Eric
Hobsbawm: uma vida pela Frente Democrática no Rio
Por Vagner Gomes de Souza
Em memória do professor e amigo Ricardo Oliveira que me chamava carinhosamente de "Hobsbawm do Jeannette".
Um historiador que foi
sucesso de vendas de livros no Brasil, mas provavelmente o grande público o
conhece por “terceiras” leituras e interpretações. A tradutibilidade de Eric
Hobsbawm do mundo acadêmico para o leitor médio brasileiro o “enquadrou” sob as
lentes de um marxismo reducionista próximo ao perfil nacional-popular. Portanto,
ainda temos um Hobsbawm desconhecido e que incomoda uma “esquerda acadêmica”.
Mencionam leituras de Pierre Bourdieu, Michel Foucault e criam um imaginário E.
P. Thompson para “devorar” a Grande Política nesse grande pensador inglês. Na
sequência, o autor de Ecos da Marselhesa não
encontra eco na prática da política diante de teias de debates inorgânicos.
Sua profissão de fé pela Frente Única contra o fascismo e todas as mazelas do mundo pós-moderno que emergiu após a “Era dos Extremos”. De herdeiro da cultura política do “antifascismo”, se transformou num pensador de movimentos sociais. Menos República e Democracia e muito mais a análise do banditismo social. O público brasileiro provavelmente se encanta com a erudição do autor inglês, mas reage a sua política denunciadora dos erros sectários nas posturas de uma Esquerda incomodada com os atributos populares. As “luzes” só partem da Zona Sul carioca diante das “trevas” desconhecidas numa “Baixada Fluminense”. Assim, não se aplica as consequências políticas de seus estudos da questão que aproxima os bandidos do poder.
Os juízos da política no
“tribunal da História”, que Marc Bloch muito bem condenou, faz um “curto
circuito” na formação de dirigentes da política. Por exemplo, na contracapa do livro de Era dos Extremos (1995) temos os breves comentários de William
Waack, Perry Anderson e Elio Gaspari. Essa tríade poderia ser muito improvável
para aqueles que não entendem a postura da política “frentista” nos dias
atuais. Todavia, o ser político de uma obra transcende as gerações e as linhas
da reflexão política. Imaginemos que há os desavisados que “cancelariam” um
comunista inglês pela sua proximidade com o atual jornalista da CNN. Por outro
lado, em sua melhor biografia, lançada e também não lida no Brasil, Eric Hobsbawm: Uma vida na história,
Richard J. Evans comenta sobre o encontro Hobsbawm e Boris John Johnson que fez
questão de lhe demonstrar ser um leitor devorador de seus livros (outra
possível explicação para suas atitudes sobre a Pandemia da COVID 19 após sua
internação).
Na biografia citada
acima, há um reencontro entre dois ex-presidentes do Brasil. Fernando Henrique
Cardoso atribui a Hobsbawm a característica de ser uma pessoa simples e
encantadora. “Era um erudito que dava relevo ao essencial e sabia escrever.”
Enquanto, o ex-Presidente Lula escreveu uma breve apresentação que anteciparia
um convite para um certo Geraldo. Algo semelhante observamos nas linhas da
manifestação pública de FHC sobre as eleições de 2 de outubro. Temos condições
em reverenciar nas urnas os ensinamentos do autor de Rebeldes Primitivos.
Entretanto, não se ler
Hobsbawm com um apuro na política de Frente é o que entrava até alguns
historiadores no mundo da política no Estado do Rio de Janeiro numa sinuca
diante da inversão dos “rebeldes primitivos”. Se transformaram em “primitivos
rebeldes” ao reagirem a ampliação do diálogo frentista com as forças do atraso.
O historiador inglês muito bem soube lidar com os ensinamentos do O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte, as
máscaras que encobrem os personagens numa conjuntura e suas devidas
consequências. Assim, alimenta um “lavajatismo” da
esquerda muito presente no Rio de Janeiro com base numa região política que
sempre votou na UDN até o golpe de 1964.
Assim, o Rio de Janeiro
necessita muito de um encontro para pensar e refletir sobre as ideias de Eric
Hobsbawm, pois nosso pensamento ilustrado francês althuseriano na esquerda
carioca se fragmentou numa diversidade de ideias fora do lugar em derivas de
muitas ideologias soberanas e/ou soberbas do eu. Seria necessário um reencontro
com a Grande Política que elegeu Negrão de Lima ou que fez nascer a Frente
Ampla (Jango, JK, Lacerda), levou o “Amaralismo” a se abrigar no MDB e colocou
numa mesma mesa dois adversários de Segundo Turno das eleições de 1992 (César
Maia e Benedita da Silva). Ainda há tempo para que o ensinamento do historiador
inglês se faça na história fluminense mesmo que não seja na “pureza” que muitos julgam defender.
Valeu pela análise e a dica de leitura!
ResponderExcluirObrigado, Vagner, por seu extraordinário texto! Abraço!
ResponderExcluirPelo que vi do debate ontem, descobri que alguns colegas da UFF não leram Hobsbawm. O candidato à reeleição falou de estrutura. O historiador optou pelo lacerdismo chic exposto acima. As inconsequência dos atores recaem sobre a população. Parabéns pela sua resistência na Frente.
ResponderExcluirAmei ter sido dedicado a nosso querido Professor Ricardo! Também enfatizar sua ótima analogia narrativa ao Hobsbawm, recomendo esta leitura.
ResponderExcluir