domingo, 19 de junho de 2011

MUNDO PARTIDÁRIO


Avançar a Democracia
Por Vagner Gomes de Souza (PPS – Rio de Janeiro)

(Essa é uma Carta Aberta aos militantes do PPS nesse processo de XVII Congresso. As opiniões expressas nessa carta são de responsabilidade de seu autor que junto com outros militantes e simpatizantes do partido desejam lançar o Movimento de Unidade dos Democratas da Esquerda – MUDE como corrente para o debate congressual. Aos interessados em adicionar novas ideias ou em formar núcleos de debate sobre nossos pontos de vista solicitamos que escrevam para o e-mail vgsouza@bol.com.br)

Muitos imaginam que a política saiu em definitivo do debate internacional. Na verdade, ela ocupa o cotidiano através de outras perspectivas que a tecnologia só faz acelerar novos horizontes e novas perspectivas. A política não se faz sem posições sejam elas de direita, centro ou de esquerda. No mundo multipolar que vivemos, há uma carência de ampliação dos espaços democráticos numa ONU estruturada na perspectiva da Guerra Fria; nas nações dominadas por ditaduras ou nos modelos de “ditadura sobre a necessidade”. Avançar a democracia não é uma figura de retórica, mas uma postura do campo de esquerda que deseja uma vinculação com os canais do século XXI.
No cenário internacional, o modelo de capitalismo financeiro buscou colocar a soberania do voto em segundo plano ao expor uma ideologia da ausência de matrizes políticas. A esquerda reagiu esse processo com duas posturas extremistas. Ou reforçou um perfil mais moderado ao ponto de adotar uma semelhança ao liberalismo de viés democrático ou se estagnou na ortodoxia do que chamamos de neo-bolchevismo. Entretanto, novos sujeitos surgiram no mundo contemporâneo e a juventude atua por novas formas num processo que impõe a percepção que o capitalismo abriu espaço para sua superação democrática por dentro. Avançar a democracia é a forma de expressão do movimento socialista no século XXI como articulador de um desenvolvimento econômico eco-humano.
Vertentes dessa linguagem encontramos na postura dos jovens americanos quando foram participar do processo eleitoral dos EUA em 2008. Nas manifestações dos jovens estudantes na França. No movimento recente de indignação dos espanhóis. Na base eleitoral da oposição ao governo Berlusconi na Itália. Na chamada Primavera Árabe. Enfim, exemplos que demonstram uma conexão internacional com a democracia que não encontra espaço nos velhos modelos da prática política. As instituições políticas democráticas foram rotinizadas pela competição eleitoral que o sistema capitalista financeiro vai conduzindo. Não se trata de relançar a polêmica da Democracia Política X Democracia Real uma vez que propomos a democracia por inteiro e não pela metade. A democracia pode mais. Podemos avançar a democracia voltando a fazer política com a base, ou seja, a sociedade.
Na massificação do eleitorado internacional é tarefa da esquerda colaborar com a organização de massas em seu cotidiano. Não há como deixar que a democracia fique estagnada ao mundo parlamentar. Portanto, a vida política da esquerda está condenada nos países onde ela não voltar a fazer sua ponte com a população. Os valores da racionalidade democrática podem estar presentes na postura política de uma esquerda contemporânea e aberta a novas abordagens. Não há limites para a democracia uma vez que desejamos uma sociedade sempre melhor e sabemos que o modelo econômico capitalista financeiro forma práticas que visam estagnar o debate democrático. As disputas eleitorais foram mercantilizado por um fetichismo publicitário o que formou momentos de despolitização das eleições em muitos países.
A despolitização em tempos eleitorais entrou em conflito com os momentos de necessidade da postura política pós-eleitoral. O Brasil entrou nessa onda globalizada da despolitização pela sua vinculação ao sucesso de modernização conservadora que garantiu nossa formação capitalista. Estamos no cenário mundial do capitalismo como o grande modelo de democracia formal após um longo histórico de posturas autoritárias. A despolitização é comum nesse processo por opção do partido político que por duas décadas defendeu um discurso anti-capitalista e de valorização do social em relação aos valores da democracia. A esquerda que foi eleita pela sociedade em 2002 já tinha abandonada sua origem anti-sistemática e soube se adaptar ao novo papel de gestor do crescimento de nosso capitalismo. Assim, ganhou a confiança dos gestores de uma nova camada burguesa e soube conduzir um processo de mudanças sociais em prazo curto para os padrões brasileiros, porém sem avançar nas mudanças democráticas ou reguladoras dos ganhos do capital. Por exemplo, a redução da jornada de trabalho para 40 horas ainda é um “tabu” para a burguesia nesse país.
Uma ampla coalizão foi se formando num processo que mais se importou com a demarcação de cargos públicos para agremiações partidárias de uma esquerda nacional até uma direita fisiológica passando por um centro político ocupado pelo Partido dos Trabalhadores. O discurso do mais do mesmo. Ou continuísmo sem continuidade não encantou uma parcela significativa da sociedade que deseja novas posturas políticas diante da educação como observamos na campanha de Cristovam Buarque (2006), diante das mazelas sociais como observamos nas campanhas do PSOL em 2006 e 2010 ou diante da ecologia como observamos na campanha de Marina Silva (2010). Valores democráticos, igualitários e ecológicos sensibilizaram muitos eleitores nas últimas eleições, porém a despolitização faz aflorar temas e valores críticos ao republicanismo de um Estado Laico (crítica ao aborto, direitos civis aos homossexuais e descriminalização das drogas).
Há uma falta de organização desse campo político, pois os partidos políticos dessas candidaturas ainda vivem com referenciais do século passado apesar de suas candidaturas estarem com um pé no mundo contemporâneo. Campanhas políticas de candidaturas praticamente avulsas que sempre somadas passaram milhões de votos. Portanto, falta uma articulação dessa frente democrática para o século XXI. A frente democrática que reúna os democratas, os ecologistas e os socialistas na formulação de um programa comum. Uma frente que vai resultar em futuros movimentos políticos e sociais, mas que deve partir de um ator político que se defina melhor politicamente. Por isso, o Partido Popular Socialista (PPS) deve estar aberto a esses novos sujeitos para começar um debate político para o futuro do país.
Não é momento de antecipar novas siglas ou relançar a ideia de uma candidatura própria para o distante 2014. O momento é de fazer política real para a sociedade que não encontra no Parlamento sua melhor inspiração de fazer política. O PPS deve ocupar esse espaço pela política incentivando o debate e a formulação política em sua estrutura. Se ainda é um partido político, o PPS deve fazer do debate da política uma rotina para além do debate das eleições. Não estamos desejando abandonar a tática eleitoral, porém para a esquerda a disputa eleitoral é um momento de tática enquanto fazer política democrática deve ser nossa estratégia. Dirigentes e/ou parlamentares do PPS se deixaram domesticar pela postura tática numa lógica eleitoreira. Até aqueles que defendem a superação do viés eleitoreiro no partido cometem o equivoco de considerar que a candidatura própria numa eleição presidencial atrairia o chamado eleitor de terceira via para nós. A princípio, não há nem esse eleitor de terceira via pois ele não se encontra politicamente organizado e nós devemos contribuir como formuladores da política programática.
Devemos estar abertos a enfrentar a crise de identidade sem ficar presos a valorização de uma identidade. Propomos uma refundação da cultura política do PPS para além do legado do Partido Comunista Brasileiro que se via no papel de ser o “ator-político” de vanguarda. Podemos ser um “ator político” de mediação da política com a sociedade com nossas referências na luta pela ampliação da democracia.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

