sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ERA UMA VEZ A ANÁLISE DE CONJUNTURA

Ausência da Política dos Trabalhadores

Vagner Gomes de Souza 

Uma aprofundada observação dos meios de comunicação (tradicionais ou nas redes sociais) nos alerta para a ausência de qualquer debate dos problemas que afetam os trabalhadores. As desigualdades sociais aumentaram em grandes proporções, porém as reivindicações dos trabalhadores foram deixadas esquecidas em alguma prateleira. Elas não aparecem nos hashtags mais mencionados. Poderíamos até questionar se haveria exageros na insistência desse autor em cobrar essa existência. Contudo, há muito tempo que não se apresenta uma política dos trabalhadores.

No máximo, de tempos em tempos, algumas categorias de trabalhadores ainda organizadas consolidam uma reivindicação “defensiva” que consegue “furar a bolha”. Essa situação consolida a proliferação de alternativas “ideologizadas” seja a direita ou a esquerda pois a realidade não está sendo debatida. Esse contexto não é uma novidade imposta pelos altos índices de desemprego. Há muitos anos o artigo de Luiz Werneck Vianna, O Estado Novo do PT (2007), alertava para essa tendência de modernização sem os atores modernos.

Segundo ele,

“(...) Assim, o governo que, no seu cerne, representa as forças expansivas no mercado, naturalmente avessas à primazia do público, em especial no que se refere à dimensão da economia — marca da tradição republicana brasileira —, adquire, com sua interpelação positiva do passado, uma certa autonomia quanto a elas, das quais não provém e não lhe asseguram escoras políticas e sociais confiáveis. Pois, para um governo originário da esquerda, a autonomia diante do núcleo duro das elites políticas e sociais que nele se acham presentes, respaldadas pelas poderosas agências da sociedade civil a elas vinculadas, somente pode existir, se o Estado traz para si grupos de interesses com outra orientação.”

A crise desse mundo se fez presente a partir das manifestações de 2013 como se fosse uma “Intentona de 1935” sem uma bandeira clara para fazer valer um programa para os trabalhadores. O “assalto aos céus” abriu um cenário de reação das forças do conservadorismo do capitalismo brasileiro que muito se tornou dependente do mercado financeiro. Aos poucos, a ideia de uma “Nova Política” se configuraram como a expressão do empreendedor de sucesso coroado pela fé numa teologia da prosperidade. Essas forças “bisonhas” foram moldadas aos poucos até emergirem com muita força nas eleições de 2018 como se as conquistas da Carta Constitucional de 1988 fossem nosso principal entrave para o crescimento econômico.

As classes dominantes aderiram ao “fundamentalismo” do mercado de forma pragmática da mesma maneira que foram aderindo a outras “formas políticas” desde que não houvesse perdas de suas riquezas. Nesse momento, o debate sobre uma reforma tributária e da Renda Brasil sugere o quanto faltam linhas políticas que atendam uma política dos trabalhadores. Pelo contrário, aqueles que geram as riquezas da elite econômica aparecem sempre espelhados como um “custo Brasil”. A imagem do “bom patrão” que não consegue dormir sossegado enquanto o seu empregado muito bem goza de uma noite de sono.

O símbolo da hipocrisia que se alimenta dos erros do campo democrático em não saber construir uma oposição aos devaneios desse Ministro da Economia que prefere destruir a sociedade brasileira se puder consolidar os lucros do grande capital dos bancos. Que fazer? Essa é a pergunta sempre repetida em muitos debates sobre o momento político atual cada vez mais com poucas análises de conjuntura e mais explanações de opiniões sobre os fatos do dia a dia.

 É muito importante compreender que a aproximação das eleições municipais poderiam trazer de volta os PT (Pontos dos Trabalhadores). Para exemplo de ilustração,  seria a necessidade de creches públicas em horário integral, a ampliação do tempo dos  bilhetes únicos do transportes públicos, defesa de ações da Prefeituras nas periferias com melhorias nas habitações, incentivar o uso de espaços abertos para atividades culturais como alternativa aos impactos negativos da COVID19 na cultura, etc. Todavia, essa política se faria presente na formulação de programas para formas as alianças políticas como se deveria ser o papel de uma “esquerda positiva”.

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