A
Questão da Juventude
Para minha filha
Frida: que nunca se cale!
Por Vagner Gomes
de Souza
A imprensa alinhada ao
posicionamento liberal, como O Estado de São Paulo, tem feito um esforço para
empreender uma análise mais smithiana a questão da juventude no Brasil. O
arauto do pensamento da grande burguesia paulista deve ter noção do quanto o
segmento juvenil 15 – 29 anos serão fundamentais para uma possível mudança do
cenário político nas próximas eleições. A questão da juventude poderia
realinhar as forças de um centro liberal em favor de uma candidatura mais
competitiva uma vez que o “voto de fúria” no atual Presidente em 2018 não
trouxe ganhos políticos, sociais ou existenciais. Portanto, é importante acompanhar
os editoriais desse diário sobre o tema uma vez que há uma “crise” na formação
de novos quadros na faixa mencionada. A demanda liberal da juventude é
facilmente “capturada” nas linhas dos Editoriais. A ideia de mercado é
hegemônica até nas mentalidades daqueles que se pronunciam como “esquerdistas”,
porém manifestam seu livre direito de manifestação de suas ações individuais
num terreno imaginário em “coletivo”. As demandas dos jovens trabalhadores
estão ausentes uma vez que o impacto do desemprego é mais grave nesse segmento
e muitos sonham com o “neoludismo” que seria tentar desprecarizar um mercado de
trabalho já estruturalmente se consolidando na automação e digitalização. Mais
Inteligência Articial e menos empregos para a juventude num momento em que o
mundo sindical assume um perfil do último baile de Terceira Idade.
Vamos começar em ordem
cronológica aos comentários sobre três Editorias do porta-voz da Faria de Lima
como alguns dizem. No dia 9 de junho foi publicado “Fuga de Cérebros” que faz
uma abordagem sobre a situação dos “jovens altamente qualificados que buscam no
exterior, especialmente em países que mantêm programas de atração de talentos,
postos de trabalho que não conseguem ter no Brasil.” Em suas linhas, o problema
é apresentado sempre preservando a gestão da economia em “cortar gastos
públicos”. A redução de 87% nas bolsas de Doutorado e Pós-Doutorado é atribuída
ao “negacionismo”, mas esse seria a manifestação da imposição de um programa
que continua defendendo o “Teto de Gastos”. A gestão desastrosa precisa ser mais
bem atribuída tanto ao ultraliberalismo do Ministro da Economia quanto a
omissão do Ministro da Educação. Os números de “Fuga de Cérebros” são
assustadores, mas também ficamos assustados com o silêncio nessa atribuição de
responsabilidade. Além disso, não outra forma de manter essa mão de obra
qualificada em C&T sem a ampliação dos gastos públicos nas Universidades
que foram colocadas à deriva por um Ministro da Educação que “aparelhou” o MEC
para um segmento religioso empreendedor na educação. No lugar da palavra “genocídio”
deveria voltar ganhar força nos debates da juventude a palavra “exploração”,
pois formamos uma juventude praticamente condenada a ser “exército de reserva”
do mercado de trabalho no infinito.
No dia 12 de junho, “Retrato
da Juventude Brasileira” faz uma abordagem do o levantamento da FGV Social
Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas. Numa base de
50 milhões de brasileiros é muito estranha a falência das juventudes
partidárias na mobilização desse potencial político. E o sucesso dos YouTubers
como formadores de opinião deslocou em muito os índices de ativismo a partir do
que se leu. O Retrato dessa geração já se expõe na frase: “EU VI NUM VÍDEO QUE....”
Diferente de décadas no passado que fazia-se a frase: “EU LI NO JORNAL OU NO
LIVRO QUE...”. Uma mudança na antropologia de uma juventude que se diz mais
insatisfeita. Onde estão as organizações da Juventude? Alguns diriam que
estimulando o “Parque das Diversões” do ativismo com fortes graus de
aprisionamento aos domínios do mercado até em níveis existenciais. O ator
político é um incômodo para uma geração que sofre a “coletivização” de Hayke
com se fosse bandeiras libertárias. O Editorial destaca o empobrecimento da
juventude sem essas nuances da política. Simplesmente o ingrediente da
preocupação não estaria formando uma Frente Democrática na juventude, mas a
deixando a deriva sob perigosas influências. “(...)O levantamento mostra que o
jovem brasileiro confia menos nas instituições do que a média mundial.(...)”.
Contudo, observamos a
grande preocupação do órgão oficial da Avenida Brigadeiro Faria nessa passagem:
“O fenômeno é global. Até 2060, o porcentual de jovens deve diminuir 95% no
mundo. Isso significa menos força de trabalho e mais gastos com saúde e
previdência. O Brasil precisa pensar agora em políticas para lidar com essa
transição. Os gastos com educação devem diminuir, mas o sistema previdenciário
precisará de reformas periódicas.” Nada sobre a geração de empregos ou sobre o
entendimento que a política social poderia ser aprofundada sem receios com os
gastos públicos. A transição demográfica para o envelhecimento da população
seria uma fatalidade para alimentar novas reformas. Mas para não dizerem que
lemos apensa pontos negativos, concordamos que o otimismo da vontade da
juventude de fato precisa se expressar na necessidade de colocar esses jovens
na vida pública. Uma tarefa que muito motivou um pensador sardo antes do advento
do fascismo na Itália.
