Exemplo extremo está nas agremiações partidárias que levantam o tema da “decência na política” como sinalizador de sua adesão política. As massas nas ruas não tinham programa e nem uma liderança. Uma eclosão da “revolução dos interesses” de segmentos das periferias urbanas e da prática política.
A “agenda eleitoral” antecipada em fevereiro pelo antecessor da Presidente da República foi “congelada” naquele momento. A sociedade civil inorganicamente comparece as manifestações e programaticamente não se reformulou. Os segmentos políticos foram equivocadamente nomeados como “fascistas”, “anarco-punks”, “anarquistas”, “extremistas, etc. Nos seus desdobramentos de um Congresso Nacional formado ainda sob os métodos do clientelismo. Nesse ponto, o “interesse” do voto do eleitor se faz prevalecer e tudo se desmancha no ar.
As lições da política partidária devem ser aprendidas diante das idas e vindas da REDE de Sustentabilidade. Mobilizar um “mosaico” de intenções de “boa vontade” da sociedade não se faz na realidade. E, gradualmente, os elementos do nosso liberalismo doutrinário se faz representar até nas forças políticas que deveriam defender o socialismo. A política ainda está anos-luz afastados da sociedade e um “caldeirão” de problemas se faz por aguardar soluções. Por exemplo, a massas de trabalhadores continuam o cotidiano da Avenida Brasil engarrafada e dos trens da SUPERVIA lotados/danificados, mas a pauta imposta pela mídia, uma vez que não há vozes da esquerda, é a Perimetral.
Não há um Programa dos Democratas da Esquerda, seja qual forem as agremiações que ocupem esse segmento, para a sociedade brasileira. Na passagem dos 25 anos da Constituição de 1988, percebemos o quanto seus valores democráticos ainda não foram todos regulamentados. A recente Greve dos Servidores Públicos da Educação no Rio de Janeiro demonstra o quanto o legislativo ficou uma geração sem “tomar partido” sobre a regulamentação do Direito de Greve aos Servidores Públicos. Haja “bandeiras” progressistas a se levantar no Parlamento que aprofundem as conquistas da Carta Democrática de 1988, porém, mais uma vez, os “cálculos” estão na Sucessão Presidencial.
O tema da violência policial nos grandes centros urbanos levanta o debate sobre a desmilitarização da Segurança Pública no país, porém teme-se pelo seu arquivamento diante de um Congresso Nacional sem pressão do debate da sociedade através de uma campanha de opinião. As eleições legislativas são fundamentais para a emergência de um “polo” de Democratas da Esquerda que se encontram espalhados em diversos segmentos partidários e da sociedade. Acumular forças no legislativo para gradualmente pressionar uma Reforma Política que acabe com o “voto escravizado”, ou seja, o voto a serviço do “balcão de negócios”.
A disposição política para levantar esse debate deve partir da sociedade articulando uma ponte com os partidos políticos da esquerda até o centro-liberal. Apresentar um programa se faz necessário. Esse é o ponto relevante para além de indicar nomes para a sucessão presidencial que só empolgará ao eleitor no mês de setembro de 2014. Agora, é momento de fazer circular ideias e perguntar: que Brasil terá com o envelhecimento gradual da população? Como será a Previdência Social na próxima década? A saúde pública vai conviver com as terceirizações? Por que o Plano Decenal de Educação não avança no Parlamento? Quais seriam as conquistas aos trabalhadores? Vamos continuar com o mesmo modelo de sindicalismo unicitário? Quem mais lucra não deveria pagar mais? Enfim, há inúmeras perguntas que ajudariam a formular um programa dos Democratas da Esquerda que mobilizaria as redes sociais e a militância na sociedade para definir o “voto útil” em lideranças políticas fundamentais a continuarem ou para ingressarem no Congresso Nacional. Uma Lista de um “movimento multipartidário” com diálogo na sociedade. Os partidos políticos da esquerda não devem temer que “não filiados” votem e participem de seus encontros/plenárias de formação de programa. Uma oportunidade de formar novas lideranças na formação de uma cultura cívica. Esse é o começo de um debate programático que devemos ajudar a alimentar nos nossos locais de trabalho, militância, estudo, moradia, exercício de nossa fé religiosa, etc.

sábado, 31 de agosto de 2013

ELEIÇÕES RIO DE JANEIRO

Pesquisa DATAFOLHA (Junho 2013) que poderia ser comparada com a GERP citada por DEMOCRACIA e SOCIALISMO
 
