Somos tão americanizados
Por
Vagner Gomes de Souza
Há uma estranha sensação que nunca se
conheceu o a nossa História. Muito menos a relação de nossa História com alguns
personagens. Imaginem pensar os anos da Abertura Política (1976 – 1982) na
Capital do Brasil! Esse seria um desafio para além da imaginação de muitos
jovens e cinquentões dos dias atuais. Portanto, a ousadia do diretor Antonio
Carlos de Fontoura foi essa na condução da adaptação da biografia Renato Russo: O filho da revolução para
o cinema. Muitos estariam aguardando o impacto dos costumes do universo da Lapa
“estadonovista” do filme “A Rainha Diaba” (1974), porém o público juvenil que
vai ao encontro dessa nova narrativa de Fontoura nasceu, em grande maioria, após
o Plano Real (1994).
São os filhos da americanização em
tempos de estabilização que reencontram a Brasília em tempos de Ditadura
Militar. Muitos aguardavam um novo e longo Clipe musical, mas assistem os
dilemas da classe média brasiliense diante do desmoronamento do “milagre
econômico”. A temporalidade do filme é de 1976-1982. Tudo começa na simbólica
queda de uma bicicleta entre as quadras da cidade projetada por Oscar Niemeyer
em um esforço de relação da câmera do cineasta com a Antropologia Urbana.
Renato Russo ainda é “Reinato”
Manfredini. Ele é mais um exemplo das interpretações sobre o papel da personalidade
na História presente na literatura marxista russa. Contudo, o diretor deixa que
escolhamos a melhor oportunidade de interpretar diante a ebulição do “movimento
Punk” na Brasília em fins dos anos 70. O espectador americanizado poderia
pensar em simples estilo de se vestir, mas um rápido diálogo no começo do filme
demonstra que poderia ser também uma forma de protesto contra a repressão
militar. Atenção a referência ao “Sex Pistols” no filme!!!
Pixação do Aborto Elétrico (Banda Punk em tempos de Ditadura Militar)
Se o ABC paulista foi palco das
manifestações operárias através das greves, o filme sugere que o chamado “Rock
Brasiliense” tenha sido politizado por não apenas pela influência “punk” mas
também pelas condições de termos um segmento juvenil diante do dilema de ou dar
continuidade aos “anéis burocráticos” emergente da repressão seja no Brasil ou
em outras nações (pensem no caso do Guitarrista Petrus do “Aborto Elétrico” ao
se apresentar ao serviço militar da África do Sul) ou deixar de ser como nossos
pais.
O filme é uma arte de reflexão para
os tempos de “neochanchada” do cinema nacional. A escolha da trilha sonora foi
muito bem incorporada ao roteiro. “Faroeste Caboclo” ganha um peso de canção
universal tanto para as Cidades Satélites que emergiram à margem da
americanização perversa em Brasília quanto a vida cotidiana numa Zona Oeste
carioca ou na Zona Leste de São Paulo. Mais uma vez a Antropologia Urbana ganha
peso na narrativa cinematográfica como um importante papel no diálogo dos
liberais com os excluídos.
Fomos tão americanizados que “O Homem
de Ferro” ainda ganha filas de espera no duelo com “Somos tão jovens”.
Entretanto, há outras possibilidades para o americanismo diante da possível
reintrodução da aceitação da pluralidade contra os desvios inquisitoriais do “atraso”
que tomou de assalto a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados. É
possível uma versão mais democrática que hoje percebemos na consultoria de
Hermano Vianna (puxa...o irmão do Hebert que está no filme!!!) ao programa “Esquenta”
aos Domingos. Diante de nossa democracia juvenil “Nem foi tempo perdido
/ Somos tão jovens”.