FORMANDO OPINIÃO


               A democracia indignada


As recentes polêmicas envolvendo a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro são, na verdade, apenas a ponta do iceberg em um debate muito mais amplo e inadiável: o insustentável distanciamento entre o cidadão e seus representantes. Hoje, as grandes bandeiras, as grandes expressões de cidadania, individuais e coletivas, surgem muito mais a partir de meios

O Parlamento e mesmo os partidos já não são mais os principais núcleos de discussão e formulação políticas.
O problema, no entanto, não é a multiplicação de esferas e possibilidades de participação, muito pelo contrário, essa é a essência da democracia, cuja legitimidade, no nosso tempo, depende precisamente dessa ampliação das manifestações da sociedade.
O problema é a enorme dificuldade em dar novo significado à atuação do Poder Legislativo, adaptando-a às profundas transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos trinta anos.
Estamos, então, diante de um desafio seminal para a democracia brasileira. É preciso reconstruir e renovar as pontes entre cidadãos e parlamentares, sob pena de vermos o Poder Legislativo perder crescentemente sua função e o seu sentido. Ao meio político parlamentar cabe assumir adequadamente a perda de protagonismo na mobilização sóciopolítica e, a partir de tal reconhecimento, se reconstruir como catalizador das diversas e renovadas maneiras de manifestação popular que agora existem. De nada adianta enviar e-mails, criar canais de TV, sites, ou utilizar redes sociais se tais iniciativas forem apenas protocolares. De nada adianta fazer a informação chegar ao cidadão, verticalmente, sem que ele possa dar uma contribuição real ao debate - e dele se cobre isso.
Ao mesmo tempo, cabe ao cidadão abandonar a fácil e cômoda condenação automática à política partidária, que decorre em semicriminalização do trabalho parlamentar. Cabe ao cidadão assumir que é dele, sim, a responsabilidade pelos atos daqueles que elege.
Que compete a ele fazer dos partidos e do Poder Legislativo espaços eficazes para pensar sua rua, seu município, seu estado, seu país. Que ele pode e deve fazer parte das organizações e fóruns que desejar, mas tais instituições não se opõem ao Parlamento, antes o alimentam, o modernizam.
Não se trata de um sonho impossível, como muitos afirmam, talvez por não conhecerem a fundo as agruras da ausência de um sistema representativo democrático. Não se trata, igualmente, do enfraquecimento das prerrogativas de vereadores, deputados e senadores, ladainha que só é repetida pelos que estão mais interessados em manter verdadeiros feudos eleitorais do que em enfrentar questionamentos e mostrar resultados efetivos.
Trata-se do desenvolvimento de uma democracia orgânica, que, ao estabelecer canais cotidianos entre o cidadão e seus representantes, se mantenha viva, criativa, forte. Se projete para o futuro.
Esse desejo, mesmo que de maneira ainda incipiente, já está claramente presente na nossa sociedade. Embora a articulação entre os diversos movimentos sociais e o Parlamento ainda engatinhe, temos visto a proliferação de diversas iniciativas que constroem justamente esse novo tipo de cidadania.
Exemplo mais notório de tal processo é a Lei da Ficha Limpa. De um forte consenso social nasceu um movimento real, que galvanizou os brasileiros e foi encampado, de maneira complementar, pelo Congresso Nacional. Foi isso o que aconteceu, também, só que em sentido inverso, na compra de carros pelos vereadores cariocas, que acabaram sendo obrigados a recuar diante da manifestação contrária da população. Em ambos os casos, evidências de que o cidadão pode, sim, penetrar esse universo que por vezes parece tão inatingível: a política parlamentar.
Em ambos os casos, da indignação nasceu a ação. Com as instituições sociais, a democracia alcança novos territórios de legitimidade.
Sem os partidos e os parlamentos, ela perde seu núcleo, sua base.
Sua alma.


Andrea Gouvêa Vieira – 14/6/2011 – O Globo


sábado, 4 de junho de 2011

CONJUNTURA DO RIO DE JANEIRO


Novo Tenentismo a procura de um Capitão
Para Tariq de Souza – Meu filho que fez 10 anos hoje (04-06-2011)
Por Vagner Gomes de Souza
Aparentemente viveríamos um segundo mandato de Sérgio Cabral Filho (PMDB) numa tendência que alguns diziam ser a “mexicanização” da política fluminense. Outros indicavam que a política fluminense estava caminhando a passos largos para a política do localismo dos tempos do coronelismo. Na verdade, a desarticulação da esquerda fluminense pela cooptação do PT, PCdoB, PSB, PDT e setores do PPS mais recentemente reforçava um quadro de conformismo político. Entretanto, a política tem sua própria dinâmica em tempos de lutas sem classes em nosso Estado.
O Rio de Janeiro enfrentou três grandes tragédias nos últimos anos em que o Corpo de Bombeiros se destacou como uma corporação importantíssima para a sociedade. Os tristes eventos climáticos em Angra dos Reis, Rio de Janeiro/Niterói e Região Serrana indicavam que a Defesa Civil caminharia gradualmente para o reconhecimento de seus limites de atuação para o exercício de sua função. Entretanto, a crise da saúde foi “mascarada” pela estrutura do Corpo de Bombeiros. Não fiquemos surpresos se a Taxa de Incêndio não esteja sendo aplicada na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro uma vez que o Corpo de Bombeiros faz parte da mesma. Assim, a crise gerou mais uma crise que vai além da reivindicação salarial. Formou-se uma crise política que questiona a postura hegemonista do Governo Estadual.
A crise política gerada pelas manifestações dos Bombeiros é fruto de um segmento que não aceita continuar na mesma ordem de modernização conservadora, porém não há uma liderança experiente que conduza o canal das negociações. Falta uma política que amplie a pauta para uma reforma da política de distribuição de cargos públicos no Governo Estadual. Falta uma política de reformas democráticas para enfrentar a cultura política do “neochaguismo”. Não há um Luiz Carlos Prestes nessa nova onda do tenentismo brasileiro. Contudo, os 18 do Forte já somam mais de 418 presos que vão precisar mais do que solidariedade. Momento de as emoções darem espaço para a política. Por isso, a oposição deve continuar viva no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