Dialogando com o BLOG DEMOCRACIA E SOCIALISMO
Por Vagner Gomes de Souza
(Coordenador Político da Frente Popular Amigos da Zona Oeste – FREPAZO)
 
O artigo “Jandira, Governadora do Rio de Janeiro” de Adelson Vidal Alves foi postado no dia 29 de agosto no BLOG DEMOCRACIA E SOCIALISMO (http://democraciaesocialismo.blogspot.com.br/2013/08/jandira-governadora-do-rio.html). Trata-se de uma instigante análise de conjuntura estadual que abre a oportunidade para o debate das próximas eleições estaduais a partir da avaliação da pré-candidatura da Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB).
A análise da conjuntura estadual é um desafio que VOTO POSITIVO reconhece e assume num diálogo com o artigo citado acima. Em primeiro lugar, avaliamos que muitos fatores vão influenciar as eleições de 2014 que ainda estão em curso. Comecemos pelas eleições presidenciais que não temos ainda o quadro definido nem para as forças governistas (Fica Dilma X Volta Lula) ou na oposição (sai a REDE SUSTENTABILIDADE?, Serra se candidatará pelo PPS? , Eduardo Campos (PSB) será mesmo candidato?). Há muitas dúvidas que vão ainda impactar na organização do Palanque Estadual. Portanto, não esqueçamos que o PCdoB será “fiador” de uma aliança histórica com o PT nacional desde as eleições de 1989, o que sugere para onde o PT nacional rumar o PCdoB local levará seus dirigentes e militantes.
No momento, o Bloco Governista Fluminense passa por uma série crise. Isso não implica que ele está “fora do jogo”. Por dois fatores: 1) o artigo não avalia a hipótese de afastamento por renúncia do atual Governador em janeiro próximo o que permitirá a melhor articulação do Vice-Governador na reformulação de sua base política (“mudar para conservar” com a máquina pública mais presente no processo político ainda mais costurando apoio no interior onde diversos Prefeitos está receosos de perdas de mandato pelo TRE como cita o articulista de DEMOCRACIA  E SOCIALISMO); 2) a realização da Copa do Mundo é um fator de Antropologia Política que não foi ainda dimensionado pelos analistas políticos. Para o bem ou para o mal. Romário está no “banco de reserva” da política estadual aguardando convocação e poderia ser um “outsider” emergente das ruas e das periferias. O “lulismo” na expressão Bonapartista.
No Rio de Janeiro, apesar da crise política, não há um novo bloco de forças progressistas se articulando. Esse é o desejo que verificamos e compartilhamos em DEMOCRACIA E SOCIALISMO, porém o sábio Garrincha perguntava: “foi combinado com os Russos?”.  Nesse particular, nomeamos o PSOL que tem ocupado espaços de um eleitor de  “centro-esquerda” e até faixas eleitorais de conservadores defensores da “ética na política” mas não apresentam um programa político mais claro de aliança democrática. Uma vez que, a apresentação desse programa seria a fragmentação dessa organização política.
PDT, PPS, PSB estranhamente ou justificadamente (cabe aos seus Diretórios Regionais responderem) são abordados pela imprensa fluminense como defensores dos cálculos políticos de seus principais dirigentes locais. Engatinham no debate da sucessão, mas estão atônicos com as mobilizações das ruas que se fazem distantes dos movimentos sociais que alguns militantes desses partidos ainda têm referência. São agremiações políticas que se afastaram da juventude por priorizarem “fazer Deputado Federal” e apresentam sérias dificuldades de se abrirem e conduzirem os anseios surgidos após as Jornadas de Junho.
Portanto, o elemento novo ainda estaria na candidatura própria do PT que poderia ser o “calcanhar de Aquiles” da coalizão PT-PMDB nacional. DEMOCRACIA E SOCIALISMO abordou de forma “tímida” essa luta interna do PT-RJ. A trajetória política do Pré-candidato do PT do RJ é um exemplo de quadro político que transitou do “partido da Ação” para o “partido da Moderação”, o que pode dar outra dinâmica ao debate de um Programa de Transição para o Rio de Janeiro que precisa de mais articulação entre Governo e Sociedade reforçando as instituições de consulta da população que surgiram com a Constituição de 1988. Além disso, há o elemento do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Constituição Estadual do Rio de Janeiro que não foi plenamente colocada em prática. E consideramos importante o resgate de um Orçamento Participativo estadual no Rio de Janeiro como forma de enfraquecer as forças políticas do clientelismo estadual.


