Olhai
o “chuchu” no campo
Por Vagner Gomes
de Souza
A história da
reconciliação está muito próxima aos princípios do cristianismo anunciados no “Sermão
da Montanha” nos quais muitos atribuem o título “Olhai os Lírios do Campo”. Nos
anos 30, Érico Veríssimo escreveu um livro em que Olhai os Lírios do Campo atribui ao personagem Eugênio a tensão
entre a ambição e a consciência de uma aliança social. A ascensão das camadas
sociais deveriam ter “atalhos” numa década posterior a crise de 1929 ou bem
aventurados seriam os pobres na Era Vargas.
O Estado Novo (1930 –
1945) foi um período de construção de uma nacionalidade pela via de um programa
que se distanciou da possibilidade democrática após 1937 com apoio da grande
oficialidade das FFAA (Forças Armadas). Esse eixo programático constitui está
no subconsciente da sociedade brasileira na sua formação como Nação. Getúlio
Vargas foi, e continua sendo, um personagem controverso em nossa História pelas
nuances das alianças de cunho político e social que se fez na garantia, para
mencionar um famoso exemplo, da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que
certa vez foi confundida metaforicamente como o Ato Institucional 5 da Ditadura
Militar (1964-1985).
A volta de Getúlio
Vargas a presidência da República na vitória eleitoral de 1950 poderia ser atribuída
a uma busca de reconciliação nacional que analistas políticos se deixam levar
pelo desfecho da tragédia do suicídio. Todavia o programa de um grande salto na
economia pela via da industrialização é uma lição quanto ao debate programático
nas campanhas eleitorais. Nesse momento as contradições entre as classes
dominantes e subalternas foram eclipsadas pelo nacional e pelo popular. A
democracia foi deixar de ser uma figuração como programa justamente pelas mãos
dos comunistas do PCB, mas somente após 1958.
Isso exposto nos
demonstra o quanto as linhas de nossa história política não se fez por linhas
retas ou curvas. Nossa vida política está com inúmeros exemplos de ir e vir
numa constante ziguezaguear o qual demonstra que ser prisioneiro de narrativas
fará de muitos ativistas/militantes mais um “negacionista”
da natureza da Frente Democrática. A ideia de Frente não se aplica aos limites
de uma disputa eleitoral, mas se constitui a partir da avaliação de uma
conjuntura política. Há diversas naturezas frentistas (Única, Popular, Ampla,
de Escquerda, Conservadora, Democrática, etc.) que ganham força na sociedade
pela sua base programática.
Uma vez que a face
política de uma Frente nasce de um debate de um programa político, as possíveis
confusões de nivelações políticas seriam superadas até nas negociações dos
atores políticos. Por exemplo, em Política, um diálogo amplo com inúmeros
atores políticos não significa ser a realização de uma “Frente Ampla”. O debate
“frentista” sem conteúdo programático é apenas uma “sopa de letrinhas” que
recai na americanização das disputas eleitorais com cálculos de ganhos ou
perdas de votos. Programa e sociedade em segundo plano o que coloca também a
Democracia em perigo por mais que se derrote só eleitoralmente um candidato
claramente autoritário nas urnas. Uma vitória de uma Frente Política precisa
ser uma nova fase no processo político de um país.
Portanto, todos os
nomes do campo democrático seriam bem vindos numa Frente Democrática com vistas
as Eleições Presidenciais/Parlamentares e Regionais de 2022 no Brasil. A ideia
de “Campo Democrático” necessita ter uma fundamentação programática a partir do
que se inscreve na Constituição de 1988, o que não implica em simplesmente
defender atos revogatórios de Emendas Constitucionais já debatidas e aprovadas.
Democratizar não se faz sem exposições de justificativas políticas muito bem
fundamentadas. Essa seria o melhor entendimento para que o “Campo” pudesse ter
um pouco de “Chuchu”. A “invenção” na política brasileira é uma qualidade que
alguns atores políticos souberam conduzir, mas sempre com uma linha
programática. Caso contrário a política brasileira continuará na perigosa
trilha da negação da política (diálogo/conciliação/reconciliação) que é o
antiprograma desse Governo sem gestão.
O chuchu seria uma referência ao possível candidato à vice na chapa de oposição a esse desgoverno??
ResponderExcluirAcredita mesmo que uma frente democrática possa ser formada para combater o fascismo do Bolsonaro e do Moro?
ResponderExcluirMuito bom. Acho que o tema merece mais de um texto.
ResponderExcluirBela reflexão do passado e presente, esperamos um futuro melhor.
ResponderExcluirAs federações apontam para o caminho do programa.
ResponderExcluir