VOTO - AMÉRICA LATINA


A dialética sem síntese peruana

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]
 O Premio Nobel de Literatura de 2010 deu sua opinião sobre resultado do primeiro turno das eleições presidenciais no Peru, disputado em 10 de abril. Para o escritor peruano Mario Vargas Llosa o segundo turno, que ocorrerá em 5 de junho, “a escolha será entre o câncer e a AIDS”.
Exageros de rompante não são boas bússolas para o voto pois hoje ao declarar seu apoio a Ollanta Humala não sabemos para qual das patologias anteriormente evocadas por ele para caracterizar as candidaturas que se enfrentam se optou.
Seja qual for, o que importa agora é lidar com duas candidaturas que têm biografias políticas controversas. Ollanta Humala, que obteve 31,69% dos votos, é um ex-oficial do Exército que em 2000 liderou um, ainda não estudado, levante militar contra Alberto Fujimori. Seu irmão Antauro Humala, hoje preso, foi protagonista de outro evento similar, cinco anos mais tarde. Em 2006, Ollanta Humala também vencera o 1º turno das eleições presidenciais e perdeu o 2º por margem pequena para Allan Garcia. Keiko Fujimori, com 23,55% dos votos no primeiro turno, é filha de Alberto Fujimori. Na presidência, entre 1990 e 2000, seu pai ganhou fama por supostamente estabilizar a economia e derrotar o Sendero Luminoso, mas também por não observar o estado democrático de direito, desrespeitar os direitos humanos, corromper e se deixar corromper. Hoje está na cadeia, para cumprir uma sentença de 25 anos. A única hipótese, que já se aventou, do não cumprimento da pena é dele ser indultado por Keiko, se eleita presidenta.
Desta forma, o que cabe é entender os resultados do primeiro turno das eleições peruanas. Produtor de commodities, em especial minérios, com as contas públicas enxutas (com todas as conseqüências que isso implica e que vamos expor) e um ambiente de negócios favorável aos investimentos dos gamonales (para usarmos uma expressão do ensaísta peruano José Carlos Mariátegui, em sentido lato) e dos estrangeiros, essas classes tem-se beneficiado grandemente do apetite insaciável da China por esses produtos.
Daí ser relativamente simples explicar o porque do eleitorado peruano, que vendo uma economia com crescimento “exuberante”, dê a maioria dos votos a candidatos que representam sinais não idênticos de insatisfação.
Primeiro, é preciso lembrar que até recentemente, apesar do surto repentino de crescimento econômico, o Peru apenas havia recuperado a riqueza perdida dos gamonales e dos estrangeiros no período do grande declínio econômico, entre 1979 e 1993, ou seja: em 2005 a renda per capita peruana ainda era menor do que a verificada no início daquele período.
Segundo, os benefícios do crescimento recente não são distribuídos. Exemplo: na região serrana, a pobreza se manteve e em níveis superiores a 60% da população. Não por acaso, foi nelas que Ollanta Humala colheu as suas votações mais expressivas, embora tenha sido bem votado também nos bairros populares da periferia de Lima e neles só perdendo para Keiko Fujimori.
A dificuldade de distribuir os frutos do crescimento tem várias causas. De um lado está a estrutura da economia, que em nada mudou, a despeito do crescimento. Dito de outra maneira: inexiste a possibilidade de se pensar em justiça distributiva na realidade peruana.
A isso se soma a debilidade do Estado peruano, que segue como comitê executivo dos gamonales e dos estrangeiros. Pior ainda: com uma política restritiva frente aos gastos públicos (8% do PIB, no quase findo governo Allan Garcia, conforme o Panorama Social da América Latina de 2010, produzido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL) e junte a isso uma carga tributária irrisória (menos de 20% do PIB).
A análise da realidade peruana, para voltarmos a falar com Mariátegui, explica tudo. Vejamos esse diagnostico associado ao desempenho dos candidatos. Sob esse aspecto decisivo, Ollanta Humala sobressaiu-se. De um lado, dissociou-se de Chávez e associou-se a Lula, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Fórum São Paulo. Apresentou-se como candidato do diálogo político e da pacificação social. Não se espantem pois o slogan é esse mesmo: “Humala paz e amor”. Faz juras à liberdade de imprensa e ao dispositivo da Constituição que proíbe a recandidatura presidencial.
De outro, crítico do status quo, conseguiu expor o caráter social e geograficamente excludente da política econômica - à luz de uma “nova agenda”, voltada para os mais jovens e o futuro, com ênfase em temas como educação, democratização da internet, inovação e criação de empregos. Seguindo o exemplo brasileiro contemporâneo, para falarmos com Caio Prado Jr., adotou a retórica americanista, tal como hoje se escuta com Dilma e Cristina Kirchner.
Em que pese o provável sucesso eleitoral, a fórmula encontrada é cheia de zonas cinzentas e ambigüidades. Tal como aconteceu e acontece no Brasil, Ollanta Humala não tem programa político. A retórica vazia das ideologias cheias de devaneios é a demonstração cabal da dialética sem síntese peruana.
Daí nada se coadunar com os ideais das promessas da democracia. E, quiçá, se alguma idéia oriunda da usina intelectual deste país, talvez essa a de peruanicemos al Perú, siga sendo a que melhor possibilite sua reinserção no mundo, também globalizado, do século XXI.

Rio de Janeiro, 12 de maio de 2011


[1] Ricardo José de Azevedo Marinho é professor de História, Sociologia e Filosofia da UNIGRANRIO.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ENTREVISTA - LUIZ EDUARDO SOARES

A entrevista abaixo foi postada originalmente no BLOG SENTIDO OESTE na Edição Especial de 25 de abril de 2011. No BLOG VOTO  POSITIVO os leitores encontram artigos relacionados ao filme Tropa de Elite 2 e há um artigo sobre a votação de Marina Silva (PV) num recorte geopolítico da Zona Oeste carioca. Por isso, reproduzimos a entrevista nesse espaço para que o megafone virtual some mais força pela radicalidade da democracia. 



1.  Você se destacou no meio acadêmico com estudos sobre a violência urbana. Em algumas poucas palavras, como a AP5 (Bangu, Campo Grande e Santa Cruz) pode ser caracterizada no item da violência urbana?

Resposta: Trata-se de uma região especialmente problemática, que tem sofrido bastante, concentrando números elevadíssimos de crimes letais e dinâmicas micro-políticas despóticas. Entre os crimes letais estão os homicídios dolosos e numerosas mortes violentas por armas de fogo provocadas por ação policial, os chamados autos de resistências, muitos dos quais não passam de execuções extra-judiciais. As dinâmicas tirânicas hoje são protagonizadas principalmente por máfias milicianas, compostas sobretudo por policiais. Ou seja, a região concentra os fenômenos mais graves, justamente porque, em função das desigualdades sociais e econômicas e das desigualdades no acesso à Justiça, tem se mostrado mais vulnerável a práticas institucionais anti-democráticas e anti-republicanas, no campo político e na gestão da segurança pública.

2.  Alguns moradores da Zona Oeste reclamam que as UPP´s estariam contribuindo no aumento da violência na localidade, pois haveria a transferência da atuação de criminosos. Essas afirmações são contestadas pela Secretaria de Segurança estadual. Qual seria o motivo do aumento dessa percepção de insegurança na região?

Resposta: Migrações, de fato, ocorrem, na área da criminalidade, e não é impossível que o incremento de investimentos repressivos e preventivos em uma região promova o deslocamento de agentes envolvidos com práticas criminosas para territórios menos atendidos pela presença e a ação das instituições da segurança pública. Por isso mesmo se fala tanto na necessidade de que a UPP deixe de ser um programa de aplicação limitada e se transforme em uma política pública, para que alcance extensão universal e sustentabilidade. Entretanto, tenho reiterado que essa transformação só será viável se houver uma refundação das polícias fluminenses, para que elas deixem de ser parte do problema e se convertam em parte da solução, pagando salários decentes e se organizando de acordo com as exigências de uma instituição moderna, eficiente, democrática, comprometida com a legalidade constitucional e com os direitos humanos (tanto dos cidadãos-policiais quanto dos cidadãos não-policiais).
    Por outro lado, creio que as migrações em curso no interior do universo criminal sejam menos relevantes, do ponto de vista da segurança pública na região, do que o avanço das milícias, expressão da degradação institucional das polícias.
 O entrevistado e o livro Elite da Tropa 2

3.  A relação da criminalidade com a política é um dos temas do filme Tropa de Elite 2. Entretanto, no livro Elite da Tropa 2 há uma interpretação sobre o “mandonismo urbano” que poucos tem mencionado. Como as forças democráticas devem atuar para enfrentar esse “mandonismo urbano”?
Resposta: O pior de nossa tradição autoritária e patrimonialista, que torna as desigualdades --naturais no capitalismo-- ainda mais agudas, porque as estende para o âmbito dos valores, das emoções, da inter-subjetividade, quer dizer, da cultura, manifesta-se nas práticas correntes das instituições da Justiça criminal, no Rio de Janeiro, a começar pelas polícias. Creio que as forças democráticas deveriam dar mais atenção à questão policial, primeiro degrau (e mais evidente para os mais pobres) do que se costuma denominar desigualdade no acesso à Justiça. Essa desigualdade é tão ou mais trágica do que as demais. Ela começa na abordagem policial --que muda de acordo com a classe social, a região da cidade e a cor da pele do abordado—e termina na decisão judicial e no cumprimento das penas, dentro desse triturador material e espiritual que é o sistema penitenciário. As forças democráticas continuam negligenciando essas questões, a despeito de sua importância social. Essas forças costumam ser muito sensíveis e atentas às questões sociais e econômicas, mas, não raro, subestimam a problemática da segurança pública e da Justiça criminal, das polícias e do sistema penitenciário. Subestimam no sentido de que reduzem sua ação à denúncia, eximindo-se de qualquer engajamento com militância propositiva. Por isso é comum ver essas forças conquistaerem o poder e, uma vez no governo, repetirem as velhas práticas.

