Enquadramentos
sobre as eleições em São Paulo
Vagner Gomes de
Souza[1]
Os estudiosos do
pensamento político brasileiro ainda tem muito que contribuir nas análises do
cenário eleitoral municipal em 2024 ao revisitarem as considerações do saudoso
professor Luiz Werneck Vianna no ensaio “Americanistas e iberistas: a polêmica
de Oliveira Vianna com Tavares Bastos”[2].
Mais do que referendar uma polarização entre dois campos interpretativos, o
autor demonstra como melhor interpretar nosso país poderia nos auxiliar no
desafio da previsão em política. Segundo ele,
“Decerto que nos
originamos de uma espécie peculiar de Ocidente, a chamada ‘opção ibérica’, como
analisou Morse em seu fecundo O espelho
de Próspero, a carga de pragas, segundo os liberais, que nos teria
interditado o caminho progressista e libertário da região ao norte do nosso
continente. Filhos diletos do capitalismo mercantil, não fomos postos no mundo
por uma história sem intenções. Nas palavras da forte ensaística de Angel Rama,
aqui o ideal precedeu o material; o signo, as coisas; o traçado geométrico do
plano, as nossas cidades; e a vontade política de explorar, o sistema
produtivo.”[3]
A denúncia da
persistência da herança do iberismo não é uma novidade na história política
brasileira e muitos observaram esses ventos nas origens do Partido dos
Trabalhadores nos anos 80 em que seu “sindicalismo de resultados” que
maximizava os ganhos econômicos dos trabalhadores as margens de uma aceitação
da institucionalidade política, denunciada como continuidade do “getulismo”,
permitiu se embrenhar nas periferias das entidades orgânicas de muitas capitais.
A materialidade da vida real acelerada pelos postulados do liberalismo
anglo-saxão.
Em especial, São Paulo,
aonde em 1988 o Partido dos Trabalhadores ascendeu ao poder pela via eleitoral
com a eleição de Luiza Erundina, passou por diversas mutações desse perfil “americanista”
até chegar a sua versão “sem freios” na campanha de Pablo Marçal. No mundo das
ideias e considerações da política as “moedas sociais” para promover iniciativas
empreendedoras fizeram a fermentação dessas forças extremadas à direita.
Portanto, as linhas interpretativas sobre as eleições municipais em São Paulo
pelo viés da validação de uma polarização entre um suposto “bolsonarismo”
versus o suposto “lulismo” caem no vazio diante do reconhecimento dessa emergência
do elo subalterno do “americanismo”.
Se o pressuposto de
Gramsci de que o americanismo em política seria o ponto de formação do
fascismo, as nossas considerações sobre as próximas eleições em São Paulo nos
permitem recordar que os valores do mercado aflingem os eleitores conservadores
uma vez que testemunham nele a desagregação de seu reconhecimento na ordem social
vigente. As narrativas por vias de uma identidade de periferia muito mais alimentou
esse “moinho satânico” que as pesquisas eleitorais anunciam a cada dia. O culto
da personalidade nos apelos de uma fantasiosa “nova classe média” por uma
década nos primórdios desse século nos levou a esse cenário que favorecerá quem
tiver menos rejeição entre os eleitores conservadores, mas desejosos de
programas sociais.
As matrizes eleitorais
que elegeram Jânio Quadros, Paulo Maluf e Celso Pitta fazem parte de um “campo
conservador” do contrapeso do iberismo. Seu apelo centralizador e autoritário
não permite sua fácil captura pelas manifestações “anarco-capitalistas” desse
salvacionismo individualista presente no apelo da candidatura de Pablo Marçal. Lembremos
que o Maluf lançou um programa de habitação popular, o Cingapura, e o Leve
Leite foi sua contribuição pré-histórica ao “Fome Zero” entre os paulistas. O
mito da polarização do eleitorado empurra esse eleitorado para um bloco
político distante da Frente Democrática que dialoga com os setores
conservadores do campo democrático. Consequentemente, as movimentações das
placas tectônicas nos eleitores mais pobres sinalizadas na recente pesquisa do
DATAFOLHA (05/09) sugerem que a face popular do suposto “lulismo” reeditará o
resultado 2022 pela via do voto diante da “cegueira” dos dirigentes políticos
do campo da esquerda.
Realmente xará, o liberalismo ideológico tomou conta desta " esquerda" clientelista, modeladora e costumaz, temos que tentar recriar meios em falar com as massas.
ResponderExcluirEsse é o ponto companheiro, recriar.
ExcluirSe fala muito em Esquerda no Brasil. Se fala muito mas na prática, não há nenhuma Esquerda no Brasil.
ResponderExcluir