domingo, 25 de agosto de 2013

GREVE NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - RJ


Histórica Audiência do SEPE com um Prefeito

A Metamorfose Ambulante da Greve na Rede Municipal de Educação Carioca

Por Vagner Gomes de Souza – Escola Municipal Charles Dickens

As mobilizações de junho empreendeu um novo gás as sujeitos da sociedade. No primeiro momento uma multiplicidade de reivindicações foram transbordadas nas ruas e levantadas por diversos segmentos sociais e vertentes políticas. Os campos políticos extremos Esquerda e Direita voltaram a cena das análises dos colunistas políticos e cientistas sociais num quadro de “raquitismo” da política. Entre os diversos questionamentos das manifestações estavam a ausência de um “padrão FIFA” para a Educação brasileira.
No Rio de Janeiro, a luta política se avolumou e recebeu uma nova dinâmica com as multidões que acolheram a Jornada Mundial da Juventude em julho. Uma cidade onde há um histórico de conflitos sociais sem luta de classes que marca a história local desde sempre em diversos exemplos (Revolta da Vacina, Revolta de Chibata, Revolta do Forte de Copacabana, Insurreição de 1935, Revolta dos Bondes em 1956, etc.). Os pronunciamentos do Papa Francisco sobre temas de um olhar mais humano para o capitalismo é outro elemento que sensibilizou a todos independente de vínculos religiosos.
Muitos anteciparam o esgotamento das manifestações, porém não perceberam que elas estão em metamorfose ambulante nas diversas mobilizações que ocorrem na sociedade brasileira. Todas convergem para um mesmo caminho que não implicará em rupturas ou retrocessos. E a Educação Pública? Na questão nacional, ela apareceu na pauta da aplicação dos Royalties do Petróleo e nas tentativas de aprovação do novo Plano Nacional de Educação. Uma continua revolução/restauração no processo em curso sobre as mudanças na Educação que passará por uma reinterpretação do Profissional de Educação como Intelectual “fordizado”.
 
 
Nessa correlação, a greve dos profissionais da educação do município do Rio de Janeiro é um momento de revelação de como o transformismo se faz presente. A rede municipal de educação do Rio de Janeiro não estava em Greve há cerca de duas décadas. Muitos analistas defendiam que era uma categoria profissional majoritariamente em estágio de conformismo. Seguidas orientações pedagógicas foram implementadas de forma centralizadora ao ponto de reduzirem ao extremo a autonomia pedagógica das unidades escolares, mas a categoria estava sob o peso do “Partido da Moderação” uma vez que atuava na Rede Estadual de Educação como o “Partido da Ação”. Em resumo, esse seria o estranho modus operandus de um setor dos servidores públicos em suas recentes mobilizações.
Contudo, o novo momento da rede municipal de educação, em greve desde 8 de agosto, é de plena metamorfose diante do silenciosos momentos de adaptabilidade com o que foi o “cesarismo” (implementado desde 1992) e de adesismo ao discurso fácil do pós-cesarismo. Há um momento de reorganização da base da categoria que cria contradições tanto o Governo Municipal quanto nas correntes majoritárias do Sindicato. Entretanto, diante de uma proposta de “acordo”, seria o momento de refletir para o longo curso de uma mobilização que não se limita em parar as atividades. Há muitas coisas ainda por ganhar num processo de longa duração. Essa é a realidade ao compreender que devemos saber mediar nossos interesses, pois há outros sujeitos em jogo. Por isso, não devemos trilhar pelo sectarismo que desgastará nossas forças. A queda da popularidade do Governo Municipal já está em reversão a medida que o mesmo se distancia de seu “padrinho” no Governo Estadual. Trata-se de ter a astúcia de dar um passo atrás para dar dois passos adiante. Se for verdade que estamos reaprendendo a fazer uma Greve. Devemos começar a aprender a sair dela forte para sempre tê-la como um forte dispositivo de pressão.

domingo, 9 de junho de 2013

FAROESTE CABLOCO - O FILME (OPINIÃO)



 

Era uma vez em Brasília
Por Vagner Gomes
“Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração (...)”

Faroeste Caboclo – O filme é um desafio para a geração que nasceu após a morte de Renato Russo. Um compositor talentoso que foi “levantado aos céus” como se fosse um neomessias de uma juventude sem bandeiras. Por isso, há um estranhamento quando jovens entram ao cinema para ver um filme achando que irão assistir ao “Vídeo-Clip”. Não é uma narrativa “fiel” a todos os versos da música e nem pretende ser isso em nossa avaliação.
Faroeste Caboclo é impactante pela ousadia de levar para as telas do cinema nacional o estilo do “western” ambientado numa Brasília no começo dos anos 80. Tempos de ditadura militar em que as “Cidades-Satélites” cresciam em pobreza e violência. Portanto, uma referência que logo surge em nossa mente é o diretor Sergio Leone através de duas obras: “Três Homens em Conflito” (1966) e “Era uma vez no Oeste” (1968 ).