4.  O cotidiano das escolas públicas na Zona Oeste está repleto de casos de violência. O recente episódio em Realengo é a exposição da falta de funcionários no controle de portões e nos corredores escolares como sempre denunciou o Sindicato dos Profissionais de Educação (SEPE). Há agressões entre alunos e ameaças de morte de alguns aos profissionais de educação. Brigas entre grupos rivais de escolas diferentes. Queixas da presença de alunos armados em sala de aula. Muitos educadores se afastam da prática escolar por causa da chamada “síndrome do pânico” A cultura da paz cedeu seu espaço a intolerância nos bulings. O que a sociedade poderia fazer para mudar esse quadro que se agrava?

Resposta:  Há muitos problemas no universo escolar. Problemas de todo tipo, inclusive violência entre alunos e contra professores e funcionários. No entanto, não creio que o bullying seja um fenômeno novo. Atualmente, temos olhos para ver, porque nos tornamos capazes de identificar e compreender a gravidade do problema. Antes, tendíamos a considerar naturais essas práticas, o que apenas contribuía para sua reprodução. Também acredito que a tragédia de Realengo não deva ser misturada e diluída no conjunto dos demais problemas, porque apresenta características muito particulares. Quanto a Realengo, o meio de impedir sua reprodução é antes lutar pelo desarmamento do que demandar mais repressão policial ou tecnológica, o que só contribui para um clima de medo, o qual tende a ser combustível para mais preconceitos e mais violência. Mas é claro que inspetores, disciplina, organização e um mínimo de controle são necessários. Sublinho que a pergunta contém a pista do que, certamente, será fundamental: a construção de uma cultura da paz, o que não se faz por mera ação governamental e muito menos com programas policiais ou de reforço de controle por meios tecnológicos. Cultura da paz tem de ser construída com as famílias e as comunidades, inundando o universo escolar com os valores do respeito ao outro e às diferenças. Cada unidade escolar tem de descobrir o melhor meio de envolver famílias e a comunidade em projetos culturais criativos que sensibilizem a imaginação e toquem as emoções positivas das criancas e dos adolescentes, oferecendo-lhes também modelos positivos para identificação. As artes e até mesmo as chamadas artes marciais têm papéis importantes nesse contexto.

5.  Nas eleições de 2010, você colaborou na elaboração do Programa de Governo de Marina Silva (PV) para a Presidência da República. Ela teve segundo lugar nas Zonas Eleitorais da Zona Oeste carioca que muitos analistas atribuem ao eleitorado evangélico, porém o trabalhismo do pré-64 sempre foi predominante nessa região. Há como estabelecer uma interpretação sobre esse fenômeno na localidade onde eleitores votam em lideranças locais clientelistas (voto doméstico) e numa candidata de “terceira via” para a Presidência Nacional?

Resposta: Não saberia responder, porque a pergunta é interessantíssima e bastante complexa e eu não disponho de dados oriundos de pesquisas. Portanto, só posso especular. Tomando a liberdade de fazê-lo, creio que os cidadãos respondem, pelo voto, a diferentes indagações ou provocações, demandas ou desafios. Assim como nós sabemos que nosso condomínio, nossa comunidade, rua ou bairro precisam de ações distintas daquelas necessárias a um país, também estamos dispostos a aceitar distintos arranjos para solucionar questões tão diferentes quanto a política local e os destinos do país. Além do mais, eleições majoritárias seguem lógicas bastante específicas de escolha. Na eleição majoritária nacional, dimensões simbólicas e afetivas, aspectos valorativos e identificatórios jogam papéis especialmente importantes e singulares. Junte-se a isso o fato de que uma escolha faz-se em dois turnos e tanto por exclusão quanto por adesão. Tudo somado, chegamos ao ponto talvez chave: cada candidato passa mais do que mensagens políticas ou éticas, passa também outro tipo de conteúdo, no qual se transmite aquilo que cada ser humano debaixo da máscara de candidato realmente é. Quem consegue passar com mais autenticidade sua verdade –desde que essa verdade seja admirável e se aproxime, positvamente, dos sentimentos mais fundos da população—conquista o voto, mesmo contra limitações de tempo na TV ou de recursos para a campanha. Marina, além de qualquer outra consideração, passou o que ela é: um dos seres humanos mais admiráveis e respeitáveis de nosso país, cuja biografia conta uma das melhores histórias sobre o Brasil recente. Quando a política se despedaça na desconfiança generalizada, no descrédito, no ceticismo feroz, não há como subestimar a força serena e lúcida de Marina, uma mulher da selva que sobreviveu à exploração e emergiu para o mundo público mantendo-se sintonizada com seu passado, mas livre de ressentimentos. Sem prejuízo da qualidade de suas propostas e de sua interpretação equilibrada, crítica e realista, construtiva e inteligível de nosso futuro enquanto nação, em um planeta em risco.
 Antonio Gramsci (1891-1937) 

6.  A Zona Oeste carioca é sempre citada como região onde se define as eleições municipais. Por que as forças democráticas apresentariam dificuldades de se organizarem na região? A Zona Oeste teria um peso semelhante a “Questão Meridional” em Gramsci?

Resposta: Interessantíssima a questão. Vou estudá-la com você. Espero que você a responda para que eu e seus leitores comecemos a refletir melhor sobre esse enigma.

7.       7. Recentemente, você atuou no Secretariado Municipal de Nova Iguaçu na gestão de Lindberg Farias (PT). Um intelectual que atuou com sucesso na Baixada Fluminense. Essa experiência lhe credenciaria a alguma postulação eleitoral?

Resposta: Não postulo nenhuma participação na política eleitoral como candidato. Mas não pretendo continuar participando da política como eleitor e militante. A Zona Oeste precisa de novas lideranças com sua qualidade, sua história, sua visão generosa, includente, sua dedicação, sua integridade. Esses atributos o credendiam a uma postulação eleitoral. Estou à sua disposição para distribuir os santinhos. 

terça-feira, 8 de março de 2011

A Reforma Política no Mundo do Faz de Conta

PARTE UM
Muito estranho que haja um desejo unânime pela reforma política, porém que jamais haja algo realizado concretamente. A reforma política é apresentada nos discursos de parlamentares como “a mãe de todas as reformas”. Não se esclarece de qual seria o filho parido por essa mãe de uma sociedade afastada do debate político nos intervalos de cada eleição. Esse afastamento é herança de uma história onde a cidadania foi regulada ou onde a troca política do assistencialismo é tolerada pelo eleitor das camadas populares.

Estão sedimentando um Mundo do Faz de Conta com a democracia brasileira, pois debatem propostas sem vínculos com a história de nossa sociedade. Observamos um “silencioso” movimento de controle da democracia de massas quando exploram casos particulares nas eleições proporcionais para defesa de um voto majoritário que desequilibra a diversidade política nacional. Questionamos os motivos de uma proposta de “lista fechada” que estaria a serviço de uma “oligarquização partidária”. Portanto, o consenso é um sonho distante em tempos de uma sociedade que se transformou em 23 após a Carta Democrática de 1988.

