NOTA PRÉVIA
VOTO POSITIVO abriu um espaço para que leitores debatam suas interpretações sobre o livro Em Busca da Nação de Antonio Risério (Ed. Topbooks, 2020). Leitores que se interessarem pelo debate podem enviar seus textos. Sugerimos limite de 2 páginas (800 palavras) em Word para vgsouza@bol.com.br
O Editor.
EM
BUSCA DA NAÇÃO
Por Ana Beatriz
Camarinha[1]
A aproximação do ano de
2022 nos provoca a reflexão sobre uma temática centrada em um conceito que hoje
vive o processo de desconstrução e esfarelamento: nação. Diante do bicentenário
de nossa Independência, logo, do início de um debate acerca da criação de um
projeto nacional fora dos controles portugueses, e de eleições –
principalmente, de nível federal –, o tema “nação” e a posição da mesma na
contemporaneidade brasileira se tornam pautas necessárias para serem postas em
discussão.
Reunindo uma coletânea
de ensaios, o livro Em Busca da Nação de Antônio Risério (Editora Topbooks:
2020), antropólogo, ensaísta, historiador brasileiro, herdeiro da Tropicália e
peça presente nos governos Lula e Dilma Rousseff, particularmente no Ministério
da Cultura do novo imortal Gilberto Gil, propõe questões fundamentais a serem
analisadas. O título revela seu principal objetivo: encontrar, ou reunir meios
para encontrar, a nação brasileira. E esse movimento acontece através da
exposição crítica à posição em que a mesma foi colocada, distante do campo
social e político, os desafios que a envolvem e os seus usos atuais. A ausência
contemporânea – ou negação – dessa noção no espectro sociopolítico e até mesmo
cultural tem sido, segundo o autor, gerada pela precariedade e o pouco avanço
das discussões sobre democracia social e cultural, conjuntamente com o avanço
agressivo do movimento de “fragmentarismo identitário-multicultural”.
Definir o conceito de
nação é uma atividade complexa. Risério apresenta-a como uma criação histórica
moderna, produto de misturas e diversidade. Diferentemente do Estado que se
apresenta por um sentido político, a nação é identificada como uma entidade
antropológica, cultural, que transcende os aspectos definidores comuns
(bandeira, língua, território), abarcando uma comunhão de destinos. Isso não
significa similaridades sociais, uma homogeneidade, mas a sintonia do modo com
que os processos foram vividos por aquele grupo. Essa integração é dada por
questões objetivas e pelo reflexo subjetivo sobre a consciência coletiva, de
acordo com a apropriação teórica feita pelo autor do historiador Miroslav
Hroch, em que a componentes como a memória, integração nacional e laços
culturais são importantes. Nesse sentido, é igualmente interessante visualizar
a aproximação do conceito como um universo simbólico, uma entidade imaginada
responsável por promover a relação e a coesão social, quando o autor se apoia
no pensamento de Benedict Anderson.
No entanto, com a
fragilidade e perda do debate conjuntural e das agendas políticas partidárias,
que se proporiam a pensar a categoria de povo além das separações identitárias,
mas como agentes sociais presentes em um sistema complexo, cria-se um
esfarelamento da concepção nacional e da identificação social que essa noção se
propõe a gerar. O universo nacional se encontra cada vez mais inclinado à
direita, não só pela fragmentação das esquerdas no campo político em face do
crescimento da direita extremista, como através do processo do globalismo
neoliberal que se apropria cada vez mais do movimento identitário realizado
pelos grupos minoritários brasileiros em prol de seu mercado. Porém, se esse
universo é, então, imaginado, criado, abre-se a possibilidade de reimaginarmos,
repensarmos coletivamente e no campo democrático a nação brasileira.
Essa guinada, no
entanto, não acontecerá como nos demonstra o autor, sem uma revisão histórica
em nível sociocultural do Brasil e dos partidos políticos quanto as suas
trajetórias. Faz-se necessário, logo, em meio a comemoração do bicentenário,
retornar o olhar à Geração de 30 pós-centenário, em que a meta central dos
artistas engajados se baseava no conhecimento da história nacional, a temática
da mestiçagem no sentido da defesa da diversidade, com propósito de afirmar a
nação.
Nademos contra a
corrente que nos divide e caminhemos em busca da nação, em um sentido
democrático e pensando a sociedade como um todo, ultrapassando as pedras do
meio do caminho. Sim, em todo caminho há uma pedra – ou mais –, parafraseando
Drummond, mas cabe a nós sabermos como permanecer em movimento, levantando a
bandeira do povo: o agrupamento social e político dotado de agência e múltiplo
em sua composição.
Concordo plenamente
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