sábado, 4 de dezembro de 2021

LIVRO EM DEBATE: EM BUSCA DA NAÇÃO por ANTONIO RISÉRIO

NOTA PRÉVIA 

VOTO POSITIVO abriu um espaço para que leitores debatam suas interpretações sobre o livro Em Busca da Nação de Antonio Risério (Ed. Topbooks, 2020). Leitores que se interessarem pelo debate podem enviar seus textos. Sugerimos limite de 2 páginas (800 palavras) em Word para vgsouza@bol.com.br

O Editor.


EM BUSCA DA NAÇÃO

Por Ana Beatriz Camarinha[1]

 

A aproximação do ano de 2022 nos provoca a reflexão sobre uma temática centrada em um conceito que hoje vive o processo de desconstrução e esfarelamento: nação. Diante do bicentenário de nossa Independência, logo, do início de um debate acerca da criação de um projeto nacional fora dos controles portugueses, e de eleições – principalmente, de nível federal –, o tema “nação” e a posição da mesma na contemporaneidade brasileira se tornam pautas necessárias para serem postas em discussão.

Reunindo uma coletânea de ensaios, o livro Em Busca da Nação de Antônio Risério (Editora Topbooks: 2020), antropólogo, ensaísta, historiador brasileiro, herdeiro da Tropicália e peça presente nos governos Lula e Dilma Rousseff, particularmente no Ministério da Cultura do novo imortal Gilberto Gil, propõe questões fundamentais a serem analisadas. O título revela seu principal objetivo: encontrar, ou reunir meios para encontrar, a nação brasileira. E esse movimento acontece através da exposição crítica à posição em que a mesma foi colocada, distante do campo social e político, os desafios que a envolvem e os seus usos atuais. A ausência contemporânea – ou negação – dessa noção no espectro sociopolítico e até mesmo cultural tem sido, segundo o autor, gerada pela precariedade e o pouco avanço das discussões sobre democracia social e cultural, conjuntamente com o avanço agressivo do movimento de “fragmentarismo identitário-multicultural”.

Definir o conceito de nação é uma atividade complexa. Risério apresenta-a como uma criação histórica moderna, produto de misturas e diversidade. Diferentemente do Estado que se apresenta por um sentido político, a nação é identificada como uma entidade antropológica, cultural, que transcende os aspectos definidores comuns (bandeira, língua, território), abarcando uma comunhão de destinos. Isso não significa similaridades sociais, uma homogeneidade, mas a sintonia do modo com que os processos foram vividos por aquele grupo. Essa integração é dada por questões objetivas e pelo reflexo subjetivo sobre a consciência coletiva, de acordo com a apropriação teórica feita pelo autor do historiador Miroslav Hroch, em que a componentes como a memória, integração nacional e laços culturais são importantes. Nesse sentido, é igualmente interessante visualizar a aproximação do conceito como um universo simbólico, uma entidade imaginada responsável por promover a relação e a coesão social, quando o autor se apoia no pensamento de Benedict Anderson.

No entanto, com a fragilidade e perda do debate conjuntural e das agendas políticas partidárias, que se proporiam a pensar a categoria de povo além das separações identitárias, mas como agentes sociais presentes em um sistema complexo, cria-se um esfarelamento da concepção nacional e da identificação social que essa noção se propõe a gerar. O universo nacional se encontra cada vez mais inclinado à direita, não só pela fragmentação das esquerdas no campo político em face do crescimento da direita extremista, como através do processo do globalismo neoliberal que se apropria cada vez mais do movimento identitário realizado pelos grupos minoritários brasileiros em prol de seu mercado. Porém, se esse universo é, então, imaginado, criado, abre-se a possibilidade de reimaginarmos, repensarmos coletivamente e no campo democrático a nação brasileira.

Essa guinada, no entanto, não acontecerá como nos demonstra o autor, sem uma revisão histórica em nível sociocultural do Brasil e dos partidos políticos quanto as suas trajetórias. Faz-se necessário, logo, em meio a comemoração do bicentenário, retornar o olhar à Geração de 30 pós-centenário, em que a meta central dos artistas engajados se baseava no conhecimento da história nacional, a temática da mestiçagem no sentido da defesa da diversidade, com propósito de afirmar a nação.

Nademos contra a corrente que nos divide e caminhemos em busca da nação, em um sentido democrático e pensando a sociedade como um todo, ultrapassando as pedras do meio do caminho. Sim, em todo caminho há uma pedra – ou mais –, parafraseando Drummond, mas cabe a nós sabermos como permanecer em movimento, levantando a bandeira do povo: o agrupamento social e político dotado de agência e múltiplo em sua composição.



[1] Graduanda de História na Universidade Federal Fluminense (UFF).


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