Um
Manifesto a procura de um Ator
Por
Vagner Gomes de Souza
(Resenha
do livro Lilla, Mark. O Progressista de
Ontem e o do Amanhã. São Paulo, Companhia das Letras, 2018)
Dedicado ao
Vereador Paulo Pinheiro (PSOL – RJ)
Muitos livros, a
exemplo dos filhos, seguem uma vida própria que ultrapassam fronteiras
territoriais para os quais foram escritos. Mark Lilla, aos poucos, começa a ser
lido e conhecido nos meios acadêmicos do Brasil graças ao livro O Progressista de Ontem e o do Amanhã. Os
paralelos entre a gestão do atual mandatário presidencial no Brasil com o
populismo de direita conhecido como “trumpismo” suscita curiosidades nos
leitores brasileiros mais atentos aos caminhos e descaminhos do nosso
americanismo.
O livro foi lançado nos
Estados Unidos no primeiro ano da gestão de Donald Trump não como ato de
resistência política, mas como convite aos movimentos sociais voltarem ao campo
da política. No diagnóstico do autor, as forças liberais norte-americanas (mais
próximas do pensamento social-democrático europeu) abdicaram da tarefa de fazer
uma política de unidade em defesa da cidadania. Trilhando o caminho da
valorização das políticas identitárias, eles aprofundaram a “privatização” das
ações dos sujeitos sociais num conjunto
de partículas atomizadas.
A atomização da sociedade
seria um problema a ser contornado segundo Antonio Gramsci em suas anotações
sobre o americanismo. A obra de Mark Lilla faz semelhante alerta, porém sugere,
paradoxalmente, que estaríamos em tempos de uma crise da hegemonia do
pensamento reaganista (ou seja, os fundamentos de um fundamentalismo liberal e
individualista). Contudo, digamos que o velho modo de pensar a política estaria
morrendo ao ponto que a nova forma de fazer política progressista ainda não
surgiu.
Diante da dificuldade
de se fazer política por parte das forças oposicionistas ao individualismo do
mercado, Lilla expõe que os movimentos sociais foram “cooptados” pelo senso
comum do falar par si próprio ao contrário de fazer um discurso mais amplo para
todos da sociedade. Aprofundar a identidade de segmentos sociais simplesmente
afasta a preocupação do uso da política democrática em favor de uma mediação.
Essa seria a tarefa do ator-político conhecido como Partido.
A epígrafe do livro
cita um discurso do Senador Edward M. Kennedy no qual há a valorização do
partido que defenda os cidadãos. Um manifesto se desenha desde então pelas
mudanças de cunho superestruturais no qual as forças progressistas
norte-americanas necessitariam sair de uma pseudopolítica para reaprender a
fazer a política. Sugerimos que seja um manifesto para um “moderno Príncipe” em
tempos de ativismo digital soa como uma refundação de Que fazer? do marxista Vladimir Lênin. Contudo, identificamos no
livro as linhas da política como vocação de Max Weber quase como se tivéssemos
que atuar aos passos de uma ética da responsabilidade para conquistar o eleitor
comum à medida que a ética da convicção só coloca as forças progressistas no
“beco da política”.
Além da ação política
weberiana, os ensinamentos de Tocqueville sobre a importância da educação para
um mundo democrático surgem em passagens de um livro com esse aporte de manifesto
político que conclama ao Partido Democrata fazer uma política de formação de
quadros paralela aos meios acadêmicos. A formação política de uma nova geração
para além das fronteiras dos campi universitários para inspirar os jovens a
pensar de forma coletiva. Portanto, há um tensionamento na busca de um ator
político para aproveitar um momento de enfraquecimento do ciclo reaganista. Não
nos iludamos. Temos um longo caminho para caminhar diante do vazio de propostas
políticas que falem para os cidadãos. Muito semelhante aos ataques sofridos a
esquerda brasileira sem que a mesma saiba responder buscando sair das suas fronteiras
de sectarismo conhecido como Frente de Esquerda.
Uma síntese que provoca a leitura.
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