Na verdade, vivenciamos um momento de realinhamento político das classes sociais diante de um projeto de consolidação do capitalismo brasileiro num cenário mundial. Esse transformismo impõe mudanças no quadro partidário nacional que poderia implodir a “falsa” polarização das vertentes de nossa social-democracia (PSDB X PT) num cenário de emergência de um terceiro pólo político. Contudo, as mudanças graduais seguem sua marcha de acordo com a nossa história política e a reforma política não pode ficar prisioneira de um mundo de faz de conta.

A Reforma Política deve ser instrumento que contribua para fortalecer os canais de uma sociedade que compreenda a representatividade como um instrumento saudável para o debate dos dilemas da economia e da sociedade. Por isso, não defendemos uma reforma como “passe de mágica” apesar de doutrinariamente termos posições que estão além dos pontos que citaremos no próximo artigo. Consideramos importante encontrar algumas propostas que devem circular o debate entre especialistas e parcela da opinião pública. Assim, a dinâmica da velocidade política da reforma deve ser ditada pelo grau de adesão da sociedade ao debate. Se há uma desconfiança da população sobre o tema, devemos mobilizá-la aos poucos com mudanças graduais. Por exemplo, deveríamos partir de uma mudança em que muitos eleitores já sinalizaram seu repúdio que trata-se do “Senador sem Voto”.

Hoje muitos Senadores se afastam de seu mandato para ocupar cargos no Executivo Federal ou Estadual e até Municipal. Os suplentes assumem por anos seguidos um mandato que não foi conquistado no voto o que cria distorção para uma Casa Legislativa importante para a República porque decisões são votadas por políticos que não receberam qualquer voto. Por isso, sugerimos que o Senador seria eleito por 8 anos com apenas um Suplente. Se o titular ficar afastado por mais de dois anos corridos ou alternados (seja qual for o motivo) a sua vaga será declarada aberta para uma eleição suplementar com “mandato tampão” do novo titular. Cassação, renúncia e falecimento implicam na realização da eleição suplementar em até 120 dias.
(Continuamos numa outra Edição)



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Democratas da Esquerda e Máquina Política no Rio de Janeiro


Leonel Brizola criou um mito da vocação oposicionista do Rio de Janeiro com a frase: “O Rio de Janeiro é o tambor do Brasil”. A leitura de Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi de José Murilo de Carvalho é uma interpretação sobre a formação da cultura política carioca que contesta esse mito. O Rio de Janeiro foi esvaziado em sua rebeldia política já nos primeiros anos da República aonde a cidadania foi partida entre cidadãos ativos e inativos.
O Rio de Janeiro da ordem foi cooptando as lideranças políticas locais do mundo da desordem Na falta de uma cultura política classista que deixasse claro a transição da ordem social escravista para a ordem social capitalista, a cultura política carioca desenvolve uma política de trocas de favores entre moradores que convivem no espaço democrático nas praias, no futebol, no samba e, recentemente, nos bailes funk. Porém, essa convivência democrática não aprofundou a organicidade da sociedade carioca.
A convivência do legal e do ilegal custou um alto preço na política carioca, pois inibiu a radicalização democrática no convívio da cidade. Os anos de autoritarismo militar agravaram essa distância entre as massas eleitorais e os grupos políticos democráticos da esquerda. Estado ganhou um grande peso no imaginário do carioca, pois ele é o promotor da assistência social diante da ausência das conquistas por meio de lutas de classe. A despolitização das demandas sociais foi o primeiro passo para a organização de uma ampla rede de Centros Sociais que sustentam políticos sem convicções democráticas claras.
A privatização do Estado aprofundou um processo de “feudalização” política dos territórios da cidade do Rio de Janeiro em benefício de chefias políticas de bairros/sub-bairros. A emergência de novas camadas médias contribui na formação de uma máquina política evangélica que é uma nota a parte desse processo de “maquinização eleitoral” de viés americanizado. Tamanho processo de regulação da cidadania carioca ocorreu sob a hibernização das forças políticas democráticas da esquerda.
O pragmatismo da política “americanizada” contaminou as lideranças da esquerda carioca que emergiu nos anos 80 sob a base sindical dos serviços públicos. Hoje, PT, PSB e PCdoB fazem parte de uma esquerda de “máquina sindical” que se incorporou aos cargos públicos do Governo Estadual e Municipal o que lhe garante parcela significativa do eleitorado sem o compromisso de promover a organização das massas. O PDT transformou-se numa frente política abrigando lideranças fisiológicas/clientelistas, sobras da “máquina sindical” e as sombras do velho trabalhismo carioca. Os ventos dogmáticos do jacobinismo europeu (com forte matriz da ética na política) da antiga classe média carioca alimentam a velha esquerda valorativa mas distante da organização das massas (PSOL, PSTU e PCB).
Afinal, onde estão as forças democráticas da esquerda no Rio de Janeiro? Essa é uma fração da cultura política democrática que se encontra congelada politicamente incapaz de levantar a bandeira do reformismo democrático contra o reformismo conservador. Há um segmento político do eleitorado carioca que está órfão da falta de uma formulação política que deveria ocorrer no PSDB, no PV, no PPS e até no heterogêneo PMDB. Há um segmento de cidadãos que precisam ser organizados na política carioca.
As forças democráticas da esquerda carioca devem estar atentas ao processo de ampliação da cidadania que surgem com as UPP´s. Um novo espaço político pode ser conquistado em territórios que estão distantes do mundo sindical e do mundo partidário. A republicanização da política carioca deve ter forças políticas que pressionem de baixo para cima os agentes públicos do Governo Estadual e Municipal. Por exemplo, as comunidades “libertas” do crime organizado não tem cinemas, teatros, bibliotecas, livrarias, acesso gratuito a INTERNET etc pois a cidadania está a ser construída. A cultura pode ser a ponte política das forças democráticas da esquerda com esse segmento da cidade numa reinvenção da experiência juvenil dos CPC dos anos 60. Esse é o tempo de que o ator político se faça vivo para enfrentar a vitalidade da cooptação da máquina política.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CRÔNICAS FLUMINENSES