Agora, encerremos nossa
breve resenha sobre esse olhar da questão da juventude pelo viés da burguesia
de São Paulo ao comentar “O País que Queremos Ser”, de 28 de junho. Esse seria
a terceira parte desse esforço programático sobre o tema, que chama a atenção
para uma juventude se afastando do país. Não seria esse um jornal crítico do Estado
Nacional? Então, a ideia de jovem do Brasil convive com o desalento da linha
editorial do jornal, pois não reconhece os limites do liberalismo em tempos de
pós-pandemia. Não se espanta que estejamos com jovens que não acreditam no
progresso através do trabalho num momento em que as sequelas da Reforma
Trabalhista se expõem no cotidiano. Redução na cobertura de direitos sociais
poderia estar nessa resposta da juventude. Outro momento que nos obriga a
chamar a atenção para a ausência dos atores políticos.
Se a insatisfação com o
Governo Federal é elevada na juventude, o sentido da responsabilidade das atividade políticas devem
se fazer presente para superar um universo de individualização nas
manifestações de rua. O Palanque dos Discursos políticos cederam espaço para os
cartazes nas mãos dos indivíduos. O que está se formando politicamente com essa
dinâmica? A questão da juventude precisa ocupar os programas formando palanques
que reintroduzam a política com “P” maiúsculo. Afinal, teremos uma longa
transição pela frente. O desafio é que os cartazes nas mãos dos jovens virem um
debate programático. Para isso leitura e escrita se faz fundamental para essa
geração dos caracteres do Twitter. O desafio é muito maior para o campo
democrático, pois requer incomodar uma sensação da política como resultados
eleitorais e espaços conquistados. Há muitos jovens afundando no Titanic Brasil
sem a boia da política que seria o papel do “ator”.
7 comentários:
Muito interessante a preocupação abordada com o impacto dos ultimos anos de política na vida dos jovens. Acho que texto com uma escrita mais simples poderia ser mais eficiente em alcançar público já que muitos não compreenderiam certas passagens. Gostei que não apresenta respostas sólidas para o problema e apresenta o texto com algumas informações com intuito de gerar a discussão e dentro do possível levar esta discussão para fora da página. OBS:existem alguns breves erros de digitação no texto, nada que prejudique. Parabéns pelo texto.
É triste ver esse desmonte do ensino superior, dessa forma ao longo prazo será visto uma desigualdade maior.
Bom, Comentário. Imagino que temos neste momento, desafios e necessidades ainda maiores, reverter um quadro pintado pela genial e excludente burguesia, que também encontra em um acumulo de bens, e capitais. Mais só isso não vai garantir, sua existência.
Pois o conhecimento e novas idéias serão obrigatório para que possam continuar com protagonismo, cada vez mais verticalizado.Na referida sugestão de jovens, ainda é predominante a mensagem vindo de seus cordões umbilicais, pois uma pessoa só pode ser reconhecida, pela consideração sócio cultural e sócio econômica. Privilégio do nepotismo e agregados ao estado burguês que odeia comunismo e/ou socialismo? Uma retórica que enjoa, pois, sabemos quem paga a conta, porém está na hora da revelação de fatos, cujo estado democratico é aquele que garante tanto ao pobre, quanto ao rico, pois uma sociedade civilizada deve reconhecer o direito alheio, como o seu próprio, mais apropriar indevidamente é dominação de má fé. Narrativa deve ser desconstruída no debate que devem ser de diálogos e não repressão, de tipos comuns que viram na política uma oportunidade de fazer negócio e não de enfrentar demanda de seus sócios (povo) que a séculos vemos os mais pobres pagarem para os mais ricos, bolsas escolas, beneficios de toda ordem, auxílios de valores altos e muita mordomia, para quem já recebe muito. Punir os jovens com estado excludente e policial é um erro, pois não é idéia de quem sabe quem recebe e quem paga.
Muito interessante a forma como foi abordado o atraso a excludente burguesia e o Estado em sua inércia quando o tema é o ensino superior. É hora de tornar claro que a democracia é garantista dos direitos de todos.
Muito verdade tudo o que foi abordado, precisamos sim cooptar essa juventude com objetivos certeiros.
Concordo com um comentário acima de que a linguagem poderia ser um pouco menos rebuscada, até para que seja mais compreendida.
Parabéns.
Parabéns, perfeito 👏🏽👏🏽👏🏽
Excelente!Parabéns pelo tema.
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