Uma
Receita para o Bolo
Por Vagner Gomes
de Souza
A vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles
Uma análise política
poderia surgir de um simples bate papo com um confeiteiro. Não se surpreendam
pois Lênin falava dos cozinheiros em O
Estado e a Revolução (agosto de 1917) com outros objetivos. Digamos que
estaríamos a pensar a partir de uma provocação feita pelo Professor Luiz
Werneck Vianna no artigo “Falta uma Geringonça à Brasileira” na Revista
Eletrônica Insight Inteligência (link para consulta https://insightinteligencia.com.br/falta-uma-geringonca-a-brasileira/
). Adiantemo-nos em dizer que numa análise de conjuntura não há “receita de
bolo”, mas mencionaremos alguns ingredientes políticos e possíveis atores
importantes na formação de uma consequente frente democrática contra esse já
mencionado na crônica werneckiana fascismo tabajara.
Vivemos um momento de
muitos jovens que estão “sufocados” pela percepção de que a “Pandemia” representa
a possibilidade do cancelamento de sua existência social no futuro próximo. A
política se vinga contra os cartazes do “ninguém me representa” uma vez que
somente a representação política cria canais de dialogo na sociedade para
enfrentar essa grave crise. Pensemos numa juventude em que a desigualdade nos
estudos se aprofundou nesse momento e estamos sob a ameaça da precarização dos
empregos com os atalhos ultraliberais na proposta da “Carteira Verde e Amarela”.
Contudo, falta o bom exercício da memória na política para perceber, repetindo
o nosso mestre das Ciências Sociais, que nada que é ruim dura para sempre.
Contudo, podem durar muitos anos faltou ele alertar para que as sábias ações do
mundo real motivem as decisões políticas do campo democrático.
Nossa vida só não está
um maior pandemônio graças ao pacto político celebrado na Constituição de 1988.
Não é uma simples referência uma vez que é o Sistema Unificado de Saúde (SUS)
que tem impedido uma onda muito maior de óbitos nas grandes cidades. A força da
autonomia dos Três Poderes se impôs com um Congresso Nacional (com uma de suas
representações mais fracas da história recente da República) buscando saídas e
um STF atento a garantia da Democracia. Eis que essa fronteira inibiu as forças
políticas que desejam refundar nosso país sob a marca do ultraliberalismo de viés
americano.
Essa refundação impõe
muitos sacrifícios às camadas populares uma vez que a capacidade de mobilização
dos trabalhadores está a muito tempo reduzida por inúmeros fatores. Por outro
lado, muitos sujeitos políticos levantam bandeiras fragmentárias num eterno
mosaico das ruas de 2013. As ruas ainda não assumiram os corredores das
instituições políticas e isso se faz ainda pelos atores políticos questionados
há quase uma década. Portanto, é tempo de “reinvenção” das antigas receitas que
nos fizeram sair de duas ditaduras (1930 – 1945 e 1964 – 1985) nessa trajetória
de modernização conservadora no Brasil.
Não se fez uma leitura
da “modernização sem moderno” (outra vez, Werneck Vianna) que nos trouxe a essa
situação. Todavia, muito sabemos o quanto a ausência de um “centro político”
forte está colocando a esquerda num gueto eleitoral no qual não terá condições
de sair. Na verdade o “emedebismo” foi um movimento muito maior que uma
interpretação que o associe ao “presidencialismo de coalização”. Trata-se de
uma vértebra da articulação política da possível relação entre a democracia de
massa e a democracia representativa.
Então, comecemos essa
receita assumindo que um pouco de MDB não faz mal a ninguém ainda mais nesses
tempos em que a proteína é vital para produção de anticorpos ao autoritarismo.
A necessidade da disciplina parlamentar de um DEM é muito importante. Além
disso, o PSDB de seus “pais fundadores” fez emergir muitos quadros intelectuais
espalhados em muitas outras agremiações (PDT, REDE, CIDADANIA, PSB, etc.). De
fato, falta essa convocatória ao espírito de democrático nacional que Ciro
Gomes mobiliza e se percebe no PCdoB “raiz”. Por fim, a base social do PT é
muito coesa e não se pode estar isolada seja chic ou de forma brega dessa “Geringonça”.
Mas, ainda falta a sensibilidade de um Chef Gourmet na política brasileira para
que toquemos essa “jangada de pedra”.
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