O Duelo
Por J.J. Prado Junior
A Eleição da Presidência na ALERJ, caso mantenha as duas candidaturas do PMDB, é uma crônica política com pouco espaço na interpretação dos colunistas políticos. Muitos avaliam que o Governador é decisivo no apoio ao Deputado Estadual Paulo Melo (que vem da liderança do Governo). A história política da ALERJ não deu vitória, até a presente data, para candidaturas oposicionistas e/ou alternativas, o que reforça o favoritismo de Paulo Melo. Entretanto, diante dessa tendência continuísta, o que motiva a candidatura do Deputado Estadual Domingos Brazão?
Recente entrevista do Deputado “alternativo” ao BLOG SENTIDO OESTE não esclarece muita coisa sobre sua fonte política de mobilização para a campanha. Há um compromisso comum ao seu adversário pela independência do Legislativo Estadual em relação ao Governo Estadual. Uma independência normativa se levarmos em consideração o mesmo discurso político do verdadeiro detentor da máquina partidária do PMDB no Rio de Janeiro (Jorge Picciani). Domingos Brazão destaca-se na Entrevista de SENTIDO OESTE pela justificativa da Assistência Social feita por políticos o que lhe conferiria limites na intervenção republicana em favor da mobilização da sociedade por mais verbas públicas na área social.
Não há uma postura em favor de uma atualização da prática política fluminense na entrevista de Domingos Brazão. Uma oportunidade que se desperdiça se desejava uma independência na ALERJ e seu maior contato com a sociedade estaria no silêncio em relação ao Orçamento Participativo no Governo Estadual. Não há um programa de reformismo pela ampliação da democracia diante da raiz da assistência social em sua leitura de ação política. Por isso, assume um espaço de político pragmático e “porta-voz” de outros políticos que estariam à margem da dinâmica da distribuição de cargos de confiança.
Contudo, a “caneta” das nomeações está nas mãos do “padrinho político” de Paulo Melo. Os partidos do campo social-democrata que fazem parte do governo foram contemplados com Secretarias Estaduais que influenciarão nas eleições municipais. Logo, PDT e PT não indicariam interesse em se somar ao “porta-voz” dos ressentidos uma vez que as lideranças políticas desses partidos desejem ocupar a Primeira Secretaria da ALERJ que é gestora de grandes recursos financeiros. O PDT e PT espalham nas suas bases sindicais (formadora de quadros que farão parte na assessoria de seus parlamentares) que a candidatura dissidente é uma luta interna para se “cacifar politicamente”.
Lamentavelmente, a oposição não está atuando de forma unificada. O PR (liderado pelo Deputado Federal eleito Garotinho) declarou apoio ao Domingos Brazão que indicaria uma possível “troca política” nas eleições municipais na região da Grande Jacarepaguá. O DEM e o PSDB não se definiram em relação a tendência de ocupar o espaço da “Centro-Direita”. PPS, PV e PSOL poderiam formular um BLOCO PARLAMENTAR de 7 Deputados em torno de importantes pontos comuns (defesa das reivindicações dos profissionais da educação e da saúde, acompanhamento das obras da Copa e das Olimpíadas fiscalizando os recursos públicos e a sustentabilidade ambiental, criação de uma Comissão Especial para acompanhar os efeitos das mudanças climáticas no Estado do Rio de Janeiro e valorização do profissional de segurança pública com combate as “máfias” milicianas). Entretanto, ainda há muito tempo até o dia do Duelo. Acompanhemos...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Marcha de 30 dias


Até a posse da nova legislatura na Câmara dos Deputados há um longo mês de janeiro pela frente. A festa da posse é garantia de noticiário positivo para o novo Governo, mas, logo em seguida, começam os dilemas de Dilma. Algo indica que eles estejam resolvidos diante do silêncio “cavernoso” que ela adotou nesse período da Transição desde o discurso da vitória. Um respeito a despedida do “lulismo” que se afastará de suas decisões que tendem a desagradar segmentos da população ao contrário do que foram esses 16 anos de “marasmo da política”.
A primeira reunião da Diretoria do Banco Central em janeiro terá a pauta do aumento ou não dos Juros diante dos efeitos da chamada “guerra cambial”. Não há sinais claros de uma política de fortalecimento da Indústria Brasileira, porém verificaremos isso ao longo de 2011. Há um problema não resolvido no mundo sindical diante da suspensão da Greve dos Areoviários para o dia 10 de janeiro, o que medirá o grau de articulação das lideranças sindicais que integram a “máquina governista”. As escolhas do segundo escalão estão adiadas para após as eleições da Presidência da Câmara dos Deputados pois a nova mandatária nacional não pode começar um Governo sem maior peso nas articulações políticas do Congresso Nacional.
Antonio Palocci ganharia força nessa articulação do Congresso Nacional diante de um Ministério sem luz própria com escolhas de quadros políticos já com máculas no uso indevido do dinheiro público. A indicação de Alexandre Padilha no Ministério da Saúde é um lance político importante uma vez que tramita no Congresso Nacional a Emenda Constitucional 29 (maiores recursos para a Saúde) e há sempre a hipótese de uma volta da CPMF.
No meio dessa marcha aparece uma pequena pedra, ou melhor, um “Bloquinho” parlamentar (PSB/PDT/PCdoB/PRB) contemplados com apenas 3 ministérios apesar de reunirem mais deputados que o PT e o PMDB. A possibilidade da candidatura alternativa em torno de Aldo Rabelo (PCdoB-SP) é uma situação que nem a oposição do PSDB e DEM (sempre acusadas de raivosa pelo atual Presidente) apóiam, mas poderá ganhar força nessa marcha de 30 dias em janeiro. Lembremos que os partidos que compõem esse bloco parlamentar controlam segmentos do mundo sindical enquanto o PRB é uma legenda que representa uma parcela da nova classe média de pequenos negócios e vinculada ao petencostalismo. As contradições no interior da base governista indicariam uma polarização entre a aliança camadas dominantes e grupos sindicais burocratizados X novas camadas médias e grupos sindicais periféricos o que aprofundará as contradições na política econômica no futuro governo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Carta aberta sobre “O Poder de Transformação da Leitura”


Dedico a memória de Luiz Ignácio Maranhão Filho

Há tempos um artigo não era muito lido e comentado no BLOG SENTIDO OESTE. “O Poder de Transformação da Leitura” atingiu esse grau de envolvimento com antigos e novos leitores daquele BLOG. Aplaudindo ou questionando, o importante que o ato de ler esse artigo exerce elementos transformadores que alguns críticos apressados não se permitem em analisar. Talvez seja resultado do “adestramento” do viés europeu que percorrem as correntes liberais de nossa esquerda.
Não há motivo de explicar a qualidade do texto, pois sua divulgação pelo twitter feita por Luiz Eduardo Soares é um exemplo que há leitores nas Ciências Sociais que abraçam o sentido político do texto. Esse é um detalhe que podemos observar no título ao usar a palavra “transformação” ao contrário da palavra “revolução”. Há uma inocente proposta reformista que pode empurrar a sociedade brasileira para além dos paradigmas envelhecidos do academicismo. Ventos de um Gramsci juvenil que estava na infância da interpretação da política de sua Itália onde vivia uma Questão Meridional.
No artigo da jovem Carolina Pimentel, um clamor pela Zona Oeste carioca é um dado a ser sublinhado com a chamada em cena do educador Paulo Freire (foto que ilustra esse artigo) - um “intelectual nacional popular” muito conhecido no país e internacionalmente que sensibiliza uma geração do campo democrata da esquerda na região. As raízes católicas de Paulo Freire podem explicar sua fácil inserção na construção do argumento da autora, o que surpreende na “orfandade” da “esquerda de matriz cristã” na região. Há um convite a análise da conjuntura política na passagem “(...)Paulo Freire, educador do século XX diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” , é essa a ideia.
Uma idéia que críticos e simpáticos ao artigo não perceberam sua força mas sabemos que é uma transformação criar uma juventude que tenha costume na leitura de opiniões. Maior é atingir o desafio de criar autores na faixa da juventude numa cultura política rarefeita de organicidade. A reinvenção de uma cultura democrática da esquerda é heterodoxa se assumirmos a citação de Vargas Llosa feita no artigo, pois os “esquerdistas de plantão” veriam nessa passagem uma capitulação a ideologia dominante neoliberal do autor de Lituma nos Andes. Entretanto, o jovem Llosa formou-se numa cultura política avessa ao militarismo e a falta de democracia, o que tem seu paralelo, nas devidas proporções, com as ameaças de um despotismo da maioria sob controle político das classes dominantes da Zona Oeste carioca. Enfim, o artigo é uma aposta de novos sentidos para a organização da juventude nessa localidade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“A Revolução de 30” no PT


