quinta-feira, 27 de maio de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 19


 Senador Renan Calheiros ajusta a gravata do Senador Omar Aziz sob olhar do Senador Randolfe Rodrigues (Foto Jefferson Rudy/Agência Senado)

Ser Senador no “Olho do Furacão”

Dedicado ao Arquiteto que atuou na política

Jaime Lerner (1937 – 2021)

Por Vagner Gomes de Souza

 

Os mais apaixonados pelo acompanhamento do debate político (ainda existem essas “aves raras” na sociedade brasileira) se debruçam nas análises e observação dos depoimentos da CPI da COVID que podem ser acessados no canal de Youtube do Senado Federal. A relativa baixa audiência em relação ao que se passa nas oitivas presididas pelo Senador Omar Aziz (PSD – AM) não significa que não esteja ocorrendo um impacto político na conjuntura. A derrota do Governo Bolsonaro se faz nas trilhas de nossa marca histórica, ou seja, gradual e lentamente com pressão das redes sociais a via institucional - vide o exemplo das perguntas selecionadas via Twitter pelo relator Renan Calheiros (MDB – AL).

Ao campo democrático não serão as ruas em plena pandemia que contribuirão para o isolamento da política “negacionista” dessa gestão caótica da crise sanitária do país. Os protestos que se articulam podem trazer em cena a possibilidade desse momento no qual a “Guerra de Posição” seja eclipsada pela “Guerra de Movimento”. No Senado da República está ainda se fazendo a configuração de um processo de formação política das novas lideranças da política nacional que deverá manter seu curso nas eleições de 2022 em que se renovam 1/3 dos assentos da “Câmara Alta”.

A ideia de uma volta ao modelo de uma “transição política” com os sinais de mudança mais fortes que o de conservação nos chama a atenção nesse momento em que a política e a economia brasileira atravessam o “olho do furacão”. Se a Constituinte (1987/988) foi a grande marca dessa política transitória ao final da Ditadura Militar, devemos pensar um programa econômico que supere o fundamentalismo fiscal que sempre sugere os limites de gastos públicos para enfrentar os problemas sociais, porém está sempre disponível para saldar as contas com pagamento dos juros aos grandes bancos. A volta da “Política” na cena do debate da economia impõe que não deixemos que o pensamento ultraliberal de Paulo Guedes imune aos problemas debatidos na CPI da COVID.

A insistência em se manter com a política do “teto de gastos” pode ser o motivo do marketing negacionista da cloroquina. Uma disfarçada política macabra “malthusiana” na busca da redução dos gastos previdenciários se observarmos o perfil dos que foram a óbitos. A “mascarada” reforma administrativa no congelamento dos benefícios dos servidores públicos incluindo a proibição de reajustes salariais em plena pandemia e num momento de alta inflacionária. Esses seriam alguns exemplos que há muito mais debate de política para se fazer que simplesmente conceituar o Presidente como um adepto da “necropolítica”. Esse é o espaço de se entender a conjuntura e perceber que não estamos numa “banca” de pós-graduação falando para as “bolhas”. Na política se faz escolhas que nos faz perceber que a população brasileira está onde sempre esteve: no CENTRO.

A qualificação de um Senador com esses méritos acabam por crescer de tamanho diante da realidade imposta por essa política de transição que pretendemos que seja republicana e democrática. A “Grande Política” não significa fazer da disputa eleitoral para o Senado um “puxadinho” dos palanques da disputa presidencial, pois a disputa majoritária para o mandato de 8 anos não se faz em dois turnos. Há situações em que um Senador poderia ser eleito com uma faixa eleitoral entre 25 – 30% a se depender da fragmentação da disputa eleitoral em cada estado da federação. O Campo Democrático estaria disposto a passar por esse “risco político” em não dar atenção a essa perigosa possibilidade.

Na CPI da COVID temos uma “vitrine” que expõe para as forças democráticas o quanto de figuras reacionárias ganhou um espaço político por falta de compreensão da importância da “renúncia” da disputa eleitoral em favor do ganho político. Por exemplo, não houve “Grande Política” na disputa eleitoral nas eleições ao Senado do Rio de Janeiro em 2018 para além de um “ensaio informal” de apoio de uma “dobradinha” de Frente de Esquerda que empurrou a surpreendente vitória do já falecido Senador Arolde de Oliveira (PSD). Hoje o PSD do Rio de Janeiro passa por uma mutação que lhe pode levar a emergência de uma nova variante (que me permitam os virologistas). Consequentemente, o espectro de Amaral Peixoto que reinou no interior do Rio de Janeiro nos tempos do “outro” PSD pré-1964 poderá ser decisivo. 



2 comentários:

  1. “renúncia” da disputa eleitoral em favor do ganho político.A esperança de 2022 está nessa frase.Caso contrário amargaremos mais uma triste derrota.

    ResponderExcluir
  2. Excelente texto!
    Concordo com o comentário acima, que cita o trecho "[...] o quanto de figuras reacionárias ganhou um espaço político por falta de compreensão da importância da “renúncia” da disputa eleitoral em favor do ganho político.", como algo decisivo para as próximas eleições aqui no Brasil.
    Em Portugal, na eleição presidencial deste ano, foi justamente a partir de uma coalizão entre centro-direita, direita democrática e ala socialista do governo que foi possível a vitória sobre a extrema-direita. Será que o genocida teria vencido a última eleição se tive concorrido contra uma chapa formada por Ciro/Haddad, e apoiada por Boulos, Marina Silva e Vera?
    Que na próxima eleição os partidos não repitam a história como farsa, pois na última foi tragédia. rs

    ResponderExcluir