No
País do “Ziguezague”
Por Vagner Gomes
de Souza
“O velho mundo
está morrendo. O novo tarda em aparecer. E nessa meia luz surgem os monstros”.
Gramsci
Um país que está com
mais de 100 mil óbitos por COVID19 e milhões de desempregados. Uma economia sob
o comando de um Ministro que considera livros como produto de “luxo”.
Desmatamento e queimadas no Pantanal. Povos indígenas sob forte vulnerabilidade.
A desigualdade social se transformando num “novo normal”. A prévia do PIB
assinala uma queda acima de 10%. Como explicar a recuperação política do
Presidente da República?
Os primeiros sinais dos
analistas políticos sugerem que o Nordeste estaria deixando de ser “Vermelho”
(referência aos votos que a oposição teve nessa região em 2018) para aderir ao
Governo por causa de um “Auxílio Emergencial” que sempre incomodou (e ainda
incomoda) o mandatário da República. Mais uma vez sugestão de que os mais
pobres seriam “ingênuos” na política se deixando manipular. Essa é uma leitura
que contradiz o clássico Coronelismo,
Enxada e Voto (1948), pois Victor Nunes Leal, em sua interpretação, nos
explica o quanto é fundamental a ação política da figura política do “coronel”
como mediador entre o eleitor local com o Poder Executivo Federal. Não podemos
deixar de considerar que a chegada dos políticos do “Centrão” agregou um
elemento de “moderação” ao que poderá ser um novo “Projeto Saquarema”.
Vivenciamos um novo
momento no transformismo político que não suporta a linguagem política da
polarização. Apostar na política da identidade política como “acúmulo de forças”
para uma eleição num universo distante de 2022 contribui, em muito, com o
desligamento da realidade das camadas populares. As lições da Pandemia pediam
que a solidariedade nas periferias ganhasse um programa de frente democrática.
Contudo, olhar para os números evita aos analistas indicarem as
responsabilidades dos atores políticos do campo democrático.
Seguimos os passos de
uma sociedade num “ziguezague” constante, pois aparentemente nada se aprendeu
com o chamado “desastre político” de 2018. Se os mais radicais críticos daquilo
que seria ascensão do fascismo no Brasil repetem ou aprofundam a fragmentação
nesse momento pré-eleitoral, a grande massa política interpreta que tudo é
narrativa eleitoral sem consequências políticas. “Mas vamos tocar a vida” é o
melhor lema desse cenário porque é assim que algumas lideranças também
abraçaram o sectarismo político na política de alianças. Então, se o eleitor
não lhe apoia seria porque ele não é “amadurecido”.
Então, não devemos nos
deixar abalar com os números, mas começar a exercer a “grande política”. A “receita
do bolo” não é nova, porém os sujeitos políticos serão novos e precisam emergir
nesses próximos dias que antecedem as eleições de 15 de novembro (mais uma data
histórica desse país de “revolução passiva”). Olhar a segunda década do século
XXI como os anos 80 do século passado está demonstrando o quanto não se sabe
operar de forma positiva a democracia. Urgente que a “esquerda democrática” se
imponha diante dessas siglas aprisionadas ao passado.
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