A crise da República Velha (1889-1930) teve uma oposição que nasceu pela atuação de grupos políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Eles se somaram a uma dissidência “liberal” paulista e aos dissidentes nordestinos. Tamanha coincidência ocorreu essa semana na “seara do petismo”. Essa pode fazer parte de uma “peça” na luta pela Presidência da Câmara dos Deputados após o “terremoto de desgaste” do reajuste de mais de 62% nos salários. Fala-se em revanchismo do “Bloco” e numa candidatura avulsa do chamado Bloco da Esquerda (PSB-PDT-PCdoB-PRB) com a volta de Aldo Rabelo (PCdoB-SP) apoiado pela “Bancada Ruralista”. Não se espantem diante dessa última informação que reatualiza as críticas de Caio Prado Junior a uma vertente de nossa esquerda.
A futura bancada de Deputados Federais do Partido dos Trabalhadores esteve reunida no dia 14 de dezembro para deliberar quem seria o indicado do partido às eleições da Presidência da Câmara dos Deputados. A surpresa foi a escolha de Marco Maia que é Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul. Sua surpreendente vitória foi “desenhada” quando o postulante Arlindo Chinaglia (PT-SP) renunciou a disputa e declarou apoio ao petista gaucho que contava com apoio de deputados mineiros e nordestinos.
A imprensa invocou uma luta contra o “paulistério” na indicação ministerial. Segundo alguns analistas há uma lógica de luta política interna. Sustentam essa explicação na federação de grupos políticos que estão no interior do PT, porém não podemos esquecer o peso do pensamento político gaucho na história republicana. Na República, a Câmara dos Deputados foi presidida por apenas três Deputados Federais (Flores da Cunha nos anos 50; Nelson Marchesan na Ditadura Militar e Ibsen Pinheiro no início dos anos 90). Se forem aprofundar as pesquisas, verificarão que foram políticos que estiveram em momentos críticos da nossa história republicana.
Se nascer como uma questão interna, nada fará que a política se mova pela lógica do petismo na indicação do gaucho Marco Maia para a disputa a Câmara de Deputados. Há uma tendência de uma presença maior de uma interpretação do mundo do direito nessa indicação pela atuação do Deputado na Comissão de Direitos Humanos e o apoio recebido do ex-ministro da Justiça Tarso Genro (RS) e do indicado Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso (SP).
Tarso Genro e José Eduardo fazem parte da corrente Mensagem ao PT, mas representariam uma leitura “bobbiana” do pensamento de Gramsci no campo da social-democracia ainda presente no petismo. Entretanto, são filhos do direito com a herança do positivismo brasileiro, ou seja, o petismo seria uma fase na harmonização da sociedade brasileira. Enfim, há muito de superestrutura política nessa indicação como se fosse a busca por uma “dualidade de poderes” se desenhando no futuro núcleo do futuro governo medindo forças o grupo pragmático de Palocci e o grupo de princípios de José Eduardo Cardoso/Tarso Genro e outros. Temos certeza de que é o começo de algumas turbulências na política do Governo pós-Lula ou prenúncio de uma Revolução feita por cima na estrutura do partido.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CARTAS DE UM NOVO ABOLICIONISMO


Temas sobre o Conformismo
Por Joaquim Ocuban
Uma rápida leitura nas anotações de Antonio Gramsci sobre o “conformismo” nos Cadernos do Cárcere permite atuar nesse mundo de despolitização. O estudo da filosofia da práxis era o método de intervenção política do dirigente comunista italiano em tempos de fascismo. Em primeiro lugar, ele ressalta que fazemos parte de um senso comum apropriado a sermos conformados com pensamentos de longa data. Sua crítica estaria na sedimentação passiva desses elementos opinativos do passado. A formação de um sentimento de conformismo social poderia ser um registro da sociedade de massas. Estamos percebendo que há aqui um bom tema de filosofia política para interpretar gerações formadas coletivamente por um processo educativo em déficit com o elemento crítico.
A intervenção humana é importante nesse sentido para que teses conformistas sejam questionadas em seu conteúdo conservador ou mitificador. Os mitos são fáceis de se proliferar diante do medo do Leviatã que a sociedade sofre nos grandes centros urbanos. A legalidade e a institucionalidade estão em segundo plano diante de uma formação conformista que está na base da luta cotidiana pela sobrevivência do ser humano.
Entretanto, essa postura fortalece a dinâmica de grupos a serviço de uma acumulação selvagem de riqueza que rotiniza ações violentas e o afastamento dos mais pobres da participação política. A herança maldita do conformismo pode se expressar no individualismo e/ou na falta de ações coletivas. Para além disso, muitos expressam um discurso anti-democrático sem se dar conta. Vejamos o exemplo do questionamento dos direitos humanos para os “apenados” entre os mais pobres que são manipulados pelos meios de comunicação de massas. Não percebem que os direitos humanos é uma luta para toda a sociedade e que implica na libertação de outras prisões. A prisão do assistencilismo, a prisão do voto como sistema de troca de favores, a prisão do medo de grupos para-militares que atuam como novas GESTAPO privatizadas como observamos em Tropa de Elite 2. Um filme que representa uma aula sobre o “mercado do voto” para milhões de jovens que pediam um Capitão Nascimento do Apocalipse do tráfico. Um professor ganha importância no enredo dessa trama contra o conformismo.
Diante dos fatos recentes na política carioca, nada justifica viver um mundo das trevas em pleno século XXI. Isso implica em convidar os leitores a serem reflexivos em suas ações. E, mais importante, não deixar de agir por mudanças mesmo que moleculares. Um pouco mais de democracia é saudável na sociedade brasileira. Um pouco mais de cultura política pela ampliação da democracia. Nesse momento, verificamos que a educação tem um papel importante na competição com as forças do conformismo. Os professores são pequenos intelectuais a serem disputados pelas forças democráticas, porém uma categoria que está na prisão do economicismo salarial também pode conviver com seus fantasmas conformistas. Por isso, um movimento juvenil é necessário que suplante esses limites para enfrentar uma visão gerencial e economicista da educação brasileira. Educação como formação de trabalhadores e jovens críticos é nossa proposta diante de todas essas propostas educacionais de massificação do ensino conformista.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A "mosca azul" carioca

Do esgoto sem tratamento do Complexo Alemão há a hipótese de uma rota de fuga de centenas de traficantes do Comando Vermelho. Algo, que se confirmado, demonstra os elementos surreais do cotidiano carioca. Nem o Capitão Nascimento poderia imaginar tamanho infortúnio numa operação policial. Entretanto, os lances do acaso na política que são variados e nem sempre eles são bem sucedidos, pois uma “mosca azul” do citado esgoto deve ter pousado na mesa do Governador do Rio de Janeiro. Os ventos da “fantástica” derrota do crime organizado (com grande silêncio da mídia sobre “jogo do bicho”, “lavagem de dinheiro”, “prostituição infantil”, “grupos paramilitares, etc.) sinalizariam para um projeto político muito maior para o reeleito governante do Rio de Janeiro. Diante das incertezas sucessórias de 2014 quanto os passos políticos do atual Presidente em fim de mandato, nada impediria a função de “Coringa” na vaga da Vice-presidência como ponte para outros vôos políticos. Do Jaburu ao Planalto há uma longa caminhada. Do Palácio da Guanabara até o Palácio Jaburu há um caminho que se constrói desde sempre apostando nos índices da “fortuna” ao seu favor.

