Uma História de Amor com Política ou Política com Amor
Em memória de Vladimir
Ilyich Ulianov (1970-1924)
Por Vagner Gomes
de Souza
“Ter a impressão
de estar sempre no
Ponto de partida
E fechar a porta
para deixar o mundo
Fora do quarto
Considerar que
você é a razão pela qual eu
Vivo”
Trecho traduzido
de “Sono Solo Parole”
Noemi
Lenin disse certa vez
que o comunismo seria a eletrificação de todo o país. Eis que essa inspiração
está presente no filme O Melhor está Por Vir (a tradução literal do italiano
seria “O Sol do Futuro”) do italiano Nanni Moretti que muito bem celebra seus
50 anos de carreira como Diretor, Ator e Produtor.
Aos 20 anos, Moretti
estreava um filme em super 8. O filme se chama “La sconfita” e fala sobre um
militante do paradigmático ano de 1968. Esse seria talvez a marca desse intelectual
da sétima arte com sua forte ligação na política italiana e mundial. O peso de
68 fez do humor de Moretti um pouco afeito as leituras um pouco sectárias as
conciliações. Sugerimos que assistam
“Caro Diário” (1993) que tem um pouco de autobiografia na sua luta contra o
câncer e lhe conferiu a premiação de Melhor Direção no Festival de Cannes.
Entretanto, desde o surgimento de Silvio Berlusconi ele intensifica sua
atividade cinematográfica como busca de resistência. Todavia, essa seria outra
história e voltemos a falar de “O melhor está por vir”.
Na abertura, o título
nasce de uma pichação como se fosse o famoso cumprimento de “tarefa” dos
militantes comunistas. Na sequência, apresenta-se o “filme” dentro do filme
aonde há a cerimônia da chegada da luz num bairro italiano na apresentação de
Ennio como dirigente local do Partido Comunista Italiano. Eis que se descobre que
o comunismo, como força dos movimentos reais, se preocupava em resolver os
problemas dos mais necessitados. O Diretor Giovanni seria esse mesmo dirigente
numa construção de roteiro de espelho uma vez que ambos poderiam estar a
caminho de um abismo diante das dificuldades que enfrentam. Ennio diante de uma
apresentação circense de búlgaros no ano de 1956 (ano da intervenção soviética
na Bulgária). Giovanni no desafio de fazer um filme que achava ser político,
mas, a todo o momento, a vida o fazia se encontrar com as amarguras e só o Amor
poderia lhe fazer continuar.
Apesar de Ennio e
Giovanni serem os protagonistas, as mulheres emerge como aquelas que apresentam
as soluções aos problemas que surgem desde o seja para 1956 quanto para a
finalização do filme pela via asiática numa referência aos novos caminhos do
mercado cinematográfico. Paola e Vera são personagens necessárias aos
dirigentes uma vez que a vida se constrói sempre nas contradições. Não se pode
temer a vivência da experiência, pois nem tudo está acabado. Um filme que se
pensa a partir de seu final pode renascer com outro amanhã.
Fujamos dos atalhos
daqueles que leem o filme na chave da nostalgia. Tudo é uma declaração de Amor
amadurecido e com amadurecimento. E a cada grito de “Ação” nos aparece uma
canção. Moretti nos faz outra vez lembrar a importância da música no cinema. A
filha de Giovanni é música e estaria a compor a trilha de seu filme. Uma
crítica a aqueles que o debate seria o uso da inteligência artificial nas
produções. A vitória da música como numa cena de dança de todos envolvidos na
produção do filme. O mesmo se observa na cena do coral de “Sono solo parole”
como se fosse o momento de se dar início as movimentações da sociedade e também
do coração: “Esperar que amanhã chegue depressa e que / Desapareça cada pensamento”.
Moretti não parece
fazer um distanciamento de suas convicções de juventude, porém está muito
aberto a ouvir os conselhos que o tempo lhe impõe. Assim, um filme que nos
aquece com seu final que reúne elenco e alguns atores que se destacaram em
outros filmes de Nanni Moretti. Seria o reencontro com uma trilha, pois “as
batalhas que valem a pena são aquelas que à partida estão perdidas”, como ele
gosta de pontuar.
Bom texto.
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