Cena de Era uma vez no Oeste (1968)

A primeira cena do filme só faltaria uma gaita como fez Enio Moricone certa vez na história da trilha sonora dos filmes. Aliás, um bom “westen” precisa de uma boa trilha sonora que fique na cabeça do público do filme. Faroeste Caboclo – O filme acertou na trilha sob a condução do integrante da banda Plebe Rude, Philippe Seabra ao deixar a execução de Faroeste Caboclo – A música para o momento dos créditos. Outras músicas ganham destaque para reviver a memória dos contemporâneos do rock nacional e para a nova geração.
O diretor faz uma secularização de uma inspiração musical. Faz um duelo com aqueles que desejam transformar a obra de Renato Russo numa filosofia pós-moderna sem contextualizar. Portanto, a contextualização histórica aparece em alguns momentos incidentais que o público “fundamentalista” deixa passar sem muita atenção. A chegada de João de Santo Cristo em Brasília é ilustrada com cenas da época dos “quebra-quebras” em 1980 que a imprensa pouco exibia na TV. O slogan do Governo do último ditador militar, General João Baptista, aparece na narrativa – “Plante que o João Garante”. As manchetes do jornal Correio Brasiliense que servem para ilustrar as fotos na cadeia. Qual é a primeira edição? Será que os “fundamentalistas” se lembram? Muito bem, trata-se de uma referência ao atentado a bomba no RioCentro que foi importante para o isolamento político da “linha dura” do regime militar de então.

Faroeste Caboclo sem "puritanismo"


Nesse aspecto, o filme inverte o culto a Renato Russo com sua dessacralização e sua gradual aproximação ao momento político do rock nacional. Além disso, o filme aborda outros duelos da sociedade brasileira. O geracional: o Senador e a filha universitária. O social: “enquanto o rico projeta o pobre constrói”. O racial: lamentavelmente uma parcela do público na região onde assisti (Zona Oeste carioca) expressa seu “choque” com um romance intraracial entre João de Santo Cristo e Maria Lúcia. Deixemos a hipocrisia de lado. Fazer o discurso de que o filme tem cenas de sexo excessivas é um preconceito disfarçado em moralismo.

Que país é esse que observa “putaria” em uma heterodoxa história de Amor entre uma branca e um negro? Vejam a poesia das cenas de conteúdo adulto se desejar essa classificação dos tempos da CENSURA da Ditadura. O Diretor muito bem conduziu esses momentos necessários para servirem como um “soco” no estômago da nova geração de moralistas. As primeiras cenas há um contraste da pele negra com a pele branca. Num segundo momento há a engraçada brincadeira dos cômodos. Por fim, a cena da denúncia ao falso pudor. Numa sala carregada pelo cenário de inúmeros quadros sacros os dois fazem amor até que chega o Senador que expulsa os dois. Observem que não são mais de 5% da película, porém o senso comum comenta como se fosse uma “pornochanchada” dos anos 80.

O romance da citação ao Kunta Kinte

De fato, o filme expõe outras referências não captadas pelas vertentes “fundamentalistas” que vão ao cinema. A citação de Kunta Kinte nas boca de Jeremias é um convite a leitura do romance de Alex Haley para uma percepção comparativa do escravismo nos Estados Unidos e no Brasil. O balde de água vazio lembra “Vidas Secas”. Não podemos esquecer-nos de um pouco de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” se seguirmos nossa liberdade de leitura. Por fim, para não alongar mais, as drogas e a vingança lembram o Diretor Quentin Tarantino (“Pulp Fiction”, “Kill Bill Vol. 1 e 2” e “DJango Livre”).
Essa é a narração de uma história de um filme que não pode ser simplesmente descartado por uma nova forma de “fundamentalismo”. Estranhamente, uma nova geração que cultua ou pensa que cultua Renato Russo não percebeu que ele era um libertário, ou seja, não aceitaria que sua obra fosse uma doutrina ou estivesse distante da crítica social. Portanto, citamos uma passagem da música “Até quando esperar”, que está na trilha do filme, ao começo dessa resenha.

Três Homens em Conflito (1966)