Assim, o encontro de Sérgio Cabral Filho com a Presidente Eleita Dilma foi muito mais do que um diálogo sobre pontos operacionais da Operação Militar na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Seu apoio político atinge índices superiores a 85%, o que se assemelha a aprovação dos Republicanos norte-americanos na intervenção militar no Afeganistão e no Iraque. Diante dos bombardeios da mídia, a economia norte-americana caminhava para uma crise. Hoje a “mosca azul” do Governador não lhe fez impedir a derrota na votação da Partilha dos Royalties. As manchetes da imprensa em silêncio sobre esse revés do Pré-Sal. Afinal, o governador negociava seu futuro político com a inoportuna indicação de Sergio Cortes ao Ministério da Saúde. A saúde mereceria um nome com exemplos de conquistas na rede pública de saúde, porém a lotação dos hospitais estaduais não representam uma luta contra o “crime organizado” da máfia da saúde.

Tudo caminhava para uma indicação a ser confirmada, pois a oposição fluminense ao Governador do Rio de Janeiro passa por um discurso evasivo e contraditório diante de uma disputa na ALERJ que se dará entre os quadros do PMDB estadual. Enfim, a “mosca azul” já teria condições de bater suas asas e começar seus possíveis vôos na provável captação de recursos políticos e financeiros para lançar Sergio Cabral Filho ao cenário político nacional. Contudo, a raposa da política não se deixa levar pela sorte e impõe que todo movimento político no PMDB deve seguir um rito como nos velhos tempos do PSD do pré-1964. Uma reunião da bancada de Deputados Federais do partido de Michel Temer definiu que a “cota” da Saúde, caso seja confirmada, seria a cota pessoal da Presidente Eleita. Recuos e delimitações. O governador recebeu o recado de não deixar seus desejos eleitorais irem além sem “beijar a mão” das raposas. Uma lição de política para aqueles que julgam incapazes de fazer oposição ao “neochaguismo”.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Raposa e os Ministérios

Novidade em relação ao próximo governo é a atuação do futuro Vice-presidente Michel Temer nas articulações políticas pela composição do novo Ministério. A cada citação do Deputado Federal Michel Temer (PMDB-SP) na imprensa, muitos começam a sentir saudades do atual Vice-presidente (José Alencar) e do Senador Marco Maciel (DEM-PE) quando Vice-Presidente no antigo PFL na gestão de FHC. Entretanto, o atual Presidente nacional do PMDB representa o momento de maior aproximação desse Partido no Executivo nacional desde 1990. Nos últimos 20 anos, sucessivas derrotas e divisões marcaram a história eleitoral desse partido. A vitória da coligação governista trouxe a novidade do PMDB como aliado vitorioso e decisivo na vitória de Dilma em muitos estados da federação. Aos poucos, o Vice-Presidente eleito lembra aos analistas que carisma é importante mas que se vota em partidos políticos, ou seja, a coligação governista teria se beneficiado de palanques regionais "costurados" pelo PMDB. Muitos comparam essa pressão a atitude de Ulisses Guimarães em relação a José Sarney na Constituinte. Sarney reagiu estimulando a criação do "Centrão" para equilibrar o jogo mudancista. Hoje, o BLOCO PMDB-PP-PR-PTB-PSC é uma demonstração que viveremos os quatro anos mais propícios aos experts da política. Não se pode imaginar que o "lulismo" se mantenha sem uma reação pelo movimento social o que implica em futuros e saudáveis debates políticos. As contradições do no campo governista devem ser acompanhadas de perto diante da necessidade de temas polêmicos: 1) Reforma Política - não vai adiante com esse "blocão"; 2) Reforma Tributária - só com adesão da sociedade e 3) Reforma social - não haveria muito mais que aprimorar os programas sociais já existentes. As "raposas da política" desejam as uvas dos investimentos públicos voltados para a Copa de 2014 e Olimpíadas 2016. Muito dinheiro público em circulação. Muita influência política em jogo enquanto a sociedade "patina" na luta pela transparência democrática dos gastos públicos. O chamado "Blocão" coloca na "sinuca política" os pleitos do aliado mais à esquerda do governismo que é o PSB. Observamos um silêncio nas citações de Ciro Gomes na imprensa e o governador reeleito de Pernambuco deverá demonstrar capacidade de reação política. Enquanto isso, a cooptação do Deputado Michel Temer age no campo político da oposição com diálogos com o Presidente Regional do DEM-SP que pode resultar numa mudança partidária do mesmo e seu "grupo político" numa possível "janela na fidelidade partidária. Todavia, uma reação da sociedade pode vir na defesa da Reforma Política através de um movimento semelhante a luta pela Lei do Ficha Limpa. Por isso, é necessário a existência de uma oposição avançada na defesa da radicalidade democrática.

domingo, 7 de novembro de 2010

TROPA DE ELITE 2 - Comentário Final

VOTO POSITIVO publica a conclusão do artigo sobre o filme Tropa de Elite 2 de autoria de Pablo Spinelli. O leitor que não leu a primeira parte pode faze-lo acessando em seguida as duas postagens após essa.


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Voto e Sangue em Tropa de Elite 2: “Como podemos salvar nossas maçãs?”
(Conclusão)
Por Pablo Spinelli

O filme tem algumas lacunas. A principal é que não diz com clareza que não é apenas a comunidade que inicialmente aplaude a entrada da milícia que “a livra” do tráfico. Há uma parcela significativa da população que torce pela milícia, a mesma que foi “esculachada” por Nascimento – a classe média. Esse anti-herói que não deveria ser amado mas,  pela força do carisma do seu intérprete e da construção (bem mais madura que no primeiro TE) do personagem. Embrutecido pela corporação que o formou, forjado pela política do bandido e mocinho que predominou na Segurança Pública, Nascimento, nesse seu papo de botequim, nos revela uma visão multifacetada e com ela formamos a nossa. A sociedade é ambígua. O mocinho pode ser vilão, o vilão virar mocinho. Exemplo disso são as palmas que Nascimento recebe da população num restaurante de classe média alta – é o único momento em que há a crítica à postura de setores da classe média carioca que apóiam a repressão, a menoridade para infratores, a pena de morte, após ter supostamente comandado a execução de bandidos em Bangu I.
Não é por acaso que Nascimento é o nome desse personagem. Devemos pensar em que tipo de segurança e ordem pública queremos que nasça em nossa sociedade. Além disso, o sobrevôo de Brasília feita por uma câmera que nos aponta o cerne do problema – a desvirtuação da POLÍTICA, das ações republicanas -, tem como objetivo dizer que o problema é o SISTEMA, como nos antigos filmes políticos de Hollywood nos anos 1970. O sistema aqui pode ser o clientelismo político – o que abre para um TE 3 questionar as ações de Centro Sociais em regiões carentes de atendimento do Estado como a Zona Oeste e Baixada Fluminense – onde a corrupção é dos dois lados. Pode ser também o sistema da mídia que apela para apresentadores “fanfarrões” que colocam na cabeça do espectador as forças do “bem” contra as forças do “mal” (o candidato que apostou nessa dicotomia recentemente se deu muito mal).
Acreditamos que a população fluminense sofreu e absorveu criticamente o impacto do filme e mostrou isso nessas eleições do Rio de Janeiro. Nesta houve a presença do Prefeito há época de muitos daqueles acontecimentos do filme que classificaria a milícia como um “mal menor”. Foi desbancado por um candidato vindo da Baixada Fluminense que se coligou com o governo das UPPs.
Vale ressaltar que o filme coloca de maneira subliminar o futuro das UPPs. Caso esse “sistema” permaneça apodrecido e vulnerável, pelo seu hermetismo, aos ataques de interesses e ações nada republicanas, a UPP de hoje – idéia original com eventuais modificações de um dos autores do livro “Elite da Tropa”, que deu origem ao primeiro filme, o sociólogo e, não por acaso, ex-secretário de segurança, Luis Eduardo Soares que foi demitido através da mídia pelo então governador Anthony Garotinho - pode virar a milícia de amanhã. Devemos salvar essas jovens maçãs.